Assim que Cesar e as meninas pousaram na taverna, no quarto onde dormiam, o único lugar qual podiam abrir portais, viram que o quarto estava vazio, como no início.
— Gente, está acontecendo — avisou Fabi.
Assim que desceram, se encontraram apenas com o Érrio a comer uma fruta sentado nunca cadeira, as mesas da taverna estavam amontoadas nas portas e janelas.
— Érrio, onde está todo mundo? — perguntou Talita.
— No porão, estamos esperando vocês chegarem — ele continuou comendo a fruta tranquilamente.
— Aqui tem porão? Não sabia que existia. E por que a taverna está vazia e desarrumada deste jeito?
Érrio se levantou da cadeira e jogou o resto da fruta em qualquer lugar no chão.
— A taverna não existe mais, toda a alameda foi derrubada e estamos desprotegidos, deixaram duas árvores para não extinguirem completamente a espécie de álamo mágico e tivemos que derrubar uma para reforçar a porta do porão, senão, de hoje a gente não passa — Érrio fez sinal para seguirem-no. — Vamos.
Cesar e elas sabiam que aquela taverna estava fora dos limites das duas cidades frente ao Castelo, isso significava que as criaturas estavam a solta por aí.
Os álamos mágicos impediam que essas criaturas se aproximassem da taverna, agora não havia mais como protegê-la. Seguiram o porta-voz até a uma porta no chão perto da cozinha e desceram às escadas.
O restante do pessoal estava lá embaixo a arrumarem tudo para passarem a noite. Era um porão quente, ficava abaixo do nível da terra, contudo, era muito extenso, bem espaçoso.
O calor era bem-vindo ali, as noites nas terras de Ic eram muito frias e dava trabalho para se aquecerem — os pobres, obviamente.
O motivo de se esconderem daquele jeito era porque muitas criaturas mágicas, maioria das trevas, que estavam escondidas passaram a surgirem pelo Reino, elas eram muito perigosas e a única solução que a rainha encontrou para proteger o seu povo seria derrubando as alamedas.
Topar com uma dessas criaturas no escuro seria dor de cabeça na certa, pois, fugir não seria tarefa fácil, nem mesmo para um Allogaj, quem sabe para Talita, ela só precisava aceitar ser a Suma-Sacerdotisa de Dorbis.
— Chegaram — anunciou Érrio.
Beltenor então fechou a pesada porta de madeira revestida com madeira de álamo.
— Acomodem-se, meus queridos jovens — disse Beltenor. — Hoje, a noite não será nada agradável, pelo menos, não é período de Lua Azul, senão estaríamos mortos. É brincadeira, não estaríamos mortos porque não estaríamos aqui, entretanto, esta taverna é protegida contra feitiços, mas não contra criaturas, e não temos nada para combatê-las. Qualquer incidente que ocorrer, a gente se agarra no Cesar que ele vai ter poder para nos tirar daqui de uma vez só — ficaram todos estáticos olhando para ele. — É brincadeira de novo — mesmo diante daquela situação, Beltenor mantinha o seu humor, não queria que o pessoal ficasse tenso, mas ele já passou por aquilo em outro lugar e sabia que não era nada fácil.
Não puderam levar toda a comida lá para baixo, levaram o suficiente para se alimentar por dois dias. Tinha vários localizadores para guardar suas coisas na quarta dimensão, mas os localizadores eram objetos frágeis e quebravam com facilidade, fora serem pequenos e podia-se perder bem rápido se não for guardado direito.
Estavam a comer e a conversar por um tempo, tudo estavam tranquilo e na perfeita paz.
— Zera — falou Cesar com a feiticeira das trevas —, tem uma coisa que está me intrigando já faz um tempo. Como você conseguiu falar com os Immunus naquele dia se eles não entendem o que vocês falam na Terra?
— Pensei que não ia perguntar nunca — disse a feiticeira, ela lhe mostrou um anel no dedo médio com a palma da mão aberta. — Este anel aqui, que por sinal foi muito caro, é muito poderoso, ele captura o reflexo da Magia Universal e faz com que o que eu diga soe na língua do falante.
— Que massa! Todo mundo devia ter um — Cesar olhou para o dedo de Lamel, ele tinha um também, agora tudo fazia sentido.
— O Camar também tem um — disse Lamel. — Somente os filhos dos nobres têm.
