Acordei devagar, como quem desperta de um sonho pesado, sentindo primeiro o peso do travesseiro macio e a maciez absurda dos lençóis de seda. Só depois percebi a presença dela ao meu lado. Clara. Dormia de costas para mim, cabelos espalhados no travesseiro, um perfume doce que parecia impregnar o quarto inteiro. O silêncio da manhã era cortado apenas pelo barulho distante dos pássaros lá fora e o estalar suave da madeira da mansão, como se a casa também despertasse. Por um momento, esqueci da farsa. Só estava ali, deitado, sentindo o calor de outra pessoa dividindo a cama. Algo que, confesso, não acontecia comigo fazia tempo. Sempre dormi sozinho, acostumado com minha rotina simples, com meu quarto apertado, com meu colchão já meio gasto. E agora, estava naquela cama enorme, macia como nu

