Capítulo 07

2000 Palavras
Alex caiu na poltrona assim que ficou sozinho com Elisie na sala do escritório. Desabotoou os três primeiros botões, limpou o suor da testa. Elisie o encarava, silenciosa, envergonhada. ― Se você morresse... ― Elisie foi interrompida pelo anúncio de que Ysdora estava na porta. Em seguida a concubina entrou. ― Majestade, por que fez o anúncio tão cedo? Veja o seu estado. ― Estou bem, Ysdora, só um pouco cansado. ― Ela sentou-se ao seu lado, enxugando com um lenço o suor que pingava do pescoço do rei. ― Diga-me, o que aconteceu realmente? Não pense que eu acredito que foi apenas uma alergia ao vinho. Você não tem alergia a vinho. ― Era isso o que eu acreditava. Ysdora, eu e Elisie iremos ao templo, por favor, seja uma boa imperatriz. E cuide das outras concubinas, não deixe que os ministros e os nobres pisem em você. E primeiro, proteja Jeremy. O príncipe herdeiro. ― Ao ouvir a príncipe herdeiro Elisie engoliu em seco, Jeremy nunca devia se tornar o príncipe herdeiro. ― Claro que protegerei o príncipe, e cuidarei do nosso reino como você cuida. Só me magoa. ― O que te magoa? ― Ysdora lançou um olhar irritado para Elisie que observava a tudo sentada de frente para eles. ― Não ter sido eu quem você escolheu para ir ao templo. É sempre a rainha que você escolhe. ― Ysdora, se tivesse dito horas antes de anunciarmos você como imperatriz, que desejava ir, não teríamos feito isso. E o rei e a rainha de Margoth tomariam conta de Darkeng. ― Elisie mentiu, porém, era a única forma de fazer Ysdora se conformar. ― Entendo, e agradeço a sua bondade, minha rainha, não há rainha no mundo que criaria uma posição quase tão alta quanto a sua própria. ― Se você se sente agradecida, fique bem até o nosso retorno. ― Ysdora concordou, e percebendo que a conversa chegara ao fim, curvou-se e saiu do escritório. Elisie suspirou. ― O que foi? ― Indagou Alex sem demonstrar nenhuma expressão. ― Ainda estou aflita, como pude envenenar o vinho do meu próprio pai? E quase m***r o meu amigo. ― Você sofreria mais se ele tivesse tomado. Eu fui um caçador, adquiri ao longo dos anos uma forte resistência a venenos. ― Só não entendo como você tomou a bebida do meu pai, se num segundo você estava ao meu lado. ― Ele sorriu sem graça, desviou os olhos para a cortina de seda n***a. ― Você estava envolvida demais na conversa com Bartram que não notou quando o rei acenou para eu ir até ele. Fizemos um brinde, e foi assim que acabei tomando o vinho do seu pai. *** Enquanto as servas arrumavam as roupas de Elisie na pequena mala, ela brincava com Jeremy sentados na cama. Os cabelos ruivos do pequeno príncipe com o passar do tempo se tornavam mais vividos e chamativos. ― Ele parece-se com a alteza Melinda, infelizmente, se ele pelo menos tivesse os olhos do príncipe. A senhora, minha rainha, não sentiria muita saudade. ― comentou Lian, dobrando um casaco. Elisie acariciou os fios ruivos, amava aquela criança mesmo não sendo sua, nem de Dixon. E pelos olhos dele, ele amava-a também, como se ela desde o primeiro dia em que o seu coração começou a bater fosse sua mãe. ― Não importa, ele é lindo mesmo não se parecendo com Dixon. ― Majestade, encontrei os seus brincos. ― Avisou uma das servas, mostrando a Elisie os aterrorizantes brincos das almas gêmeas. Jeremy foi mais rápido em pegá-los da palma da serva. ― Bonito, mamãe. ― Lian, coloque-os junto das coisas que levarei na viagem. ― Majestade, a rainha do outro reino deseja vê-la na primeira torre. ― Elisie suspirou. Deixou Jeremy com a serva e seguiu até a sua mãe. Elena cobria o corpo com uma manta grossa, os ventos naquela altura eram severos. Elisie hesitou