Pré-visualização gratuita 1- Conhecendo o Cleitinho
Esse livro é uma duologia. Dois livros em um, aqui no mesmo livro ... Espero que gostem, escrevi com muito amor pra vocês...
Capítulo 1:
Cleitinho narrando :
E aí favela, sou o Cleitinho tá ligado, meu nome mesmo é Cleiton, tenho hoje 27 anos, sou moreno claro, cabelo na régua, olhos castanhos e o corpo todo tatuado, porque curto pra c*****o .
A vida nunca teve pena de mim. Nunca.
Nasci no meio do barro, criado no aperto, rodeado de rato e bala perdida. O morro foi meu berço e minha sentença. Nunca conheci meu pai. Nem nome, nem foto, nem história. Era só um buraco no passado, e eu cresci aprendendo a tapar esse buraco com ódio.
Minha mãe era tudo o que eu tinha… até ela morrer. Quinze anos eu tinha quando ela se foi. Coração parou do nada. Ficou só eu e minha irmãzinha… ela tinha onze.
Eu virei pai, mãe, irmão e protetor. Botava comida na mesa do jeito que dava. Às vezes era só arroz e farinha, às vezes nem isso. Mas ela não passava fome. Nem chorava sozinha. Eu tava ali. Sempre.
Só que a vida é filha da p**a. E o morro também.
Quando eu tinha dezenove, ela com quinze, aconteceu o que eu nunca vou esquecer.
Museu… aquele verme desgraçado que comandava o morro… pegou minha irmã.
Ela tava indo na padaria, sete da noite. Camiseta larga, chinelo no pé. Inocente. Ele encostou ela no beco, atrás do bar do Pimpolho. Fez o que quis… e largou ela lá, como se fosse lixo.
Ela chegou em casa destruída. O olho dela… não era mais da minha irmã. E ali, naquele instante, eu jurei por tudo que respira que ele ia pagar.
Não gritei. Não chorei. Não espalhei. Eu fingi. Fingi que não sabia. Fingi que era o mesmo vapor de sempre. Mas por dentro… eu tava armando. Cada passo meu era calculado. Cada saudação na boca era uma despedida disfarçada. Porque quando chegasse a hora certa, ninguém ia levantar a voz.
Flashback on:
Era um dia chuvoso.
Aquelas goteira batendo no telhado de zinco, o morro meio quieto… parecia até que Deus tava segurando a respiração.
Eu lembro de cada detalhe.
A garoa fina caía torta, molhando os becos e deixando o chão escorregadio. Mas eu andava firme, passo por passo, como quem vai só deixar uma entrega. Só mais um vapor no corre.
Na cintura, a pistola.
Na cabeça, o nome da minha irmã.
Cheguei na boca. Cumprimentei dois vapores no portão com o queixo, sem muito papo.
— Vim deixar os números da recontagem. — falei seco.
— Vai lá, Cleitinho. Museu tá lá dentro.
A porta da sala da boca rangia quando abria. Entrei. Museu tava jogado na cadeira, perna em cima da mesa, fumando baseado e rindo com o Juquinha, o sub dele. Os dois contando dinheiro, zoando alguém que tomou prejuízo numa venda errada.
Ninguém olhou duas vezes pra mim.
Me conheciam. Confiavam.
Fechei a porta atrás de mim. Tranquei.
— Que foi, Cleitinho? Vai mijar? Trancou a porta porque ? — o Juquinha riu.
Não respondi.
Puxei a peça com firmeza, mirei no Museu e falei com a alma gelada:
— Isso é pela minha irmã, seu verme.
Dois tiros no peito. Ele caiu pra trás, cadeira tombando, sangue jorrando no chão de cimento. O baseado ainda queimando entre os dedos.
Juquinha tentou sacar, mas era lento.
— Cleitinho… p-p-pelo amor de Deus…
Nem terminei de ouvir. Dois no peito e um na cabeça. Silêncio.
O cheiro de pólvora tomou a sala. O sangue escorreu até os pés da mesa. Saí dali limpo. Frio. Com o olhar de quem já não tinha mais nada a perder.
