Vitória Almeida
Entro na casa e coloco a minha bolsa no chão da sala, volto para o carro e vejo o Coringa tirando as minhas coisas do porta malas.
Pego as minhas malas em silêncio e vou colocando na sala, quando eu vou pegar a última o meu celular toda, respiro fundo e quando vejo é o meu pai, então eu atendo sem pensar duas vezes.
— Oi? — Falo e vejo o Coringa me encara ainda segurando a mala.
— Nossa cara, que oi seco pdp, tá tudo bem filha? Já tá em casa?
— Tô bem e já tô em casa! — Falei e fui até o coringa puxando a mala da sua mão e entrando dentro de cara.
Fechei a porta e deixei a mala jogada no canto qualquer da sala, me sentei no sofá passando a mãos pelos meus cabelos.
— Por que tu tá assim cara? — Reviro meus olhos.
— Eu vim do fim do mundo, pra vê vocês e vocês resolvem tirar férias? Fugir dos cana é uma coisa, agora tirar férias é outra! — Falei me enchendo de raiva. — Eu não vou nem falar muito senão vou perder a cabeça e sair como errada, tchau e boa férias.
Falei e desliguei sem deixar ele falar nada, eu tô p**a com o coringa, tô p**a com os meus pais e tô p**a comigo por me permitir passar por isso.
— Teu pai não tem culpa do teu dia não tá sendo bom princesa! — Escuto a voz do coringa falar com sarcasmo.
Me viro vendo ele em pé atrás de mim, ele está com a mochila que eu usei nesses dias que ficamos no hotel.
— O que você tá fazendo aqui coringa? — Pergunto.
Deixo o meu celular em cima do sofá e dou a volta indo até ele e pegando a minha bolsa que está em sua mão, o encaro séria.
— Tu toma alguma p***a prá evitar filho? — O encaro sabendo sobre o que ele está falando.
— Sim, mas fica tranquilo! — Falo saindo de perto dele, abro a porta deixando bem claro que quero que ele saia de casa. — Como não aconteceu nada, você não precisa se preocupar.
Coringa cruza os braços e me olha de cima a baixo na maior marra, então ele sorri de lado e n**a como se tivesse uma piada solta rolando no ar.
Então ele sai sem falar mas nada, fechou a porta com força e respirou fundo.
Sem estresse Vitória, só respira e goza, como diz sua amiga de Portugal, escuto algumas bater na porta, já coloco a mão na maçaneta p**a da vida
Abro a porta prontíssima para xingar o Coringa e mandar ele tomar no cu, mas quando eu vejo uma morena eu abro um sorriso gigante.
— ALANA ! — Grito e sem pensar duas vezes eu a puxo para um abraço apertado.
— MEU DEUS, VOCÊ TÁ TÃO LINDA! — Ela grita.
A abraço bem forte, meu Deus como eu estava com saudade dessa menina, eu criei várias amizade em Portugal, mas de todas as minhas amigas ela sempre foi única.
Alana é uma amizade de uma vida, esteve comigo na minha infância, adolescência e está comigo até hoje, a distância nunca acabou com a nossa amizade.
Podíamos passar dias sem nos falar, afinal nós fazemos faculdade e trabalhamos, geralmente nos falávamos no final de semana e em datas comemorativas.
Me afastei dela a olhando de cima a baixo, a filha da p**a continua com um corpão lindo, b***a gigante, boca carnuda e um sorriso só dela.
— Aí amiga, você continua tão linda e gata! Eu estava com tanta saudades de você! — Falo já querendo chorar. — Mas pelo amor de Deus, entra aqui pra nós conversar um pouco e por os papo em dia.
— Nem pensar! — Ela n**a rindo.— Esqueceu que tem alguém morrendo de ansiedade pra te ver?
Arregalo meus olhos, meu Deus, como eu pude esquecer da minha gatinha?
— Amiga eu só vou pegar celular e nos vai! — Falo e ela assente.
Entro correndo, pego minha carteira, celular e me viro novamente para a Alana.
— Vamos amiga? — Pergunto e ele assente.
Fecho a porta de casa e começamos a subir a favela, essa casa que eu estou é minha, meu pai me deu de presente, já veio toda mobiliada, eu alugo ela mas como estava no plano de vir quando os últimos inquilinos saiu eu não deixei alugar.
Meus pais moram com a minha vó, só para ela não ficar sozinha ou se sentir só.
— Mas me conta amiga, como tem sido a sua vida em Portugal? — Alana pergunta.
— Aí mana, eu tenho estudado muito, trabalho em um barzinho e te falar, é o melhor trabalho do mundo, todo mundo me conhece, todo mundo me ama e eu me sinto tão querida. — Falo e ela sorrir. — Mas me fala amiga, tá gostando de fazer advocacia?
— Tô amando mana, é um estresse, mas compensa sabe? — Assunto. — Eu também tô trabalhando no shopping lá de Copacabana.
— Tu me falou n**a, tu tá gostando?.
— As meninas são maravilhosas, me ajudaram muito quando eu cheguei lá e também eu preciso de um extra né? — Assunto.
Alana trampa desde cedo, ela mora com a avó, a mãe dela engravidou teve a Alana e quando surgiu um ricão quendo ela mas sem a filha ela não pensou duas vezes, abandonou a Alana com a mãe.
O pai dela ninguém sabe quem é, então a vó pegou ela, desde sempre ela trabalha, começou como manicure, depois foi para vendedora aqui nas lojas da favela mesmo, ela sempre tava se esforçando.
