Não demorou e logo chegaram a empresa. David "acordou" e logo no elevador já estava contando a todos que estavam no pequeno espaço que ele teria um irmãozinho e que estava muito feliz com isso.
— Papai! — ele disse assim que chegaram a sala de Beauchamp e estendeu os braços para que o pai o pegasse no colo.
— E aí Júnior? — pegou ele. — Se comportou direitinho?
— Comportei. — assentiu.
— Olha, nós vamos comer, você vai ficar um pouquinho com o papai e depois vai para casa ok?
— Tá bom. — ele assentiu, mexendo na gravata do pai.
— Meus parabéns, fiquei sabendo que você vai ser papai. — Molly disse, com um sorriso falso e insatisfeito. — Gostei de saber. — disse irônica.
— Pois é... — ele disse, não dando a mínima importância para o que ela achava ou deixava de achar. — Any me fez uma surpresa noite passada, obrigado pelas felicitações.
— Papai, eu estou com fome. — David reclamou.
— Vamos comer. — disse ao pequeno. — E você também pode ir almoçar. — disse a Molly e depois disso, saiu com David.
A mulher ficou espumando de raiva.
¨¨¨¨
Ao chegarem ao restaurante, ele pediu uma mesa com uma cadeira infantil para o filho. David tagarelava sem parar e dizia pra todos os funcionários do restaurante que teria um irmãozinho.
Enquanto fazia os pedidos o pequeno começou a cantarolar uma musiquinha e quando o garçom saiu seu celular tocou, era Any querendo saber se David já tinha comido. Falou com ela por alguns poucos minutos e logo desligou a chamada.
— Seu lobato tinha um sítio, ia ia ooo... E nesse sítio tinha um patinho, ia ia oooo... — David cantava e brincava com os guardanapos.
Joshua já não aguentava mais.
— Filho... — ele fechou os olhos. — Silêncio tá?
— Mas eu gosto de cantar papai. — disse sem tirar os olhos do guardanapo.
— Mas o papai está com dor de cabeça. — enfatizou.
— Papai eu quero fazer caquinha. — ele fez um biquinho, olhando para o pai, por fim. Joshua desejou se enterrar.
— Só pode ser brincadeira David... — Joshua cochichou, olhando para os lados.
— Não, eu tô com vontade de fazer... — ele voltou a brincar com os guardanapos. — A mamãe falou que não pode segurar a caquinha, por que faz m*l. — com careta. — Rápido papai... — ele arregalou os olhinhos azuis.
Joshua bufou e fez um sinal para o garçom.
— Cara, eu vou levar o meu filho no banheiro, coisa rápida. Qualquer coisa você pode servir.
— Claro senhor, não se preocupe. — assentiu prontamente.
Joshua tirou David da cadeirinha e assim que ia entrar no banheiro masculino alguém o chamou.
— Josh?
Ele se virou e deu de cara com Valerie, uma antiga colega de faculdade. Ela o olhou e sorriu abertamente, logo se aproximou.
— E aí Valerie? — ele mordeu o lábio. — Quanto tempo... Como vai? — ele a olhou de cima abaixo, ela tinha ganhado uns quilos, mas nada exagerado.
— Com saudades... — deu um sorriso insinuante. — E esse lindo garotinho? É seu?
— Ele é meu papai! — David respondeu, antes do pai.
— Não me espanta... Difícil seria se você não tivesse engravidado nenhuma mulher com tanto fogo e amor pra dar. — ela acariciou as costas e Joshua sorriu, se achando. — Ô senhor! — ela tapou o nariz, sentindo um mau cheiro.
Joshua arregalou os olhos e olhou David.
— Eu soltei pum! — o pequeno sorriu.
Valerie ergueu a sobrancelha e Joshua não sabia onde enfiar a cara.
— Que falta de educação David! — ele resmungou e o pequeno fez um biquinho de choro. — Desculpa Val, é que eu ia leva-lo ao banheiro. Depois a gente se fala, ok? — deu dois beijos na mulher e entrou no banheiro com o filho.
— Papai, você ficou zangado?
— Não, faz logo o seu cocozinho que eu tenho mais o que fazer. — ele rolou os olhos.
— É caquinha. — o pequeno corrigiu, enquanto abaixava a calça e a cuequinha. — Me ajuda a subir no troninho. — pediu.
Joshua rolou os olhos e o sentou no vaso. Realmente não tinha nenhuma paciência com crianças pequenas.
— Não vai embora papai!
— Eu não vou embora meu filho. — ele coçou a nuca e pegou o celular. — O papai está aqui fora.
O pequeno começou a cantarolar uma musiquinha enquanto Joshua aproveitava para passar umas ligações. Algum tempo depois David termina.
— Já terminei papai! — ele disse.
— Ótimo, agora lava as mãos e vamos comer. — Joshua disse, aliviado.
— Você tem que me limpar. — ele disse.
— Mas o que? — Joshua não estava acreditando.
— É papai, eu não sei ainda... A mamãe sempre me limpa ou me dá banho. — ele explicava.
