Brincando

1483 Palavras
Capítulo- III. Brincando " Você meu belo brinquedo, não sabe que posso te desmontar." Hadassa A noite na Calabria é quente, e misteriosamente Renzo parece ter tomado a pílula do sumiço. Não posso dizer que estou sentindo falta dele, porque eu não sinto falta daquele roqueirinho da mocaína. O homem se veste como se fosse um cantor de rock, tem cara de quem gosta de cigarro invertido e ainda dá um tapa no pó. Faz dois dias desde que a Katacha esteve aqui em casa — na verdade, na casa dos calabreses, porque essa casa não é minha. A minha fica na Sicília. Talvez eu esteja nervosa por estar aqui, mas, ao mesmo tempo, estou gostando. Posso ficar pertinho do meu tudão, ainda que ele ignore totalmente a minha existência, o que é muito chato. Na realidade, ele é chatíssimo. Sempre com aquele nariz empinado, elegante, arrumado... mas falta alguma coisa nele. Falta eu. Ele precisa se dar conta de que a boca dele está precisando da minha, e que o meu corpo precisa do dele. Está ficando difícil, porque os sonhos eróticos têm retornado, cada vez mais quentes e luxuriosos, e isso está acabando comigo pelo simples fato de não poder colocá-los em prática. Outra noite sonhei que estava deitada na cama lendo um livro, quando de repente a porta se abria e, por ela, entrava Dante com um embrulho nas mãos. Ele sorria para mim com aquele sorriso cafajeste que nós, mulheres, amamos. Me entregava o pacote e dizia: — É pra você, já que gosta tanto de ler. Eu pegava empolgada o presente e, ao abri-lo, ficava extasiada: era um livro mostrando todas as posições possíveis e mais um pouco. Então, eu me jogava no colo dele e dizia: — Vamos praticar? — Agora, meu bem — ele respondia. E então eram roupas voando para todo lado, beijos, mordidas, tudo que tinha direito. Mas, justo quando íamos começar a primeira posição, acordei assustada com o barulho do despertador. Fiquei com tanta raiva do relógio que quis jogá-lo contra a parede. Era sempre assim: me acordava no melhor momento do sonho. Fiquei frustrada. Na verdade, vivo frustrada, porque parece que Dante não enxerga minha existência. m*l me olha. Igual hoje de manhã, na hora do café: fiz um comentário à senhora Larissa, dizendo que ela tinha belos olhos verdes. Ela sorriu de modo contido, mostrando toda sua educação, e agradeceu. Então comentei sobre o gosto do café, que estava forte. Ela respondeu apenas que Dante gostava assim, e que o pai dele também. Achei que Dante fosse falar alguma coisa, pelo menos me dar uma patada. Mas não: continuou quieto, tomando o café e nos olhando vagamente, como se nem eu nem Larissa estivéssemos ali. Riso não estava presente, e o mesmo valia para o senhor Pietro e para a filha mais nova do casal. E por falar em casal... eita gente que gosta de fazer filho! São todos em escadinha. Hoje está calor. Estou aqui, na janela do quarto, observando o céu cheio de estrelas, sentindo o ar morno circular e balançar suavemente as folhas. De repente, um barulho de água chega aos meus ouvidos. Olho na direção da piscina. Está tudo escuro, as luzes apagadas. Mas o som é claro: alguém está nadando. Curiosa, atravesso o corredor em silêncio. É meia-noite. Pareço um fantasma libertado quando as doze badaladas soam. Desço lentamente as escadas, ouvindo o rangido delas denunciar que todos já dormem. Saio pela porta dos fundos, que dá de encontro à área de lazer e à piscina. De longe, observo. Então as luzes em volta se acendem, criando uma meia-luz, e meu coração dispara quando vejo quem está na piscina: Dante, meu tudão, nadando com braçadas violentas. Meu Deus, eu queria ser aquela água... cada gotinha escorrendo pela pele dele. Minha boca saliva e sinto um fogo no meio das pernas, uma fornalha acesa. Quase não consigo ver os detalhes de onde estou, então caminho devagar, escondendo-me atrás dos arbustos. A visão é maravilhosa. Não posso simplesmente virar as costas e voltar a dormir. Até porque eu não conseguiria: passaria a noite imaginando como ele seria sem roupas. Acredito que não esteja totalmente nu — ou talvez esteja. Mas o seu doce com certeza está despido. Quando eu teria chance de ver Dante assim? Nunca! E eu sou uma menina que gosta de aproveitar oportunidades. Jamais fecharia os olhos