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Eva
Escolher a pessoa com quem você quer passar sua vida é uma das decisões mais importantes que fazemos, entre todas. Por que, quando erramos, sua vida se torna cinza.
(Simplesmente acontece)
Dois anos antes
Olhei-me pela última vez no espelho antes de pegar minha bolsa e correr para a sala. Filipe chegaria em menos de cinco minutos, e como qualquer garoto da sua idade, odiava esperar, ainda mais hoje sendo a nossa formatura.
Eu seria a oradora da turma. Falar em público era como andar de bicicleta, depois que se aprendia, nunca mais se esquecia. Sempre fui como meu pai, nunca tive medo de nada, com exceção, o medo que tenho de borboletas.
Você pode estar imaginando, como pode uma pessoa ter medo de borboleta, quando ela é a coisa mais linda do mundo? Você já ficou presa em uma sala lotada desses seres? Foi o meu pior pesadelo já vivido.
Eu e Filipe namoramos há dois anos e pretendemos ir para a mesma faculdade, assim ficaremos o máximo de tempo possível juntos e longe dos olhares minuciosos dos meus pais.
Vamos mudar para o Rio assim que receber nossos diplomas. É claro que não vamos morar juntos, meus pais não seriam assim tão liberais. Irei dividir o apartamento com Alice, minha melhor amiga. Posso dizer que os meus planos estão indo muito bem.
— Eva, Filipe chegou.
Minha mãe gritou do corredor que dá acesso para o meu quarto.
— Já estou descendo – gritei de volta.
Alisei meu vestido pela milésima vez, um preto longo, alças finas. Justo até minha cintura e um pouco mais solto no restante dele. Escolhi por valorizar meu b***o, que não chegar a ser tão chamativo como o de Alice, mas não tenho do que reclamar, muito menos Filipe. Não chegamos na fase três do namoro, mas espero que seja essa noite.
Adoro meus cabelos soltos e hoje não seria diferente, acabei moldando com o babyliss e prendendo a lateral esquerda com duas presilhas com detalhes em strass. Um colar de ouro branco, com um pingente de um coração cortado por uma flecha que ganhei de Filipe e brincos combinando com o colar. Sandálias salto fino pretas, com detalhes nas abotoaduras e uma maquiagem para a noite, algo que aprendi depois de várias temporadas de Gissip Girl.
— Sempre tão ansioso? – perguntei oferecendo o meu melhor sorriso quando o encontrei na metade da escada.
— Sabe que odeio esperar, embora hoje tenha valido a pena. Você está realmente linda.
Beijou suavemente meus lábios antes seguirmos para a porta.
— Você também não está nada m*l – falei.
Filipe estava de smoking preto, gravata borboleta e camisa branca. Seus cabelos loiros escuros, que mais pareciam castanhos, uma mistura que achava muito atraente nele estavam fixados com gel.
— Vocês não estão esquecendo nada? – perguntou minha mãe sentada na sala, também toda produzida.
— Minha bolsa? – perguntei.
— Também. Onde está seu discurso?
— Há, isso, não será preciso, estou com tudo na ponta da língua.
— Fala igual ao seu pai, que por acaso está atrasado – disse olhando para o seu relógio.
— Com certeza, deve estar preso em mais uma reunião, mas ele me prometeu que dessa vez iria, afinal, é minha formatura.
— Eu mesma o matarei se ele não aparecer.
Nós rimos.
— Não vou discursar enquanto vocês não chegarem, prometo. Agora precisamos ir. Alice ficou de nos encontrar na entrada.
Pegamos um táxi e seguimos direto para nossa escola. Depois do discurso, todos seguiriam para o local da festa, organizado no ginásio.
Não demoramos mais do que vinte minutos. Filipe pagou o táxi e depois salto do carro para abrir minha porta.
— Eu m*l posso esperar para podermos ficar sozinhos – Filipe disse ao meu ouvido antes de entrelaçar nossas mãos e seguirmos para a entrada da escola.
Alice estava me esperando, acompanhada de Guilherme, seu parceiro de trabalhos de filosofia. Ela vestia um longo vermelho, tomara que caia, trabalhado com algumas pedras no b***o. Seus cabelos castanhos estavam presos e havia uma tiara completando seu look. Seu batom vermelho, sua marca registrada, estava acompanhado de uma maquiagem retirado de seriado teen americano, assim como a minha.