Joshua xingou Any em pensamento enquanto entrava na pequena cabine e dava de cara com David, não era possível que teria que fazer aquilo antes de comer, mas tinha que ver o lado "bom", pelo menos era antes, se fosse depois com certeza vomitaria.
Pegou o rolo de papel e retirou alguns vários metros, enrolando em toda a sua mão pra não correr nenhum risco. Limpou o bumbum do pequeno morrendo nojo. Não era possível que nessa altura do campeonato ainda tivesse que limpar o bumbum de seu filho.
Depois de limpar o menino ele deu descarga e ambos lavaram as mãos e antebraço por quase cinco minutos.
Enquanto comiam, David observava uma família, que estava a umas duas mesas dali.
— Papai, por que você não gosta de mim? — ele perguntou, olhando a comida.
— Mas o que é isso agora? — ele perguntou, um pouco chocado por ouvir aquilo da boca de seu filho de três anos. — É claro que eu gosto de você. Não fale bobagens David. — deu uma garfada em seu prato.
— Você é diferente dos outros papais. — o pequeno suspirou.
— Já chega! — ele bufou. — Cuida em comer, que nós temos que voltar. — observou o pequeno mastigar e coçou a nuca.
Não acreditava que fosse um pai tão r**m a ponto de David pensar isso. Aquilo tinha lhe incomodado e de um jeito ou de outro ele não queria que seu filho pensasse daquela forma. Deu um suspiro longo e o chamou.
— Filho... — o pequeno o encarou e apoiou a cabecinha nas mãos. — Eu amo você, entendeu?
David sorriu e assentiu.
— Entendi. — ele voltou a comer, satisfeito.
¨¨¨¨
Assim que terminaram o almoço voltaram para a empresa, Viram Robert conversando com Molly. David ao ver o avô ficou todo alegre.
— Vovô! — correu até o homem, que já tinha alguns cabelos brancos.
— Mas olha só quem está aqui! — Robert sorriu abertamente. — Não é o garotinho do vovô? — pegou o neto no colo e lhe deu um beijo demorado na bochecha. — Que menino cheiroso!
— O papai me limpou, por que eu fiz caquinha. — ele fez uma caretinha, arrancando risos babões de Robert.
— O vovô pagaria o que fosse pra ver seu pai limpando você, meu querido. — apertou o narizinho dele, Joshua rolou os olhos. — Onde está a mamãe?
— Ficou em casa, ela tá com o meu irmãozinho na barriga e daí fica cansada. — ele explicou.
Robert olhou Joshua surpreso e este cerrou os punhos. Não queria que Robert ficasse sabendo da gravidez agora. Mas David tinha uma língua ferina. Que raios!
— Any está grávida? — o homem perguntou.
Joshua não teve como negar.
— Sim. — se limitou a dizer e entrou em sua sala.
Robert foi atrás, com Davi.
— Fico feliz meu filho! Espero que essa criança nasça cheia de saúde e traga muitas alegrias! — com os olhos brilhando ao saber que seria avô novamente.
— Tá... Obrigado. — disse sentando-se e dando pouco caso. — Pai, eu tenho umas ligações para fazer, se quiser levar o David com você, pode levar. — avisou, pegando o telefone.
— Infelizmente não vou poder levar ele, vou almoçar com um cliente antigo da empresa e ele vai renovar o contrato. Caso contrário, com certeza levaria meu neto comigo. — enfatizou e pôs o pequeno no chão.
— Eu fico com o papai. — ele disse olhando ao redor, arrumando um meio de aprontar.
— Molly! — Joshua chamou.
A garota apareceu, rapidamente.
— Sim?
— Dá uma folhinha, com umas canetinhas pra ele desenhar e fica de olho nele, ok? — Joshua suspirou.
— Claro, vem fofinho! — chamou o pequeno, com um sorrisinho.
— Mas eu quero ficar com o papai. — ele disse, choroso.
— Você vai ficar com a Molly, a porta vai ficar aberta, você pode ver o papai daqui. — Joshua explicou. — Combinado?
— Tá bom. — concordou e foi com Molly.
A garota deu um papel e algumas canetas e logo o menino se distraiu desenhando. Molly sorriu, até que ele era comportadinho.
¨¨¨¨
Enquanto isso, em casa. Any aproveitava que David estava com o pai para estudar um pouco. Lia um livro de língua portuguesa e devorava uma tigela de marshmallows.
— Nossa, espero que eu consiga aprender tudo isso... — ela dizia pra si mesmo, passando os olhos pelo livro. — Pelo menos tempo é o que não vai faltar. — ela deu um sorriso de lado e tocou o ventre.
Ouviu a campainha tocar e se levantou para atender. Ao abrir, deu de cara com Pedro. Ela ficou um pouco receosa, afinal estava sozinha.
— Pedro... — ela arrumou os óculos. — Que surpresa.
— Oi Any. — ele mantinha as mãos nos bolsos. — Desculpa vir sem avisar, mas eu estava aqui perto e resolvi fazer uma rápida visita.