O garoto referido mostrou o seu anel.
— Vocês são filhos de nobres? — perguntou Cesar e eles confirmaram. — Mais alguém é? — um dos meninos levantou a mão e mostrou o anel no seu dedo, era o Saban, o que recebeu esse nome em homenagem a Sabanthera. — Por que vocês ganham um anel desses? Pretendem ir para a Terra com frequência?
— O anel não só interpreta línguas, ele tem mais funções, burla algumas regras de magia, mas foi aprovado pelos Vinte e Quatro Anciões, não sei o porquê, deve ser questões...
Zera foi interrompida com um estrondo na parte térrea da taverna.
— Apaguem as lamparinas, agora — ordenou Beltenor a sussurrar.
Apagaram as lamparinas e foram para perto de Cesar, levaram a sério sobre o que o dono da taverna havia dito. Ficaram a noite toda ouvindo sons de rosnados, uivos, mastigadas vorazes. Algumas criaturas procuravam por comida.
Um deles chegou perto da porta no chão que dava acesso ao porão, farejou, mas foi embora, o que sentiu foi o cheiro muito forte do álamo recém-cortado.
Beltenor disse que eram licantropos, os famosos lobisomens de Umnari, criaturas das trevas, caçavam as suas presas pela vegetação local, alguns animais despercebidos.
Há muito tempo que um licantropo não aparecia no reino, vivia em bando e era tão perigoso, apenas Beltenor e Érrio tinham noção do perigo que corriam. Apenas um era difícil de encarar, que dirás um g***o com oito, ou nove?
Cesar havia lido em algum lugar que a licantropia em Dorbis era considerada a pior maldição sofrida por um homem porque ele sofria uma metamorfose até se transformar em um lobo completamente.
Diferente dos metamorfos, os licantropos foram homens que receberam a mordida de uma criatura chamada de o Senhor dos Lobos e passava por uma transformação permanente, porém, reversível em certa etapa.
Na primeira etapa, o infectado ficava com o corpo coberto por pêlos, era reversível com o "remédio" certo; na segunda etapa, o infectado já peludo passava a mudar de forma, ganhava traços mais caninos, um lobo humanoide sem lucidez, também reversível, mas os "remédios" para fazerem o corpo voltar ao normal eram mais difíceis de se conseguir; e na terceira etapa o infectado virava completamente um lobo, até à sua morte, não havia mais como reverter a situação.
A diferença com os metamorfos era que eles podiam se transformarem e reverterem a transformação quando quisessem.
O Senhor dos Lobos era uma criatura lúcida e escolhia as suas vítimas, mas sempre mordia os aventureiros que cruzavam os seus caminhos na floresta. Sortudo era aquele que sabia como escapar das suas garras.
O pessoal feiticeiro ficou a noite toda ouvindo barulhos e ruídos e sons distintos até pegarem no sono, nem era tão seguro dormir.
***
Cesar pensou que tinha sido o primeiro a acordar, mas fora o Beltenor, ele precisava encontrar um lugar seguro para hospedar aquele povo, mais uma noite ali seria pedir para morrer, ou se envolver em uma aventura daquelas.
A porta do porão que era como alçapão, estava aberta e a luz do sol entrava por ela. Quando Cesar subiu às escadas, encontrou a taverna completamente destruída. Foram muitos licantropos.
O rapaz ficou ali, a receber Vitamina D, a ouvir o som da natureza de manhã, a admirar-se pelo estado que ficou a taverna, a ver a desolação que o Reino causou nas alamedas mágicas. Tudo só piorava.
— Eles procuravam por comida — disse alguém.
Cesar olhou para trás e se deparou com a Naty.
— Bom dia, Naty.
— Que a sua manhã seja de plana paz — respondeu a prodígio.
— Os lobisomens estavam atacados ontem.
— Eles tinham convicção de que havia comida para eles, mas a madeira de álamo os confundiu.
— Nós éramos a comida? Poderiam ter feito a casa inteira com madeira de álamo.
— Não havia necessidade na época, fora que não se podia prever que alguém da realeza iria decretar a extinção desta espécie de planta mágica que só existia aqui e que foram preservadas durante anos. Muito triste.
— Gente! Você têm certeza de que eram as últimas?
— As únicas, não se achou em outro lugar.
