Estou no terceiro ano do ensino médio, não sei como consegui me envolver com a turminha popular da escola, tenha quase 17 anos, vivo com a cara atolada em algum livro e ainda sou virgem, isso mesmo, hoje em dia é raro uma menina chegar nessa idade com o hímen intacto.
Mas acho que por ler tantos e tantos romances, acabei me tornando terrivelmente seletiva, já que nenhum dos garotos por aqui chegavam nem perto dos homens que eu tanto lia em meus romances.
Meu aniversario tem se aproximado, todo o pessoal está muito interessados em fazermos algo, mesmo sabendo que eu sou um saco para bagunças.
“A gente, é sério isso? vocês sabem bem que eu detesto barulho, eu não estou nem um pouco a fim de fazer nada.” Disse tentando fazer com que minhas amigas mais próximas entendessem.
“Ah, por favor! Você não pode ser tão insuportavelmente chata Angel! Nós somos suas amigas, queremos muito curtir sua data especial junto com você! – Amanda, uma entre as duas meninas mais próximas a mim, resmungou. – Além do mais, seus pais estavam querendo que você socializasse um pouco, a tia Sarah mesmo me disse isso.” Finalizou.
“Você nem parece que gosta de nós, nunca está disposta a fazer nada que a gente te diga! Uma festinha de aniversario não vai te matar.” – Yasmim, a segunda do nosso trio, disse fazendo beicinho.
Minhas amigas eram extremamente belas, as mais populares da escola, estudamos juntas desde que me lembro, as duas foram crescendo, ficando bonitas, a fama crescendo em toda a escola com o passar dos anos.
E claro, quando chegávamos ao terceiro, era quase uma regra que os mais novos nos venerassem, eu não entendo muito bem essa coisa toda, mas era exatamente assim que acontecia, se andassem com os mais velhos, eram super descolados.
Amanda e Yasmim, talvez sejam os reais motivos para que as pessoas falassem comigo, porque minha fama na escola era de antipática, antissocial, grossa... e por aí vai.
“Olha gente, sei que vocês só querem festejar, mas essa não é a minha ideia de diversão, vocês me conhecem, detesto essas coisas.” Estava desesperada para que uma delas caísse em si.
“Na minha casa, final de semana, se você não aparecer eu vou fazer um barraco na porta da sua casa!” – Ameaçou Amanda.
“Tá bom, mas fiquem vocês sabendo, que eu vou odiar cada minuto!” – Olhei zangada para elas, jurando que um dia elas me pagariam, um dia ainda iria fazer elas lerem um livro completo, coisa que elas odiavam, para ver como era bom fazer algo que não gostam.
“ELA CONCORDOU!!!” – Explodiu em um grito alto atraindo a atenção de todos os que estavam ao nosso redor no intervalo.
“YASMIM!!!” – Tentei brigar, mais metade da escola explodiu e aplausos como se estivessem todos aguardando minha decisão, e somente eu não tivesse notado. Olhei com os olhos arregalados para minhas amigas. – Me digam por tudo que é sagrado, que vocês não convidaram tudo isso de gente...”
Elas apenas sorriram maliciosamente, o que não me agradou nem um pouco, conhecia aqueles sorrisos, elas estavam aprontando alguma.
“Oh, céus, vendi minha alma aos dois demônios, não foi?” Perguntei, enquanto cada uma delas se agarrava a um dos meus braços e me arrastavam de volta para a sala.
Subimos sorrindo e conversando, as duas tinham cada ideia sobre o roteiro da minha “festinha” que deixava até meus cabelos arrepiados.
“Quem sabe até você perca de uma vez a virgindade.” – Comentou Amanda com o sorriso de orelha a orelha. – “Sabe que só convidamos os mais gatos entre os mais gatos, e todos eles babam por você!”
“Tá maluca? Andou cheirando o que ultimamente hein?” Perguntei sem graça. As duas sempre estavam fazendo piadinhas sobre minha virgindade, não que elas quisessem me forçar a nada, mas muitas vezes eu acabava ficando envergonhada. – “Isso não é da conta das duas fofoqueiras, então parem de falar sobre isso, é constrangedor!”
“Só queremos ajudar amiga... E falando nos seus babões, lá vem um deles.” Yasmim apontou para um de nossos colegas que caminhava na nossa direção.