Foi ali que o morro mudou.
A coroa da boca caiu no chão… e eu botei na cabeça.
Depois que o Museu caiu, ninguém abriu a boca. Mas o trono já tinha dono.
Eu.
Flashback off.
Ninguém ousou questionar. Nem os antigo, nem os cria. O olhar que eu botei em cada um naquele dia falava mais que discurso. Eu matei o chefe e o sub… e fiquei. Isso diz tudo. Assumi o morro sem festa, sem gritaria. Foi na mudez mesmo. Só os mais velho vinham com aquele papo de respeito:
– Tu é sangue r**m mesmo.
– Já era tua hora.
Eu peguei a melhor casa, bem no topo do morro. Vista pra cidade, longe do barulho da favela, com varanda e muro alto. Reforcei tudo, botei câmera, grade, portão pesado. Ali era meu castelo.
Mas não era só pra mim, não.
Era pra ela.
Cibele.
Minha irmã. A única pessoa nesse mundo que viu o Cleitinho moleque, que segurou minha mão no enterro da nossa mãe, que lavou meu tênis furado quando eu nem sonhava em ter poder.
Ela nunca soube do que aconteceu com o Museu. Nunca contei. Só disse que ele sumiu, mas eu sei que hoje ela já sabe o que aconteceu , mas ela não me pergunta nada. Na época eu só falei que as coisas iam mudar e mudaram.
Ela passou a ter o que nunca teve. Quarto só dela, roupa boa, comida feita na hora. Eu contratava mulher pra limpar a casa, cozinhar, comprar tudo o que ela queria.
Se ela quisesse estudar fora do morro, ela ia. Se quisesse viajar, também. Só que ela era caseira… preferia o canto dela, os livros, a paz.Eu não deixava ninguém se aproximar dela.Namorar? Nem pensar.Cria nenhum ousava chegar perto. Cibele é intocável. E todo mundo no morro sabia disso. Se alguém tentasse alguma gracinha… sumia. Igual o Museu.
Ela era meu ponto fraco.
Mas também era a única parte minha que ainda era limpa. Que ainda me lembrava que, um dia, eu fui só um moleque querendo proteger a única pessoa que amava.
Nunca tive uma fiel. E nunca vou ter.
Mulher, pra mim, só serve pra sentar. Depois disso, cada uma segue seu caminho.
Não sou de apego, não me envolvo. Sentimento enfraquece. Fidelidade é coisa de quem tem tempo pra sonhar. Eu vivo na guerra. E na guerra, quem ama morre.
Tenho várias amantes. Todo dia, uma diferente. Não gosto de repetir, não me apego, não dou espaço. Elas vêm pelo poder, pelo conforto, pelo nome. E quando cansam ou tentam sonhar demais, eu corto. Tem uma v***a que esse eu até repito, a Helena, a mina é gata demais, mas eu sei que não presta, só pego quando tô com vontade e já passei a visão pra ela que comigo não tem sentimento. Só quero ela pra f***r e nada mais
Aqui, no meu mundo, coração é fraqueza.
E eu sou feito de gelo.
Desde moleque, o único que eu confiava de verdade era o Bolacha. Cria da mesma quebrada, a gente dividia o pão dormido quando não tinha o que comer. Já tomou tapa no meu lugar na escola, já me escondeu embaixo da cama quando a polícia subiu.
Parceiro de verdade. Não era só aliado… era irmão de vida. Quando eu era vapor, ele também era. E quando eu sentei na cadeira, ele foi o primeiro que eu puxei pra perto. Sub do morro? Nem pensei duas vezes. Coloquei ele na função porque sei que ele morre por mim se for preciso. E eu também morro por ele.
Bolacha é meu braço direito. Se eu falo, ele escuta. Se eu mando, ele cumpre. Nunca me traiu, nunca me questionou. É olho no olho, firmeza mesmo. Tem visão, tem sangue frio, sabe cobrar e sabe calar. É o tipo de cara que já viu cadáver demais pra se abalar com qualquer coisa. E quando eu sumo por uns dias, é ele que segura a contenção. A boca gira porque ele faz girar.
Continua .....
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