— E agora, o que vamos fazer? Layra está longe, Érrio não sabe liderar. Você precisa fazer alguma coisa, Naty.
— Não posso mudar a hierarquia, Rasec.
— Mas o povo é quem vai decidir isso, eu voto em você para líder interina dos prodígios até Layra voltar.
— Cesar, não vivemos numa democracia como no seu mundo, esta palavra nem existe aqui.
— Eu sei, Naty, mas uma votação é... — Cesar foi interrompido.
— Não será necessário fazer uma votação — disse o próprio Érrio ao sair de dentro do porão. — Eu quero que você fique no meu lugar enquanto Layra não chegar — o porta-voz os pegou de surpresa.
— Tem certeza, Érrio? — perguntou Naty.
— Sim, a nossa situação está crítica e eu não estou sabendo o que fazer, se você sabe, agora é a hora de agir.
***
— É o seguinte, pessoal — Naty reuniu os feiticeiros no porão para começar um discurso —, Érrio me passou a responsabilidade de um líder até ao retorno de Layra, espero que estejam de acordo, pois, precisamos agir agora e os nossos planos iniciais estão de pé. Temos oito dias para resgatar a nossa Rainha Zadahtric que será desmagnificada diante do Reino numa cerimônia no Castelo. O nosso plano inicial era pedir ajuda aos outros reinos de Umnari e vamos tentar, começando pelo Reino-Império, em Icobax. Se não tivermos respostas em Umnari, com certeza teremos em Sipritiah.
— Quando? — perguntou Lubini.
— Agora.
— Não podemos ir todos — disse Lamel.
— Não, nor isto vou chamar apenas o Cesar e as novatas, já estão na hora de mostrarem o que aprenderam.
— Finalmente — falou Fabi.
Érrio entregou a Naty uma bolsa com várias moedas de ouro.
— Isto é o bastante para vocês se manterem.
— Obrigada, porta-voz.
— Boa sorte.
Naty se voltou para o pessoal.
— Estamos de partida, se por um acaso vocês se mudarem daqui, deixem uma mensagem.
— Com certeza vamos nos mudar daqui — afirmou Érrio. — Mais uma noite e vamos virar comida de licantropos.
— Alguém tem notícias do Beltenor? — perguntou Aina.
— Foi procurar outro lugar para a gente ficar — Respondeu Érrio. — É provável que a Feiticeira Sal esteja o ajudando — ele olhou para a Naty. — Assim que ele voltar, vamos lacrar este porão e deixar uma mensagem numa bola de cristal para vocês quando retornarem, tudo bem?
— Perfeito, porta-voz — Naty chamou quem a acompanharia em uma nova aventura. — Vamos? Gika, Liz, Fabi, Inara, Alita e Rasec.
Os sete deram as mãos, se despediram do pessoal e sumiram num portal.
***
Naty, Cesar e as meninas pousaram numa amostra de deserto de areia, trinta hectares, depois havia uma fortaleza que foi erguida entre duas montanhas, e as flâmula amarelas com o símbolo do Império, o Morcego Primevo, pouco balançavam com o vento. O sol estava de rachar.
Ainda estavam com a capa-farda do Primeiro Colégio de Feitiçaria do Reino de Ic. Usá-la seria útil e ao mesmo tempo perigoso se fossem delatados, mas era pouco provável que isso aconteceria. Não era do conhecimento do continente inteiro o que ocorria em cada Reino, apenas alguns boatos.
— Agora é com a gente — avisou Naty.
— Por que temos que andar isso tudo? — reclamou Tainara.
— Portais não são permitidos em Icobax. E então, estão prontas? — ela perguntou para as meninas que responderam com muita certeza.
— A vida toda — disse Gisele.
— Está pronto, Rasec?
— Não, mas já estou na chuva, então vou me molhar.
— Onde que está chovendo? — perguntou Gisele.
— Até eu entendi que ele falou, é figura de linguagem — disse Naty aos risos.
Começaram a caminhar, mas não suportavam o calor do sol, Gisele quem teve a ideia de usarem o feitiço Tero Dominis para dominarem a areia e moldarem uma sombrinha para não se incomodarem com os raios ultravioletas.
Chegaram à fortaleza, não tinha portões, não tinha passagens, apenas uma f***a qual podia-se encaixar perfeitamente um bastão mágico.
