Pré-visualização gratuita Capítulo 1
O vocalista da banda é Tyler Jasper, um músico de dezessete anos que gosta de canções românticas e fotos de gatinhos fantasiados; ele canta de olhos fechados e seus lábios tocam o microfone cheio de bactérias.
Que nojo.
Se alguém um dia perguntar a Nathan Cultri o que ele acha de Tyler Jasper, ele obviamente responderá o que todo mundo espera que ele responda: um cara gente fina, engraçado, talentoso.
Mas ele está com Nelissa e sabe que não precisa esconder nada dela:
— Deus, ele continua babando no microfone. Pode avisar ele que isso é nojento?
Nelissa gargalha no canto do sofá enquanto observa Tyler Jasper beijar arduamente o microfone enquanto canta uma versão romântica e alternativa de High Enough. Ele também mexe o corpo de um lado para o outro, tentando rebolar se um jeito sexy, mas ele parece muito mais com uma lagartixa mutante do que com um cara sexy. Seus cabelos loiros e cheios de ponta dupla cobrem seus olhos claros, e por algum motivo toda aquela composição de artista que canta e toca violão conquista a grande maioria das alunas de Bel Lac High.
Nathan não gosta de parecer rude, então apenas comenta seus verdadeiros pensamentos com Nelissa Ford, sua melhor amiga no mundo todo.
Nelissa é como uma pária na escola: a rebelde sem causa que gosta de reciclagem e bandas antigas que supostamente nenhum adolescente com cérebro conhece de verdade. Porque ela era vizinha de Nathan desde que ele se mudou para a pequena cidadezinha de Bel Lac para morar com a tia-avó, seis anos antes, eles acabaram se tornando amigos após passarem uma tarde inteira trocando farpas na escola.
Nathan, na época, era mais reservado e tímido e Nelissa era a menina legal que todo mundo na escola queria ter como amiga. Com o passar dos anos, os papéis foram invertidos e agora Nathan é o cara popular e Nelissa a esquisita que gosta de colecionar lixo.
— Ei, Nathan! — George surge do corredor, cumprimentando Nathan com um toque de mão e um abraço bem másculo, daqueles com direito a uma batida de macho na costa. — Belo arremesso hoje! Você é o cara!
— Valeu, George!
De forma educada, Nathan cumprimenta a todos que param para falar com ele e assim que ele é: carismático, um bom ouvinte, ele tem um chama para pessoas que deixa Nelissa com inveja a maioria das vezes, ele conseguiu fazer amizade com todas as pessoas que Nel, forma carinhosa como é chamada por Nathan, conhece desde pequena. Todo mundo na escola conhece Nate Cultri, o garoto cujos pais morreram seis anos antes, fazendo com que ele precisasse se mudar para Bel Lac e morar com a sua única parente viva, sua tia-avó Gabriele Hackett.
— Nate, a sua jogada foi sensacional hoje! — Oliver comenta do outro lado da sala, enquanto Nate sorri agradecido pelo elogio.
Tyler corpo agora Karma Police, ainda remexendo o seu corpo, tentando fazer com que o seu corpo rebole no tempo da música, em vão. Mesmo assim, a grande maioria das garotas estão ali na frente, cantando com o rapaz e gritando o seu nome. Alguns rapazes também estavam na contagem, embora outros fossem mais reservados e estivessem num canto distante.
— Você pode pegar mais álcool pra mim?
— Tem certeza que vai beber tanto assim?
— Você vai dirigir pra casa?
— Vou.
— Então pronto, pega outra cerveja pra mim, vai — Nate revira os olhos enquanto Nel manda um beijinho para ele e o rapaz vai em direção à cozinha.
Enquanto caminha, algumas pessoas o cumprimentam, outros o elogiam pelo seu desempenho no jogo daquele dia. Nate é kicker no time de futebol da escola, e foi seu chute que trouxe a garantia de vitória para seu time naquela noite. Sendo sincero, Nate não gosta de futebol, ou de qualquer outro esporte que precise de uma bola, mas ele precisava fazer algo que ocupasse bastante o seu tempo e pudesse fazer com que ele parecesse um garoto normal.
Nate finalmente chega na cozinha, demorando mais do que o necessário no caminho até lá, visto ser apenas um cômodo de distância da sala de estar; abre a geladeira e observa as opções de cerveja que Gunter havia comprado. Pega uma Bud e fecha a porta da geladeira, percebendo a presença de Alec no balcão, comendo um pedaço de pizza de mussarela.
Alec River é o capitão do time de basquete: um rapaz atlético, alto – 189c centímetros –, inteligente e bonito. E põe bonito. A pele dele praticamente reluz quando a luz bate; os seus dreads curtos dão um charme ainda maior para aquele homem. Ele tinha um sorriso que os grandes lábios escuros apenas contribuem para que a sua beleza se eleve a um patamar absurdo.
Nathan tem uma queda gigantesca por ele.
— Ótimo jogo hoje — diz Alec, piscando com um olho e sorrindo de canto.
— Obrigado — atualmente, Alec River é a única pessoa na face da terra que faz com que Nate precise controlar a respiração para não parecer desesperado na frente dele. — E o seu jogo é semana que vem, estarei lá pra torcer por você.