— Ah... — ela franziu a sobrancelha. — Não tem problema, é uma pena que não tenha conseguido pegar o Josh em casa, ele não está. Está trabalhando.
— Oh, não me diga. — se fingiu de surpreso. — Resolvi subir justamente para vê-lo. — mentiu.
— Pois é, você só vai encontrá-lo em casa a noite, ou nos fins de semana. — suspirou.
— E você fica sozinha?
— Não, eu fico com meu filho... Só que hoje Josh o levou um pouquinho para a empresa, afinal ele estava querendo muito conhecer melhor o local de trabalho do pai. Então já viu não é? — sorriu de canto.
— Claro, infelizmente nem o pequeno tive a oportunidade de conhecer... — suspirou.
— Pois é... — Any mordeu o lábio, agoniada. Queria que Pedro fosse embora, e logo!
— Sua irmã vem muito aqui? — Pedro perguntou, de repente.
— Minha irmã? — Any franziu a sobrancelha, confusa com a pergunta repentina. Pedro assentiu. — Na verdade não, eu conto nos dedos às vezes que ela veio na minha casa. — suspirou, um pouco aliviada. Pedro provavelmente deveria estar interessado em Vivian. — Por que está me perguntando?
— Só curiosidade. — Pedro sorriu de lado.
Pelo menos Vivian e Any pareciam não serem tão amigas. Nada que justificasse a falta de vergonha de Josh, afinal ainda eram irmãs. Mas ao menos, Vivian não agia com falsidade.
— Bem Any, eu vou deixar você em paz. — ele ergueu a sobrancelha. — No fim de semana eu retorno. — olhou ao redor.
— Tudo bem, obrigada por ter vindo. — ela respondeu com educação. — Desculpa não te convidar pra entrar, é que pode pegar m*l. — mordeu o lábio.
— Não se preocupe com isso. — ele negou com a cabeça. — Eu entendo perfeitamente, você é uma mulher de muito valor que sabe se dar ao respeito. — ele mordeu o lábio e ficou olhando pra ela por alguns segundos, como se estivesse hipnotizado, segundos esses que mais pareciam uma eternidade para Any.
— Obrigada. — ela respondeu sem graça.
Pedro despertou e sorriu.
— Enfim... Tchau! — saiu.
Any deu tchau com a mão e o viu sumir no corredor. Fechou a porta, ainda achando estranha a forma que ele tinha lhe olhado. Com isso voltou a ler seu livro.
¨¨¨¨
Mais tarde, na empresa, Joshua sai da sala.
— Filho, vamos... Eu vou te levar para a sua mãe. — ele disse, recolocando o paletó.
— Mas eu quero ficar mais papai. — ele olhou pra cima, tentando enxergar o pai.
— Não filho, já está tarde... O papai tem que sair e também a mamãe deve estar com saudades, não está com saudades dela?
— Eu tou. — assentiu, olhando seu desenho.
— Então vamos! — ele disse.
David se levantou.
— Toma papai! — entregou a folhinha, a qual ele tinha feito um desenho. — Eu fiz pra você.
Joshua pegou a folha apressado.
— É lindo meu filho. — olhou de relance, mas não deu muita atenção. — Eu adorei. — entregou para Molly. — Guarda na minha gaveta. — ele pediu e ela assentiu, sorrindo para David. — Vamos?
— Tá! — ele sorriu, entregando as canetas da secretária. — Tchau tia Molly! — deu tchau com a mãozinha.
— Tchau lindinho. — apertou a bochechinha dele.
Joshua saiu com o filho e Molly foi até a sala dele, abriu a gaveta do chefe e depositou o desenho lá, suspirou ao ver que a criança tinha desenhado toda a família. A mãe, o pai, um pequeno que deveria ser ele e um mais pequenininho ainda, que deveria ser o irmãozinho que estava pra nascer.
Sentiu-se ligeiramente culpada por ter um caso com Josh. Depois de olhar o desenho resolveu repensar suas atitudes, Joshua tinha uma família e não seria ela que iria destruí-la.
¨¨¨¨
Joshua deixou o filho em casa e logo estava a caminho do local onde tinha marcado com seu cliente, enquanto estava dirigindo seu celular tocou.
— Pronto. — respondeu, parando em um sinal.
— Beauchamp. — ele reconheceu a voz de Pedro e rolou os olhos.
— O que você quer agora Pedro? — apertou o volante com força. — Não tenho tempo para as suas abobrinhas.
— Nem acredita onde eu estava mais cedo. — Pedro parecia estar se divertindo. — Fui visitar a Anyzinha.
Joshua congelou.
— Você não disse nada pra ela, não é? — ele perguntou nervoso, ouviu apenas a gargalhada de Pedro, do outro lado da linha.
— Não se preocupe, eu ainda não disse nada. Ainda. — enfatizou. — Mas você tem uma mulherzinha muito recatada, nem sequer me convidou pra entrar pra não pegar mal... — Pedro rolou os olhos. — Aproveite bem, pois a hora que me der vontade, seu casamentozinho perfeito vai pelos ares.