Capítulo 3

1432 Palavras
Beatrice Eu deveria dizer não. Quem diabos exige esse tipo de coisa de uma estranha? Ele fica ali parado, com aqueles ombros largos, o rosto e******o e perigosamente bonito, deixando meus lábios formigando com a lembrança da pressão do beijo. E então ele simplesmente diz que serei sua esposa. Quem esse homem pensa que é? Cercado por brutamontes armados espalhados pelo provador e pela sala de espera, carregando um cartão sem limites e um ego tão inflado que acha aceitável roubar uma mulher da rua como se ela fosse uma mercadoria qualquer? Claro, fui eu quem roubou dele primeiro. Eu comecei essa dança. Mas qualquer outro no lugar dele teria chamado a polícia — e não arrastado a "ladra" para um provador de alta-costura com promessas de casamento. Essa situação está tão fora da minha realidade que não sei nem por onde começar. E, no entanto, uma bolha de excitação borbulha sob minhas costelas, pulsando como uma bomba-relógio. É perigoso. Alarmante. Um desafio que nunca enfrentei antes. Talvez... uma oportunidade. Ele é claramente rico. Muito rico. E poderoso. Talvez eu consiga iludir ele. Fingir. Enganá-lo. Não seria a primeira vez que entro na vida de um homem com um sorriso falso e saio com o que preciso. Se eu o tratar como um alvo, como todos os outros... talvez funcione. Pelo menos até encontrar uma saída. Com sorte, uma saída forrada de dinheiro. Meu pulso lateja sob a pele enquanto sustento seu olhar gélido. Sempre que nossos olhos se cruzam, sinto minhas pernas cederem. É excitante — e assustador. Mas eu sei lidar com homens. No fundo, são todos previsíveis. E esse aqui? Ele está faminto por controle. Brincar com isso vai ser fácil. Ele acha que capturou uma ladra qualquer, um rato de rua desesperado por sobrevivência. Mas ele não tem a menor ideia de quem eu sou. — Claro — respondo, com um sorriso suave, vestindo uma persona antiga, aquela que já usei para enganar homens ricos e perigosos. — Será que vou descobrir por que precisa de uma esposa tão depressa? Você me parece o tipo de homem que consegue tudo o que quer com um estalar de dedos. — Eu consigo — diz Valentino, recuando um passo. — Mas onde estaria a graça nisso? Vista-se. Ele se afasta, e eu encaro o monte de tecido a meus pés. Antes que eu consiga sair do provador, ele estala os dedos — para mim. O sangue me ferve. — Use aquele vestido — ordena, apontando para o azul que descartei há pouco. — Ele também tem um papel a desempenhar. Um papel? Ele fala como se estivesse dirigindo uma peça que só ele conhece o roteiro. Assim que ele desaparece pelas cortinas, seguido pelos seguranças, respiro fundo, tentando conter a adrenalina. O provador oval parece uma prisão disfarçada de luxo. A única saída é a cortina por onde ele passou. Não tenho escolha. — Respira, Beatrice — sussurro. — Você consegue. Só mais um alvo. Só mais uma encenação. Mas minha voz não me acalma. Meus dedos tremem ao tocar o tecido. O vestido é lindo. Sedoso, leve. Mas me incomoda. Não tomei banho há dias. Tocar algo tão luxuoso em minha pele suja me dá náuseas. Ainda assim, visto-o. Uma nova pele para uma nova vida. Espero não precisar usá-lo por muito tempo. — Senhorita? — A assistente entra timidamente, com um par de sapatos prateados nas mãos. — O senhor Valentino pediu que a senhora usasse esses. — E minhas botas? — Olho para elas no canto, junto às minhas roupas velhas dobradas. — Sinto muito. Ele disse que a senhora não vai mais precisar delas. Controle. Lá está ele de novo. Ele quer decidir tudo — até meus sapatos. — Obrigada — digo, sorrindo docemente enquanto pego os sapatos. Ela sai depressa. Eu tenho um plano. Ajeito o cabelo, calço as botas por desafio e saio do provador com os sapatos prateados nas mãos. Valentino está na porta, falando com um de seus homens — Frenkie, acho. Quando me vê, seus olhos congelam por um segundo ao notarem meus pés. — O que você pensa que está fazendo? — Qualquer pessoa que conheça mulheres sabe que não se usa sapatos assim para viajar. — Entrego os sapatos a ele. — São de festa, querido. Não de rua. Espero