O carro de Nathan é um Chevrolet '77 da cor preta; um presente que recebeu de seu pai quando ele fez dezesseis anos, uma época não muito distante em que Nathan acreditava que seu pai apareceria. Hoje ele já não pensa mais assim, e na verdade, prefere não vê-lo nunca mais. Nate olha a casa mais uma vez e lembra que sua amiga ainda está lá dentro, mas ele não quer explicar o que um rapaz semimorto está fazendo no seu banco de trás, então dá a partida e começa a dirigir, pensando ainda se mandará alguma mensagem a Nel, visto que ela agiu de forma tão grosseira e homofóbica com Alec. Talvez a deixe de molho por algum tempo enquanto lida com o problema Frederic.
Ele dirige pela 56 por quinze minutos antes de entrar na Avenida Brown, chegando ao centro da cidade. Ele ainda precisa dirigir por mais dez minutos na cidade, entrando novamente na área rural e chegando até uma rua de terra. A casa da sua tia-avó fica no final dela, depois de um portão de ferro muito grande, onde uma pequena mansão se encontra.
A tia-avó de Nathan, Gabriele, pelo que ele sabia, que havia criado a sua mãe Ellen, porque sua avó havia morrido durante o parto. Ele não sabia da existência da mulher até que foi deixado ali, quando tinha onze anos. Gabriele nem sonha que sua mãe foi morta por um lobisomem.
E que agora, Nathan está trazendo um para dentro de casa. A mansão está escura, o que significa que Gabriele já está dormindo. Nate sai do carro, da a volta e acorda Frederic, que soloneto, se deixa ser levantado por Nate; mais uma vez ele é carregado na costa pelo menor, que roda a chave na fechadura e entra dentro de casa. Ele sobe as escadas e abre a porta do seu quarto, quando, de repente, escuta a voz de sua tia-avó:
— Nate, é você?
— Sim, tia. Acabei de chegar — ele rapidamente entra em seu quarto e joga Frederic em sua cama, colocando apenas a sua cabeça para fora do quarto, vendo finalmente sua tia idosa na porta do quarto dela.
Gabriele é uma mulher magra demais, com os cabelos grisalhos e muitas pintinhas de idade em sua pele enrugada.
— Cadê a Nel? Achava que ela vinha dormir aqui.
— Nós discutimos e eu resolvi voltar pra casa. Nada demais, amanhã me resolvo com ela, não precisa se preocupar — ele anda na direção da mulher que tem a mesma altura que ele e da um beijo em sua bochecha. — Boa noite, tia Brie.
Ela sorri, da um beijo nele e entra dentro do quarto, deixando Nathan mais aliviado. Ele volta para o seu quarto e encontra Frederic sentado, olhando fixo para o espelho de corpo todo que está na frente da cama, ao lado de uma escrivaninha.
— Deus, que horror.
— Eu vou te preparar um banho quente — Nathan diz, entrando no quarto e fechando a porta, não esquecendo de passar a tranca. O garoto tira os sapatos, os joga em um canto e passa direto para o banheiro.
Frederic fica no quarto, observando tudo, embora realmente não tivesse prestando atenção em absolutamente nada. Sua memória estava em branco, seu rosto inchado, seu corpo dolorido. Ele se levanta e vai até o banheiro, onde vê Nathan esperando banheira encher, sentado no chão. Frederic começa a tirar a roupa ali mesmo, começando pela camisa de botão quadriculada, que assim como o resto da roupa está incrivelmente suja e joga no chão. Nate percebe e logo se levanta.
— Vou deixar você sozinho — mas Feredic foi mais rápido ao se colocar na frente dele.
— Pode ficar? Eu realmente não quero ficar sozinho.
