6

1064 Palavras
Fantasma Me chamo Vinícius, mas vocês podem me chamar pelo vulgo Fantasma. Tenho 23 anos, sou filho do Xará e da Viviane, e assim como o meu pai era braço direito do Coringa, eu virei o braço direito do Morte. Mas vocês estão ligados como aquele cara neurótico. Eu sei que ele perdeu a mulher dele e eu não julgo ele por causa da neurose dele, mas tem horas que ele quer passar dos limites. p***a, eu tenho cara de quem vai matar freira? Ele está querendo fazer o bagulho parecer o Invocação do m*l. Depois eu vou ficar sendo assombrado e vou pra onde? Pra igreja orar? Não vai adiantar nada. O cara quer f***r com a minha vida, não é possível, mano. E eu sou só um pobre moleque que tem que obedecer. Vim pra boca, já chamei todos os vapores de confiança, mandei todo mundo se preparar e falei que a gente ia invadir o convento. É claro que a maioria deles ficou com os olhos arregalados. Tartaruga: Chefe, com todo respeito, eu não tô querendo questionar as ordens de cima… mas a gente vai invadir um convento? Qual foi? A gente vai direto pro inferno, tá ligado? Fantasma: Fala isso pro Morte, pô. Eu já passei a visão pra ele de que o bagulho é doido, mas ele não quer me escutar. Eu já tô me sentindo dentro do filme Invocação do m*l, papo reto. Já tô até imaginando o bagulho parecendo um filme de terror. Tartaruga: p***a, eu já tô com medo, mano. E se tiver um fantasma lá dentro? Fantasma: De fantasma nesse morro já basta eu, irmão. Não vamos ficar com esse pensamento. Vamos orar o Pai-Nosso antes de entrar naquele bagulho, que Deus vai proteger a gente das freiras malucas. Tartaruga: Esse bagulho não é legal, patrão… Fantasma: E você acha que eu não sei? Por mim, eu pegava o X9 do lado de fora, mano. Eu nem colocava o pé lá, tá ligado? Mas eu tô sendo obrigado. Mas Deus sabe das minhas boas intenções. Ele sabe que por mim eu não pisava naquele antro de mulheres que escolheram ficar com Ele. Eu olhei pros outros vapores e vi o desespero estampado na cara de geral. Um deles até começou a fazer o sinal da cruz de forma errada, passando direto da testa pro peito, depois pro bolso e pra b***a. Falei na hora. Fantasma: Ô Cabeça, tá benzo o quê aí, irmão? Tu tá selando o corpo ou sacando a carteira? Cabeça: Foi m*l, chefe, fiquei nervoso… Fantasma: Então abaixa a cabeça e ora direito, que se alguma entidade aparecer lá dentro, tu é o primeiro a cair. Tem cara de quem fede medo. Tartaruga: Vai dar r**m isso aí, chefe. Vai aparecer uma madre endemoniada, vai começar a girar a cabeça igual no Exorcista. Fantasma: Se a madre girar a cabeça, eu meto um tiro na testa e falo "em nome de Jesus". Vai ser tipo oração com silenciador. Eu respirei fundo, tentando não rir da desgraça, mas mano… como é que explica isso? Um bonde de traficante armado até os dentes indo invadir um convento? Isso é cena de filme do Tarantino versão gospel. Falei no rádio pros caras ficarem a postos na entrada, e pedi silêncio total. Morte ainda não tinha chegado, mas ia chegar em breve. E quando ele chegasse, o mundo ia tremer, até as hóstias iam cair do altar. Tartaruga: E se a madre for inocente? Fantasma: Se ela for inocente, ela que prove na hora. Mostra identidade, canta um salmo e faz o sinal da cruz ao contrário que nem travesti de filme não, hein. Que aqui a gente não perdoa disfarce. Cabeça: Chefe, tu acha que Deus vai entender? Fantasma: Acho que não. Mas também acho que Ele já se acostumou com esse morro. Isso aqui é tipo Sodoma, só que com fuzil e rádio. Vai dar tudo certo. Quer dizer, espero. Olhei de canto pro céu. Tava nublado. Nuvem pesada, vento gelado… parecia que até o tempo tava mandando a gente desistir da ideia. Mas quem sou eu pra ir contra o Morte? Fantasma: Seguinte, geral em formação. Se o Morte mandar entrar, a gente entra. Se ele mandar rezar, a gente reza. Mas não atira sem ele mandar. E, por favor, ninguém fala alto. Imagina só, invadir um convento e ainda tomar esporro de freira na frente de todo mundo. Vergonha dupla. Os vapores assentiram com a cabeça. Um deles puxou um terço do bolso. Eu olhei e quase caí pra trás. Fantasma: Que isso, irmão? É uma arma nova? Vapor 1: Não, chefe. É da minha avó. Ela me deu e disse que se um dia eu fosse fazer alguma merda, era pra eu lembrar que Deus tá vendo. Fantasma: Então Ele tá assistindo essa missão em HD. Fica com essa p***a bem apertada, porque a gente vai precisar. Nesse momento, o rádio chiou. Era o aviso. Vapor (no rádio): Morte tá subindo pra boca. Disse que é pra preparar a tropa. Eu senti um arrepio subir pela espinha. A guerra santa ia começar. Fantasma: Tá bom, então. Todo mundo pronto. Quando ele chegar, a gente vai saber se hoje vai ser só susto… ou se vai virar velório. Tartaruga: Se virar velório, já avisa que eu quero uma coroa de flores com o nome "Morreu tentando não invadir um convento". Fantasma: Cala essa boca, Tartaruga. Tu vai acabar amaldiçoando o bonde. Já já aparece uma madre com espada de fogo igual anjo do Apocalipse. Nesse momento, a porta da boca abriu e Morte entrou com olhar de quem já tinha matado dez antes do café. Morte: Tá tudo pronto? Fantasma: Tá, chefe. Só esperando a tua ordem. Morte: Então bota geral na linha. Vamos fazer essa p***a direito. E se alguém travar lá dentro, eu mato antes da madre. Fui claro? Todo mundo fez que sim, em silêncio absoluto. A tensão era tão grande que dava pra ouvir o coração batendo. O meu pelo menos tava batendo igual tambor de escola de samba. E foi assim que eu me vi, no auge da minha carreira no tráfico, prestes a invadir um convento com fuzil na mão, terço no bolso e culpa na alma. Senhor, se eu morrer… me perdoa, tá? Mas se eu sobreviver… eu juro que vou na missa de domingo.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR