Eu sentia seu cheiro e sabia que ele estava ao meu lado, esperando o momento exato da minha fuga. Porém, como eu poderia ficar longe dele? Longe do homem que me fez a mulher completa e feliz? Será que eu suportaria a ideia de ele ter matado tantas pessoas para poder chegar até Markov? De uma coisa eu sabia, Nathan não era como os outros homens. Com certeza, ele era diferente em todos os sentidos.
Abrindo meus olhos, vi Nathan me observando. Seu rosto estava inexpressivo, mas não durou muito. Quando eu me sentei no sofá e respirei fundo, percebi que ele se moveu com expectativa naqueles olhos azuis provocantes e penetrantes, que invadiam a minha alma e me preenchiam com um sentimento maior do que qualquer coisa que um dia poderia sentir.
Eu tinha mais perguntas. Eu precisava fazê-las, para ter certeza. Certeza de quê? De que ele não estava mentindo? m***a! Eu o tinha visto m***r o cara. Do que mais eu precisava para ter certeza de quem ele era e o que fazia?
— Oi meu doce. Que bom que acordou.
— Nathan... — eu queria dizer a ele que nada tinha mudado entre nós dois, mas a verdade era que mudou.
— Eu sei que você vai precisar de um tempo... — a melancolia em sua voz fez o meu coração apertar.
— Ainda preciso saber mais, Nathan... — ele tinha que abrir a boca, mesmo que isso custasse a minha sanidade.
— Tudo que você quiser saber — a voz dele tinha mudado. Estava mais rouca e baixa, me deixando em alerta. Aquele que estava falando comigo era um agente treinado.
— Você me disse que seria sua última missão... — última missão não soava muito bem aos meus ouvidos — o que você quis dizer com isso?
— Que vou me aposentar... — Nathan... Aposentar com aquela idade? Será que ele tinha mesmo trinta e seis anos? Ah! Deus! Nem isso eu poderia ter certeza!
— Vai para algum asilo para ex-agentes que se disfarçam de políticos? — brinquei sentindo um gosto amargo na boca, por não saber de verdade quem era o homem que estava ali ao meu lado! — você tem mesmo a idade que diz ter?
— Acho que isso eu tenho certeza... — esboçou um sorriso no canto da boca — venha — disse ele ao se levantar. Naquele momento, eu percebia o quando Nathan parecia cansado. Ainda mais cansado do que antes. — quero que você veja algo. E o mínimo que eu posso fazer, já que não fugiu quando tinha tempo.
— O que é? — perguntei confusa, sentido uma pontada de medo brotar no meu coração.
— Nada que possa machucar você. — sorriu, enquanto estendia a mão para mim — confia em mim?
Eu confiava nele? Sim. Essa era a resposta para essa pergunta.
Eu o amava e ele tinha meu coração em suas mãos.
Confiava e não pretendia ficar longe dele. Eu tinha que me manter firme e confiante, pois só assim poderíamos ficar juntos, mesmo depois de tudo. Eu não me importava mais com os machucados, não naquele momento em que ele tinha a mão estendida para mim, esperando que eu desse o próximo passo. E assim fiz. Peguei a sua mão como se fosse meu bote salva-vidas, porque tinha sido por aquele homem que eu tinha mudado tudo na minha maneira de ver a vida e encarar o mundo. Segurando sua mão firme e quente, eu sabia e entendia que o meu lugar era ao lado dele.
— Confio. — minha voz saiu firme e sincera quando me levantei, segurando a mão do homem da minha vida.
Nathan parecia que tinha prendido a respiração durante o tempo em que esperou uma resposta, e quando voltou a respirar, aquele brilho em seus olhos, que eu tanto amava, estava mais vivo.
Ele me conduziu pela sala enorme até chegarmos à porta do seu escritório, e então ele a abriu, dando espaço para que eu passasse. Eu não sabia o que esperar. Nathan estava se tornando algo impossível de se decifrar. Fiquei parada, enquanto ele arrastava uma das cadeiras até o meio e depois voltava para trancar a porta. Foi até as janelas, de onde dava para ver a maravilhosa Nova Iorque, fechou as persianas, e nesse momento tudo ficou escuro. Enfim, senti as mãos firmes de Nathan segurando a minha cintura. Meu coração disparou e minha respiração só Deus sabe onde foi parar.
— Lizzie, neste momento, minha vida, tudo, depende unicamente de você. — falou quase sussurrando, perto da minha orelha — vou ajudar você a se sentar naquela cadeira e mostrar mais uma parte da minha vida para você. Tudo bem? — Deus! Ele estava tão perto que ficava difícil me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse aquela voz rouca e perigosa, e o fato de ele segurar a minha cintura daquela maneira.
— Tudo — respondi quase como num sussurro. Ele tirou a sua mão da minha cintura e levou-a até chegar a minha mão, me conduzindo novamente até chegar à cadeira que ele tinha colocado no meio do escritório. Já não ligava mais para minhas costelas doloridas e nem para os arrepios de alerta que surgiam a cada segundo.
