Cidade nova

1074 Palavras
Termino de me arrumar e vou até a cozinha. Me sento na cadeira, me posiciono a mesa. Apoio a cabeça em minha mão e ali volto os pensamentos nos acontecimentos que me fizeram querer mudar drasticamente minha rotina, minha vida. Faz um mês desde a conversa com meus pais sobre a minha mudança. Eles estavam extremamente preocupados, meu pai já quase não dormia, fica em alerta o tempo todo. Qualquer lugar que eu vá, sempre estou acompanhada. Tudo isso porque não há uma lei, uma justiça do homem que me proteja daquele ser desprezível. Eu vi meus pais ficando apáticos, sem vida, pelo excesso de preocupação, em alerta a todo momento, e eu também já não tenho uma rotina, uma vida. Pois todo cuidado é pouco, eu sei o que eu passei, e penso no que poderia ter acontecido. E foi por essa razão, que meus pais chegaram a conclusão que seria uma boa coisa eu me mudar sem avisar ninguém, sem dizer a ninguém que não seja extremamente necessário. Morar com meu avô que também está muito preocupado foi a solução, morar com ele na cidade do Rio de Janeiro, no morro da rocinha. Meu avô sempre foi do rio de janeiro, há anos tem sua casa e sua lanchonete no morro. Já estive lá uma vez quando tinha 14 anos. É completamente normal, bom , é que quando falamos de morro, favela, imaginam casas inacabadas, situação de extrema pobreza, sim, até tem, mas onde é que não tem ? Eu gostei de lá, são ruas estreitas, bom, algumas. Tem ruas largas também, casas bonitas, lugares bonitos, barzinhos, hotel e tudo mais. Meu avô ama o seu rio de janeiro, ele carrega com ele um jeito bohemio de ser, um jeitinho bem carioca. E eu preciso dizer que eu amo os cariocas, são tão vivos, alegres, sempre dispostos a dançar, dançar a dança da vida. Meu pai conheceu minha mãe lá, ele foi com uns amigos conhecer o rio, e lá encontrou minha mãe e se apaixonaram. Naquele tempo as coisas não demoravam muito para acontecer, era ficou, namorou, casou. Rápido ! Sorrio com esse pensamento. Enfim, minha mãe veio morar com meu pai em Ribeirão, pois ele já estava com um bom emprego, estabilidade financeira. Meu pai é advogado, e minha mãe professora. Temos uma vida boa aqui, não é exatamente luxuosa, mas temos, ou melhor, eles tem uma boa estabilidade financeira, temos uma boa casa, carros, e tudo mais. Não tenho do que reclamar. Olho meu celular com carinho, eles sempre me deram de tudo, computador, notebook, iPhone atual... Sempre estudei em escola particular, e este ano iria ingressar numa faculdade daqui, de psicologia. Mas, os planos mudaram, um pouco... Vou cursar psicologia ainda, mas não aqui em Ribeirão, e sim no Rio. Sabe, pode ser que seja incrível lá, pode ser que eu ame demais aquela cidade, meu curso e tudo que irá adentrar a minha vida. Paro com meus devaneios, quando meu pai entra na cozinha e chama minha atenção. - Filha, não vai tomar café ? - Pai - Vou, tô com sono ainda, processo está meio lento por aqui doutor Cláudio. - Falo sorrindo leve. - Está ansiosa ? - pai - Um pouco. - Digo preparando meu capuccino na dolce Gusto. - Vai ser bom pra você filha, viver, se divertir, estudar em paz. Aqui você não tá tendo paz, não tá sendo você mesma, por causa daquele infeliz. Mas isso vai se resolver filha, eu vou fazer de tudo pra botar aquele FDP na cadeia. - Ele diz se alterando no final e eu só assinto com a cabeça, não queria esticar o assunto. Após tomarmos café, eu fui terminar de arrumar algumas coisas e deixar tudo no jeito para hora de ir. Quando eram 11:16 comecei a preparar o almoço, optei por um macarrão, já que era mais rápido e tranquilo, pois iríamos viajar. Minha mãe chegou em casa por volta das 13:15, havia acabado seu turno na escola, almoçamos e fomos nos preparar para a viagem. Tomo um banho bem demorado, lavo meu cabelo, agradeço mentalmente a depilação a laser, não ter mais que se preocupar com depilação é aliviador. Termino meu banho, me hidrato, e vou secar meu cabelo. Ok, já estamos em cima da hora, dou uma apressada pois já são 14:09 e meu pai está apavorado me apressando. Termino e corro pro carro. Repito mentalmente itens que eu não poderia esquecer, fazendo um check in list. Pego meu celular e fico mexendo nele durante o percurso até o aeroporto. Mesmo em cima da hora, deu tudo certo, despachamos as malas e ficamos aguardando sermos chamados para o voo. Logo a voz ecoa pelo lugar anunciando nosso embarque. Caminhamos em direção ao portão de embarque e ali meu coração dava sinais de ansiedade. Ansiedade pelo novo, mas também por tudo que estava sendo deixado para trás. O vôo foi tranquilo, logo já avistava o mar, o Rio de Janeiro, e ali abri um sorriso involuntário. Desembarcamos no Galeão, e fomos pedir um Uber até a entrada do morro. Eu mais parecia uma criança olhando tudo. Na entrada do morro eu já sorria feito boba, meu pai havia se afastado um pouco de nós, parece que ele foi se identificar, nunca prestei atenção antes nos meninos, homens que ficam ali na frente. Logo um Chevette para próximo de nós e era meu avô. Ele sai do carro e vem na minha direção, me abraça forte e sorrindo diz o quanto estou crescida e bonita. Ele abraça minha mãe e meu pai em seguida. Meu avô nos diz para entrar no carro e assim fizemos, em poucos minutos, não subimos muito, paramos em frente a lanchonete, que é na frente da casa dele. Meu coração fica quentinho com a nostalgia, de brincar aqui, comer os salgados. Descemos do carro e a Carmem vem nos abraçar. Carmem trabalha na cozinha, fazendo salgados, Marmitex , porções, junto do meu avô e dois ajudantes, ela está com ele há mais de 10 anos, mas os fofinhos assumiram o namoro a três anos. Ficamos muito felizes com a notícia, meu avô precisava de alguém, minha vó faleceu há 15 anos atrás, eu tinha somente 3 anos na época, não me lembro muito dela. Mas sei que a Carmem sempre foi boa para meu avô, batalhadora, honesta e carinhosa. Ela sempre foi uma referência de avó para mim.
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