— Nem pense que isso vai acontecer sempre, entendeu? — Joshua ergueu a sobrancelha.
Pedro sorriu abertamente.
— É bom saber que continua esperto Josh. — Pedro observava satisfeito enquanto o loiro assinava o cheque. — Viu só como as coisas são fáceis quando sabemos dialogar? — pegou o cheque que Joshua lhe estendia, e ficou bastante contente com o valor. — Maravilha.
— Agora dá o fora daqui! — mandou.
— Você se apaixonou por ela... — Pedro deduziu, ignorando a ordem do outro. — Afinal você não me daria essa grana se não sentisse certo medo de perdê-la.
— É claro que não, Any pra mim continua servindo para as mesmas coisas.
— Quais? Pra você ela continua sendo sua prostituta exclusiva, empregada e babá do seu filhinho? — ergueu a sobrancelha.
— Pois é, é isso aí. — Joshua rolou os olhos, sem paciência. — Agora vai embora... E é bom não voltar mais.
— Não conte com isso. — Pedro levantou com um sorrisinho falso. — Até porque essa grana aqui não vai durar pra sempre. — se abanou com o cheque.
— Eu não vou te dar mais um tostão! — Joshua se levantou irritado.
— Vamos ver. — Pedro riu e saiu da sala, antes que acabasse apanhando de Josh, que parecia bem irritado.
— DROGA! — Josh chutou o ar, irritado. — Maldito! — xingou.
Ao entrar o elevador, Pedro sorriu satisfeito e pegou o gravador que estava em seu bolso. Agora sim ele tinha provas suficientes para mandar Joshua para o matadouro. Afinal, que prova melhor ele teria do que fazer Any escutar as verdades da boca do próprio maridinho?
¨¨¨¨
— Vai doer! — David choramingava, enquanto Any tentava passar um remédio no machucado dele.
— Não vai doer meu amor. — ela insistia. — Esse aqui não arde.
— Não! — fez um bico de choro.
— Se você não deixar a mamãe passar o remédio, o dodói vai inflamar. — ela explicava. — E aí sim vai doer muito.
— Mas por quê? — ele perguntou.
— Porque o remédio mata os micróbios, e sem o remédio o dodói enche de micróbios e acaba piorando. — ela explicou.
David ficou pensativo e Any o observava com um sorriso. Era tão lindo e fofinho.
— Tá bom, eu deixo a mamãe passar. — ele fez um bico maior e estendeu o bracinho. — Vai doer. — caiu no choro.
Any ficou com pena.
— Não vai doer, meu bem. — beijou a bochechinha dele e em seguida passou o remédio.
David fechou os olhinhos, sem parar de chorar, ela negou com a cabeça, sabia que não estava ardendo, e ele só estava chorando de medo. Fechou o frasco e fez outro curativo.
— Pronto. — o pegou no colo e sorriu. — Já acabou. — pegou o cotovelo dele e deu um beijo por cima do curativo. — Pronto, o beijinho mágico da mamãe. — ela piscou e ele esfregou os olhinhos, com um sorriso tímido. — Vai sarar rapidinho.
— Eu amo você. — ele abraçou a mãe.
— Eu também te amo. — ela sorriu emocionada. — Agora vamos almoçar, que eu acho que tem um certo mocinho com sono. — apertou o narizinho dele que riu.
Any almoçou com o filho e pouco depois de almoçar o colocou na cama, para o soninho da tarde.
Resolveu aproveitar que David dormia, para estudar. Pegou uma penca de livros e sentou-se a mesa. Fazia um bom tempo que ela não estudava e sentiu certa nostalgia. Apesar de não ter sido uma aluna exemplar, ela fazia o melhor que podia e mesmo não possuindo as melhores notas da classe, nunca repetiu o ano.
Geralmente as outras garotas riam dela por ser diferente e ela nunca se importou muito, tinha mais amizades com garotos e poucos, até porque a grande maioria deles fugia dela pela sua aparência pouco atrativa.
Sorriu de leve ao lembrar, foram bons tempos. Ficou estudando durante horas a fio, até que o telefone tocou. Levantou-se toda atrapalhada do meio dos livros para atender a chamada.
— Alô!
— Any? Oi! Sou eu, Tomás!
— Oi Tomás! — ela sorriu. — Como vai?
— Vou muito bem. — ele respondeu. — E você?
— Eu estou ótima. Estava estudando e tinha esquecido como é complicado tudo isso, principalmente química. — ela ergueu a sobrancelha ao ouvir a gargalhada dele. — Qual a graça? — ela sorriu.