Depois de alguns segundos de silêncio, pude ouvi-lo pegar algo, caminhar até mim e ficar ao meu lado, colocando uma de suas mãos sobre o meu ombro, fazendo com que uma onda de calor tomasse conta do meu corpo.
— Pronta?
— Não. — tentei controlar o nervosismo em minha voz — mas agora já é tarde demais.
Quando um painel se abriu a minha frente, congelei. Uma luz azul saiu de dentro daquele lugar e vários compartimentos começaram a se abrir, e eu vi. Vi que o que ele falava era ainda mais verídico. O que ele tinha guardado ali dava para iniciar mais duas guerras mundiais e ainda sobrava para exterminar os sobreviventes. Nathan estava armado até os dentes. Armas de vários calibres, sem falar de outras coisas que eu não fazia a mínima ideia para o que serviam. Não sei explicar o motivo de não ter ficado ainda mais assustada com tudo aquilo, mas sei que o meu corpo reagiu de uma forma que jamais pude imaginar.
— É aqui que vamos continuar a nossa conversa — quando dei por mim ele estava na minha frente e de costas para o seu armamento, e nem percebi quando ele tinha puxado outra cadeira e sentado — Lizzie, pode perguntar o que você quiser que eu vou responder.
— Merda... — soltei sem querer, já que o maldito filtro tinha ido pros quintos dos infernos — quantas armas... — eu realmente estava surpresa — você já usou a maioria? — eu não conseguia me concentrar e sentia que minha boca estava aberta como uma i****a.
— Sim. — respondeu, e pude notar pelo tom da sua voz que estava achando graça naquela minha atitude. — A maioria em missões oficiais. — eu m*l conseguia ver o seu rosto, mas tinha certeza que ele estava esperando mais.
— Nossa... você deve ficar gostoso usando aquela roupa ali — mais uma vez o filtro não funcionou e eu me peguei apontando para uma roupa preta, com colete à prova de balas e coldre de couro preto.
— E eu achando que você gostava dos meus ternos — brincou, se acomodando melhor na cadeira; quando fez isso, um feixe de luz atravessou o seu rosto e seu peito nu, mostrando a firmeza e o poder estampados em seus olhos — depois eu visto ela para você. No entanto, eu sei que existem outras perguntas aí nessa sua cabecinha.
— Certo. Claro que tenho. — falei fechando a boca e limpando a imagem dele naquela roupa.
Que diabos eu tinha? Aquilo não era normal, não mesmo. Não quando era para eu estar completamente apavorada e sem querer ver ou tocar nele... Mas havia algo diferente dentro de mim.
— Como a sua irmã se encaixa nisso tudo...? — questionei, raciocinando e tentando formar as palavras, antes de prosseguir para a próxima pergunta — isso se ela for mesmo sua irmã.
— Ela é o meu apoio... — fez uma pausa — e ela é sim minha irmã — disse antes mesmo que eu perguntasse —, e mesmo que eu não a quisesse nessa missão, não tenho controle sobre ela.
— E sua família — fiquei curiosa — onde eles se encaixam nisso tudo?
— Nossos pais morreram em um acidente de carro há onze anos. Depois disso me tornei responsável por ela, ou seja, Gretha é a única família que tenho — Deus! Ele era praticamente sozinho no mundo, assim como eu ele só tinha a irmã — ainda não me habituei em falar dos meus pais como se fosse algo do passado, e por isso não falei deles com mais detalhes quando contei sobre Gretha.
— O que vai acontecer, depois que isso tudo acabar?
— Eu serei o próximo presidente dos Estados Unidos. — Oi!? Como assim ele se tornaria presidente dos Estados Unidos?
— Mas, esse não é um disfarce? Você quer mesmo continuar na política, mesmo depois de tudo?
— Meu doce, esse já é o início da minha aposentadoria, mas vai ser para o serviço da inteligência. Lembra? Eu não tenho registro algum, e as informações que existem sobre a minha vida, depois de tudo isso, foram implantadas, menos o meu nome — explicou calmamente, com o tom de voz baixo — é isso que acontece quando se termina uma missão como essa. Minha imagem foi criada para ficar na política, desde o momento em que recebi a missão.
Então era assim que os outros tinham realmente se tornado presidentes? Será que eram, na verdade, agentes do governo que tinham recebido suas “aposentadorias” depois de missões de alto risco?
— Onde exatamente o Ian entra? Ian sabe sobre você e Gretha?
— Sim, ele sabe que ela é uma agente. — ele começou a explicar — Ian é o analista comportamental, quase um detector de mentiras ambulante, e um ótimo agente de campo. É ele quem cuida dos acessos e invasão dos sistemas de informações codificados e criptografados.
— Ficou bem explícito agora — assenti tentando entender, ou melhor, sintetizar mais uma informação.