Nate engole em seco. Ele não sabe quem é o rapaz, seu nome não é familiar, seu rosto muito menos. Mas quando levanta a cabeça e olha em seu olhos, que ainda estão amarelos, ele sente novamente aquilo. Essa sensação esquisita que ele não sabe dizer o que é, esse arrepio sem significado aparente, algo que está começando uma batalha interna em seu peito. Ele desvia, porque não consegue ficar muito tempo encarando aqueles olhos e volta a se sentar no chão, enquanto Frederic tira o resto da roupa, ficando totalmente nu e entrando na banheira.
Nate toma coragem de algum lugar e levanta o olhar, vendo a pele suja do rapaz, cheia de hematomas e ferimentos. Isso causa uma angústia em seu coração, quase como uma vontade de caçar os responsáveis por aquilo. Feredic se senta na banheira e respira fundo.
— Vai precisar de uma ducha quando terminar.
— Contato que eu relaxe um pouco, eu faço o que você quiser.
— E que tal começar a falar?
— Tudo bem — diz Frederic, ainda de olhos fechados. — Olha, eu tô fugindo, ok? Eu não sei o porquê, mas os lobos estão me caçando. Eu passei o último mês em lutas diárias com diversos lobos. Eu tô cansado, e se você não tivesse aparecido hoje, eu estaria morto. Eu estou em meu limite.
— Te caçando? Sua própria espécie está te caçando? Mas por que?
— Eu não sei! — Frederic da de ombros. — Eu só sei meu nome porque os lobos continuavam a me chamar assim. Mas minha mente está em branco, eu só lembro de acordar no meio da floresta em um dia e desde então, todos os dias eu sinto como se fosse o meu último. Eu só quero ir pra casa e eu nem sei onde fica.
— Bom, sabemos que daqui com você não é. Seu sotaque inglês é ridiculamente forte. Talvez do sul da Irlanda?
— Se eu soubesse se onde sou, já teria ido pra lá.
Nate fica em silêncio por um minuto, observando a figura acabada de Frederic.
— Eu nem deveria ter te salvado. Eu sou um caçador, Frederic.
— Isso existe também? Imagine minha surpresa quando eu acordei no meio da floresta em lua cheia e me transformei em um lobisomem? Eu quase surtei. Agora descubro que existem caçadores também — Frederic abriu os olhos, agora, Nate percebeu, eles estavam azuis. As cores verdadeiras.
— Eu deveria ter matado você — Nate se apoia na banheira, sem tirar os olhos de Frederic. — Eu deveria ter matado os dois. Mas você entrou na minha cabeça. Como fez isso?
— Eu não sei — diz Frederic. — Eu só queria ajuda. Estava em desespero. Eu não tinha ideia de que você iria me ouvir. Ou me ajudar. Eu devo minha vida a você.
Nate sorri. Se sua família o visse agora, nenhum deles acreditaria na cena: um lobisomem dizendo a um caçador que deve sua vida a ele. Nunca imaginou que um dia poderia estar passando por esse momento tão surreal.
Nate finalmente levanta, mas Frederic o chama.
— Onde vai?
— Preparar algo pra você comer. Eu volto já.
Frederic não quer que ele vá, mas sabe que não pode abusar demais da hospitalidade dele, mais do que já está abusando, então apenas balança a cabeça, assentindo e voltando a fechar os olhos.
Nathan sai do banheiro e procura entre suas roupas um conjunto moletom e deixa em cima da cama, depois desce as escadas e anda pela casa, em direção a cozinha. A casa é realmente grande e ele ainda precisa passar pelo corredor e pela gigantesca sala de estar para chegar na cozinha.
Abre a geladeira e tira os ingredientes para fazer sanduíches; Nathan ainda está pensando nas coisas esquisitas que havia acontecido naquela noite. Prepara três sanduíches com queijo, presunto, alface, salada, além de um leite quente, para que Frederic possa dormir bem e deixar os problemas para o dia seguinte.
— Pensar que tem um Lobisomem dormindo na minha cama… — Nathan sorri, pensando na longa noite que ainda tem pela frente.