Rafael era verdadeiramente um gato, parecia bem mais velho do que nós, mais alto do que eu pelo menos uns 25 centímetros, era de fazer todas as garotinhas torcerem o pescoço para olhar. Um sorriso impecável, com aquelas covinhas nas bochechas, cabelos tão pretos quanto os meus, os olhos profundos e marcantes, sim, ele era realmente uma belezinha de se ver, mas também era superficial, cheio de si, egocêntrico... não rola.
“Oi meninas, soube que está tudo certo para a festa no final de semana, que bom que você aceitou se divertir um pouquinho Angel, quem sabe você possa ver que as pessoas reais podem ser tão interessantes quanto os personagens dos seus livros...”
“Duvido muito Rafael, mas sim, por livre e espontânea pressão, a festa vai realmente acontecer.” Respondi um pouco mais desanimada do que queria parecer, mas o que eu poderia fazer? Eu realmente não queria ir.
“Vai ser legal, eu com certeza estarei por lá, não perderia por nada.” Respondeu me dando aquele sorriso que arranca as calcinhas de mais de 90% da escola.
“Hum, que bom, fico feliz que ao menos alguém vá se divertir.” – Disse com um sorriso forçado. – “Precisamos entrar, nos vemos depois.” – Segui para sala arrastando minhas duas amigas que me olhavam incrédulas.
“É sério, eu tenho muita vontade de socar você! 5 minutinhos sem perder a amizade? Vamos? Como que você da um fora assim no cara mais gato que essa escola já viu? – Yasmim me olhava zangada.
“Oh, por favor, nem comece, ele é muito insuportável, se acha demais, eu detesto isso.”
Amanda apenas me olhava, a cara de quem estava se divertindo mesmo que no fundo também quisesse me dar uns tapas.
“Você não existe!” Me disse depois de algum tempo.
A aula passou voando, juntei meu material, bem devagar, eu sempre deixava todo mundo ir na frente, enquanto eu saia bem depois para evitar toda a muvuca.
Minha casa era bem perto da escola, eu precisava descer apenas uma ladeira para chegar na minha rua, um dos meus vizinhos, que era um pouco mais novo que eu, sempre me acompanhava, ele não falava comigo na escola quando me via, mas sempre me esperava no portão, já que sabia que eu sempre era a última.
“Oi, demorou mais do que o costume, está tudo bem?” – Samuel me perguntou quando cheguei perto.
“Fiquei um pouco perdida nos meus pensamentos, rezando para que o final de semana não chegue nunca.” – Disse já andando sentido a nossas casas.
“Ah sim, a festa, eu soube.”
“Você vai?”
“Não, eu não fui convidado.” Me respondeu com um sorriso.
“Não seja por isso, eu estou te convidando, sou a aniversariante afinal de contas, posso chamar alguém, e assim, pelo menos, terei alguém que não é um babaca para conversar.” Disse brincalhona. “Pode ir viu, te mando o endereço por mensagem.”
“Você não tem meu número.”
“Não seja por isso, coloca seu número aí por favor.” – Disse entregando meu celular para ele.
“Não sei se eu vou conseguir ir, meu primo voltou para a cidade hoje, não sei se ainda se lembra dele, Julian, morava bem de frente para a sua casa, mas como ele serve a FAB tinha sido enviado a outro estado. Agora que ele voltou a família está pensando em se unir no final de semana.” Me disse enquanto colocava seu número e me devolvia o celular.
“Ah, que pena, não que ele tenha voltado, mas que pena que você não vai. Eu não me lembro dele, mas se ele quiser ir, pode leva-lo.”
“Hum, ele é bem mais velho que nós, duvido que vá querer ir, mas posso tentar.”
Nos aproximamos de casa, e havia uma certa comoção na casa dos meus vizinhos de frente.
“Ele chegou!” Samuel me informou sorrindo. – “vou lá cumprimenta-lo, vos vemos amanhã Angel.” – Me deu um beijo no rosto e foi indo.
Foi quando meus olhos cruzaram com os do tal primo, não conseguia me lembrar dele, nunca presto muita atenção nas pessoas, mais aqueles olhos azuis faltaram me tirar o folego.
Nem eu, nem ele, desviamos o olhar, a profundidade de seus olhos perfeitos me encanta, é como se fossem imãs me atraindo e impedindo que eu tome qualquer atitude.