Ironicamente Oposto

2460 Palavras
Quase duas da madrugada quando sua campainha começou a tocar insistentemente. Revirou os olhos e soltou o ar dos pulmões de maneira afobada, não estava dormindo, mas não era como se desejasse uma visita tão tarde. Foi até a porta um tanto apressado, a uma hora daquelas só poderia se tratar de uma emergência, ou um amigo bêbado demais que não conseguiu entrar na própria casa e acabou indo parar ali. Por mais e******o que isso fosse, acabava por acontecer diversas vezes, principalmente quando Jinki tomava um pé na b***a de alguém. — O que é que você está fazendo aqui? — não havia outra maneira de reagir a isso. Taemin estava parado na porta, de pijama e com um travesseiro cor de rosa debaixo do braço. Ele estava claramente irritado com algo, irritado ao ponto de nem ter ligado de ter saído de casa com um lado do cabelo todo pra cima e com pantufas de coelho nos pés. — Por enquanto eu tô só parado na porta. — educação era uma palavra que definia muito bem o ômega — Sai do meio que eu quero entrar. Não era como se Taemin no alto dos seus 1,65m pudessem empurrar Minho para algum lugar, mas os seus pouco mais de 50kg eram suficientes para que o espaço entre o Choi e a parede fossem o suficiente. E uma vez dentro, o Lee não iria sair assim tão fácil. — Quem disse que você podia entrar? — Eu já entrei! Taemin já havia passado de metade da sala, e quando Minho o alcançou o ômega já estava entrando em seu quarto, e sem pedir permissão alguma já arrumava um cantinho para si na cama do alfa, se enrolando com o lençol do mesmo e fazendo um pequeno ninho de travesseiros ao seu redor, se abraçando a um deles como se sua noite de sono dependesse unicamente daquele ato. Aquilo era quase uma declaração de guerra. — Posso te processar por invadir minha casa. — Minho parou bem diante daquela cena, ainda incrédulo com tamanha cara de p*u. Quando acreditava que Taemin já havia chegado ao limite, ele abria um buraco e continuava a ir mais fundo naquilo. — Quero ver como você vai explicar como um alfa do seu tamanho não pôde impedir um ômega que nem alcança o seu ombro. — ele sempre tinha uma resposta pra tudo — Eu não queria estar aqui, Minho, bem, talvez, mas estamos há 28 horas sem nos vermos, preciso ficar perto de você, me sinto triste e vazio, não consigo dormir sabendo que você não está comigo. O alfa suspirou e coçou a nuca, talvez fosse egoísta demais. Havia começado as coisas de um jeito muito errado, pensando apenas no que ele próprio sentia. Também se sentia assim, não conseguia dormir e nem ter um único segundo em que se sentisse bem. Nunca admitiria em voz alta, mas seu lobo se contorcia de saudade de Taemin. — Tá, mas você não vai dormir aqui todos os dias. — Tudo bem. Tudo bem nada, Minho sabia que não havia tido nenhuma concordância, ele ainda iria voltar outros dias. Aproveitando a súbita paz que passara a sentir desde o momento em que Taemin chegou, resolver terminar os documentos inacabados que passara quase o dia inteiro tentando resolver. E parecia bem mais fácil agora, sua cabeça não estava mais tão bagunçada e ele conseguia ler mais de duas frases sem ver o rosto do ômega em toda parte da casa ou em qualquer foto que olhasse. Fora um dia difícil, sentiu tanta saudade de Taemin que sua cabeça o reproduzia contra a sua vontade. Já havia passado das 3h da madrugada quando sentiu sono, mas não era como se fosse dormir na mesma cama que Taemin, por isso se limitou a apenas pegar um travesseiro e um outro lençol e então ir deitar-se no sofá. Não era muito confortável, mas iria servir, tentou se concentrar em seu próprio sono e não em seu lobo clamando para que ele voltasse para o quarto e ficasse ali com o Lee. Já dormia há algum tempo quando sentiu um peso cair sobre seu corpo e algo se agarrar com força a ele. Ainda ignorou aquilo por alguns segundos, até se dar conta de com quem estava. — Por que você está em cima de mim? — perguntou mantendo o controle para não gritar e acabar acordando quase o prédio inteiro — Taemin, saía agora! — Não! — o menor choramingou o abraçou ainda mais forte — Vou ficar perto de você. Era como dar ordens a um hamster. Desistiu, estava cansado demais e Taemin estava usando esse cansaço contra ele. Imaginava que estaria completamente quebrado assim que acordasse por ter alguém deitado sobre ele a noite toda, mas estranhamente acordou se sentindo muito bem na manhã seguinte, quase como se aquela tivesse sido sua melhor noite em muitos anos, o que poderia ser em vista de sua situação atual. Aquilo era ridículo, como seu lado humano e seu lado lobo poderiam contrastar tanto? Seu lobo sentia-se feliz sempre que Taemin estava por perto, enquanto ele próprio só conseguia enxergar o Lee como a maior dor de cabeça da sua vida. Quando abriu os olhos, o ômega estava olhando pra ele. — Mas que merda, garoto! — se assustou assim que conseguiu focar — Sai de cima de mim! — Por quê? — desafiou — Estamos tão bem assim, você não se sente bem? Se sentia, mas não iria dizer. — Não! — tentou parecer convicto, mas o outro sabia que ele estava mentindo — Por favor, levante, eu quero tomar um banho. — Eu posso ir com você? — Taemin! O mais novo ainda balbuciou algumas palavras de birra, mas acabou saindo de cima do Choi, já estava muito bem satisfeito em ter podido estar perto dele a noite toda, foram poucas horas, mas suficientes para que conseguisse se sentir melhor do que estava antes. Seu coração estava mais calmo e a sensação de sentir abandonado havia sumido agora que podia olhar para sua alma gêmea e sentir mais proximidade entre eles. Ficou sentado no sofá enquanto Minho tomava banho, e por mais que estivesse muito curioso quanto a reação do alfa caso fosse lhe dar uma mãozinha para esfregar as costas, achou que seria um pouco invasivo demais, um limite que até ele acreditou que não deveria ser ultrapassado, e de todas as formas não adiantaria muito, pois o moreno o jogaria pela janela no momento seguinte. E nem tinha muitos amigos no céu para quem contar. Depois que o outro saiu aproveitou para tomar um banho também, gostava de ter uma sensação refrescante na pele logo pela manhã. O problema estava em ter ido de pijama até ali e não ter nada para vestir, o pijama era muito quente para ficar com ele de dia. Só lhe restava revirar as roupas do Choi e ver se poderia ter algo que coubesse nele, o que claramente não tinha, Minho usava números muito acima dos dele, e se testasse tinha certeza de que poderia enfiar suas duas pernas dentro de apenas uma perna da calça do alfa. Ficou apenas com uma camisa vermelha simples que era cumprida o suficiente para parecer com um vestido e andar quase que descentemente pela casa. — Nós não tínhamos falado sobre limites? — fora a primeira reação do Choi quando Taemin apareceu com sua camisa na cozinha. E ele até deu uma voltando para que o alfa visse como tinha ficado. — E eu respeitei o limite, eu não vesti nenhuma cueca sua. — fazia todo o sentido em sua cabeça — Até tô gostando do ventinho. Lidar com Taemin era de longe o atual maior problema de sua vida, as coisas pareciam soar diferentes na cabeça do ômega, e ele quase nunca levava qualquer coisa que fosse à sério. Em alguns momentos Minho se perguntava se estava falando grego, pois era óbvio que eles não estavam conseguindo se comunicarem do jeito certo. — O que tem pro café da manhã? — o Lee se animou ao perguntar, sua barriga já roncava — Estou cagado de fome. Precisava parar de ficar impressionado com o vocabulário alheio. O Lee ficou sentado na cadeira da mesa, esperando que seja lá o que Minho estivesse batendo no liquidificador pudesse ser dividido com ele também. E o alfa pareceu não se importar quando o menor pegou um copo e se serviu do que havia sobrado, mas bastara apenas um gole para que o ômega corresse para a pia e cuspisse tudo, ainda abrindo a torneira e lavando a língua para tentar tirar o gosto tão r**m que havia impregnado sua boca. O Choi apenas riu baixo do que havia acontecido. — O que é isso? — Taemin falava com a língua pendurada para fora da boca, se recusando a sentir qualquer resquício daquele gosto novamente — Tem gosto de cera de ouvido com cimento. Minho duvidava muito que Taemin já houvesse experimentado cera de ouvido com cimento. — Pré-treino. — o alfa o respondeu, e só então que o Lee notou como ele estava vestido, deveria ter percebido logo de cara que ele estava indo para a academia — E não é r**m, você que tem um paladar muito infantil, se tivesse chocolate aqui dentro você teria engolido. O ômega mostrou um biquinho decepcionado, logo demonstrando que não era apenas seu paladar que era infantil. Taemin ainda tinha muitas decepções para encarar naquele dia, não havia nada nos armários do Choi que pudesse agradá-lo, Minho além de ser um alfa chato, um advogado sério e testemunha de academia, ele ainda era do time dos insuportáveis pregadores da palavra da vida saudável, longe da ingestão de comidas processadas. — Não tem nada artificial nessa casa não? — o ômega