Capítulo 2

2231 Palavras
Valentino — Valeu a pena? — pergunto, com a voz baixa o suficiente para que só ela ouvisse, enquanto minhas mãos sobem lentamente por sua cintura, sentindo o tecido fino da blusa que m*l oculta sua pele quente. Onde ela escondeu? Uma batedora de carteiras tão rápida quanto ela não precisaria colocar minha carteira num lugar onde eu não pudesse alcançar — a não ser que estivesse me provocando. O jogo da batedora de carteiras. Conheço o tipo. Não é inédito, mas essa aqui... ela é ou estúpida, ou suicida. Sua blusa sobe sob meus dedos, revelando um vislumbre de pele pálida e uma barriga firme que se contrai sutilmente ao meu toque. — Valeu a pena? — ela devolve, num sussurro envenenado. Sua cabeça se afasta bruscamente do lugar onde meus lábios provocavam a concha da sua orelha, revelando cachos ruivos e rebeldes que escorrem pela gola da jaqueta de couro. — Em algumas culturas, você perderia uma mão pelo que acabou de fazer. Roubar como um rato de rua imundo. — Ela não responde. Covarde. Minhas mãos deslizam, e meus nós dos dedos roçam uma protuberância rígida no bolso esquerdo do casaco. No instante seguinte, encontro outra saliência mais acima, próxima ao seio, enfiada sob a blusa. Não sou gentil quando agarro ambos os volumes e os arranco com firmeza. Dou um passo para trás e olho para o que tenho nas mãos. Duas carteiras. Uma delas é marrom, desfiada nas bordas é mais pesada do que meu porta-cartões preto de couro italiano. Aparentemente, essa ladra tem mais truques na manga do que aparenta. O trânsito buzina atrás de nós, e o ar se enche com o som úmido dos pneus deslizando no asfalto. A chuva engrossa, mas eu não me movo. Isso não acabou. — É um desejo de morte que você tem? A última pessoa que tentou me roubar foi cortada em pedaços e alimentou, aos poucos, o hipopótamo do zoológico — murmuro, olhando-a de cima a baixo. Ela está tremendo. Seu joelho encosta no meu, um leve espasmo contradizendo a linha firme dos lábios e o olhar afiado. Ela não é nada do que eu esperava de uma ladra de rua. — Isso me parece errado — diz ela, seca. — Roubar também — retruco, levantando minha carteira entre nós. — Isso não é seu. Não me importo com a história triste que te colocou na rua. Vou perguntar de novo: você tem um desejo de morte? Não disfarço o tom ácido da minha voz, e, ainda que ela tente manter a fachada de indiferença, eu a vejo absorver cada sílaba. Seus olhos escuros se estreitam. A chuva ensopa seus cabelos, fazendo o castanho-avermelhado brilhar em tons mais vivos. Seus olhos, delineados, parecem duas poças de tinta n***a sob a iluminação fraca. Ela tem um rosto oval e lábios carnudos que perdem a cor conforme ela os prensa com força. Está vestida com jeans colados, uma blusa justa e uma jaqueta de couro que parece ser a coisa mais cara que possui. Talvez também seja roubada. Não seria uma surpresa se fosse. Nossos olhos se encontram e, por uma fração de segundo, algo se contrai no meu peito. Ela me lembra alguém. Alguém que eu perdi. Alguém que foi arrancada de mim de forma brutal. Nunca mais. — E então? — pergunto, batendo as carteiras uma contra a outra. — A rata perdeu a voz? Ela ergue o queixo, expondo o pescoço ao meu olhar. A pele clara brilha sob a chuva. — Eu não sou uma rata. Você é que parece um babaca. Um alvo fácil que não presta atenção nos próprios bolsos. — Ela sorri de canto. Insolente. Arrogante. E aquele lábio superior curvado para a direita... é quase igual. Chance. Abro minha carteira diante dela. — Se me leu tão bem, então me diga: onde está o valor? A carteira em si? Couro legítimo. Você poderia penhorar isso por uma boa grana. É isso? Meus dedos tocam a pequena bugiganga de platina presa ao canto. Uma borboleta delicada. Presente da minha irmã. Eu mataria por isso. — É o dinheiro? — Retiro o maço de notas e jogo-o no chão. Cerca de dois mil em notas grandes se espalham por suas botas encharcadas. — Não. O dinheiro é rastreável. E quem anda com isso hoje em dia? São os cartões, não é? Ela não responde, mas seu joelho ainda treme contra o meu. — Claro. Idiotas como você têm mais dinheiro do que