CAPÍTULO 4 - RANYA

2691 Palavras
Espero me sentir um dia a Ranya de antes, porque essa aqui que está se olhando no espelho está se odiado, sem saber como se sentir bem com ela mesma, sem saber onde foi que eu perdi uma parte de mim. Coloco o sapato e me sinto incomodada com o vestido branco, me sinto incomodada com o sapato, com meu cabelo, com minha maquiagem e com tudo que eu vejo através do espelho embutido na parede dentro do armário, olho para as várias roupas, do lado direito e esquerdo e tenho vontade de ficar sem nada daquilo. Me sinto deprimida e com um complexo de inferioridade, lembrando de tudo e querendo ir apenas dormir, não era normal, por que eu devia achar r**m um jantar com a família? Poderia ser uma possível pretendente do meu irmão. Eu devia estar eufórica e contente por ele achar alguém, embora ache a menina do jantar r**m pra ele. Saio do armário e olho para minha cama desarrumada e com roupas jogadas e sem nenhuma organização minha naquele momento. Droga, droga! Traição tem isso mesmo? Esse complexo de inferioridade que nasce e normal? Raios, raios! Respiro devagar e fecho os olhos, me lembrando de quem eu era, que homem e nem nenhuma traição definiriam a minha capacidade de ser uma mulher incrível. Quando abro me vejo mais plena, não toda. Sinceramente, traição devia vir com aviso de problema e efeitos colaterais, assim iríamos pensar antes de trair e antes de entrar em um relacionamento. Ah, mas ninguém sabe se a outra pessoa vai ou não trair. Sim, verdade, mas sempre tem sinais. Mas não estamos aqui pra falar agora desses sinais, na minha vez ninguém me avisou. Puxo a bolsa e só saio do apartamento, respiro aliviada só quando paro no bendito do restaurante e olho para Roman, que tem a mamãe ao seu lado e para assim que me vê. Vejam a forma educada dele com ela, a forma casta. Roman só tinha duas pessoas em toda sua vida ao qual ele faria tudo, eu e mamãe, ele achava que ela era a pessoa mais incrível do mundo, e é, ela era. - Bem, não fui eu que atrasei dessa vez - Ele sorri e vejo seu olhar sobre mim. - Você está linda - Me pego a baixar meus olhar, olho para baixo e vejo o vestido branco de mangas, colado, indo próximo ao joelho, acompanhado por um salto preto. - Mamãe gosta disso, não é mãe? - Sim, minha menina está linda - Minha mãe fala, com voz de criança e eu me aproxima, beijo sua testa e dou um sorriso, o sorriso que posso dar. - Gosto de você. Nossa velha já não tinha a mesma cabeça que antes, mas ela tinha algo importante, os sentimentos. Uma coisa que ninguém te conta sobre o Alzheimer é que, mesmo com a perda da memória, os sentidos não mudam. Só fui ver isso no segundo ano, depois que mamãe já estava diagnosticada e fazia o tratamento. Ela poderia não lembrar meu nome, mas ela fazia o mesmo carinho no meu cabelo quando me deitava ao seu colo. Hoje, aos seus 69 anos, cinco anos depois do diagnóstico, ela faz as mesmas coisas de antes, as vezes grita e fala que somos estranhos ou pergunta do vovó ou do papai, mas ela sempre tem os mesmos sentidos de antes, ela pode não se lembrar de Roman, mas ela ainda continua arrumando a gravata dela sempre que vê ele. São detalhes assim que faz a gente se apegar nela ainda mais, hoje ela não consegue ficar totalmente dependente, mas ela tenta, mostrando aquele sentido de fazer as coisas por conta própria. Roman sai tanto com ela, sai pra museu, show de ópera que ela sempre gostou e até viagens pra conhecer lugares novos. As vezes embarco ou eu pego a rédea da situação, mas Roman é ciumento e gosta dele fazer as coisas. - Também gosto de você - Pego a mão dela e passo por debaixo do meu braço. - Chegaram faz tempo? - Não, passei em casa e trouxe ela direito. - E a sua mulher - Dou um sorriso amarelo e logo entramos no restaurante e vemos as mesas bem espalhadas e o lugar amplo, com cores marrons e creme, puxado para a ornamentação natural e rústica, característica da cidade e do ponto chave da mesma em quesito comida. - Nossa velha mesa. - Gosto desse lugar, quando era mais nova vinha aqui com Richard, ele dizia que aqui tinha o melhor filé da cidade - Minha mãe sorri, se aproximando. - Sim, aqui tem o melhor filé da cidade - Meu irmão se senta ao lado dela, mas não demora pra ver a mulher chegar e ele se levantar pra receber. A ruiva não é feia, não se parece com nenhuma veterinária que eu já conheci. - Que bom que chegou, sentem-se - Fazemos aquilo e deixo minha mãe ao meu lado, entre mim e Roman. - Bem, fico feliz que tenham vindo todos aqui - Ele puxa a mão da minha mãe e beija e vejo a ruiva cumprimentar ela. - Bem - Roman faz uma pausa e puxa a garrafa sobre a mesa em um balde de