perguntava enquanto revirava até a última gaveta — Se eu não sentir um gostinho de câncer no fundo do copo eu não comi. Minho apenas revirou os olhos. — Isso só deve ser uma brincadeira de mau gosto. — o moreno largou o copo na pia, se inquietou ainda mais — Você pode até ser a minha... alma gêmea, mas você não tem nada a ver comigo, somos muito diferentes, eu diria que o completo oposto. O Lee tinha que concordar, nunca conhecera alguém que fosse tão oposto a ele, era como se Minho fosse uma junção de todos os hábitos que mais lhe davam preguiça. Ele era saudável, malhava, tinha um emprego onde precisava usar terno e ser sério o tempo todo, estava sempre de cara fechada e além de tudo isso ainda era completamente introvertido e antissocial. Essas últimas duas ainda não tinha certeza se era com todos ou apenas com ele. — Nos completamos! — o ômega exclamou mais alto do que seria bom àquela hora da manhã — Melhores almas gêmeas real oficial. Era desesperador como uma pequena parte do alfa morria sempre que Taemin falava como um adolescente. Suas idades não eram tão distantes, Minho acabara de chegar aos 30, e o Lee estava com seus vinte e um, se arrastando para vinte e dois, oito anos não era tanta diferença assim. O problema mesmo estava em Minho se comportar como alguém de quarenta, e Taemin como alguém de quinze. — Você tem que ir pra sua casa! — o alfa se dera conta disso ao pegar as chaves para sair, não iria deixar que ele ficasse em sua casa, com total liberdade para fazer um milhão de coisas erradas — E tem que ir agora. — E como eu vou? — o ômega deu uma voltinha mostrando seus trajes nada apresentáveis — Eu vim de pijama, esqueceu? Não posso sair assim em plena luz do dia, terei que ficar aqui até que escureça e eu possa sair em segurança! — e bateu o pé, não tinha jeito, ele não iria embora, não perderia a oportunidade de fazer uma live com aquela camisa e andando por um apartamento que não era o dele. Era a oportunidade perfeita para mostrar aos seus seguidores que as coisas entre ele e sua alma gêmea estavam indo muito bem, e Minho não tinha o direito de o impedir. Mas o impediu. Taemin não estava nada feliz enrolado e praticamente todo coberto naquele moletom de capuz, sendo tirado do prédio como se tivesse sido pego em uma delação premiada e precisava esconder o rosto da mídia, até mesmo um óculos escuro Minho tinha colocado em sua cara, tudo para o tirar dali sem ter que dar explicações a ninguém. E precisava concordar que era melhor ter saído com o pijama, a vergonha teria sido bem menor. — Não me trate como se eu fosse algo a ser escondido! — já dentro do carro, ninguém iria impedi-lo de reclamar com todo o seu vocabulário — Deveria ter sido mais delicado, talvez pegar uma roupa emprestada com algum vizinho ou sei lá, mas me enrolar num moletom?! O melhor para Minho era simplesmente ignorar qualquer coisa que Taemin falasse, e o ômega reclamou durante todo o trajeto, fazendo questão de enfatizar o quanto o moreno não tinha sensibilidade alguma, além de ser alguém muito incompreensivo. Se Taemin falava pelos cotovelos, ele tinha pelo menos uns cinco braços. — Custava você, pelo menos, colaborar um pouco com a nossa situação? Depois que perguntou isso, Taemin parou de falar, virou para o lado e ficou apenas a observar as imagens borradas que passavam através da janela do carro. Por alguns segundos o moreno se sentiu feliz por ele ter finalmente calado a boca, mas logo notou o quão estranho era estar silencioso ao lado do ômega, aquilo se entranhou em sua cabeça de um modo que começou a incomodar e fazer com que se perguntasse se o mais novo estava realmente magoado com que havia acontecido. — Você ainda está se sentindo m*l? — ele se referia a sensação de vazio que os dois sentiam quando se separavam por muito tempo ou quando algum deles agia de maneira desagradável — Taemin, estou falando com você. Mas o ômega o ignorou. O que faria agora? Mesmo que não gostasse daquilo, não gostasse de ter uma alma gêmea e muito menos de como ela agia, ele não tinha o direito de o ferir e deixar magoado quando bem entendesse, era c***l fazer isso, c***l demais até para ele. — Você quer... — mas ainda era difícil — Quer passar o dia comigo, no meu apartamento? Eu tenho muitas coisas pra fazer, mas você pode... ficar por lá. Se arrependeu no momento em que Taemin o olhou com os olhos brilhando e um sorriso grande demais no rosto, tão grande que chegava a ser meio macabro.  
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