Naty encaixou o dela que foi engolido pela f***a e uma a******a, um espaço quadrado, se formou acima. Era o modo de se comunicarem com alguém do outro lado.
— Quem vem lá? — perguntou uma voz masculina.
— Eu sou a Naty, estou acompanhada por mais seis pessoas, viemos de Ic e desejamos falar com o Imperador.
— Para entrar, terá que colocar uma moeda de ouro por cabeça e todos terão que entregar os seus bastões mágicos — outra a******a se formou na muralha para colocar as moedas.
Naty, primeiro, colocou seis moedas de ouro na a******a, depois Cesar e cada feiticeira encaixou o seu bastão mágico na f***a, todos engolidos.
O único lugar que aceitava as moedas dos seis reinos era no Reino-Império, pois, ele decretou que os demais reinos só aceitassem moedas com os próprios símbolos. Questões políticas.
Até porque o Império de Icobax era o mais rico de todo o continente, em seguida era o Reino de Ic.
A a******a para comunicação se fechou e em poucos segundos uma passagem se formou na muralha. Passaram para o outro lado.
Ao chegarem, viram que a cidade era um dos lugares mais bem arrumados, mais bonitos e mais limpos que já viram naquele mundo, quase tudo tinha detalhes dourados, as ruas eram de paralelepípedos acinzentados e havia várias palmeiras gigantes a enfeitarem a estrada. As pessoas usavam roupas bonitas e coloridas, eram elegantes e finas.
Haviam muitas carruagens, cavalos, carroças, mercadores, etc., tudo na perfeita organização e beleza.
— Parece que este reino já está a um passo para o futuro — comentou Fabi.
Vários guerreiros mágicos já estavam com os seus bastões apontados para eles, e um deles usou o seu para revistá-los a procura de objetos encantados.
O homem qual falava com a Naty se apresentou, mas ela já o conhecia, já havia ido lá antes.
— Olá, visitantes, sejam bem-vindos, eu sou o Arauto...
— Baltamir — Naty o interrompeu. — Sim, eu te conheço, já vim aqui umas cinco vezes e em todas elas eu falei com o Imperador.
— Senhorita, temos regras a serem seguidas, precisamos das formalidades — rebateu o Arauto. — Os seus bastões serão devolvidos assim que saírem do reino, quem é de fora está p******o de praticar magia em Icobax.
— Já percebemos, podemos falar com o Imperador agora? É de extrema urgência.
— Diga-me o seu título.
Naty não podia dizer que era uma prodígio rebelde, o Reino de Ic seria notificado sobre ela e seriam presos como criminosos.
— Eu sou apenas uma feiticeira com uma mensagem muito importante.
— Sabe quantos feiticeiros aparecem aqui com mensagens importantes? E se não me falha a memória, você era uma Feiticeira Prodígio. O que houve, a nova rainha expulsou vocês de Castelo?
— O g***o se desfez, não existe mais. Contudo, descobrimos algumas coisas e queremos que o Imperador saiba. Eu vim falar sobre a queda dos sete reinos de Umnari.
— Queda? — Baltamir ficou intrigado com a resposta de Naty. — É impossível derrubarem um continente em peso. Está variando?
— Se você está dizendo... Depois não diga que não avisei, os Guerreiros estão testemunhando que você foi o que impediu que a mensagem chegasse ao Imperador — Naty estava prestes a se virar para ir embora, mas Baltamir a impediu.
— Espere! Então digam-me qual a menagem que eu direi se realmente é digna de ser um assunto tratado com o Vossa Soberania. Este é o meu trabalho.
Naty se aproximou do Arauto e sussurrou:
— Audaxy vai dominar o nosso mundo.
— Quem é Audaxy... — questionou Baltamir em voz alta.
— Shhh! Audaxy é a Allogaj das Trevas que ajudou a Rainha Kanahlic a se sentar no trono de Ic.
— Terra amada! Estou sabendo dos boatos, dizem que ela mandou a alma de Lidarred para o Além. Como ela vai dominar o mundo?
— Isto, eu só posso responder ao Imperador.
Baltamir providenciou uma carroça para os visitantes e abriu um portal para a entrada do Castelo para anunciar a chegada deles, mas na verdade queria estar lá para ouvir o que ela tinha para dizer.
Naty estava a improvisar, precisava convencer o Arauto a liberar o acesso ao Imperador.