por um momento, mas logo seguiu a sua mãe. ― O que deseja, majestade? ― Minha filha, Elisie... ― Vai me contar o que esconde ou terei que descobrir por mim mesma? ― Contarei, não é o que você pensa. Seu pai fez isso para te proteger, meu bem. O reino estava afundado em dívida, isso é um fato. Porém, quando ele veio pedir ajuda ao príncipe Cordial, não era por ambição. Só aconteceu de ele ser o herdeiro do reino mais poderoso. ― Não me importa isso. Quero saber do que você e seu marido conversavam. Disseram que eu não posso descobrir. O que é que eu não posso descobrir? ― Você sofreu um acidente quando tinha doze anos. ― Que? Nunca sofri... ― Você não se lembra, foi um choque muito grande. Perdeu todas as lembranças desse ocorrido. ― Então o que? O que foi que me aconteceu? ― Um bruxo te sequestrou e arrastou até uma caverna, se não fosse um caçador te salvar e cuidar de você, nem sei o que teria acontecido. Ele te trouxe de volta para nós. ― Quem era esse caçador? ― Alexyan surgiu na porta, o rosto pálido, como se sua máscara tivesse sido exposta. Elisie entendeu, pelo olhar que a sua mãe lançou ao príncipe. ― Por que nunca me disse? ― Quis saber encarando o seu marido falso, com os olhos incrédulos. ― O que aconteceu para que eu não lembre de nada? ― Ele não chegou a fazer nada. ― Porque não me disse? ― Elisie, eu matei o bruxo diante dos seus olhos. Foi por isso que você escolheu esquecer. Algo não estava certo naquela história, Elisie sentia que havia mais coisa, se fosse apenas isso, sua mãe não estaria aos soluços no corredor perguntando ao marido se Elisie sabia ou não. No entanto, forçou um sorriso, agradeceu por revelarem o tal segredo terrível, e se foi guardando para si mesma sua face de ódio. *** ― Não vá. Não vá mamãe. Por favor, não vá. ― Gritou Jeremy agarrado ao vestido de Elisie. Todas as concubinas, o príncipe e os reis de Margoth foram se despedir dos reis que seguiam até o templo das sacerdotisas. ― Jeremy, por favor, pare de chorar. Você é um príncipe. ― Não vá. Por favor. ― Gritou mais uma vez esfregando o seu rosto empapado de lágrimas contra o vestido dela. ― Jeremy, voltaremos logo. ― Mentira. Antes vocês demoraram. Não vá. ― Elisie pegou ele no colo, limpou as lágrimas do seu pequeno filho, deu um beijo em sua testa. ― Seja um bom menino e me obedeça. Vá com Ysdora e as outras. Voltarei logo. ― Ela o entregou para a criada. ― Leve-o. ― Sua voz saiu fria, deu as costas ao filho sem sequer derramar uma lágrima, não sabendo as coisas horríveis que a aguardavam no futuro. ― Voltaremos logo. ― Sussurrou antes de entrar na carruagem. ― Elisie, será que ele ficará bem? Consigo ouvir seu choro até aqui. ― Ficará. Ele deve aprender a se comportar como um príncipe. ― Se algo acontecer conosco. Ele será o príncipe que herdará o trono. ― Não acontecerá nada conosco. Não pode acontecer, você devia ter dormido com uma de suas concubinas. Devia ter um herdeiro. Só assim... ― Ele não é filho do Leican, não é? ― Como você... ― Eu não sou bobo, Elisie. Você sabe muito bem que quem não tem sangue da família Leican não pode subir ao trono. ― Sim, ele será amaldiçoado pelo deus tempo. O dono de toda a terra. ― Elisie puxou a cortina da janela, toda a cidade tinha sido consumida pela neve. Havia além da neve, um silêncio deprimente. ― Alex, você acha que esse inverno é minha culpa? Por eu ter colocado uma criança sem sangue na linhagem dos Leican? Alex analisou o rosto de sua amada, tocou em sua mão enluvada, negando com a cabeça. ― Jamais, não pense essas coisas. Os deuses não são tão cruéis. Na verdade, eles não se importam com o que fazemos. ― Obrigada, realmente muito obrigada