Cap 6

690 Palavras
Laura narrando Cheguei em casa ainda tremendo. O corpo parecia leve por fora, mas por dentro eu sentia um peso, como se o chão tivesse sumido dos meus pés. m*l consegui cumprimentar meus pais. Só disse um “oi” rápido e subi direto pro meu quarto. Fechei a porta e encostei as costas nela, sentindo o silêncio cair pesado. Foi aí que as lágrimas vieram. De uma vez, sem aviso. Tudo o que eu tava segurando na rua, toda a força que tentei manter, desabou ali. Me joguei na cama, abracei o travesseiro e chorei até o peito doer. Queria esquecer, apagar da cabeça, fingir que nada tinha acontecido. Mas o medo não saía, o coração batia rápido demais, e as mãos tremiam. Peguei o celular com dificuldade. A tela parecia borrada de tanto que eu chorava. Rolei a lista de contatos até parar no nome dele: Gustavo. Meu irmão. Meu porto seguro. Apertei pra ligar, e quando ele atendeu, eu nem consegui falar direito. — Guga… — minha voz saiu fraca, embargada. — Eu… posso te ver? Do outro lado, ouvi o barulho da rua, o som distante da moto dele desligando, e a voz dele, tensa: — Laura? O que foi? Fala comigo, irmã. O que aconteceu? Mas eu não conseguia explicar. Só chorava, tentando respirar. — Vem pra casa, por favor… só vem… — pedi, entre soluços. — Tô indo agora. Fica calma, tá? Fecha a porta, não sai daí. Eu tô indo. Desliguei o telefone e fiquei abraçada ao travesseiro, tentando conter o desespero. Sabia que ele vinha rápido, como sempre fazia. E no meio do choro, entre uma lágrima e outra, me veio um pensamento que me confundia ainda mais: Será que o Vasco já sabia? O jeito que ele me olhava, a proteção que sempre vi nos olhos dele… por um instante, eu desejei que ele estivesse ali também. Que fosse ele quem me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem. Mas logo me culpei por pensar nisso. Fechei os olhos, respirei fundo e esperei o barulho da moto do meu irmão lá fora. Sabia que quando ele chegasse, nada mais ficaria no mesmo lugar. Demorou poucos minutos até eu ouvir o barulho da moto do Gustavo parando lá fora. Meu coração disparou. Quando ele entrou, eu ainda tava sentada na cama, com o rosto molhado de lágrimas e o travesseiro apertado contra o peito. — Laura… o que foi? Quem fez isso contigo? — ele perguntou, já aflito, ajoelhando na minha frente. A voz dele tremia, e isso me fez chorar de novo. Eu tentei falar, mas as palavras travavam na garganta. Respirei fundo, enxuguei o rosto com as costas da mão e comecei a contar. — Foi na faculdade, Guga… — falei entre soluços. — Um cara… ele passou dos limites, tentou me forçar a algo. Eu consegui sair, mas… eu fiquei com medo, muito medo. Gustavo ficou mudo por alguns segundos. Os olhos dele, que sempre foram calmos, se encheram de uma fúria que eu nunca tinha visto antes. Ele levantou de repente, os punhos cerrados, o peito subindo e descendo rápido. — Qual foi o desgraçado? Me diz o nome, Laura. Agora. — Eu não quero confusão, Guga… por favor, só quero esquecer. — falei chorando, tentando segurar ele pelo braço, mas ele tava tomado pela raiva. — Ninguém encosta na minha irmã, tu tá entendendo? Ninguém! — ele gritou, a voz ecoando pelo quarto. As lágrimas voltaram a cair, mas agora de desespero. — Guga, por favor, não faz nada, eu só quero ficar em paz… Ele respirou fundo, olhou pra mim, e o olhar dele se quebrou. Por um momento, a raiva virou dor. — Eu prometo que ninguém mais vai te machucar, Laura. Ninguém. Sem dizer mais nada, pegou o celular e saiu batendo a porta. O barulho da moto descendo o morro veio logo em seguida. Eu fiquei ali, sozinha, abraçada ao travesseiro, tentando me convencer de que tudo ia passar. Mas no fundo, eu sabia que não ia. Porque eu conheço o Gustavo. E se ele saiu daquele jeito… o morro ia tremer.
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