As mãos de Hannah suavam. O nervosismo parecia pulsar em cada batida do seu coração enquanto ela tentava parecer calma diante de Miguel e Rubi.
— O que tem o lugar aonde moro? — perguntou, forçando um sorriso, tentando disfarçar a tensão na voz.
Miguel e Rubi trocaram olhares rápidos.
Rubi, uma mulher jovem de cabelos castanhos, olhos castanho-avermelhados e traços latinos, se remexeu na cadeira de couro luxuosa antes de pigarrear. Mas antes que ela pudesse falar, Hannah, nervosa demais para se conter, se adiantou:
— Olha, eu sei que é um morro, uma favela… mas eu garanto que—
Rubi levantou as mãos e riu de leve.
— Não, não é nada disso! — disse com um tom suave. — Não nos importamos com isso. Na verdade, a questão é só que fica um pouco distante pra você.
Hannah piscou, confusa, enquanto Rubi abria uma pasta e pegava alguns panfletos grandes.
— Temos apartamentos — explicou, entregando o material.
Hannah estendeu as mãos, intrigada, folheando as páginas enquanto Rubi narrava com entusiasmo:
— Dentro do condomínio tem piscina, uma para adultos e outra para crianças, área de recreação, academia… —
Enquanto ela falava, Hannah se perdia nas imagens. O apartamento era lindo, com janelas amplas e vista para o mar. Tudo parecia caro demais para ser verdade.
— O ônibus da empresa passa na porta, a van escolar também, e a escola fica bem próxima — continuou Rubi, apontando para o mapa. — É uma área segura, perto do hospital e…
Hannah suspirou, encantada. — É perfeito… mas eu não posso pagar.
Miguel se inclinou para frente, com um sorriso gentil.
— Nós sabemos. Você não vai pagar nada, Hannah. Esse conjunto é para nossos funcionários. Prezamos pelo bem-estar de todos. Temos uma empresa parceira que pode cuidar da sua mudança, se quiser.
As palavras dele ecoaram como música. Hannah sentiu os olhos arderem, a garganta apertar. Ela esperava, no máximo, um pequeno aumento no salário, talvez uma ajuda com o aluguel. Nunca um apartamento em frente à praia.
Rubi, percebendo a emoção dela, estendeu a mão e fez um leve afago.
— Você merece, querida. Vai ser ótimo pra você e sua família.
Hannah sorriu, com os olhos marejados. — Eu… eu agradeço muito, de verdade.
— Então, combinamos assim — disse Miguel, se levantando. — Te esperamos na segunda-feira. Bem-vinda à corporação Blackwolf.
Ela levantou-se, apertou as mãos dos dois e saiu do escritório ainda atordoada.
O coração batia acelerado — de felicidade, de alívio, de medo. Ela m*l acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Mas antes que pudesse respirar fundo, um estouro ecoou no corredor. 💥
Hannah se encolheu instintivamente, o som reverberando pelas paredes de vidro. Confetes voaram para todos os lados, e o susto deu lugar à confusão. Quando ela ergueu o olhar, viu uma figura familiar à sua frente.
— Babi?!
A mulher, com um sorriso largo e contagiante, levantou os braços e gritou:
— Surpresa!
Babi, sua melhor amiga dos tempos de escola — agora uma das mulheres mais poderosas dali — estava parada diante dela, radiante, ao lado de outras figuras conhecidas.
Elizabeth, a sempre elegante Beth, segurava uma garrafa de champanhe e ria alto. As irmãs Johanna e Joyce batiam palmas, e Yara, com o mesmo olhar doce de sempre, abanava um punhado de confete no ar.
— Parabéns, amiga! — gritaram todas, em coro.
Hannah levou a mão ao peito, tentando recuperar o fôlego. Estava assustada e feliz ao mesmo tempo, sem saber se ria, chorava ou corria dali.
— Meu Deus, vocês me assustaram! — disse quase sussurrando, o rosto vermelho de vergonha.
Ela olhou ao redor, nervosa, temendo a reação das pessoas que passavam. Não queria que soubessem que era próxima de alguém como Babi, uma mulher influente, dona de quase tudo naquela cidade.
Mas Babi, como sempre, parecia não se importar.
— Você achou mesmo que eu ia deixar passar em branco o dia em que você conseguiu o emprego dos sonhos? — disse ela, com brilho nos olhos. — Hannah, você merece o mundo!
As amigas riram e se aproximaram, abraçando-a com força. O cheiro de perfume caro, misturado ao calor dos abraços, fez Hannah lembrar de uma época em que as coisas eram mais simples. Em que os sonhos não pareciam tão distantes.
— Eu nem sei o que dizer — murmurou, sorrindo entre lágrimas. — Eu achei que vocês tinham esquecido.
— Esquecer? — Beth revirou os olhos, fingindo indignação. — A gente sempre vai estar aqui por você amiga!
As risadas ecoaram pelo corredor. Por um instante, Hannah se sentiu parte de algo bonito. Parte de um passado que ainda existia, mesmo que escondido sob as responsabilidades e as lutas diárias.
Mas, de repente, o riso cessou.
Uma voz masculina ecoou atrás dela. Grave. Conhecida.
— Hannah?
Ela congelou.
Aquela voz… fazia anos que não a ouvia. Mas o som atravessou o tempo, perfurando suas defesas.
O coração disparou. As mãos tremiam. Por um instante, o ar pareceu sumir.
Devagar, ela se virou.
E lá estava ele.
Samael.
O mesmo olhar azul intenso, a mesma presença que um dia a fez esquecer do mundo. Estava mais maduro, mais imponente e até mais lindo. O terno escuro realçava a linha dos ombros largos, e o relógio caro reluzia sob a luz do saguão.
O tempo pareceu parar.
— Sa… Samael… — a voz dela saiu trêmula, quase inaudível.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nela, com uma mistura de surpresa e algo que ela não sabia nomear.
— Quanto … — murmurou ele, baixo. — oque você está fazendo aqui?
O coração de Hannah batia tão forte que ela jurava que todos podiam ouvir.
Então antes que ela responda Babi se adiantou : — Ela vai trabalhar aqui, não é demais ? Ela diz com entusiasmo.
As amigas então a puxam: — vamos temos que comemorar.
Mesmo sendo levada pelas amigas ela não conseguia parar de olhar pra ele o seu primeiro amor, a pessoa que ela menos desejava encontrar, na verdade ela torcia para não encontrar com ele, achava que pelo status dele , ele não andaria pelos funcionários e eles não se esbarrariam , mais no último dia do processo seletivo ali estava ele.
O mundo à volta dela pareceu desaparecer. Só havia ele.
A lembrança de um amor que queimou como fogo e terminou em cinzas.
O reencontro que ela jamais achou que aconteceria.
E agora… ali estavam os dois. Frente a frente.
Silêncio.
Somente o som distante do mar, batendo contra as pedras.
O universo inteiro pareceu prender a respiração.