Meu pai todo mês a ajudava, com um salário, cesta básica, minha mãe e meu pai veem ela como filha.
Até que quando ela terminou o ensino médio junto comigo, eu sabia que ela tinha o sonho de fazer faculdade, mas a grana e o tempo para se dedicar 100% aos estudos e pegar uma bolsa ela não tinha.
Então eu conversei com meu pai e sem pensar duas vezes ele aceitou pagar a faculdade da Alana, e mesmo pagando a faculdade meus pais a ajudaram financeiramente.
Ela é da família, meus pais já a chamaram ela e a vó dela para morar conosco, mas a avó dela não aceitou.
— Amiga, eu já tenho que procurar alguma coisa pra fazer aqui também. — Falo e ela negou rindo.
— Não consegue ficar parada um minuto, né?— Dou de ombros. — Tu lembra do João? — Assenti, João é um menino que vivia no meu pé.
Vivia pedindo pra ficar comigo, falava que ia nos casar e nós ia ter filho, minha mãe amava ele e meu pai queria mandar ele pro inferno.
— Lembro, pô!
— Olha ele aí conversando com o Coringa. — Arregalados meus olhos e olho para a frente, vendo o coringa e um cara super gostoso conversando, gostoso demais.
— Amiga, aquele cara não é o João, não pode ser. — Falo e ela sorri.
— É ele sim, entrou pra boca e tá completamente diferente.— Encaro ele sem acreditar, de repente ele vira o rosto na minha direção e me encara.
Desvio meus olhos cheia envergonhada.
— Droga, droga, droga! — Falo pra mim mesma.
— Amiga, ele sabe que é você e ele…
— Ou bonita?? — Ergo a minha cabeça com um sorriso nervoso. — Fala mas com os das antigas não, pô?
Olho para ele, João tá sem camisa, shorts tactel, metralhadora traçada mas costas, olho para a sua barriga trincada e para o peitoral desenhado, tá gostoso demais.
— Deixa de ser bobo! — Falo sorrindo envergonhada.
Vou até ele que está encostado na parada e o abraço, ele retribuo o abraço com força, dá um beijo e um cheiro no meu pescoço me fazendo ficar arrepiada no automático, droga!
— Ainda tem isso do pescoço? — Pergunta me fazendo ficar incrédula.
— Você ainda lembra? — Pergunto e ele sorri de lado, até o maldito sorriso está bonito.
— Nunca esqueci, pô! — Ele diz me olhando de cima a baixo. — Nunca esqueci. — Na mesma hora eu entendi o duplo sentido da suas palavras.
— Eu te entendo João, minha amiga é inesquecível mesmo. — Olho para a Alana querendo matar ela.
Escuto alguém coça a garganta olho para o lado vendo o coringa me encarar sério, de cara fechada e com uma marra filha da p**a, ele tá puto com alguma coisa.
— Eu vou indo lá, mas vê se aparece lá na minha casa! — Falo e pisco pro João.
Ele sorri de lado e assente, me viro e saio puxando a Alana pelo braço.
— Amiga o coringa tava te olhando tão sério, parecia ata que estava com raiva por você tá falando com o João. — p**a merda.
— Amiga, isso é coisa da sua cabeça. — Falo rindo. — Agora anda mais rápido, quero ver a minha gatinha logo.
Eu realmente percebi a cara de cu do coringa, mas fazer o quê? Se ele achou que eu ia ficar em casa chorando ele tá engatado demais.
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— Vitória você tá muito magrinha, minha filha, parece está desnutrida, você já comeu hoje? Já tomou café da manhã, tomou água e almoçou? — Sorri.
Quando minha vó me viu na porta da sua casa foi uma choradeira sem igual, chorou ela e chorou eu, e até a Alana chorou.
Nós já nos abraçamos, contamos fofoca, a minha gatinha me atualizou sobre as fofocas da vida de todo mundo, isso que dá não ter o que fazer, ela fica cuidando da vida do povo.
— Hoje eu não comi nada vó, aceito aquele seu frango cozido com caldinho, arroz e salada! — Falo rindo.
Minha vó tem 95 anos, mas parece ter seus 79, faz ginástica, sai todos os dias para barzinho, toma as pinga dela, vai a academia fazer aula de dança e às vezes lança uns exercícios.
Ela é uma das senhoras de idade, mas gata e mas agiu no mundo.
— Pode deixa que eu vou fazer o melhor frango cozido do mundo. — Ela diz já se levantando do sofá e indo para a cozinha.
Olho para a Alexia e sorrio, agora vamos fofocar a vontade sobre tudo o que aconteceu.
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— Meu Deus, eu estou estourando! — Falo rindo, minha vó gargalhou.
— Também, comeu que nem uma doida.— Minha vó diz rindo.
— Esse é o efeito da sua comida vó, minha barriga tá de 3 meses de gravidez. —Alana diz rindo.— Sei nem como vou no show do Orochi hoje, minha roupa não vai entrar.
Na hora que ela falou “Orochi” eu quase tenho um treco do coração.
— Tu tá falando que hoje vai ter baile e o Orochi vai está? — Pergunto surtando.
— Sim amiga, tu não sabia? — Ela pergunta e eu n**o.
— Pois trate de arrumar uma roupa babadeira, hoje eu vou fazer a minha estreia como a princesa dessa favela! — Falei rindo, lembrando do apelido que os moradores da comunidade me deram quando eu era pequena.
Vovó e Alana se olham, hoje eu quero causar e esquecer o meu nome.