O Castelo de Icobax ficava sobre uma mota, era imenso e tinha tanto ouro que o sol o fazia brilhar como se a luz viesse dele.
Depois de quarenta minutos foi que a carruagem chegou, parou de frente para o pé da escadaria da mota. Subiram e viram de perto o brilho majestoso do Castelo dourado, também parecido com uma fortaleza, era retangular, tinha quatro torres e duas enormes estátuas de ouro gigantes do Primevo Morcego, um em cada lado da entrada.
Assim que passaram pelos portões sempre abertos do Castelo, alguns guardas reais os revistaram para saberem se possuíam alguns objetos que poderiam ser considerados como armas e os removeram.
O Arauto apareceu para levá-los até ao Imperador, a chegada delas e do rapaz já havia sido anunciada.
Passaram pelo primeiro pátio do Castelo até irem para o grande salão onde o rei estava a se divertir com um bobo da corte.
Por dentro do Castelo era ainda mais belo e dourado, havia tanto ouro que poderia enriquecer todo o continente. Tinha tesouros tão antigos que existiam antes mesmo da décima ascendência de Imperador da região.
O rei, sentado em seu trono completamente feito de ouro, quando viu o pessoal se aproximar, mandou que todos os seus serviçais saíssem, o bobo, os nobres, amigos e guardas.
Apenas um Cavaleiro de armadura dourada com a figura de um morcego de asas abertas em relevo, um Conselheiro e o Castelão, a confiança deles era imensurável.
Bem atrás do trono sobre um patamar de um metro e meio — o rei tinha que descer por degraus —, havia uma porta dupla de dez metros, era dourada e também tinha o símbolo do Grande Morcego relevado, ali dentro vivia o Primevo.
O Reino de Ic foi o último a ser constituído em Umnari, mas era o mais puro em sangue real, pois, era reinado pelas próprias filhas de Ic, um Immortalis Ascendido, a Estrela de Umnari, e era muitíssimo prestigiado e estimado pelo continente.
Um Immortalis não podia ter filhos, mas o Rei Ic, antes de ser abençoado, havia usado um encantamento para conservar os seus androgemas, por centenas de anos se ocupou em serviços para a população até que decidiu descansar e arrumar uma esposa, uma mulher chamada Datrila, era perfeita para ele, e ele mandou que fosse inseminada.
Muitos ficaram intrigados com aquele fato, mas Ic foi mais esperto que o destino. Duas coisas eram difíceis de se ver: um Immortalis se casar com um mortal e ter filhos depois da benção.
— Vossa Soberania, Imperador Gerebior X — o Arauto Baltamir o reverenciou e as visitas copiaram o gesto. — Estas são a Naty e acompanhantes. Vieram de Ic...
— Sim, sim, sim, você já disse, trouxeram uma mensagem para mim, agora, saia da frente que eu quero falar com eles — Gerebior X era muito gordo, tinha dedos enormes e cheios de anéis, a sua capa vermelha de veludo era tão grande que podia cobri-lo como um cobertor, e a sua coroa não se encaixava perfeitamente na sua cabeça, mas ele se recusou a usar outra, aquela era a coroa que todos os Imperadores usaram antes dele.
— Perfeitamente, Soberano — ainda inclinado, Baltamir saiu do meio para deixar as visitar se destacarem.
— Eu já vi você — disse o Imperador para Naty —, mas não reconheço os outros — ele tinha uma barba bem aparada e bochechas rosadas, o rosto de um homem que não fazia nada por anos.
O seu Conselheiro era tão ancião que dormia despreocupado com a própria vida.
— Saudações, Vossa Soberania, estes são meus acompanhantes, estudantes da Primeira Escola de Feitiçaria do Reino de Ic — disse Naty.
— Agora estas capas iguais fazem sentido. Por que Kanahlic decidiu abrir uma escola? Ouvi dizer que Ic está em calamidade, isto é verdade?
— Ainda não, Soberano, mas está bem perto. É por isto que vim aqui, para pedir-te um reforço para uma causa muito justa.
— Diga jovem prodígio, que causa justa é esta?
— Que nos ajude a resgatar a rainha Zadahtric e acabar com o reinado de Kanahlic.
