Tula
Se tá complicado?
Eu não saberia dizer se essa é
realmente a palavra certa que eu possa usar.
Mas parando para analisar
minha vida desde o meu nascimento até aqui, o sinônimo de
felicidade que possuo mesmo
que por ironia do destino é
simplesmente o de olhar para
meus dois amores e sorrir.
Pois são as melhores coisas que eu tenho, elas são o meu porto seguro, a minha razão de viver, o meu tudo.
Mesmo sendo concebidas de um ato tão horrendo o qual vivi, Kristen e a Krishna são o meu chão.
Eu simplesmente não sei o que fazer, é eu não sei mesmo, já não tenho comida na minha
pequena dispensa que adquirir com o tempo curto que que trabalhei com Dona Marina e a Sua filha.
Hoje olhando para as quatro
paredes que me sustentou desde o momento em que cheguei aqui, sinto e me vejo perdida olho para o chão, onde tem meu colchão,
minhas filhas estão ali.
Agradeço a Deus por elas ainda serem bebés, não gostaria que vissem a situação que vivemos, mas as olhando ali sei que elas acham ser o melhor lugar do mundo.
Me aconchego perto delas, uma dor enorme atinge meu peito , minha garganta se forma um nó, formando um bolo que não consigo
controlar mais,
lágrimas começam sair por meus olhos com força, eu não entendo como possa haver tantas lágrimas se praticamente desde que me conheço por gente choro, não
entendo de onde vem tanta água.
Meus soluços rasgam meu peito , a dor forte que sinto é como se alguém estivesse com uma
faca cravando em minha alma.
Sei que parece forte minha colocação, não espero que ninguém entenda , muito menos
estou me fazendo de coitada,
mais é muito complicado para uma menina mulher que ainda não completou seus dezoito anos, que passou pela maldade humana desde o nascimento.
Que foi espancada, humilhada,
abandonada , estuprada, agora com duas filhas para criar, sem um emprego, sem comida,
praticamente sem um teto para morar, eu ainda me sinto uma garotinha, me sinto frágil, perdi
minha inocência, virtude, e a minha infância.
Mas enfim eu não preciso fazer nenhum drama para comover ninguém, até por que minha vida
já é dramatizada ao quadrado.
Horas mais tarde levanto, limpo meus olhos com as costas da mão, vou até o banheiro tiro minha roupa entrando em baixo do chuveiro,
deixando que a água fria leve toda a tristeza e lave a minha alma, mesmo que esse pensamento seja inútil.
Depois de seca, visto uma
roupa leve que havia ganhado
também, o que de alguma forma é muito triste, por nunca ter tido dinheiro suficiente para comprar uma única peça de roupa se quer para mim, contando apenas com
algumas doações que ganhei.
Olho-me no pequeno espelho que existe ali próximo, vejo como pareço muito m*l e acabada, com olheiras bem fundas e roxas.
Meu cabelo está muito desidratado e ainda mais comprido e sem cuidado algum, assim como meu rosto, guardo o espelho logo, não
gostando da imagem que vejo, a minha pele então não quero nem comentar, engulo em seco
quando meu estômago faz um barulho.
Me acomodo novamente perto
das minhas filhas, quero que o sono chegue logo assim a fome não perturbará mais, e com
esse pensamento acabo apagando.
No outro dia acordo cedo com o chorinho das meninas, faço um esforço muito grande para me levantar, pois os meus músculos doem tanto pela posição que acabei dormindo ontem.
Tiro a roupinha de cada uma delas, como sei que a água está muito fria apenas molho um pano passando por todo o corpinho de Kristen
e Krishna, depois de tomar banho visto-as com uma roupinha, não está tão frio mais o tempo
está fechado sei que vem chuva por aí.
Depois de vestidas , tiro minha
blusa pegando-as no colo e coloco uma em cada seio para que pelo menos elas tenham uma alimentação balanceada.
Quando já ficam mais calminhas, levanto de onde estou, vou para o banheiro lavar o rosto, escovo os dentes.
Visto outra blusa, coloco minha sandália nos pés e me sento na cadeira, coloco meus cotovelos sobre a mesinha e as mãos no rosto, mais um dia senhor, até quando eu vou viver nessa miséria.
Fazem exatos três dias que não
me alimento, para não falar que não comi nada, no almoço de ontem comi dois biscoitos, que
encontrei no fundo da pequena dispensa, estava procurando alguma coisa e acabei os encontrando ali bem
escondidinhos.
E claro que eles não estavam com uma cara muito boa, mas estava me sentindo muito fraca, não tive outra alternativa.
Mas agora já anoitecendo e sem me alimentar, sinto-me como se houvesse um buraco em meu estômago, não que eu nunca tivesse passado
por isso.
Já morei na rua passei muita fome, ficava até quatro dias seguidos sem algo para comer no
abrigo.
Mas hoje é diferente, como estou
amamentando preciso me alimentar bem para produzir leite ao contrário não consigo nem ficar
em pé direito.
Me acomodo próximo as minhas filhas dormindo facilmente logo em seguida por está
muito fraca.
Outro dia, mais um dia de
sobrevivência, estou me
sentido como se estivesse em
uma guerra, um soldado baleado perto de morrer.
Minhas filhas choram de fome, minha cabeça dói, meus olhos estão pesados.
Hoje é o último dia que podemos ficar aqui na casa, como não consegui um emprego devo
sair para que outro morador que consiga pagar um aluguel possa
morar.
Faço mais esforço que possuo para me colocar de pé, pego duas mochilas uma minha e outra
das meninas, coloco a quantidade pequena de roupa que possuo e na outra as coisas das
minhas filhas.
Fico triste por não saber pra onde ir então terei que deixar tudo que tenho, meu colchão, minha
mesa entre outras coisinhas, enfim coloco as meninas nos carrinho depois que dormem pelo
cansaço do choro.
Vou até o banheiro faço minha
higiene, acabo pegando algumas coisas minhas dali também e colocando na mochila pego as mamadeiras de água guardando tudo no carrinho.
Saio para rua trancando a
porta, vou para a casa ao lado
onde Seu Thomas estava em pé
me aguardando.
- Bom dia!
Falo baixo, segurando meu choro que a qualquer momento possa sair, mas duvido muito que
consiga esse feito, m*l me aguento em pé.
- Bom dia minha filha, você não tem ideia do quando estou triste por vocês terem que sair da
casa.
Não se sinta assim Seu Thomas,
eu entendo que o senhor
precisa do dinheiro.
- Se eu não fosse tão velho talvez tivesse trabalhando, mas com esse problema na perna
ninguém quer me empregar.
Ele fala triste.
- Eu sei seu Thomas, bom aqui está a chave.
Falo estendendo a chave da porta para ele que
pega com suas mãos enrugadas.
- Então eu já vou indo, obrigada por tudo.
Me despeço dele com um aperto de mão saindo logo em seguida.
- Boa sorte minha filha.
- Obrigado. Sussurro.
- Boa sorte minha filha.
- Obrigado. Sussurro.
Sorte, sorte é tudo que eu não
tenho.