— Não me diga que você só vai porque eu fui ao seu… — Alec sorri. Nathan tenta não surtar quando ele começa a dar a volta na bancada enquanto fala, parando logo na frente do menor. — Tem que ir no meu jogo de qualquer jeito. E se eu te dedicar uma cesta?
Nate engole em seco esperando que Alec não possa ouvir o seu coração batendo tão rápido.
— Tem que ser uma de três pontos — Nate reúne alguma coragem para dizer. — Afinal, eu chutei uma distância de 47 jardas hoje…
— Eu realmente não entendo como alguém tão pequeno como você consegue chutar tão longe…
— Ei. i****a. Cadê minha cerveja? — Nelissa surge na porta da cozinha com a cara enfezada e olhando desconfiada para Alec, que se afasta no mesmo instante de Nate.
Embora ele consiga respirar fundo agora, Nate tenta não sentir raiva da melhor amiga por atrapalhar o superflete que estava tento com Alec instantes antes, afinal, ela não sabe que ele gosta de garotos. É algo que ele descobriu recentemente no fim das contas e não teve nenhuma oportunidade de conversar a respeito com Nelissa.
— Eu já estava indo deixar pra você, alcoólatra — Nate sorri para Nel. — Eu só parei pra conversar um pouco, você não desgruda de mim?
— E aí, River — Nelissa nem sequer prestou atenção no que o melhor amigo havia acabado de falar, começando a andar na direção de Alec, que já estava encostado na bancada novamente.
— Nelissa — Alec ri. — Bonito gorro.
— Cala a boca, seu i****a. Eu sei bem o que você quer com o Nate, entendeu? Mas ele não é pro seu bico.
Nate arregala os olhos enquanto as palavras saem da boca de Nelissa. Parece que ela percebeu algo, embora de maneira incompleta. E mesmo assim… o que deu nela pra agir desse jeito?
— Nel!
Alec apenas balança a cabeça, ri e diz a Nathan:
— A gente se vê, Cultri.
O garoto espera ele ficar completamente sozinho na cozinha com Nel e quando enfim Alec some, ele se vira e joga a latinha de cerveja em cima de Nel, um tanto irritado.
— Então, virou a minha protetora agora?
— Ele é como um leão, Nate. Um leão grande e gay. Fica esperto com ele. Ouvi dizer que é ele quem fica por baixo.
A cada palavra grotesca que sai da boca de Nel, mais raiva ele sente.
— Mas do que você tá falando? O que que tem ele ser gay? Nelissa, pirou?
— É, pirei. Mas não vou deixar ele tocar em você! Eu tô de olho nessa leoa gay! — Ela abre a cerveja, dá as costas e vai em direção à sala, mas para no meio do caminho e olha para trás, percebendo que Nate continua parado no mesmo lugar. — Você vem?
— Não, eu vou lá fora — ele diz, indo na direção contrária a ela, abrindo a porta do quintal. Nel pergunta se ele irá fumar e sim, ele irá, mas não se dá ao trabalho de respondê-la, porque não quer ser rude com ela.
A noite está fria. Venta forte do lado de fora. Nate acende um cigarro e traga uma vez, antes de pôr as mãos no bolos e caminhar. Embora não esteja com o seu casaco, ele não se incomoda com a ventania fria cortante da noite. Tem um banco num jardim mais a frente, onde ele senta e observa o céu estrelado. Bel Lac era uma cidadezinha de interior, cercado de vegetação, as casas longe uma das outras.
Nate fecha os olhos e aproveita o quase silêncio – o som abafado da casa ainda estava alto – e respira fundo, apenas pra sentir um arrepio antigo atrás das orelhas, algo que ele rezava todos os dias para não sentir. O garoto se levanta atento, afinal, algo está muito muito errado. Por vários motivos, mas dois eram importantes: 1) não era lua cheia e 2) ninguém além do seu pai e um grupo seleto de quatro pessoas sabia que ele estava ali em Bel Lac.
O cigarro é jogado no chão e ele pisa em cima com o coturno preto e entra na floresta sem olhar para trás. Um uivo longo e alto toma conta da floresta escura faz ele ficar mais alerta em uma. Nathan consegue escutar grunidos, galhos sendo quebrados e finalmente um uivo de dor. Estavam brigando entre si?
Ele identifica de onde o barulho estava vindo e segue por entre um caminho de árvores, até chegar em uma clareira onde vê dois lobos gigantes se ameaçando; eles rosnam um para o outro e caminham em círculo lentamente antes do menor finalmente correr e pular em cima do maior, mas logo ele recebe um único golpe do maior e é jogado contra uma árvore gigante. O lobo uiva de dor enquanto tenta se levantar, ainda disposto a levantar, mas logo é nocauteado de vez pelo lobo maior, de pelagem cinza. Ele é ameaçador e obviamente mais esperto que o outro, fica por cima dele e tosta em seu rosto.
O lobo menor, de pelagem escura e grandes olhos amarelos, vira o seu focinho na direção de Nathan, que estava tentando se esconder atrás de uma árvore.
Bastou um encontro entre os olhos amarelos do lobo nocauteado de dos olhos castanhos de Nathan para que algo mudasse. Ele não sabe explicar o que é, na verdade. Talvez um choque, um arrepio, ele sente como se o mundo estivesse parando e aquele lobo tivesse algo para dizer.
E Nathan ouviu:
— Me ajuda. Ele vai me matar.