Guilherme estava vestido como Filipe, mas tinha aquele jeito de James Bond. Os garotos se cumprimentaram, assim como fiz com Alice. Depois, ela trocou um olhar rápido com Filipe, antes de segurar no braço de Guilherme e o guiar para o auditório onde iria acontecer a cerimônia.
— O que está acontecendo entre vocês? – perguntei quando o seguimos.
— Acontecendo o quê?
— Vocês estão estranhos desde que voltei de viagem.
— Não estamos estranho, você conhece a amiga que tem.
Quando chegamos ao auditório, tudo estava perfeito. O palco estava montado com a mesa dos diplomas e o meu pequeno altar onde faria o discurso de encerramento.
Nossos professores estavam se organizando para sentar na mesa montada no palco e o diretor estava fazendo o teste do microfone.
Do outro lado do palco, a organização tinha deixado separado para os pais assistirem a programação. Filipe me guiou para o nosso lugar, na segunda fileira das poltronas.
Com o passar dos minutos, fui ficando nervosa, não pela apresentação, mas porque meus pais ainda não havia aparecidos.
— Fique calma, eles vão chegar a tempo – Filipe tentou me acalmar.
Respirei fundo, sabendo que ele estava apenas tentando me manter animada.
— Vou ao banheiro. Preciso ver como está minha maquiagem.
— Você está perfeita...
— Eu sei, mas preciso ir assim mesmo.
— Quer que eu vá com você?
— Obrigada, mas não acho que você poderá entrar – brinquei.
— Que d***a, e eu achando que hoje eu iria te convencer a fazer algo perigoso, como ser flagrada com seu namorado gostoso no banheiro.
Não pude conter uma risada. Filipe sempre tentou me tirar do meu caminho certinho.
— Eu volto logo.
Levantei-me e comecei a fazer o caminho para a saída. Quando passei pela porta, encontrei meus pais caminhando apressados.
— Por favor, diga que não chegamos atrasados – minha mãe disse em um fôlego só.
— Não. A cerimônia ainda não começou – eu ri.
— Onde está indo? – perguntou meu pai, vestido em um terno cinza.
— Retocar a maquiagem.
— Não tem nada aí para ser retocada – disse minha mãe.
— A senhora que pensa. Lá dentro não está assim tão frio como pensei. Por que não vão escolher seus lugares? Quando eu voltar, será a entrega dos diplomas e o meu discurso.
— Nervosa? – meu pai perguntou?
— Nem um pouco – sorri.
E não estava mesmo. Meu pai sempre foi um homem de política, e desde que me conheço por gente, estive na maioria dos seus eventos. Então ser a oradora da turma, seria apenas mais um dia comum.
— Imaginei – ele riu.
Minha mãe revirou os olhos e segurou a mão de meu pai arrastando-o para dentro do auditório.
Achei que seria a única a estar no banheiro, minutos antes da entrega. Mas havia garotas de várias turmas dando uma última avaliada nas suas roupas.
— Uma retocada antes do grande momento?
Olhei pelo espelho e vi uma garota loira, com longas madeixas cacheados sorrindo em minha direção.
— Sim – falei olhando para ela agora.
— Você parece bem calma. Se fosse eu a oradora, já teria roído todas as minhas unhas.
— Pode não acreditar, mas eu estou muito calma.
— Dá para ver.
Ela se aproximou do espelho e olhou se tinha batom em seus dentes.
— Te vi quando chegou com Filipe... Não sabia que tinham voltado.
— O quê?
Eu entendi errado?
— Depois daquela briga, antes das férias, achei que vocês tinham terminado. Ninguém viu vocês juntos depois daquele episódio.
Filipe havia descoberto sobre minha viagem para Disney dois dias antes. Nem eu mesma tinha certeza se iria, então não achei que seria importante falar, o que descobri bem tarde que deveria ter contado.
Ele ficou sabendo e veio tirar satisfação no refeitório, onde toda a cena aconteceu. No final, acabei viajando e só voltamos a nos falar quando voltei.
— Nós brigamos, mas fizemos as pazes.
— Foi um grande voto de confiança ter voltado com Filipe depois de ele ter ficado com Alice na festa de início de férias...
— O que disse?
A garota parou de fazer o que estava fazendo e olhou diretamente em meus olhos. Sua boca abriu e fechou várias vezes, como um peixe procurando ar.