— Eu entendo que você não consegue expressar exatamente o que sente, por causa do impacto que as informações causaram em você, mas, se não conseguir assimilar, e quiser ir embora, eu vou entender...
E lá estávamos novamente na questão onde ele achava que eu não conseguiria suportar e que eu era feita de porcelana. Na verdade, eu não era feita de p***a nenhuma além da vontade de querer justiça.
As coisas estavam muito estranhas na minha vida, e eu entendia que precisava dar um jeito de resolver isso tudo, e só assim poderia ter uma vida feliz e plena ao lado dele. Isso se não acontecesse algo que destruísse os meus sonhos. Porém, ter fé também fazia parte da minha alma. Eu tinha uma vida de m***a antes de conhecer Nathan, e depois dele, apesar do que tinha me acontecido, eu sentia meu corpo e minha alma mais leves. Eu ainda tinha fé que tudo se resolveria.
Meu amor por ele estava fazendo isso, e eu não tinha condições de me afastar nem um segundo sequer daquele homem, mesmo ele tendo matado quatrocentos e... p**a que o pariu... ele tinha matado mais gente que o próprio j**k, o estripador. Está certo que o j**k era um assassino impetuoso e Nathan tinha motivos... ou não?
— E as pessoas inocentes... — quando comecei a falar, vi que ele ficou ainda mais quieto. Eu m*l podia ouvir a sua respiração — realmente foi necessário, você sabe... matá-las?
— Matei mulheres... que eram mães, Lizzie — meu coração parou de bater e eu me esqueci de respirar com aquela revelação — mulheres que se jogaram na frente de seus maridos e filhos para que não fossem mortos, e depois disso algo dentro de mim mudou. A culpa de aquilo tudo ter acontecido foi de Isaäk... se ele não fosse um m***a, e não conseguisse encontrar maneira de fugir, essas coisas não teriam acontecido. Eu sempre terei pesadelos com os rostos das pessoas que matei, mas Isaäk não se arrepende dos milhares que já matou...
— Eu não sei o que dizer... E nem o que fazer. — Nathan tinha um grande peso em suas costas, e esse peso era consequência das investigações que ele tinha que fazer para poder chegar até Markov.
— Basta você saber toda a verdade sobre mim, e não fugir — dava para sentir a dor em sua voz — Casando comigo, se tornando minha mulher.
— Nathan... — suspirei tentando encontrar as palavras certas — eu disse o que você queria ouvir. Um talvez. Lembra? Não posso prometer nada, além disso. Por enquanto, você tem a mim e já sabe que eu sou sua. Completamente sua e não vou a lugar algum, mesmo que o meu corpo diga o contrário. Eu só preciso de um tempo para digerir tudo e organizar a minha vida...
— Então, se você é minha, você tem que usar algo no seu dedo, para que todos vejam que estamos juntos — quando dei por mim, Nathan estava ajoelhado bem na minha frente, todas as luzes começaram a acender e eu vi.
— Nathan... — o que ele estava fazendo? Mesmo depois de tudo que conversamos ainda estava tentando me convencer a dizer “sim”?
— Lizzie, meu amor... Passei uma vida inteira de sofrimento e dor procurando e tentando encontrar alguém que fizesse o meu coração voltar a bater mais forte, que fizesse os meus dias mais iluminados e minha alma livre de culpa. E enfim, encontrei você. A mulher de atitude e coragem, que fez meu mundo virar de ponta-cabeça com apenas um toque. Seja minha, Lizzie.
Nem em um milhão de anos eu conseguiria me recuperar daquele acontecimento. Meu pulso estava acelerado e tudo que eu conseguia fazer era olhar para ele e escutar cada palavra que dizia.
— Não fuja de mim, mesmo que eu tenha feito coisas das quais não me orgulho nem um pouco. Hoje, quando completamos um mês, quero que você aceite ser minha, não apenas por um instante, mas para a vida toda — ele tinha uma caixinha em sua mão. Uma caixinha de couro preto, com forro azul por dentro e um anel. Não tinha brilhantes e nenhum tipo de pedra preciosa, apenas o anel de prata com uma fina linha dourada adornando, mas que aos meus olhos era o anel cravejado de diamantes mais caro do mundo. E como dizer apenas um talvez, quando ele estava bem ali, ajoelhado aos meus pés e me pedindo em casamento com aquele olhar apaixonado?
— É lindo... — murmurei, olhando para ele, amando ainda mais aquele homem, que mesmo tendo feito o que fez, deixava meu coração aquecido e ainda mais louca por ele.
— Apenas diga que aceita ser minha, e eu espero o seu sim. Espero por você — eu não respondi, apenas estendi a minha mão para ele, que com muito amor, colocou o anel no meu dedo, dando um beijo carinhoso e sorrindo — minha.
— Sua — era assim que eu me sentia. Dele. Eu era dele e nada nesse mundo ia me impedir de ser feliz ao seu lado...
Isso era o que eu pensava.