— Nenhuma, eu sei que estudar é chato, mas infelizmente é necessário. Fico feliz de saber que está estudando.
— Oh sim, eu estou empolgadíssima. — respondeu com animação.
Tomás ficou feliz ao ver que Joshua não tinha conseguido mudar a opinião dela a respeito dos estudos.
— Nossa, que m*l educada eu sou, comecei a falar e falar e nem deixei você dizer o motivo da sua ligação.
— Ah sim. — ele riu. — Liguei para perguntar do pequeno, como ele está?
— Ele está dormindo, foi uma luta pra poder passar remédio no machucado, mas parece que logo vai ficar bem, não se preocupe.
— Espero que logo melhore. — ele sorriu. — E também David me disse que você estava vomitando, acabei ficando preocupado. Está doente?
— Não, são apenas ataques de náuseas, eu estou tendo há alguns dias. — Any mordeu o lábio. — Não se preocupe.
— Não é melhor ir ao médico? — Tomás perguntou, preocupado.
— Eu vou, eu marquei uma consulta pra amanhã de manhã. — ela deu de ombros. — Ouça Tomás. — ela suspirou. — Fiquei sabendo que Joshua esteve aí. — engoliu o seco, e Tomás suspirou. — Eu espero que ele não tenha dito ou feito nada demais.
— Sim, eu pedi para que o chamassem... — Tomás assentiu. — Mas não, ele não fez nada demais. — ele mentiu. Preferiu ocultar, pelo jeito, Any não sabia o que tinha acontecido e preferia que ela não soubesse, pelo menos, não pela sua boca. — Não se preocupe Any.
— Ah, que alivio. — ela sorriu.
— Bem, eu vou desligar, só liguei por que fiquei preocupado com David e com você.
— Tudo bem, eu agradeço. — ela sorriu. — Tchau Tomás.
— Tchau, e se cuida. — ele disse antes de desligar.
Any sorriu e voltou para os seus livros, afinal ainda precisava resolver uma bendita questão de química.
Alguns minutos depois David apareceu, coçando os olhos e com os cabelos bagunçados, assim como o pai quando acordava. Ela sorriu e ele estendeu os bracinhos querendo colo.
— Já acordou meu anjinho? — ela o pegou no colo e lhe deu um beijinho.
— Já. — assentiu, e olhou curioso para os livros. — Tá fazendo o que mamãe?
— A mamãe está estudando. — ela olhou para os livros e depois pra ele.
— Por que você tá estudando?
— Porque a mamãe vai voltar a estudar, para poder virar advogada, esqueceu? — sorriu.
— Ah, é mesmo. — ele assentiu. — E é difícil?
— Um pouquinho. — fez careta e ele sorriu. — Tá com fome?
— Aham.
— Vem, a mamãe vai fazer um lanchinho bem gostoso pra gente.
David sorriu com os olhinhos brilhando e saiu com a mãe.
¨¨¨¨
À noite, em um motel qualquer.
— Eu já estou cansada de motéis Josh. — Vivian reclamava com um bico. Joshua nem sequer ouvia. — Joshua! — ela berrou, e ele tomou um susto.
— O que foi Vivi? — ele fez careta pelo susto. — Quer me matar ou que?
— Você é quem quer me matar... Mas é de raiva! — ela cruzou os braços, insatisfeita. — E estou falando a horas e você sequer se dá ao trabalho de me ouvir.
— É claro que eu estou ouvindo. — ele bufou.
— Então o que eu estava falando? — ela rolou os olhos.
Joshua suspirou e fechou os olhos.
— Tudo bem... Desculpa. — ele coçou a nuca e se sentou. — Acontece que eu estou cheio de problemas...
— Problemas? Com a Any? — Vivian conteve o sorriso.
— Sabe que não tenho problemas com ela. — ele ergueu a sobrancelha.
Vivian suspirou, cerrando os punhos.
— Sua irmã é comportada demais até. São outros problemas, mas enfim, diz aí. O que estava falando?
— Disse que estou cheia de motéis, quando vamos nos casar hein? — ela perguntou, impaciente.
— Espera mais um pouquinho... — ele suspirou, tentando enrola-la. — Logo eu dou um jeito nessa situação ok? — se levantou da cama e tratou de procurar suas roupas.
— Você sempre diz isso e nunca cumpre e...