por me ajudar a encontrar os filhos deformados. ― A carruagem parou depois de uma hora e meia de viagem. ― Será que são ladrões? Novamente? Não creio que seja perigoso até durante um inverno assim. ― Fique aqui... ― Alex foi interrompido por Elisie que o puxou para trás e saiu da carruagem. ― O que está acontecendo? ― Majestade. Há uma pessoa morta na estrada. Bem no meio da estrada tinha um corpo delgado em vestes finas e encardidas. Elisie arrancou a adaga do cinco e se aproximou. Virou o corpo, se certificou se ainda respirada e então ordenou: ― Guardas, carreguem-na para dentro da carruagem. ― Ordenou, sentindo uma animação desconhecida. Alex se aproximou, ao ver a jovem bruxa desmaiada no chão, recuou um passo, incomodado. Elisie abriu um de seus baús para pegar roupas quentes para sua companheira de viagem. A bruxa teve febre por dois dias inteiros, só voltou a si quando chegaram no templo. Elisie encarou aquela gigantesca construção, um palácio todo em mármore branca. A porta talhada com diversas estórias dos primeiros deuses. De cada lado havia uma estátua também de mármore, mas um mármore escuro. Um velho careca com brincos de opala branca apareceu na entrada, não se curvou diante da rainha e do rei de Darkeng, simplesmente saudou-os com um sorriso. ― Majestades, devem trocar de roupas. Não se preocupem, embora a roupas do templo sejam brancas como o gelo, não são frias como ele. ― Brincou, apenas a sacerdotisa ao seu lado deu um risinho. Do lado de dentro não fazia frio, por conta dos inúmeros bruxos bons que viviam lá. Embora o lugar fosse quente, possuía um ar deprimente. Muitas moças encaravam Elisie quando seguia para seu quarto, tinha tristeza em seus olhares. ― Provavelmente foram forçadas a vir. ― Murmurou para Alex. ― Nem todas, as que fogem de casa encontram no templo um lar. Agora vá trocar de roupa, precisamos fazer as rezas aos deuses para poder seguir caminho. ― Por que me trouxe para cá? Por que? ― Controle-se, bruxa. ― Não me chame de bruxa. Tenho um nome. ― E qual é? ― Bruxins. ― Elisie gargalhou. ― Não ria, eu sou a alma dela então por que não usar esse nome? ― É proibido usar esse nome sagrado, garota. Você não tem nome mesmo? ― Não. ― Elisie suspirou, amarrou o cabelo com a fita branca antes de analisar a bruxa, era bem jovem, não possuía modos, e ainda estava desnutrida. ― Briana, você se chamará Briana. ― A bruxa abriu um largo sorriso. ― Briana. Gostei. Gostei muito, obrigada. ― Não se importe em me agradecer. Posso saber o que você fazia jogada no meio da estrada? ― Briana se encolheu na cama, abraçou o travesseiro. Em seus olhos passou as imagens brutais do que havia lhe passado. ― Então? ― Insistiu Elisie. ― Fugi. ― Continue. ― Eu fugi de minha família. Logo depois que sai do poço, minha adorável irmãzinha sentiu que eu estava livre e mandou o pai me achar e me levar de volta ao poço. Porém, consegui fugir dos guardas dele, e fim. ― Fizeram isso por que você é a parte má da bruxa? ― Não. Eu sou a parte boa. ― Você matou vários homens, isso não a qualifica como boa. ― Acredite, eu sou a boa. A outra é perversa, jogou magia em meus pais. Por isso que eles a amam, e me odeiam. ― Briana, quem são seus pais? ― Não posso dizer. Você é uma rainha. ― Qual o problema? ― Você pode mandar m***r minha família. ― Inacreditável, ainda ama eles. Depois de tudo ainda ama eles. ― Sim, por que é um feitiço. Eles não sabem que... me amam. Elisie esfregou o rosto. Uma sacerdotisa bateu na porta, os objetos para a cerimônia estavam prontos. ― Briana, vamos. Os deuses ficarão felizes em receber as palavras de Bruxins.
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