Capítulo 2

1991 Palavras
Letícia Olhei para o homem loiro gigante em cima de uma escada instalando uma câmera de segurança na entrada da minha casa. Ele tinha mudado fazia duas semanas para a casa dos fundos, e eu finalmente estava um pouco mais aliviada de minha atitude impensada. Todo os meus conhecidos tinham advertido que loucura aceitar um inquilino e não uma mulher na casa. Já que só morávamos eu e Carina, desde que colocara Marco para fora de casa. Isso sim foi a melhor coisa que fiz em toda a minha vida. Marco e eu nos conhecemos na faculdade, no primeiro dia de aula e nos conectamos a nível intelectual.  era uma estudante de advocacia com apenas dezesseis anos, tímida e um tanto medrosa e ele um cara de dezessete anos totalmente nerd que cursava biologia. Se tivéssemos nos conectado como seres humanos normais, acho que nosso relacionamento teria dado certo. Ele foi meu primeiro namorado, foi uma evolução de nosso relacionamento, éramos amigos, depois nos tornamos namorados, noivos, casamos e agora somos ex. Marco era um cara… nem bonito como o loiro fortão nem f**o. Era comum, estatura mediana, cabelos castanhos claros, pele pálida, olhos amendoados, magro e usava óculos fundo de garrafa. Como eu disse, ficamos juntos por causa do intelecto e não pela aparência. Engraçado como conseguíamos ficar horas conversando sobre tudo. Agora, fazendo uma retrospectiva da minha vida, nunca o amei de verdade, não esse amor que lemos em livros ou vemos em filmes. Também nunca fui atraída fisicamente por ele, como essas paixões loucas, o s**o era algo que eu esperava que começasse logo e terminasse mais rápido ainda. Uma das coisas que Marco jogou na minha cara foi que eu era fria como um dos cadáveres que ele estudava. Aquilo realmente tinha me magoado e foi um basta. A única coisa boa do nosso relacionamento foi a minha preciosa Carina. Meu bebê especial. Quando fiquei grávida, o susto e o medo foram grandes. Não me sentia preparada para ter um ser dependente de mim. Sei que a maioria das mulheres sonha com isso; mas eu, não. Sempre fui uma garota com um QI maior que a maioria e adorava os livros. Relacionar-me com as pessoas era complicado, imagine cuidar de uma! Ainda bem que eu tive ajuda de minha mãe. Ela me ensinou a cuidar de minha Carina no começo, mas ninguém esperava que a minha menininha fosse uma criança prodígio. Com quatro meses de vida, Carina já tinha o comportamento de uma criança de um ano. Disse sua primeira palavrinha nesta época e depois sua capacidade cognitiva ficou ainda mais impressionante. Hoje, aos quatro anos de idade, tem um QI maior que Einstein. Por conta disso, os cuidados com ela foram diferenciados e cheios de desafios. Marco ficou entusiasmado no começo por termos alguém tão singular como filha, mas seu interesse morreu quando ela o corrigiu pela primeira vez. Quando o teste de QI de Carina saiu e foi comprovado que ela era mais inteligente que nós dois, ele se fechou. A meu ver, sentiu inveja da própria filha. Um dia, cheguei do escritório de advocacia e encontrei Carina trancada em seu quarto brincando com o tablet, não consegui fazê-la descer para jantar. Marco trabalhava nos fundos da casa em suas experiências. Tínhamos uma babá para cuidar de nossa menina. Não dei muita importância ao fato naquele dia, porém, o mesmo aconteceu acontecendo durante toda a semana. No sábado, enquanto estava em casa, Carina ficou o tempo todo comigo, alegre e risonha com só ela era, mas foi Marco entrar em cena e tudo mudou completamente. Minha menina saiu correndo para o quarto e ficou lá o restante do dia. Questionei a babá sobre o que tinha acontecido. E ela, meio sem jeito, explicou que Marco havia dado uma surra em