Padre Emanuel, Glória e outra irmã, estão chegando na Cidade dos Anjos em uma carruagem.
Glória, sempre com a cabeça pensando, indaga ao religioso: - Qual o motivo de duas opções? Do mundo ser em dialética? Certo e errado... Anjos e demónios... vida e morte... Qual o sentido de um mundo com duas opções somente? Não consigo entender nada. Meu Deus!
Padre Emanuel de forma ríspida responde: - Sossegue menina. Você deveria aceitar as coisas como são e não tentar entendê-las. Deus sabe de tudo o que faz.
A carruagem freia de supetão. Em sua frente um cavalo lindo da cor preta está parado com um homem mascarado com roupa de cavaleiro. O cavalo ergue-se, relincha pelo susto e a parada brusca da carruagem, quase em cima quase deles. Guardião, o mascarado, está olhando fixamente para eles.
O padre coloca a cabeça para fora da carruagem e diz: - Quem é você e o que quer. Estamos aqui em nome do senhor.
Guardião nem se mexe, nem diz nada.
O padre tenta mais uma vez: - Estamos indo para a Cidade dos anjos. Acaso fica para esse lado.
O Guardião aponta para a frente e sai do caminho, mas fica olhando para Glória que o fita.
A música para esse momento seria Innocence - Deborah Blando.
Eles se afastam um pouco com a carruagem e logo escutam o trotar do cavalo do Guardião os seguindo. O padre, apreensivo, procura demonstrar calma para a freira e a noviça Glória.
Glória está animada com a novidade. Tudo para ela era empolgante.
Chegando na cidade dos Anjos e parando no convento, o padre desce e ajuda as duas a saírem da carruagem. Eles entram no convento. O padre parece conhecer todos. Uma irmã mais sorridente, de curvas fartas chega até ele e pergunta: - O senhor fez uma boa viagem padre Emanuel?
Emanuel: - Fiz sim irmão Maria da Conceição.
A irmã, gentilmente, pega a pequena maleta do padre e seu casaco. Ela então olha para Glória e a irmã Clotilde, dizendo: - Sejam bem-vindas.
Emanuel pergunta, enquanto todos direcionam-se para uma grande sala de oração: - Onde está padre Lucas?
Irmã Conceição: - Está aprontando a aula e a missa para amanhã.
Emanuel: - Sempre dedicado, meu rapaz. - ele sai em direção a sala de Lucas.
Glória e Irmã Clotilde são levadas para seus quartos, o Convento, por Irmã Maria da Conceição.
Glória está em seu quarto, depois de arrumar suas poucas coisas, na cômoda, e sente uma forte vontade de olhar pela janela. Amava ver as estrelas. Era um dos únicos momentos que sentia seu coração se aquietar. Tinha tantas perguntas... tanta vontade de conhecer e pensar… aprender... entender…
Escorada na janela, observando as estrelas, sente que está sendo observada. Ela olha e vê um pouco distante do Convento, mas de onde dava para ver bem sua janela, Guardião, parado e montado em seu cavalo, observando-a. Ela acena para ele que nada faz. Apenas fica parado como se fosse uma estátua. Estranhamente se sentia segura perto dele. Parecia que já o conhecia, que tinha visto esse mesmo homem em vários lugares até chegar ali.
A música para esse momento é Marcas de ayer - Adriana Mezzadri.
Eles estão olhando. Glória curiosamente e guardião fixamente... parecia cuidar de algo.
Emanuel conversa com Lucas.
Lucas: - Então padre?
Emanuel: - Ainda não tenho opinião sobre as curas. Sigo estudando relatos e fazendo testes com a moça. Ela parece ser um tanto desligada da realidade.
Lucas: - Se possui tal poder, talvez seja uma forma que Deus encontrou para mantê-la segura.
Emanuel: - Ainda é cedo para saber. - Ele para um pouco e diz: - O senhor sabe de algum cavaleiro, com um cavalo de cor preta, que vive nas estradas perto da cidade?
