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1073 Palavras
Lorrana  Eu sempre soube que meu pai não era santo, porque santo só Jesus Cristo. Mas as coisas que eles estavam falando sobre ele me deixaram apavorada. É claro que eu me escondi atrás do altar quando a confusão começou. Eu estava junto com o grupo que estava tocando em cima do altar. Na hora que ele deu o tapa na cara do meu pai, eu fiquei com os olhos arregalados, e as coisas pioraram quando ele mostrou a traição do meu pai para a minha mãe. E como se isso não fosse suficiente, ele foi pegar gasolina para tacar fogo na igreja. Que tipo de homem faz isso? Taca fogo numa igreja?! Eu já tinha ouvido falar do Urso, mas eu nunca encontrei com ele pessoalmente. Já tinha visto de longe, mas sabe aquelas pessoas que você evita? Então… ele era uma dessas pessoas que eu evitava. Motivo: medo. Sem falar que ele é do terreiro que tem no final da rua, e eu morro de medo da religião dele. Quando Miguel voltou com o galão de gasolina, a mãe dele começou a gritar, mas ele ignorou. Ele tacou um balde d’água na cabeça do meu pai, que acordou tonto, e o Urso colocou ele de joelhos de novo no meio da igreja e colocou a arma na cabeça dele. E foi automático: eu comecei a correr na direção do meu pai e fiquei de joelhos na frente do Urso. Lorrana: Por favor, não faz isso com o meu pai. Eu sei que ele fez uma coisa errada, mas todos merecem misericórdia. Todas as pessoas merecem uma segunda chance. Dá uma segunda chance pra ele, por favor, em nome de Jesus. Ele me olhou durante alguns segundos, depois ele encarou o meu pai e a arma fez um barulho, mas não foi de disparo. Eu acho que ele destravou. Luiz: Escuta o que a menina tá falando. Ela é usada pelo Senhor – meu pai falou ainda tonto e tomou outro tapa na cara que fez ele cair no chão mais uma vez. Lorrana: Nós vamos dar um jeito. Nós vamos fazer campanha na rua, nós vamos orar, nós vamos jejuar e Deus vai dar uma solução. Nós vamos conseguir o seu dinheiro. Eu sei que é muito dinheiro e que você não quer esperar mais. Por favor, dá uma chance pra gente. Eu e os irmãos da igreja vamos dar um jeito. Eu terminei de falar, ele olhou pra minha cara, depois ele olhou pra cara do Arcanjo e depois ele olhou pra outro vapor. E ele começou a gargalhar. Urso: Hahahahaha! Eu tenho cara de ONG, sua filha da p**a? Eu tenho cara de banco pra oferecer empréstimo consignado, c*****o? Eu vou ter que esperar tu orar e jejuar pra mim ter meu dinheiro de volta? Eu tenho cara de maluco? De psicopata? Tá pensando que eu sou o quê, algum o****o nessa p***a? Lorrana: Não! Eu não tô pensando que o senhor é nada. Eu só quero salvar a vida do meu pai. Urso: É melhor você deixar o aspirador de pó morrer, porque ele vai dar mais prejuízo pra vocês mais tarde, acredita. Eu fui enviado por Deus pra poder te dar um livramento, pra dar um livramento pra todo mundo que tá dentro dessa igreja. É só vocês que não estão acreditando. Podem tacar a gasolina nessa p***a! Lorrana: Não, por favor! Não queima a casa de Deus! Urso: Garota, com todo respeito, o que tu tem de bonita tu tem de chatinha, né? c*****o, chata pra c*****o! p**a que pariu! Os homens dele começaram a tacar gasolina na igreja e todos os fiéis começaram a gritar. Ele ficou me encarando de um jeito estranho e eu comecei a me tremer toda ainda de joelhos. E foi aí que meu pai falou: Luiz: Eu te dou a minha filha como forma de pagamento de metade da dívida, e eu vou conseguir o restante do dinheiro. Lorrana: O quê?! Luiz: Por favor, só aceita minha filha. Eu tô vendo o jeito que tu tá olhando pra ela, eu sei que você achou ela bonita. Aceita ela como forma de pagamento. Eu vou conseguir a outra parte do dinheiro. Você fica com ela até eu conseguir pagar a outra metade. Depois você me devolve. Você pode fazer o que quiser com ela nesse tempo. Lorrana: Não pode não! Tá louco? Que pó foi esse que você usou hoje? – eu falei me levantando na hora. Luiz: Minha filha, tem momentos na vida que nós temos que fazer sacrifícios. E o meu sacrifício vai ser te entregar pra esse homem. Lorrana: Deus que me perdoe, mas se for a hora dele, pode matar, Senhor – eu falei, e o Urso me olhou de um jeito que me deixou nervosa. Urso: Aceito ela em troca dos R$ 50.000. Mas você vai ficar me devendo os 500. Lorrana: Não, calma aí. Que doideira é essa? E… e… eu não quero! Você ia matar ele? Pode matar, tá tudo bem pra mim. Eu acabei de aceitar o luto. Eu acabei de ver que realmente foi Deus que te mandou aqui. Faz o que for da tua vontade. Urso: Então você tá ferrada, gatinha. Porque a minha nova vontade… é você. Luiz: Eu só preciso de três meses pra poder pagar essa dívida. Urso: Suave. Três meses então. E você vem comigo. Lorrana: Eu não vou pra lugar nenhum com você por causa de dívida de vagabundo. Deus que me perdoe, mas eu não tô nessa vida pra ficar sofrendo por causa de macho safado não. Eu não vou pra lugar nenhum – eu falei saindo de perto, mas ele veio andando na minha direção. Ele me jogou no ombro como se eu fosse um saco de batata, e eu comecei a bater nas costas dele gritando por socorro. Mas todo mundo da igreja ficou olhando e ninguém me ajudou. Que inferno é esse?! Saiu da igreja comigo nas costas e eu continuei batendo. Quando eu vi que ele não ia me soltar, eu mordi as costas dele. Urso: Aí, p***a! Tá maluca? – ele falou me soltando no chão. Lorrana: Eu não vou pra lugar nenhum com você. Tá achando que eu sou maluca? – falei tacando meu chinelo nele. Ele não falou nada, só saiu andando. E quando eu me levantei pra correr, os vapores me seguraram e começaram a me arrastar.
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