que ele me agarre, que grite, que perca o controle. Mas ele não faz nada. Só observa. E então Frenkie abre a porta. Guarda-chuvas surgem para nos proteger da chuva. Ele ainda segura os sapatos. Entro na limusine. O interior é macio, branco, luxuoso. Afundo no assento com um suspiro. As portas se fecham. Meu destino, selado. As luzes no teto brilham como estrelas. O cheiro leve de fumaça paira no ar. — Você fuma? — pergunto. — Não. Meu pai fuma. Mais uma peça no quebra-cabeça. Quanto mais eu souber sobre ele, melhor. Valentino coloca os sapatos no assento entre nós. Um gesto silencioso de aviso. — Então... vai me dar um resumo? Porque sequestrar uma mulher na rua grita desespero. — Roubar carteiras também — responde. — Que honra. — E você ganhou sua fortuna sendo honrado? A riqueza, por si só, já é desonesta. — Não estava falando de mim. Estava falando da outra carteira. — Ah. — Dou de ombros. — Ele foi um babaca com a moça dos bretzels. Mereceu. — Roubo moral. — Ele me observa. — Interessante. O ar parece mais quente. Pressionante. Me ajeito no banco, incomodada com o calor e a tensão. — Beatrice é seu nome verdadeiro? — Sim. — Vou ser direto. Preciso de uma esposa para apaziguar meu pai. Ele quer um herdeiro. Estou farto disso. Quero focar nos negócios. Você será minha fachada. Gentil, educada, respeitosa. E ficará fora do que não lhe diz respeito. Fico muda. Ele continua: — Em troca, você terá um teto, comida, roupas. Não precisará mais roubar cartões de crédito para comprar pasta de dente. Minhas bochechas queimam. — Claro. Você nunca precisou se preocupar com sua próxima refeição. — E você também não vai. Este acordo dura enquanto você convencer meu pai — e todos os outros — de que somos casados. Entendeu? Ele é tão confuso. Frio, mas intrigante. Rico, mas não político. Com guardas armados, mas não é da nobreza. Então o que ele é? Criminoso. Só pode ser. — Preciso mesmo te dar um herdeiro? — brinco. — Porque isso vai custar mais do que uma pasta de dente decente. — Vamos tentar — responde, enigmático. O estômago se revira. Já me deitei com homens antes. Nunca assim. Nunca com consequências que durassem uma vida inteira. O silêncio se instala. Ele brinca com um pingente de borboleta pendurado na carteira. — O que é isso? O pingente? Ele o guarda no bolso. Sem falar nada.. A limusine para. Ele me entrega os sapatos e sai. Reviro os olhos. Perdi essa. Troco as botas pelos sapatos apertados. Valentino oferece o braço. Aceito com relutância — Se seremos casados, qual será meu novo sobrenome? — Esposito — responde ele. Tropico. O nome cai como chumbo no meu peito. Esposito . Eu conheço esse nome. Todo mundo conhece. Eles são da máfia. A verdadeira. A dos pesadelos. Eles não perdoam. Não esquecem. E agora... eu sou parte deles. Máfia. Esposito . Eles são o material dos pesadelos. Sempre que alguém desaparece sem deixar rastro, o nome Esposito é sussurrado nos becos, como uma maldição proibida. Eles caçam, torturam e matam qualquer um que cruze seu caminho — e não há misericórdia para os que devem, para os que vacilam, nem mesmo para os que tentam fugir. Não existe perdão. Não existe acordo. Pagamentos atrasados? Eles arrancam a dívida com sangue. Traição? Eles eliminam todos, até mesmo amigos distantes ou primos esquecidos, antes de virem atrás de você com olhos famintos de vingança. Tive um desentendimento com essa família há muito tempo, quando eu ainda era jovem, inconsequente... estúpida. E jurei, com cada célula do meu corpo, que jamais cruzaria o caminho deles novamente. Agora, estou tão longe da margem que nem consigo mais ver a praia. Tudo ao meu redor é mar aberto — escuro, ameaçador, e sem esperança de retorno. Uma sensação sufocante de pavor se instala no meu peito à medida que me aproximo da mansão. Ela se ergue como um túmulo de luxo e silêncio, envolta em sombras pesadas, como se soubesse exatamente o que está prestes a acontecer. Estou caminhando direto para as mandíbulas da morte. E não sei se alguém vai sair inteiro dessa vez.
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