Taylor - Dois dia depois de seu desaparecimento
O sonho,,,
Serena.
Ela corria na minha direção.
Vestido branco, cabelos soltos, sorriso tão brilhante que parecia capaz de apagar toda a escuridão que eu carregava dentro de mim.
O campo era aberto, verde, iluminado por um sol dourado que aquecia a alma. O vento balançava as flores ao redor dela, como se o mundo inteiro estivesse em festa só porque ela existia.
E ela…
Ela vinha pra mim.
Eu via o amor nos olhos dela.
Sentia o cheiro doce de sua pele — uma mistura de baunilha e algo que era unicamente dela, algo que grudava na minha alma como tatuagem.
Seu sorriso era a coisa mais bonita que eu já tinha visto. Mais bonito do que qualquer estrada aberta, do que qualquer pôr do sol que eu já cruzei em cima de uma Harley.
Ela era minha redenção.
Quando Serena chegou até mim, pulou nos meus braços como se o mundo todo tivesse desaparecido. Eu a segurei, forte, sentindo o calor dela contra meu peito, a respiração dela contra minha pele.
— Eu te amo, Tay — ela murmurou, acariciando meu rosto com aqueles dedos macios, aqueles olhos grandes me prendendo ali como prisioneiro feliz. — Pra sempre.
Beijei-a.
Beijei-a como um homem beija a mulher que é seu início, seu meio e seu fim.
Seu gosto era doce, suave, embriagante como romã madura sob o sol.
Meus braços a apertaram mais forte, como se eu pudesse fundi-la em mim, como se eu pudesse impedir que o mundo nos separasse de novo.
Ali, nos braços dela, eu era um homem livre.
Um homem inteiro.
— Você é tudo pra mim, Serena. Tudo — sussurrei contra seus lábios.
Ela sorriu, me beijou de novo.
E no fundo da minha mente, uma sombra fria começou a se arrastar. Um incômodo. Um aperto no peito.
Serena parecia começar a se desfazer em meus braços, como fumaça levada pelo vento.
— Não... — tentei segurar, tentei chamar — Serena! Fica comigo!
Mas ela desapareceu.
A luz sumiu.
E de repente eu estava caindo.
Caindo num abismo escuro.
E então acordei.
Acordei como se alguém tivesse jogado água gelada na minha cara.
Acordei com o coração disparado, o suor escorrendo pela testa.
Tentei me levantar — mas alguma coisa me segurou.
Olhei para os lados, o pânico explodindo dentro de mim.
Braços amarrados. Pernas amarradas.
Estava preso.
Amarrado a uma cama velha, suja, o colchão fedendo a mofo e sangue seco.
— QUE p***a É ESSA?! — gritei, puxando as amarras com toda força, sentindo a pele rasgar contra as cordas.
Ninguém respondeu.
Gritei de novo, mais alto, o peito doendo de raiva e medo.
— c*****o, ME SOLTA, FILHO DA p**a!
Me debati, tentando chutar, tentando quebrar a cabeceira podre da cama, mas nada cedia.
O quarto era pequeno, m*l iluminado por uma única lâmpada pendurada no teto, balançando como se zombasse da minha fraqueza.
Minha cabeça latejava.
O mundo girava.
Onde eu estava?
Como caralhos eu tinha parado ali?
Fechei os olhos, tentando forçar a memória a colaborar. A última coisa que lembrava era estar no bar, rindo com os caras do MC. Bruk, Sleep, Volum… minha despedida de solteiro. Cervejas na mão, piadas sujas, brincadeiras de irmão.
E depois...
Nada.
Um buraco preto.
Abri os olhos de novo, a bile subindo na garganta.
Serena.
Meu casamento.
Minha pequena estava me esperando.
Meu estômago revirou.
Ela devia estar sozinha. Vestida de branco. Esperando. Sorrindo. Acreditando que eu iria encontrá-la no altar.
E eu...
Eu estava aqui.
Preso como um animal.
Ela devia estar desesperada. Sozinha.
Achando que eu era um maldito covarde. Achando que eu a abandonei.
A dor no peito foi mais forte do que qualquer ferimento que já levei na estrada.
Era como se estivessem me arrancando o coração vivo do peito.
Pensei nela.
No seu jeito de morder o lábio inferior quando ficava nervosa.
Na gargalhada dela, leve, musical, que fazia todo o barulho do mundo desaparecer.
No jeito como seus olhos grandes me olhavam como se eu fosse melhor do que eu realmente era.
Na forma como ela confiou em mim.
E eu…
Eu fui o primeiro dela.
Lembrei da nossa primeira noite juntos.
Do medo nos olhos dela, da inocência.
Do jeito como ela se entregou pra mim como se eu fosse o herói da história dela.
Como se eu fosse digno.
E agora?
Agora ela devia me odiar.
Devia estar se perguntando como pôde ser tão i****a de acreditar em mim.
E talvez estivesse certa.
Talvez eu fosse mesmo um maldito i****a.
Mas uma coisa eu sabia, do fundo da minha alma:
Eu nunca teria deixado Serena.
Nunca.
Ela era o meu anjo.
Minha luz.
A única coisa pura que eu tinha.
E agora... eu estava aqui, fodido, amarrado, drogado, enquanto ela sofria sozinha.
Enquanto todo mundo achava que eu tinha fugido como um filho da p**a covarde.
Gritei de novo, a garganta rasgando.
— SERENA! — berrei, mesmo sabendo que ela não podia me ouvir.
Mesmo sabendo que talvez nunca me ouvisse.
Puxei as cordas até os pulsos arderem.
Puxei até o sangue escorrer.
Mas a cama não cedia.
As correntes não quebravam.
E o quarto, o maldito quarto, continuava girando ao meu redor.
Eu respirei fundo, tentando não desmaiar. Tentando manter a cabeça firme.
Eu precisava sair dali.
Eu precisava voltar pra ela.
Eu precisava olhar nos olhos da Serena e dizer que não a abandonei.
Que ela era meu tudo.
Que eu teria dado minha vida pra estar ao lado dela naquele altar.
Que ela era o começo e o fim da p***a da minha existência.
A luz oscilou no teto, lançando sombras estranhas nas paredes sujas.
E eu jurei, com tudo que ainda tinha dentro de mim:
Eu ia sobreviver.
Eu ia encontrar o caminho de volta.
Eu ia recuperar minha mulher.
Nem que eu tivesse que atravessar o inferno arrastado de joelhos.
Porque Serena era minha.
E eu era dela.
Sempre.