juízo. Nem notaria a falta de um pedaço de plástico — murmura. Sinto vontade de rir, apesar da raiva. — E isso — abro a outra carteira. Um cartão de crédito, alguns documentos. — David Garcia. Um parente? — Um i****a. — Nome estranho para uma vítima. — Vocês dois estão longe disso. — Sério? Você acha que roubo é um crime sem vítimas? — Eu sei que é. Pessoas como ele. Como você. Você não sabe o que é sofrer. Todo esse dinheiro, você não merece. f**a-se. Se vai me matar, então mata logo. Minha mão se fecha em sua garganta em meio segundo. Aperto só o suficiente para que o brilho do medo surja nos olhos dela. — Você acha que pode fingir que não tem medo de morrer? — sussurro, roçando nossos narizes. — Você me roubou. Mas acha que é pelo dinheiro. Você é patética. Pequena ladra. Não estou bravo por isso. Nem pelos cartões. Mas por isso aqui... Levanto a carteira, deixando a borboleta pendurada brilhar. Seus olhos grudam nela. — Eu começaria guerras por isso, sua v***a de rua. Dou um passo para trás. Ela se apoia na parede, tossindo, levando a mão à garganta. — Você é louco — ela sussurra. — E você, o quê? Uma ladra de rua? As prostitutas subiram de nível desde a última vez que paguei por companhia? — Vai se f***r. Eu não sou prostituta. — Chefe. — Frenkie se aproxima, a mão repousando sobre a arma. Os olhos dela a seguem. — Quer que eu cuide disso? Você tem lugares pra estar. Ela não desvia o olhar da arma. Talvez não tenha medo mesmo. Frenkie tem razão. Tenho coisas para fazer. Mas algo em mim hesita. Uma ideia se forma. Uma ladra sem família. Sem valor. Sem ninguém. Talvez ela seja a solução que eu procurava. — Ligue e espere — ordeno. — E você, qual é o seu nome? — O quê, já cansou de me chamar de 'rata'? — Rata, então — decido. — Vou te dar uma chance de ganhar sua vida de volta. Ela ergue a sobrancelha. — Como? Tiro da carteira meu American Express Centurion e mostro a ela. — Se descobrir o limite desse cartão até o fim do dia, pode ir embora. Se não, vai arcar com as consequências de ter me roubado. Ela o pega — ou tenta. Eu puxo de volta, forçando-a a hesitar. — Entendeu? Se falhar, posso fazer o que quiser com você. Posso te matar. Vender. f***r. Ela me encara. — E se eu conseguir, posso ficar com o que comprar? Não era a resposta que eu esperava. — Claro. Por que não? Ela pega o cartão, o examina com os olhos escuros e diz: — Meu nome é Beatrice. — Valentino. A maratona de compras começa exatamente como se poderia imaginar. Beatrice escolhe a vitrine mais luxuosa da rua e entra, comprando absolutamente tudo o que vê pela frente. Ela adquire andares inteiros de móveis, suítes completas de decoração, tapeçarias, papéis de parede e até mesmo revestimentos de piso. A cada nova escolha, o cartão aprova a transação sem hesitar, e ela segue para a próxima loja. Durante duas horas, percorremos quarteirões inteiros. Beatrice compra tanto que a livraria local termina o dia com prateleiras e estoque esgotados. A loja de móveis fecha por falta de produtos, e cinco joalherias tentam lhe oferecer descontos generosos diante da quantidade de peças adquiridas. Ela recusa todos, insistindo em pagar o valor integral. Ela não atinge o limite do cartão. Quando o céu finalmente se abre e a chuva despenca, Beatrice muda de estratégia. Vai de hotel em hotel, indiferente à tempestade, enquanto meus seguranças lutam para mantê-la seca sob os guarda-chuvas. Em cada estabelecimento, ela reserva todos os quartos disponíveis — com serviço de quarto incluso. — O que você está fazendo? — pergunto, observando-a parar no meio da rua e digitar algo freneticamente no celular. A chuva martela com força sobre os guarda-chuvas, abafando os sons ao redor. Beatrice ergue o telefone e me mostra a tela. — Não estou pedindo ajuda, se é isso que está pensando. Estou postando em alguns fóruns que têm contato com moradores de rua. Quero que saibam que há quartos pagos esperando por eles. Ela diz isso como se fosse a coisa mais lógica do mundo, e então segue em frente, desafiando a lógica previsível do luxo. Em vez de carros, iates ou joias exuberantes, ela compra livros, móveis e quartos de hotel para doar. Mais tarde, compramos um supermercado inteiro. Ela organiza a distribuição dos alimentos entre os sem-teto ainda nas ruas e guarda uma única sacola para si — com itens de higiene pessoal, vitaminas e necessidades básicas. Coisas simples, mas que, na mão certa, são poderosas. O cartão segue passando. Cada transação é aprovada, como se o dinheiro fosse infinito. Ao anoitecer, todas as lojas já fecharam. Ensopada até os ossos, Beatrice é guiada delicadamente até uma butique privada. A princípio, eles não a deixam entrar — até me verem. Então começam a se desculpar, tentando justificar o erro. Eu os ignoro. Toda a minha atenção está nela. Para uma ladra, Beatrice é diferente. A maioria das que conheci era gananciosa, interesseira. Todas acabaram mortas ou trabalhando para mim. Um batedor de carteiras pode ser útil nas reuniões certas. Mas Beatrice… Ela não pensa em si mesma. O foco dela é nos outros. E isso não faz sentido. O relógio marca oito horas. Ela está no centro do camarim, sobre um pequeno palco redondo. Uma assistente a ajuda a vestir um vestido longo de seda azul-escuro. O tecido escorre pelas curvas dela como água corrente, e o bordado prateado no b***o atrai meu olhar, sem vergonha, para a curva de seus s***s. Ela é linda. Graciosamente linda. E a maneira como se comporta, como se não devesse nada a ninguém, torna tudo mais provocante. O pequeno plano que venho cultivando desde que nos conhecemos finalmente toma forma. — Você vai me matar? — pergunta de repente. A assistente se assusta e deixa cair uma caixa de alfinetes. — Por quê? — pergunto, recostado em uma poltrona de couro macio, girando um copo de uísque entre os dedos. — Acha que deveria? — O vestido foi pago com o seu cartão — diz ela. — Todos os vestidos foram. Tudo o que comprei hoje foi aprovado sem qualquer limite. Isso não faz sentido. — Sim. — Eu não acredito em você — murmura, virando-se para o espelho. O vestido é sem costas. O corte profundo revela a extensão suave da coluna, e a pele dela brilha sob a luz. Meus dedos formigam com vontade de tocá-la. — Você me enganou com um novo truque — ela insiste, virando-se para mim. — Admita. — E não é um truque se foi você quem roubou? — lanço um olhar cortante para a assistente, que abandona a sala às pressas. — Você se esqueceu que me roubou primeiro. É a criminosa aqui. Eu te dei uma saída. Talvez você só não tenha querido de verdade. Levanto e caminho lentamente até o provador. O peito dela sobe e desce. Sua respiração se torna mais profunda. Ela ergue o queixo, desafiadora. — Me dar um cartão sem limite era me preparar para o fracasso. — Ele tem um limite — digo, batendo com dois dedos na minha têmpora. — Aqui. Você só não entendeu como esse jogo funciona. Ela engole em seco. — Então vai me matar. — Não — respondo com calma. — Não enquanto estiver com esse vestido. Tire-o. Seus olhos se estreitam, e por um instante espero que ela corra, lute, diga algo afiado. Mas Beatrice não faz nenhuma dessas coisas. Ela alcança a alça e a solta. O vestido desliza pelo corpo como se fosse líquido, acumulando-se em volta dos tornozelos. Ela permanece ali, em silêncio, vestida apenas com uma calcinha preta rendada, os lábios entreabertos. Antes que diga qualquer palavra, agarro seu pescoço e a puxo para mim. Nossas bocas se encontram num beijo urgente, denso, carregado de eletricidade. Suas mãos pousam no meu peito, como se buscassem apoio. Quando seus dedos pressionam meu peito, espero um golpe, um empurrão — mas nada disso acontece. Beatrice me beija de volta. Meu mundo se estreita ao redor do toque dos seus lábios. Ela tem cheiro de baunilha e chuva, e sua pele está quente sob minha palma. Há algo cru ali, algo que arde. Quando me afasto, ofegante, ela também está sem fôlego, os olhos marejados, o peito erguendo-se com dificuldade. — Perfeita — murmuro, dando um passo para trás. Ela será mais do que suficiente para o que eu preciso. — Você quase me convenceu de que aguentaria me beijar. Excelente. Porque isso... isso é só o começo do que você vai fingir, sendo minha esposa.
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