para tamanha visão. Aproximo-me lentamente da piscina, ficando numa parte bem escura. Meu coração acelera, aperto as mãos contra o peito, tento controlar a respiração para não fazer barulho. Os seguranças não estão circulando por aqui, então o risco de ser pega é mínimo. Ele passa muito tempo debaixo da água, tanto que fico assustada, achando que teve um m*l súbito. Seguro um grito quando ele surge bem na minha frente, cabelos molhados, boca entreaberta, respirando ofegante. O peitoral definido me deixa com as pernas bambas. Minha v****a contrai, o sangue circula mais rápido, e fico de queixo caído. O homem é lindo. Não tem um único pelo no peito. Naquele instante, morro de inveja de cada gota d’água deslizando pela pele dourada. Ele apoia os braços fortes na borda da piscina, fica parado, olhos fixos no nada. Depois se joga novamente na água e vai até a borda oposta. Minha boca saliva. Engulo em seco, desejando passar a língua por cada centímetro dele. É muita gostosura para ficar longe das minhas mãos que coçam de vontade. Olho para o céu e falo em pensamento com Deus: — O Senhor poderia facilitar um pouco, né? Assim fica difícil. Tá vendo? Estou pecando, e a culpa é Sua por colocar uma coisa tão bonita na face da Terra. E eu estava mesmo. Mais do que cobiçando: eu devorava Dante com os olhos. Era o único jeito de devorá-lo de verdade, já que parecia algo impossível, quase no limiar do inalcançável. Decido fazer algo inusitado. Quem não arrisca, não petisca. E eu estava amando aquele petisco enorme dentro da piscina. Arrumo o cabelo, abro o robe que uso para deixar à mostra a minúscula camisola, e sigo em passos leves até a borda da piscina. Quando estou próxima, faço questão de deixar meus passos estalarem sobre as pedras, para que ele perceba minha presença. Funciona. Dante olha para trás, mas logo volta a cabeça à posição anterior. Isso me faz sentir desprezada. A vontade é de virar as costas e ir embora. Mas eu não desisto tão fácil. Continuo andando até me aproximar dele. — Boa noite. A água está morna? — pergunto, sentando-me na borda da piscina e mergulhando os pés. — O que faz aqui? — ele pergunta seco. — Deveria estar dormindo. Detesto quando as pessoas invadem o meu momento de sossego. Ui, que a aranha mordeu alguém hoje? penso comigo. — Não vou atrapalhar você em nada, prometo. Ficarei quietinha, como se fosse invisível. — Hadassa, retire-se deste lugar agora mesmo.- fala baixo cortante e áspero. "Ui, mandão! ADORO!!! " Balanço a cabeça, fazendo meus fios ondularem. Tentando disfarçar que não estou sendo afetada pelo conjunto de perdição à minha frente. Deus caprichou nos anjos, anjos caídos, afinal eles também são anjos e esse que meus olhos veem é um para ninguém colocar defeitos. _ Com que frequência você tr*nsa?- p*rra! perdi o juízo! Se ele não me matar meu pai vai por tamanha ousadia! _ Está mesmo perguntando isso?- a voz saiu sarcástica, sorri de nervoso, meu juízo não funciona bem quando Dante está por perto. E lá vai eu me enrolar mais um pouco. _ Sim, julgando pelo seu m*l humor, diria que está de ovo cheio.- alguém me para pelo amor de Deus! Estou cavando a minha cova! _ Você não tem noção de limites, ragazza! "E você não sabe como eu queria sair totalmente dos limites contigo em cima da cama." _ Entre, Hadassa. - insiste mais uma vez. Estalo a minha língua no céu da boca. — E por qual razão eu faria isso? A piscina é enorme. Estou quietinha. Aliás, não me foi imposta nenhuma regra de não circular pela casa ou molhar os pés aqui. — Não foi, mas você está infringindo as minhas regras. Por favor, saia. — Por qual razão eu deveria? Então Dante mergulha e surge bem à minha frente. A água está escura, a iluminação se limita aos pontos de luz no jardim, mas ainda assim sinto seus olhos me fuzilarem. — Você sabe muito bem — ele diz — que uma jovem noiva não pode ficar sozinha, em hipótese alguma, com outro homem. Principalmente se esse homem estiver nu. Não consigo evitar: meus olhos descem para a água, desejando ter visão de raio-X. Engulo seco. Minha imaginação voa. Minha boca se abre num “ó” perfeito. "E agora? Levanto e vou embora... ou finjo um acidente e caio dentro da piscina?"
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