Acordo com o barulho da cidade entrando pela fresta da janela. Um som diferente do que estou acostumada, buzinas distantes, vozes apressadas, o latido de um cachorro no prédio vizinho. Mas nada disso me incomoda. Pelo contrário. É como se tudo dissesse: "você está aqui, de verdade". Me espreguiço devagar, sentindo o lençol ainda quente do lado onde Flávio dormiu. A ausência dele na cama me faz sorrir. Sei que ele saiu cedo pra oficina, provavelmente antes mesmo do sol subir direito. Me sento e vejo o bilhete sobre o criado-mudo. A letra dele é firme, como tudo nele. "Bom dia, estrelinha. Te deixei o café pronto. Comi com os olhos, mas deixei pra ti o que presta. Volto no almoço. Não se preocupa com nada. Te amo. – FL" Pressiono o bilhete contra o peito, sentindo o coração aquecer.