Carina, pois a encontrara em seu laboratório lendo sua pesquisa. Vi tudo ficar vermelho. Saí da casa grande e fui até o “laboratório”. Discutimos com muitas palavras odiosas e eu o mandei embora. A casa era minha, herança de meu pai, então ele não tinha escolha. E nem queria, já que simplesmente foi até a casa grande, fez a mala e saiu. No dia seguinte, chegou com um caminhão, encaixotou suas coisas e só o vi novamente uma vez, no fórum, para assinar os papéis do divórcio. Como boa advogada, fiz um belíssimo acordo, não porque eu precisava, e sim pelo modo que havia nos tratado. — Pronto. — A voz rouca e com o sotaque francês me tirou dos devaneios. — Sistema instalado, agora você vai poder ver quem está à sua porta, controlar todo o fluxo de pessoas em seu portão e casa. — Marcel apontou para a câmera. — Ela tem modo noturno, bateria auxiliar de doze horas se acabar a força. — Isso é realmente necessário? — Inclinei a cabeça para o lado, olhando o monte de fios espalhados pela garagem. — A nossa cidade tem o menor índice de homicídios do estado todo. — Carina disse, sentada e organizando as ferramentas do nosso vizinho em uma métrica que possivelmente tivesse alguma lógica. Semana passada, fui pegar um sapato no meu armário e os encontrei catalogados dos mais usados para os menos usados, em uma escala de cores das mais escuras para as mais claras. — Sim, mas com segurança não se brinca, mocinha. — Marcel entregou uma chave de f***a para ela, que a colocou junto com as outras. — Não podemos dar chances para o azar. — As probabilidades de um ladrão invadir a nossa casa diminuíram devido ao novo sistema de segurança — Carina concordou. — Tudo bem. — Ergui os braços. — Parece que sou voto vencido. — É sim, mamãe. — Carina levantou e pegou na mão de Marcel. — Você merece um sorvete, o sistema de gratificação é mostrado eficiente, recompensar o bom trabalho faz com que as pessoas trabalhem com mais empenho. — Ah, é?! — Marcel deu um sorriso lindo para minha filha. Algo que fez coisas estranhas comigo. Queria aquele sorriso para mim. Completamente louco, não é? Afinal, o loiro estava em nossas vidas havia tão pouco tempo e mexia comigo mais do que o meu ex. — Mas não seria um sistema melhor o monetário? Carina pensou um pouco e olhou para mim, e depois para o grande homem. — Seria, mas você disse que não iria cobrar nada da minha mãe, porém, poderá ser feito um desconto em seu aluguel. — Ela sorriu. — Eu aceitaria o sorvete, e de morango. Marcel gargalhou. Eu só balancei a cabeça, dando meia-volta e seguimos os três para a minha cozinha. Frase como a do sorvete fazia com que Carina parecesse uma criança normal, e não tão especial como ela era. Estava ficando preocupada por minha filha não ter amigos de sua idade. Matriculei-a em uma escolinha no bairro por meio período, para que ela pudesse interagir com outras pessoas, porém, nem a professora estava preparada para lidar com sua inteligência. Entrei com um processo contra o MEC, para que ela pudesse fazer as provas e ir pulando os anos e assim poder frequentar uma série de acordo com sua inteligência e não por causa da idade, tínhamos uma boa briga. Sorte da minha filha, porque eu adorava as batalhas judiciais. — Então, saindo um sorvete para o Marcel. — Caminhei até a geladeira no canto da parede e peguei o pote de sorvete. — E um para mim também, por favor. Vi Marcel ajudando Carina a lavar as mãos na pia da cozinha. Era impressionante como o homem era gentil e atencioso com a menina, não se importava com as indagações dela. Carina, como toda criança, era curiosa, e ele tinha a paciência que o próprio pai não tivera. — Mas a senhorita ajudou? — perguntei ao pegar os potes para colocar o