gelo, puxando as três taças e um copo com suco, que coloca diante a nossa mãe e nos serve com o champanhe. - Não estou entendo - Olho para a cara da menina, que está com a boca aberta e uma cara de surpresa. - E o que eu estou pensando, querido? Suspirei fundo, vejam, pode não parecer, mas eu não gosto de pessoas como ela, ela já sabe o que vai acontecer, na verdade ela não colocou aquele vestido para um jantar em família, não, então não tinha sentido ela agir daquela forma dissimulada. O que ela tinha para Roman gostar dela? - Maninho - Roman ergueu a taça. - Quero dizer e agradecer vocês, pedaço daqui - Bate no peito. - Por virem, hoje anúncio à vocês o meu noivado com Ester, a gente pensou muito e decidimos nos juntar Abro e fecho a boca. A palavra jantar pra pedir em namora vem na cabeça e não em casamento. Abro e fecho a boca, vendo os noivinhos se beijam, Roman olha pra mim tentando entender a cara que eu faço e pedido pra mim ficar tranquila. Da pra sentir ele falando um texto pra mim. Pelos céus. Ele estava noivo. Dava medo sair pra fora daqui e ver o mundo acabando. - Viva os noivos! - Dou um sorriso, meio sincero e meio falso, algo que não sai bem como eu planejo. - Espero que faça meu irmão feliz Ester, feliz de verdade - A menina tem os olhos quase melados de lágrimas, quero fazer uma careta por isso, mas seguro. - Você está com o melhor. - Eu amo ele, farei ele feliz. E se ela estivesse grávida? Bem, Roman fazia o tipo de casar se engravidasse alguém, não importava quem fosse. Ele tinha princípios e eles levavam ele a tomar as atitudes. Menos essa. Quero perguntar se ela está grávida, mas não faço isso, não quero soar indiscreta e nem ofender ela. - Eu você - Roman diz, pelo visto ele realmente achou uma parte dele com ela. - Gosto de vocês juntos - Dona Amália, nossa mãe, fala e todos nós sorrimos, porque, mesmo que seja cedo, Roman precisa de nós, pode dar certo com ela. Mas tudo se dá um jeito. Não como o meu caso. Meu caso o jeito era largar mesmo e seguir em frente, com a cabeça pesada? Sim. Mas seguindo em frente. - Pedi um cardápio especial, mãe, tem de sobremesa o sorvete de pistache que você gosta. - Isso é bom - Ela sorri e bebê o suco. Aquilo me faz ter paz, ter aquilo comigo, então por dois segundos, eu ergo o olhar e a metros de mim, eu vejo um olhar, um olhar sobre minha e a mesa, era conhecido. Parecia que a cena toda se passou em câmera lenta. Sabe aquela cenas onde a guria olha lentamente pra uma determinada cena? Isso acaba de acontecer comigo. Uma coisa se forma dentro de mim, uma sensação r**m, uma repulsa, senti que poderia passar mais meses, mas nunca seria fácil encontrar ele de novo. Senti o nervoso e olhei para a mesa, Ester e Roman conversavam sobre a Itália, eu me perdi e me levantei rápida. Mamãe me encarou e eu sorri para ela de forma calma, pra não passar nenhuma ansiedade se quer. Eu tinha que apenas respirar um pouco e ficar bem. - Preciso ir no banheiro. - Tudo bem? - A voz ao lado me fez sorrir ainda mais, passando calma. - Sim, tudo mãe, preciso ir no banheiro. - Ranya? - Roman chama. - Só vou retocar o batom. - Tenho um ótimo, você pode... - Obrigada Ester, mas tenho o meu - Sorri, ela sorriu de volta e aí eu saí da mesa, com passos mais rápidos e me afastando depressa, até que parei na ala dos banheiros femininos, parte afastada do centro do salão, soltando o ar preso, sentindo o nervoso, a raiva e aquele vazio. Eu sabia que não podia ter vindo. Porque comigo? Tanto tempo sem ver ele, eu ainda tinha raiva e uma magoa que parecia não querer ir embora, que fazia meu estômago se revirar e a cabeça lembrar da cena r**m dele sem roupas com outra mulher. Ver ele parecia piorar ainda mais as coisas e eu me perguntava se seria sempre assim. - Ranya? - Eu fico parada, vejo o homem se aproximar, Alto, loiro e bonito, e o satanás em forma de gente. O culpado. O meliante. O i****a. O bundão. O ingrato. O meu ex. - Você está aqui. Sabe, é tão bom ver você, você... sumiu por tanto tempo. Não deixou eu falar nada ou me desculpar da forma certa. A voz dele me faz ter ranço. Deus me livre matar ele, mas quem me dera. - Melhor sair daqui - Falo baixo, querendo não surtar e não lembrar daquilo tudo. - Anda logo, me deixa em paz. - Nunca conversamos, foi tudo tão confuso, fala comigo. - Já disse para sair, meu... - Cachorro de guarda? - Ele fala debochado, se referindo a Roman. - Você continua linda. - Richard, você não é e não vai ser o primeiro a dizer isso. Seu bosta. Agora volte pra sua mesa e não me perturba, como vê, está me atrapalhando. - Se quiser algo comigo, ainda da tempo Ranya - Fico sem entender. - Não fique com mágoas, só não damos