— Chega Vivi! — ele disse impaciente enquanto vestia a calça. — Sabe que eu não tenho culpa de estar casado, tem que ter paciência. — rolou os olhos e logo terminou de se vestir. — Eu preciso ir agora. — viu o enorme bico de Vivian e resolveu ignorar. — Tchau! — beijou o bico dela e saiu.
Vivian olhou a porta insatisfeita. Realmente, Joshua estava muito distante e ela precisaria se mexer. Tinha que bota-lo contra a parede o mais rápido possível, antes que fosse tarde.
¨¨¨¨
No dia seguinte Any deixou David no colégio e seguiu para o consultório onde estava marcada a sua consulta. Após pouco tempo de espera ela entrou, conversou com o doutor e ele lhe encaminhou para que fizesse alguns exames.
Enquanto esperava o resultado, resolveu ir a uma lanchonete, já que estava com fome devido ao jejum que teve que fazer para realizar os exames. Assim que fez seu pedido, viu um homem se aproximar.
— Olá!
Ela se virou para olhar e viu Pedro, parado a observando.
— Ah, oi Pedro. — ela sorriu timidamente. — Quanto tempo.
— Pois é... Eu estava fora do país. — ele disse, colocando as mãos nos bolsos e analisando Any.
A garota não tinha largado seus óculos e não tinha mudado quase nada, exceto pelo cabelo, que agora estava solto, e as roupas que também tinham melhorado. Any continuava delicada e meiga. E ele, continuava afim dela.
— Sim, Joshua tinha me dito. — ela respondeu. — E faz tempo que você voltou?
— Não, anteontem. — ele respondeu e o garçom chegou com o pedido dela. — E como está tudo? O seu filho?
— Ah, está tudo bem, graças a Deus. — ela tomou um gole do seu suco. — Meu filho acabou de completar três anos, é uma gracinha.
— Que bom... — ele deu um sorrisinho falso. — Ainda mora no mesmo lugar?
— Sim. — ela assentiu. — Apareça depois para fazer uma visita, Josh vai gostar de te ver. — ela convidou, educadamente.
— Ah, com certeza eu vou aparecer. — ele assentiu, sorrindo, dessa vez realmente contente. — Bem, eu vou deixar você comer. Até breve.
— Tchau! — Any sorriu e deu de ombros, voltando a comer. Céus, estava faminta.
Pedro a olhava de longe. Any não era mulher para Beauchamp e realmente não acreditava quando ele dizia não sentir nada por ela. Afinal se não sentisse não aceitaria ser chantageado. E iria aproveitar todo esse medo de Joshua e chantageá-lo até voltar a se estabelecer, depois contaria a verdade a Any de qualquer jeito e tentaria pegar a mulher pra ele.
Ficou a observando escondido até que ela terminasse seu lanche e saísse da lanchonete. Depois foi embora, com um sorriso.
Quando Any voltou ao consultório esperou alguns minutos na sala de espera. Minutos esses que estavam lhe torturando, não podia negar que estava nervosa e com medo. Vai que fosse alguma doença grave? Esperava que realmente não passasse de uma virose qualquer.
— Senhora Beauchamp. — a gentil recepcionista lhe chamou. — Pode entrar, o doutor já está com seus resultados.
— Ah, obrigada! — ela se levantou e foi até lá.
— Olá de novo Any! — o doutor lhe sorriu.
— Olá doutor. — ela sorriu e sentou-se na cadeira. — E então? Já sabe o que eu tenho?
— Sei. — ele assentiu. — Tem certeza que a senhora não sabe do que se trata?
— Bom, eu acho que é uma virose passageira, pelo menos eu espero. — deu um sorrisinho amarelo e nervoso.
— Não é uma virose, Any. — ele sorriu. — Você é uma mulher casada certo?
Ela assentiu, sem entender o motivo da pergunta.
— O que tem?
— Você está grávida. — o doutor disse simples e o queixo de Any caiu.
— Não doutor... — Any negou com a cabeça, sem entender. — Eu não posso estar grávida, eu tomo os meus anticoncepcionais bem direitinho. — coçou a nuca. — Porque eu engravidei?
— Anticoncepcionais costumam falhar de vez em quando. — ele deu um sorriso brincalhão. — Você não é a primeira e nem a última mulher que consegue conceber mesmo tomando anticoncepcionais.
Any suspirou pesadamente.
— E eu estou com quanto tempo? — mordeu o lábio.
— Com dez semanas. — o doutor leu.
— Tudo isso? — ela arregalou os olhos. — Eu... Eu realmente não esperava. — ela murmurou.
— Não quer essa criança? — ele ergueu a sobrancelha.