Lucas pensa um pouco e responde: - Nunca vi. Qual o motivo da pergunta?
Emanuel: - Parece que veio nos seguindo desde a cidade que busquei Glória. De certa forma disfarcei, mas fiquei muito assustado com o jeito dele.
Lucas: - Como assim?
Emanuel: - Parecia que estava à espera para atacar. Fiquei com medo por mim e por elas.
Lucas: - Estranho. Aqui todos são pacíficos, tirando meu irmão Júlio. - diz sorrindo e tentando fazer graça.
Emanuel: - Creio ser mais que isso. Senti o m*l padre Lucas. E bem sabe que não sou de me deixar influenciar. Estou sempre buscando observar de forma racional. Sou um homem da religião e da ciência. Tanto que fui incumbido de analisar os feitos da menina Glória.
Lucas: - Sei sim. O senhor tem um nome respeitado, em nossa comunidade.
Emanuel: - Pois senti o m*l naquele homem. Era uma força intensa e cheia de um mistério onde não sentia a presença de Deus.
Lucas: - Vou procurar falar com meus irmãos. Saber se algum deles sabem desse dito cavaleiro.
Emanuel: - Faça isso, meu querido padre. Faça isso. Vou me deitar. Está tarde da noite. Devia fazer o mesmo.
Lucas: - Vou assim que ler essas redações dos meus alunos. Falta pouco.
Emanuel: - Boa noite.
Lucas: - Boa noite.
Glória está dormindo. Ela corre em uma floresta. Era noite e ouvia cavalos. Seu coração estava disparado. Uma névoa cobria todo o horizonte e não sabia onde estava. Sentia-se confusa, perdida e perseguida. Assustada, sente uma mão lhe puxar e erguer até a garupa de um cavalo. Era o cavaleiro misterioso. Eles saem correndo e conseguem escapar dos outros que a caçavam.
Glória pergunta no sonho: - Quem é você?
Ele começa a tirar sua máscara e ela desperta, nervosa. Então vai correndo até a janela e o vê, lá. Ele está parado no mesmo lugar, da mesma forma. Quem era esse homem? O que estava fazendo ali? Para uma mente cheia de perguntas, esse era o mistério necessário para a sede de seu coração.
Glória deita nomeante. Então sonha com mais uma perseguição. Dormindo se mexe na cama, como tendo um pesadelo. Estava suando frio. Novamente correndo sem parar em uma floresta… estava ferida e precisava escapar… então vê uma fogueira. Ela agora está sentada no chão ao lado de um homem que a beija no pescoço, dizendo: - Você precisa voltar para mim.
Eles se abraçam e ela escuta o cavalo do Guardião. Assustada levanta-se. O rapaz ergue-se, pegando sua espada, a colocando para trás de seu corpo.
O guardião pega sua espada ainda em cima do cavalo.
Glória grita e acorda.
As irmãs vêm correndo ver o que estava acontecendo.
Padre Emanuel entra, colocando seus óculos e perguntando: - Mais pesadelos, minha filha?
Glória, passando a mão na cabeça, responde sim com a cabeça.
Emanuel pergunta: - Pode me relatar?
Glória conta todo o sonho. Emanuel se arrepia. Era a primeira vez que o tal cavaleiro aparecia. Estaria a moça impressionada com sua presença?
Ele vai até a janela e não vê nada.
Glória: - Está ainda parado olhando para cá?
Padre: - Quem?
Glória: - Aquele cavaleiro de mais cedo.
O Padre olha de novo e diz: - Não tem ninguém lá fora.
Glória: - Ele estava, eu juro.
Irmão da Conceição vem com um chá calmante e dá para a moça, que toma tudo.
Irmã Clotilde diz: - Vamos orar juntas.
Padre Emanuel sai, dizendo: - Façam isso, irmãs. Orem.
Ele sai, fazendo o nome do pai assustado. Sentia que algo não estava bem.
