Caio Narrando
É f**a falar isso, mas eu sei onde foi que eu comecei a me perder. No começo, eu tava só pelo corre, ajudando meu pai. Era o Caio, filho do Coroa. Mas com o tempo… virei o MT de verdade. Quando assumi mesmo a boca, quando a responsa caiu no meu colo, as coisas mudaram. Muito dinheiro. Muita mulher. Muita bajulação. Tudo ficou fácil demais.
E eu? Eu sempre fui louco pela Manu. Sempre. Desde pivete. Ela era a mulher da minha vida. Mas cê tá no meio do movimento, no auge da p***a toda, com grana entrando todo dia, com respeito em cada viela… e vem o outro lado. A tentação. As mina que nunca olharam na tua cara antes, agora se jogam. As que tu nem imagina, aparece na tua porta. No baile, então… nem se fala.
E aí, mano… eu comecei a me deslumbrar. No fundo da alma, eu sabia que eu era da Manu. Sabia que ela me amava de um jeito que nenhuma outra mulher no mundo ia amar. Mas a mente da gente é podre às vezes. O ego grita. O sangue esquenta. E eu, feito um o****o, fui entrando nessa. Mas nunca na frente do Lucas. Jamais. O Lucas era meu irmão de vida, melhor amigo desde moleque. Mas acima de tudo… era irmão da Manu. E eu respeitava ele. Respeitava a confiança que ele tinha em mim.
Por isso, eu nunca dei mole perto dele. Nunca deixei ele desconfiar. Mas quando ele não tava… quando eu tava no baile, no fluxo, sozinho, com o copo de whisky na mão… eu vacilei. E foi depois de uma briga feia com a Manu que a merda aconteceu. A gente tinha brigado por causa de ciúmes meu. Ela tinha saído com as amiga da faculdade, colocou um vestido justo. Postou uma foto. Eu surtei.
— Que p***a é essa, Emanuelle? Tá se exibindo pra quem?
A gente brigou feio. Palavra pra cá, palavra pra lá. Ela foi dormir na casa da mãe. E eu, com o sangue fervendo, fui pro baile. Primeira traição. Primeira vez que eu deitei com outra. Uma mina que sempre me rondava. No começo, eu negava, me esquivava. Mas naquela noite… cabeça quente, orgulho ferido… fui. Depois que tudo acabou, eu me senti o pior lixo. Me senti um merda. Voltei pra casa, tomei banho quase esfregando a pele. Olhava no espelho e não me reconhecia.
Fiquei dias sem encostar na Manu, morrendo de culpa. Quando ela voltou, a gente se acertou. Eu jurei pra mim mesmo: “Nunca mais. Nunca mais vou fazer isso.” E por um tempo, cumpri. Mas a rua é desgraçada. O dinheiro sobe. A vaidade aumenta. O respeito vira soberba. E quando vi… repeti. Mais de uma vez. Sempre escondido. Sempre longe do Lucas. Sempre achando que a Manu nunca ia descobrir.
Porque na minha cabeça de i****a… ela me amava tanto que jamais ia desconfiar. Na minha cabeça… a vida era um morango. Eu tinha tudo: a mina mais f**a, o respeito, o dinheiro, o morro… tudo. Só que o morango… apodrece. E hoje… quando olho pra trás… eu daria tudo que eu tenho pra voltar naquele dia da primeira traição e meter um soco na minha própria cara.
É f**a admitir isso. Mas eu sei que chegou uma hora que eu não era mais eu. Ou pelo menos não era o moleque que deitava do lado da Manu e dizia que ia protegê-la do mundo. Eu virei um monstro. Um covarde. Tudo começou a virar ciclo. A gente brigava — sempre por causa de ciúmes meu, né. Sempre. Ela postava uma foto com as amigas, eu surtava. Ela ia pra faculdade e eu achava que tava se engraçando com alguém. Ela não respondia rápido no w******p e eu já criava filme na cabeça.
E nessas brigas… era quando eu errava. Porque eu ficava puto, cego, magoado, me achando no direito. “Se ela quer fazer graça, então eu vou fazer também.” Era isso que eu pensava. Pegava a p***a do celular, trocava a senha. Ela nem percebia, coitada. Vivendo atolada nos livros, nos plantões, tentando ser alguém, enquanto eu… eu só queria controlar, sufocar, prender ela. E quanto mais ela crescia, mais eu afundava.
O respeito que eu tinha no morro crescia, a grana só entrava… e o freio que eu tinha por ela foi sumindo. Cada baile, cada noite que a gente brigava, era mais uma vez. Mais um erro. Mais um corpo na cama errada. Mas sabe o que mais doía? Depois de cada uma dessas merdas que eu fazia, eu voltava pra casa, deitava do lado dela, e me sentia o pior lixo da face da terra.
Ela ali, cheirosa, dormindo cansada, com olheira de tanto estudar, acreditando que eu era o homem da vida dela… e eu com a alma toda suja. E pior: eu futucava o celular dela inteiro. Inteiro. Cada notificação, cada mensagem, cada conversa com as amigas… eu lia tudo. Como se quisesse achar um motivo pra aliviar minha culpa. Mas não achava nada. Nada, p***a. Ela era limpa. Era fiel. Era minha mulher de verdade.
Enquanto eu… quanto mais não achava, mais me sentia um merda. Mas em vez de parar, eu continuava. Até que ficou sem freio. Sem controle. Sem volta. Porque quando a gente se acostuma com a mentira, com a traição, a alma apodrece e cê nem vê. E eu juro por Deus… na minha cabeça doente, eu achava que ela nunca ia descobrir. Achava que era invencível. Que meu jogo era perfeito. Que eu tinha ela na palma da mão.
E ela ali… tão ocupada, tão focada nos sonhos dela, tão cega de amor por mim… que eu me aproveitava disso. Era canalha. Era moleque. Era o pior tipo de homem. Só que a vida não perdoa. Um dia tudo acaba. Tudo que é podre vem pra superfície. E o meu castelo de mentira… foi desabando. E quando aconteceu… eu vi o que é perder a mulher que cê mais ama por culpa só tua.
Mas isso… isso já é outra história.