— Você ficou maluca? Por um acaso você é uma rebelde? Kanahlic é uma sangue-puro dos meus ancestrais, não posso me voltar contra ela de uma hora para outra. O que ela faz no seu reino apenas ela pode resolver.
— Aí é que está o problema, ela n******e fazer nada, ela nem sabe com o que está lidando.
— E você sabe somente porque é uma prodígio? E que história é essa de Queda de Umnari? De uma Allogaj dominar o mundo?
— É exatamente sobre isso que quero falar, desde que Kanahlic sentou-se no trono, os céus se acinzentaram, não chove e não tem sol. As criaturas das trevas estão saído das suas tocas, a desolação pode se espalhar enquanto Kanahlic estiver lá.
— Diga logo o que você quer dizer com isto.
— Os Treumilas estão a ganhar força...
— Essa história de que os Treumilas se manifestarão porque alguém das trevas sentou num trono de Umnari é mito. Os Vinte e Quatro Anciões aprovaram esta decisão.
— Por enquanto, Vossa Soberania, até porque nunca alguém das trevas se sentou por tanto tempo em um trono real.
— Se isso que você está dizendo for verdade, com que proporção você acredita que a desolação das trevas pode se alastrar?
— Depende da proporção que mais feiticeiros das trevas surgirem em Ic.
— Sim, mais da metade de feiticeiros em Ic é das trevas, mas por qual motivo esta maioria se aumentaria ainda mais?
— Este é o propósito de Kanahlic, de tornar um reino completamente dominado pelas trevas, ela vai converter milhares da população como já começou o processo, fora que reuniu todos os jovens do reino para convencê-los a se converterem na própria escola — Naty apontou para as pessoas que estavam com ela. — Estes estudantes são testemunhas de que os ensinamentos na Escola de Feitiçaria é totalmente voltado para as trevas. A nossa Luz está sumindo do nosso meio, ou seja, em um mês, as trevas vão começar a se alastrar, então, os Treumilas vão ganhar força e o...
— O equilíbrio de um reino vai se abalar até atingir os demais — completou o Imperador.
— Exatamente.
— Mas a rainha não é adepta dos Treumilas — afirmou Gerebior X.
— Não é, mas ela não tem conhecimento sobre o que acabei de relatar, ela não vai aceitar os nossos conselhos, fora que muitas coisas foram hipóteses baseadas no que estudamos, além de o Universo ter trazido até nós ele — Naty apontou a mão para Cesar.
— E quem é ele?
Nesse mesmo átimo, as enormes portas douradas atrás do trono foram abertas bruscamente e todos aqueles que estavam entretidos no diálogo olharam para trás.
Nem assim, o ancião Conselheiro despertou.
Um morcego gigante andou pesadamente em direção às pessoas daquele recinto. Era o morcego mais diferente de todos, toda a sua pelugem tinha cores fortes, variavam do amarelo ao dominante laranja, mas na luz forte parecia dourado, e a pelugem do peito era branca, o seu rosto se assemelhava ao dos morcegos-vampiros, tinha até folha nasal.
Nas suas asas, o endopatágio era preto e na região dos dedos era da mesma cor da pelugem. Uma obra de arte. Pena que causava medo nas pessoas, tanto pela sua aparência, quanto pelo que ele podia causar-lhes e pelo seu temperamento.
— Quem de vocês carrega todo este poder mágico? — perguntou o morcego, todos se afastaram para darem espaço para ele. — Hum? — insistiu o morcego.
Ao lado do Imperador, que agora perdeu toda a sua majestade para o Primevo, o morcego olhou para cada pessoa até parar os olhos em Cesar. O rapaz, encabulado, deu três passos para frente.
— Acredito que sou eu — disse Cesar.
O morcego o encarou.
— Hum! Qual o seu nome, criaturinha?
— Meu nome é Rasec — respondeu Cesar e o morcego chegou mais perto para examiná-lo.
As meninas afastaram-se ainda mais por medo, todo mundo tinha medo, mas Cesar permaneceu, apenas tímido diante de seres grandiosos.
Ficou com medo de o Primevo revelar o seu nome verdadeiro, eles tinham habilidades quais todo feiticeiro sonhava em ter, mas o Morcego observou outra coisa.
— Sei que queria estar com medo como a maioria das pessoas desta sala real, mas o seu medo foi minguado por um espírito de coragem... Ah! Dandara, não é mesmo?