certos juntos, mas de vez em quando damos certos - Ele da um passo e logo eu do outro para trás. O que ele estava falando? - Onde está o seu amor com a outra? Minha amiga não é como eu? Não era por ela que você se apaixonou. - Foi um erro. Não estamos mais juntos. - Que bom, peça pra ela dar certo com você de novo, mas não pra mim. - Eu amo você, demorei pra perceber e ver o que realmente já estava na minha frente. - Vai se f***r! - Xingo. - Você é um i****a se pensa que ainda quero caso com você, não sou mulher disso, eu não volto pra você e pra nada que venha de você. Acabou. Você fez sua escola estúpida. Agora fique com isso na mente, pode lembrar de mim, ainda mais quando perceber quem fui, quem eu era e quem eu sou - O rosto dele fica sem reação, como se não esperasse aquilo de mim. Era uma pequena vitoria minha, mas uma que estava custando toda minha sanidade, quando me livrasse dele iria ficar r**m. - Não sou mulher de caso e ainda mais um caso com você. Me esquece. Acabou. Você acabou. Você não existe e ponto final. - Mulher? Você nunca foi a mulher que eu queria, mulher de verdade, porque você muitas das vezes parecia um amigo pra mim. - O que? Vejo ele fazer a culpa toda vir pra cima de mim, aquilo me joga contra parede. Mesmo assim, aquilo me desarma, eu fico parada, querendo que alguém sinta a minha falta e venha até aqui, estava mesmo querendo que alguém coloque esse cara pra longe de mim. - Esse foi o ponto, eu não tinha você como mulher direito, você era minha amiga. Ele suspirou fundo, Richard parecia um ogro gigante falando aquilo, sendo duro demais. Eu não estava preparada para aquilo. Não queria aceitar aquilo. - Você não pode estar falando da mesma mulher que esteve comigo, porque, meu caro, ela é uma mulher excepcional - Meu rosto vira para o lado e escorado na mureta ao nosso lado, nas sombras, surge uma sombra e uma voz, que me faz ficar ainda mais sem vontade de estar ali. Com vergonha e receio daquilo. - Ranya não pode ser o que não é, não sabe disso? Ou você gosta de uma mulher ou você não gosta, sem meio termo e desculpa, ela era uma mulher que era sua amiga, sabe quantos homens tem essa sorte? Poucos. Se você não entende isso não está pronto pra ter um relacionamento - A sombra da um passo e só aí confirmo a identidade dele. Genuíno. Gentil e com calma, assim ele se aproxima como as mãos no bolso da calça, olhando para o homem na minha frente. - Você deve ter feito algo muito errado para ela te odiar, mas, em troca, você me deu ela - Ele para ao meu lado e da espaço para mim, eu no impulso passo meu braço por debaixo do dele e aperto, como o único ponto de sustentação. - Meu caro, da próxima vez que encontrar ela, acho melhor não se aproximar ou fazer esse tipo de abordagem, não serei tão compreensivo da próxima vez. - Quem é você? - A voz de Richard sai baixa. Eu olho para o rosto de Patrick, o executivo que havia fechado com a gente, vejo a cicatriz, vejo o rosto e a boca desenhada formando um sorriso genuíno e viril. Sinto uma coisa boa ao encarar a forma confiante que ele olha pra situação, sem nem ao menos saber o que houve. - Sou Scott - Ele olha pra mim, olhando nos meus olhos e eu olho para ele, vendo as duas bolinhas verdes brilhantes nele. - Scott McFilde Tem um silêncio da parte dos dois, enquanto um encara o outro e o filho da mãe da uma risada, que me faz encarar ele. - Agora entendi - Ele se vira, mas sem antes, para e olhar para mim, dos pés a cabeça, com um olhar malicioso que eu conhecia bem. - Aproveite, parceiro, porque pelo menos ela serve para alguma coisa. Aquilo me derruba definitivamente e só espero a realidade bater na minha cara e dizer oi de novo, fico imóvel e sinto uma vontade imensa de sumir. Mas essa é a lei das coisas; sem choro. Desabo do salto e me afasto do homem ao meu lado, dando dois passos e tentando pensar em algo coerente. - Seu irmão esta na mesa - Eu encaro o rosto do homem, desço meus olhos e vejo o terno três peças escuro. - Tenta ficar calma. As vezes isso pode acontecer depois de um término. - Você é louco! - E a única coisa que eu falo. - Você sairia daqui com esse louco? - Meu coração da um salto, sinto um arrepio que me atravessa. - Você não está muito bem, posso te levar pra tomar um ar. No impulso na ansiedade e euforia daquela conversa, eu balanço a cabeça. - Me tira daqui - Sussurro e ele apenas se aproxima e me puxa, puxa para uma ala do restaurante que eu não conhecia, então ele me guia. E eu deixo, eu deixo ele fazer aquilo. Não que eu confie nele, mas porque eu não queria ver os outros, não depois disso. Estava me sentindo m*l.
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