O Novo Contrato e a Queima das Pontes

1390 Palavras
O sol da manhã invadia a suíte Oeste, dourando os lençóis de seda e o mármore frio. Era uma luz honesta e c***l que expunha o que a escuridão havia escondido: o facto de Seraphina Vance, a rainha do autocontrolo, ter sucumbido completamente ao seu marido e parceiro de negócios, Julian Kaine. Seraphina estava sozinha na vasta cama, sentindo o peso da ausência de Julian. O lado dele ainda estava quente, mas ele já se havia levantado, desaparecendo com a mesma precisão implacável com que conduzia os seus negócios. Ela se sentou, agarrando os lençóis ao peito. O seu corpo estava exausto, mas a sua mente estava a funcionar em velocidade máxima, reanalisando cada toque, cada palavra da noite anterior. A voz de Julian na sua mente, o "Não há arrependimentos aqui. Apenas consequências," ecoava como um decreto. E Seraphina sabia que a maior consequência não era a humilhação pública de Marcus, mas a perda da sua própria fortaleza emocional. Ela forçou-se a sair da cama, apanhou uma camisa de seda masculina que Julian havia deixado cair e vestiu-a. A peça de roupa era demasiado grande, mas a sua familiaridade e o cheiro a sândalo e ambição davam-lhe uma estranha sensação de poder. Ela caminhou para a casa de banho, espantada com a vastidão e o luxo. Ao regressar ao quarto, Julian Kaine já estava de volta. Ele estava vestido, perfeitamente alinhado em um terno cinza-chumbo, impecável. Ele estava ao telefone, mas terminou a chamada assim que ela apareceu, deixando a sua expressão serena. — Bom dia — disse ele, a sua voz voltando ao tom profissional, mas com uma leve rouquidão que traía a madrugada. — Bom dia — Seraphina respondeu, a voz mais rouca do que ela pretendia. Ela estava irritada pela forma como ele parecia tão perfeitamente recomposto. Julian se aproximou da cama e colocou uma chávena de café sobre a mesa de cabeceira. O gesto era íntimo, mas a sua postura era de negociação. — Você deve se sentir vitoriosa. O mercado de ações reagiu positivamente à sua performance. A Thorne Global está em queda livre. A polícia e a Ordem dos Advogados estão a investigar Marcus e Theodore. — O meu objetivo foi cumprido — Seraphina declarou, a voz firme, voltando ao seu modo CEO. Ela sabia que tinha que reestabelecer a fronteira agora, antes que fosse tarde demais. — Agora, temos de falar sobre o nosso acordo. O contrato de casamento. — Ah, sim. O nosso acordo — Julian sorriu, um sorriso pequeno e cínico. Ele deu um passo em direção a ela. — O que resta dele, Seraphina? O Artigo 3º sobre o não-contacto? Não, isso foi rasgado e queimado. — Eu estou a falar sobre a cláusula de não-interferência pessoal. Ela volta a ser absoluta. O que aconteceu na noite passada foi uma anomalia provocada pelo stress da vitória. Foi o grand finale que o público precisava. Foi a queima da ponte com Marcus. Agora, as cinzas devem assentar. Julian parou a poucos centímetros dela. Ele ignorou o seu discurso sobre "anomalia". — Uma anomalia que durou a noite toda, Seraphina? E que você, a rainha do controlo, iniciou na limusine? Está a tentar enganar-me, ou a si mesma? Não houve anomalia. Houve verdade. E essa verdade tem consequências. Ele se afastou antes que ela pudesse responder. Ele caminhou até o armário e pegou num envelope selado. — Esta é a consequência imediata do nosso sucesso. Marcus ainda tem um último ativo: as ações preferenciais do Égide que ele está a vender no mercado. Ele está a tentar desvalorizar o capital para forçar uma venda a curto prazo, o que faria o Égide desabar completamente, numa última explosão de raiva. Julian entregou-lhe o envelope. Dentro havia um contrato de compra-e-venda, já assinado por ele. A caligrafia era firme e angular, tal como ele. — Você vai vender o resto das suas ações do Égide para mim. Eu comprarei tudo o que você possui. Isso injetará uma liquidez maciça no consórcio, esmagando a tática de desvalorização de Marcus. Você se torna a CEO e