Pré-visualização gratuita O dia fatídico.
Acordo, abro meus olhos e vou apalpando por de baixo do travesseiro, em busca do meu celular. O encontro e vejo que são 7:45, o abaixo e fecho meus olhos, tentando controlar a ansiedade que vem tomando conta do meu coração, dos meus pensamentos. Crises de ansiedade das mais diversas formas, pensamentos intrusos, pensamentos ruins, preocupação com o futuro, excesso de passado, o famoso, " e se ? ". Palpitações, angústia, medo, as vezes chega dar ânsia. Tento não alimentar mais esses pensamentos. Me levanto e vou em direção ao banheiro, para tomar um banho e tentar focar meus pensamentos. Hoje pego um vôo às 15h para o RJ. Estarei me mudando para lá definitivamente. Bom, não tão definitivo assim, vai saber do futuro.
A parte boa é meu vô, que saudades dele, já faz anos que não vou para lá, mas ele vem anualmente passar uns dias aqui no fim do ano.
Após o dia fatídico, sorrio sem ânimo algum pensando no dia, na merda da noite que eu passei, que me levou a ter que me mudar.
Eu tinha um grupo de amigos, e nós saíamos todo fim de semana, festa, churrasco, balada, reuniões em casa mesmo para comer bobagens. Nos últimos meses um colega nosso incluiu um conhecido dele nesse grupo, e esse cara se chama Guilherme.
Ele sempre dava em cima de mim, ou encontrava maneiras de nos aproximar, e isso era bem desconfortável, mas eu procurava não encanar já que ele estava sempre presente, infelizmente. Eu não percebi quando seu olhar já não era mais comum, e sim de obsessão. Como eu não percebi ?
Era um sábado, combinamos de ir a um barzinho, com música. Estava quase na hora de irmos, quando Guilherme me disse que estava perto da minha casa, que ele não sabia bem onde era o bar, me perguntou se eu não poderia ir com ele, já que ele estava lá por perto. Me lembro de achar péssimo, e achar que foi proposital ele estar lá por perto, falei com a Sabrina antes, e ela concluiu que seria super chato recusar, seria grosseria. Não tinha o que fazer, e era só o percurso até o bar, e na volta eu voltaria com ela. Eu respondi a msg do Guilherme dizendo que tudo bem. Eram 20:37, quando ele chegou, lembro bem disso, pois olhei desanimada o celular e vi sua msg informando que estava em frente a minha casa. Suspirei e sai, sorri para ele com simpatia, usando minha melhor máscara para realmente não ser grossa e entrei em seu carro. Ele disse o quanto eu estava linda e eu ignorei seu elogio, dando apenas um meio sorriso sem dentes e sem graça.
Ele iniciou o percurso sem me perguntar nada, o que eu estranhei já que ele disse não saber onde era o bar. Após uns 5 minutos dirigindo ele desviou do caminho, e eu fui questionar, quando o fdp freou o carro com tudo e se virou pra mim já tampando meu nariz e boca com um pano com algo nele, que me fez desmaiar. Eu nunca pensei que realmente era assim, que somos tão frágeis, tão expostos a passar situações assim, com uma pessoa supostamente conhecida.
Acordei em um quarto rústico, estava escuro, com pouca iluminação. Tentei localizar meu celular ou bolsa e nada. Logo ele entrou no quarto, e ali eu via uma pessoa doente, alguém tomado por algo r**m. Ele falava coisas como se falasse com ele mesmo as vezes, e dizia o quanto me amava, o quanto eu era dele, e o quanto eu compliquei tudo e não dei alternativas para ele. Eu chorava e tentava argumentar, dizia a ele que poderíamos conversar, que poderíamos tentar, que eu não sabia que ele gostava assim de mim, eu realmente tentava fazer ele se acalmar e me libertar, dizia qualquer coisa que ele pudesse gostar de ouvir. Mas não, ele riu de mim e questionou se eu o achava i****a. Me dá asgo lembrar daquele corpo esguio, magro, branco até demais. O cabelo loiro cortado bem baixo, os olhos verdes que não tinham nada de bonito, só transtorno doentio. Aqueles lábios finos que tentava me beijar. Naquele momento eu gritava e tentava o empurrar, enquanto ele tentava desesperadamente rasgar minha roupa e me beijar. Mas Deus não me abandonou naquele momento, o FDP foi tão burro que não desligou meu celular, onde eu compartilhava minha localização com a Sabrina. Ouvi quando chegou um carro e ouvi sirene também. Ele começou a gritar pra mim calar a boca. Ele me olhou transtornado, e meu medo era ele estar armado. Então ele sorrio e abriu a porta como se nada daquilo estivesse acontecendo.
Eu estava em choque, lembro dele falando para os policiais enquanto a Sabrina me abraçava, que foi um m*l entendido, que eu pedi pra ele me levar pra um lugar mais reservado, pra gente t*****r, que eu era louca. Que eu só fiz uma cena quando eles chegaram, talvez por estar sem graça. Os policiais até me ouviram, mas foi ridículo, meu coração doía, eu tinha vontade bater na cara daqueles policiais, que não fizeram nada com ele. Machistas, idiotas. Uma mulher precisa ser morta ? até se o estupro tivesse chegado a acontecer, eles iriam acreditar que eu quis ? Como uma mulher prova que não queria ?
Percebo que estou puxando fios do meu cabelo, arrancando um por um ao reviver essa noite em minha mente, sinto ódio, ódio deles. Ódio de estar me mutilando dessa forma, por estar com crises de ansiedade. Eu não percebo quando começo a puxar muitos fios, somente os vejo no chão depois. Seguro minhas mãos e controlo a minha tricotatilomania.
E foi isso, preciso parar de pensar muito nesse dia, ficar revivendo isso me faz m*l. Mas a indignação é terrível, me faz estar sempre pensando, mas por enquanto está só na justiça de Deus. A grande questão é que ele sempre consegue meu número, ele não parou, não sumiu. Tá sempre por perto, e eu e minha família tememos a obsessão dele por mim. Ele manda msg pra mim como se a gente tivesse algo. Já fiz boletim de ocorrência na ocasião e em todas as vezes que ele me procura. E se a polícia faz algo a respeito ? absolutamente nada. Judicialmente tudo que posso fazer é o boletim e só. Há sim, tem a ordem de restrição, que é apenas um documento, mas nada impede a pessoa e não, não prendem a pessoa só porque ela quebrou. Brasil, que país é esse?