sorvete. — Sim. Não é, Marcel? Ela a colocou em um banco da ilha da cozinha. — A senhorita aqui organizou as minhas ferramentas. — Marcel sorriu para mim. — E quando eu precisava de uma chave ou outra coisa, ela ia me passando. — Então, sorvete para os dois. — Colava uma porção generosa para cada um,  quando ouvi o telefone tocar na sala. Fui atender. — Alô. Era Amada, minha babá, avisando que não iria trabalhar hoje pois tinha um compromisso urgente. Pude ouvir barulho de música e conversa do outro lado da linha. Não era a primeira vez que ela fazia isso comigo, avisar em cima da hora. Teria que trocá-la, não podia confiar em uma pessoa assim. Peguei o caderno e liguei para os vários números até achar uma babá que pudesse ficar com Carina. Eu teria uma audiência importante hoje. Um dos sócios da empresa pediu um favor especial para atender um caso de custódia de uma criança. Não era bem a minha área, mas não podia recusar. — Muito bem — disse ao voltar para a cozinha. — Carina, Lilian vem cuidar de você hoje. — Ah, não. — Carina colocou a mão no queixo e me olhou desanimada. — Que foi? — perguntei, surpresa. — Ela sempre coloca aqueles desenhos onde tem uma menina que fica perguntando coisa como se ela escutasse a gente responder. — A carinha dela era tão fofa quando estava indignada que dava vontade de apertar suas bochechas. — Não entendi nada. — Marcel colocou o pote de lado e olhou para nós. — Ela estava falando da Dora, um desenho que seria para a idade dela, onde ensina a contar e outras coisas. — Eu já sei contar, escrever, ler e um montão de coisa. Dei um beijo em sua testa. — Porque você é uma garotinha espetacular. — Sorri. — Vamos fazer assim, vou pedir para Lilian te deixar fazendo seus exercícios de matemática, fechado? — Sim, mas eu já estou acabando o livro que você me deu. — Carina abriu um sorriso largo. — Me traz outro? — Sim senhorita — concordei, e ela deu um gritinho alegre. Marcel se despediu de nós e foi buscar suas ferramentas. Fui me trocar e na hora certa a babá chegou. Dei as instruções para a moça e saí de casa. Quando passei pela cozinha, vi Marcel estendendo umas roupas no varal, sem camisa e pude admirar o belo físico. Agora entendia o porquê de as mulheres ficarem babando por um cara. Ele tinha músculos em todos os lugares certos e uma leve penugem que começava abaixo do peitoral e ia descendo até se perder de vista. Aquilo fez a minha mente desejar saber até onde aqueles pelos iam. As coxas musculosas evidentes na calça e… bem, senti meu rosto esquentar ao olhar a evidência de sua masculinidade. Minha nossa senhora das leitoras de livros eróticos, meu vizinho é um daqueles mocinhos! Minha mente começou a imaginá-lo de farda e a tirando… Saí apressada, antes que o loiro me visse comendo-o com os olhos. Entrei no meu carro e acionei o controle remoto para abrir o portão. Como sempre, liguei o som e escolhi uma playlist qualquer do Spotify; em seguida, o ar-condicionado, para ver se aquele súbito calor que sentia sumia. Será que estou entrando precocemente na menopausa? Os acordes de uma guitarra explodiram nos alto-falantes. Saí cantando pneu, em minha pressa para ficar longe da tentação loira nos fundos da minha casa. E como se o destino quisesse falar comigo, o loiro roqueiro da banda Nickelback começou a cantar: “S é para a simples necessidade E é para o êxtase X é só para marcar o local Porque isso é o que você realmente quer (Sim!) s**o é sempre a resposta, nunca é uma questão Porque a resposta é sim, oh, as respostas (Sim) Não é apenas uma sugestão, se você faz uma pergunta Então é sempre sim. Yeaah!” Meu Deus, eu queria f********o com meu vizinho!   
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