Taylor - Antes do dia do casamento
Seja homem, Taylor.
Eu cresci ouvindo essa merda.
Desde que eu me entendo por gente, a voz do meu pai, Roger, era como um martelo batendo dentro da minha cabeça. Cada erro, cada lágrima, cada momento de fraqueza era esmagado por essas três palavras.
Seja homem.
Eu tinha seis anos quando tudo desabou de verdade.
Lembro do cheiro do diesel impregnado na garagem, o barulho de caminhões entrando e saindo da propriedade, homens indo e vindo com armas enfiadas na cintura e olhos frios. Lembro da minha mãe também.
Susan.
A única coisa suave da minha vida.
Ela era o tipo de mulher que sorria até mesmo quando tudo em volta parecia prestes a explodir. E Deus sabe que, naquele lugar, explodir era o que a gente fazia de melhor. Ela tentava me proteger. Tentava esconder o pior de mim, como se seus braços frágeis pudessem impedir o inferno de alcançar um moleque pequeno demais pra entender o que era viver num cartel.
Mas naquela noite... naquela p***a de noite… ela não ficou.
Vi a mala no chão, aberta e vazia. Vi ela chorando no corredor, o rosto machucado e a esperança morta nos olhos. E vi também meu pai, parado na porta, braços cruzados, olhando pra ela como se estivesse pronto pra esmagá-la, caso ela fizesse qualquer movimento errado.
— Eu preciso ir, Kaio — ela sussurrou pra mim, ajoelhada pra ficar na minha altura. — Eu preciso ser livre.
Eu só conseguia chorar. Segurei no vestido dela com as duas mãos, implorando com os olhos. Mas ela soltou meus dedos um a um. Me deu um beijo na testa. E foi embora.
Sem olhar pra trás.
Sem me levar com ela.
E ali, naquela garagem imunda, cercado de homens armados e cheiro de sangue, foi a primeira vez que eu entendi o que era ser abandonado.
Meu pai?
Ele não me consolou.
Só me lançou aquele olhar frio de sempre e disse, como se estivesse me ensinando a respirar:
— Seja homem, Taylor. Levanta essa p***a de cabeça.
Eu tinha seis anos.
Seis.
E aprendi que no meu mundo, chorar era proibido.
Os anos que se seguiram foram como um campo de treinamento brutal.
Meu pai não queria um filho.
Queria um soldado.
Treinou meu corpo como se eu fosse um animal de guerra — soco na boca se reclamasse, castigo com cinto se errasse, noites inteiras trancado no porão se ousasse demonstrar fraqueza. Eu apanhava até entender que, no final das contas, eu não era feito pra sentir. Era feito pra obedecer.
Roger Smith era líder de um cartel grande o bastante pra rivalizar com metade do Texas. O tipo de homem que matava sem piscar, traficava armas como quem vende doces, e usava a palavra "família" como desculpa pra destruir tudo o que tocava.
Eu cresci ouvindo gritos, tiros, motores de caminhões atravessando a noite carregados de morte.
Cresci ouvindo a risada fria dos capangas bêbados comemorando o que tinham feito com gente que devia ter pagado e não pagou.
Cresci achando que aquilo era o que me esperava.
E por um tempo... por um tempo eu aceitei.
Com doze anos eu já tinha levado surra de cinto o suficiente pra entender que falar pouco e obedecer rápido era o segredo pra sobreviver.
Com quinze, já sabia carregar uma arma, dirigir como fugitivo e apagar rastros melhor do que muito homem feito.
Mas eu sabia que, se ficasse ali, ia me transformar em tudo que eu odiava.
Ia virar o próximo Roger Smith.
E eu preferia morrer.
Fugi de casa no dia em que completei dezesseis anos.
Não pensei duas vezes.
Esperei a casa ficar vazia, joguei umas roupas numa mochila rasgada, roubei uns trocados da gaveta do escritório e meti o pé.
Não olhei pra trás. Não chorei. Não tremi.
Já fazia anos que eu tinha aprendido que ser homem era não fraquejar.
Meu destino?
A casa do meu avô.
O velho Hawk, pai da minha mãe.
O único homem que minha mãe respeitava.
O único homem que meu pai temia.
Ele era o presidente dos Vultures MC, um motoclube que todo mundo na estrada conhecia. Eles eram os 1% de verdade — aquele 1% que vivia fora da lei, que não precisava de governo, nem de permissão, nem de c*****o nenhum.
Os Vultures não eram santos.
Mas, pela primeira vez na vida, encontrei homens que sabiam o que era lealdade.
Homens que cuidavam uns dos outros.
Homens que entendiam que você podia ser um filho da p**a — mas nunca deixava um irmão pra trás.
Hawk me recebeu como se eu fosse sangue do sangue dele.
Sem perguntas. Sem cobranças.
Só me olhou com aqueles olhos duros de quem já viu o inferno de perto e disse:
— Aqui, você vai aprender a ser homem de verdade, moleque. Não igual àquele merda do seu pai.
E eu aprendi.
Aprendi na estrada, com os motores rugindo contra o vento.
Aprendi na oficina, consertando motos e tomando cerveja quente às três da manhã.
Aprendi sentado nas fogueiras, ouvindo histórias que ninguém mais teria coragem de contar.
E, principalmente... aprendi o que era família.
Não aquela merda de sangue, medo e obrigação que meu pai enfiou na minha cabeça.
Família de verdade.
Onde você escolhe ficar.
Onde você sabe que, quando a merda estoura, sempre vai ter alguém com você no tiroteio.
O moleque magrelo que chorou vendo a mãe ir embora morreu naquela garagem, anos atrás.
No lugar dele, o mundo moldou Taylor Smith.
Um homem que aprendeu que confiar é um risco.
Que amar é uma fraqueza perigosa.
E que, no fim das contas, você só pode contar com o que consegue carregar numa mochila: sua arma, sua jaqueta, sua moto... e seu instinto de sobreviver.
É por isso que eu não amo fácil.
É por isso que eu não baixo a guarda.
Ou...
Era.
Até ela.
Até Serena.
Aquela garotinha doce, de olhos grandes e sorriso fácil, que entrou na minha vida como uma brisa leve...
E sem nem perceber, abriu todas as minhas cicatrizes.
Mas isso... isso é história pra depois.
Agora você precisa entender quem eu sou.
De onde eu vim.
Porque antes de Serena, antes do altar vazio, antes da p***a do porão onde me enfiaram...
Eu era apenas o filho do d***o.
E ser homem, como meu pai dizia, era a única escolha que eu tinha.