— Sim, senhor — responder Cesar.
— Eu tive o prazer de conhecê-la, os espíritos do bem de Gorbis, ou Terra, como chamam, são extremamente fundamentais para os feiticeiros que lá se encontram. Nada me faz concordar com essa ideia de morar em um mundo onde a magia, praticamente, não é realizada como aqui. Lá não se pode dominar os elementos, n******e realizar feitiços de graus elevados, pois, podem perturbar a natureza, mas se fizerem qualquer coisa, ficam esgotados sem poder fazer mais nada. Não se pode tantas coisas, fica mais difícil a cada momento, que te faz se frustrar com a magia e você ficar oprimido, contudo, esta opressão pode te tornar muito poderoso quando você torna a praticá-la, ou pratica pela primeira vez — o Morcego encarou as novatas, sabia que ali havia Feiticeiras Oprimidas, mas não revelou sobre aquilo, depois se voltou para Cesar. — Eu sei o que você é? O que querem aqui, no Reino-Império, o Reino mais poderoso de Umnari? O Reino de Gerebior X.
— Queremos auxílio, Grande Morcego, para podermos derrotar os que querem o nosso m*l, os que trazem o nosso m*l, os que abrem as portas para o m*l se alastrar neste mundo. — Cesar soube muito bem o que dizer.
— Vigla — disse o rei para o Primevo, até então, Cesar e as meninas não sabiam o nome dele —, afinal, o que este jovem é?
O enorme morcego Vigla se voltou para o rei.
— Ele é um Allogaj, ele transborda magia das luzes do seu cerne.
O rei ficou maravilhado, levantou-se do trono e se aproximou do garoto para examiná-lo mais de perto.
— Que maravilha!
— Eu voltarei para os meus aposentos — disse o morcego Vigla cheio de pompa.
— Espere! — pediu Cesar. — Senhor Primevo, n******e nos ajudar?
O Primevo olhou para o rapaz de baixo para cima e falou:
— Não encontrei dignidade em você para te ajudar na tua causa e nem posso tomar partido. Você não é poderoso? Estude, aprenda e lute — o morcego se retirou para os seus aposentos a transparecer que o Cesar havia o ofendido.
— Mas... — Cesar tentou se justificar, porém, o morcego o ignorou. Já não parecia simpático antes, agora piorou.
Difícil confiar num morcego.
— Não ligue para ele, ele não suporta humanos poderosos — disse o rei. — Mas eu sou fascinado.
— Por que ele não suporta humanos poderosos?
O rei saiu daquela sala para o pátio, apenas o seu Cavaleiro o seguiu, as meninas seguiram o Cesar, mas todas mantinham uma distância considerável para não se intrometerem no diálogo, o Arauto Baltamir quem não gostou nada, queria estar a par de tudo.
— Uma vez — contou o rei Gerebior X —, o Sumo-Sacerdote dos Trealtas de Dorbis veio aqui e entregou uma profecia para o Morcegão sobre um feiticeiro das luzes muito poderoso que apareceria para confrontá-lo, ele é uma Criatura Primeva e sempre tomou partido sobre assuntos humanos, o que é p******o para a sua linha de seres mágicos. Não posso falar muito, senão ele pode se chatear, mas desde o dia da profecia, ele ficou antipático com todos os feiticeiros poderosos que apareceram aqui, até mesmo com os do próprio Castelo.
— Eu jamais confrontaria ele, não sou disso e ele é uma criatura do bem além de ser imbatível — disse Cesar. — Este feiticeiro poderoso não sou eu.
— Meu querido Allogaj, vejo que você tem um bom coração, tem humildade, mas ainda tem ingenuidade — disse o rei, Cesar nem imaginou que aquele homem pudesse dizer coisas ao seu respeito e que fizesse sentido. — Não precisam dizer mais nada, eu quero te ajudar com a sua causa, vocês não são os primeiros a trazerem notícias de que um desequilíbrio está para acontecer. As trevas estão aumentando desenfreadamente e está tendo a sua origem no centro de Umnari. Agora, eu não posso simplesmente te ajudar a resgatar a rainha Zadahtric, vocês precisam fazer isso por conta própria, tudo o que posso fazer é disponibilizar os meus guerreiros caso a atual rainha decrete guerra contra vocês.
— Isto seria perfeito — maravilhou-se Cesar.