presidente com controlo operacional total. Eu me torno o seu acionista majoritário. Seraphina olhou para o contrato, o papel a tremer ligeiramente nas suas mãos. A proposta era astuta. Julian estava a transformar o Égide numa fortaleza impenetrável. — Eu tenho a capacidade de manter as minhas ações. Por que vendê-las e dar-lhe o controlo financeiro? — Porque a sua exposição ao capital de Marcus, por menor que seja, é uma vulnerabilidade que ele pode explorar. Se o seu capital for meu, ele não pode tocar. Proteção Total. O Égide precisa de estabilidade, não de sentimentalismo. Mas há uma condição. Seraphina sentiu um calafrio, sabendo que a condição exigiria mais do que dinheiro. — Qual? — Você tem que se mudar para a minha suíte. Agora. Seraphina piscou, lutando contra o choque. — O quê? — Você tem que morar comigo. Não há mais "suíte leste" e "suíte oeste". Há apenas o nosso penthouse. Não é uma sugestão, Seraphina. É uma condição contratual para a compra das suas ações. Julian se aproximou novamente, a sua presença quase sufocante. — O casamento de negócios acabou. O nosso casamento real começou. E a Rainha de Fogo tem que dormir com o Rei. Não é para o público. É para o poder. Se você se mudar, ninguém, nem Marcus, nem a mídia, nem o conselho, jamais questionará a permanência desta união. É o seu selo final de autoridade, a prova de que você não pode ser quebrada. Seraphina estava furiosa. Ele estava a usar a sua paixão da noite anterior para forçá-la a uma submissão total. — Você está a usar o meu corpo para me chantagear, Julian? — Não. Estou a usar a sua ambição e a minha capacidade de prever o seu próximo passo. Sei que você não vai arriscar o Égide por causa de um pingo de autonomia. O preço da vitória total é este: a fusão das nossas vidas. É a única forma de garantirmos que a nossa aliança não seja vista como temporária. Ele continuou, a sua voz baixa e persuasiva: — Pense nisto, Seraphina. Eu estou a oferecer-lhe uma defesa impenetrável. O seu dinheiro é seu; o pré-nupcial mantém a sua autonomia financeira. Mas a nossa vida é partilhada. Se você recusar, eu ainda salvo o Égide, mas você passará o próximo ano a lutar contra Marcus e os seus advogados. Você perderá tempo, paz e energia. Eu estou a oferecer-lhe o fim da guerra, Seraphina. E uma vida que você nunca soube que desejava. Julian pegou numa toalha de banho e atirou-a para a cama. — Vista-se. Temos uma reunião do conselho em duas horas para anunciar a dissolução da Thorne Global. E você fará o anúncio. Mas primeiro, a sua decisão. Seraphina sentiu-se encurralada. Ele estava certo. Ele havia transformado a sua única fraqueza — o seu desejo por ele — no seu maior trunfo estratégico. Se ela quisesse o Égide, ela teria de aceitar a vida com Julian. Ela respirou fundo, os olhos fixos nos dele, a sua fúria transformando-se em aceitação fria. Ela não seria quebrada, seria adaptada. — Eu assino. — A sua voz era baixa, mas firme. — Eu vendo as minhas ações, e você as compra. E eu me mudo para a sua suíte. Mas sob uma condição, Julian. Ele levantou uma sobrancelha, o primeiro sinal de surpresa. — Diga. — Não sou sua parceira apenas na cama ou na guerra. Sou sua parceira em todos os sentidos. Eu quero saber todos os seus segredos. Eu quero saber quem você realmente é, Julian Kaine. O homem que me beija, o homem que me protege, e o homem que me desafia. O nosso acordo é de fusão total, e isso inclui a verdade total. O sorriso de Julian desapareceu, substituído por uma expressão de respeito surpreendente. Ela o havia atingido onde mais importava: o seu mistério. — Aceito — disse ele, a sua voz um voto solene. — A partir de hoje, somos transparentes um para o outro. Agora, assine o contrato, Seraphina. E comece a reinar. Seraphina levantou-se, apanhou a caneta de ouro sobre a mesa e, com uma assinatura firme, vendeu o resto da sua autonomia em troca do controlo total do Égide e da vida com Julian.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR