Narrado por Rebeca A noite tava quente e abafada. O cheiro de feijão requentado impregnava o ar, misturado com o chiado fraco da televisão velha jogada na sala. Entrei chutando a porta leve, joguei a mochila no chão e desabei na cadeira de plástico, com a cabeça latejando. O dia tinha sido longo. Amanhã seria pior. ** Minha mãe apareceu no batente da cozinha, de avental torto e cara fechada. Os braços cruzados. O olhar carregado. ** — "Tu tá mesmo achando que é esperta, né, Rebeca?" — ela soltou, sem rodeio. ** Levantei a cabeça. Segurei o olhar dela. Não piscando. Não tremendo. ** — "Tô achando não. Tô sabendo." ** Ela bufou. Deu dois passos pra dentro da sala, como quem já se prepara pra batalha. ** — "Cê acha que só porque rebola na quadra da escola vai mudar algu

