— “Entra.” — falei, tentando fingir naturalidade, mas minha voz saiu com um tremor sutil, tipo fio de linha esticando no peito. Natália entrou sorrindo. O tipo de sorriso que abraça e protege ao mesmo tempo. — “Quer café?” — perguntei, indo pra cozinha sem esperar resposta. — “Quero. Preto e forte. Igual tua nova versão.” — ela respondeu, rindo. Enquanto o café subia, eu fui abrindo os armários devagar, sem saber exatamente o que dizer. O silêncio era cúmplice, mas o coração… ah, o coração queria contar tudo. Peguei duas xícaras. Botei o pó no coador com a mão firme de quem já passou por terremoto e sobreviveu com o peito em brasa. — “Tu parece outra.” — ela falou, sentando à mesa. — “Mas é a mesma. Só mais viva.” Coloquei a água fervendo no coador. O cheiro de café fresco invadiou