As irmãs terminam o terço e vão deitar. Glória tenta adormecer, mas não consegue. Lembra-se daquele outro homem com ela. Quem seria? Tinha doces e enormes olhos azuis. Era a primeira vez que tinha sonhado com ele e com o mascarado. Foi depois que avistou o tal cavaleiro...O que tudo isso significava? Ela fica pensativa e vai até a janela. Novamente ele estava lá, parado no mesmo lugar. Como pode? Não tinha saído antes?
Amanhece e Lucas está tomando café com seus irmãos. Ele pergunta a todos: - Vocês já souberam de um cavaleiro que anda, com seu cavalo de cor preta, aos arredores da cidade?
Todos fazem não com a cabeça.
Lúcio pergunta: - O que está havendo?
Lucas: - Padre Emanuel foi buscar a moça que dizem curar.
Lúcio faz sim com a cabeça, sabendo do assunto.
Lucas: - Pois bem, ele já tinha visto o tal cavaleiro, mas parece que “apareceu” - diz enfaticamente e continua: - Novamente nos arredores da cidade. Parecia saber onde nossa cidade ficava. O padre o questionou, onde nossa cidade ficava mesmo sendo daqui, exatamente para saber se era dessas bandas, já que o tinha visto em outras cidades e ele conhecia a direção.
Lúcio: - Isso não quer dizer nada. Se é um viajante pode saber onde nossa cidade está.
Lucas: - Isso é bem verdade. Ocorre que o padre Emanuel, como sabemos, muito voltada à ciência e às provas, parece estar assustado com uma provável força maléfica vinda do tal homem.
Lúcio: - Ele utilizou esses termos?
Lucas: - Mais ou menos. Mas o sentido foi o mesmo.
Lúcio: - Posso perguntar para nossos conhecidos, mas se é alguém com a tal força maléfica, provavelmente nosso irmão Júlio deva conhecer.
Lucas diz, seriamente: - Olha a boca, irmão.
Lúcio: - Estou falando alguma mentira.
Lucas: - Infelizmente não. No caminho para o Convento vou perguntar para ele.
Lúcio: - Creio ser o melhor para se fazer.
Lucas assim o faz. Chegando na casa do seu irmão trevoso, é recebido com sarcasmo e altivez.
Júlio: - Ora veja, que milagre o traz até minha humilde choupana tão cedo? Está servido de uma fruta ou um café?
Lucas: - Obrigado, acabei de sair da mesa.
Júlio: - Certamente na casa do digníssimo irmão Lúcio, para quem foi pedir, em primeiro lugar, socorro. - Fala roçando os dedos um no outro e abocanhando um pedaço de queijo branco.
Lucas: - Quando você e Lúcio vão parar com essa tola disputa?
Júlio: - Eu pararei, quando ele parar e me der o que é meu por direito.
Lucas: - Você sabe que foi desejo do nosso pai Lúcio ficar a frente de tudo.
Júlio: - O que sei é que vocês estão sempre subservientes a ele.
Lucas: - Por favor, irmão. Não vim discutir.
Júlio fala com sorriso provocativo: - Quem está discutindo? Estou apenas relatando fatos. - diz limpando sua boca com um guardanapo de linho branco.
Lucas resolve não confrontá-lo. Júlio era assim: quanto mais provocado, pior ficava. Era preciso ter muita coragem para se calar e não dizer o que ele precisava ouvir. Coragem nem sempre é revidar ódio com ódio. Saber se defender, mas não provocar, ou fomentar mais a raiva do irmão, exigia uma grande dose de coragem e compaixão, sendo essa segunda, era muito difícil de ser despertada para com uma pessoa como Júlio.
Lucas: - Irmão, vim pedir uma ajuda para identificar um certo cavaleiro misterioso que anda rondando a nossa cidade.
Júlio, na mesma hora, interessa-se pelo assunto. Logicamente buscava algum ganho pessoal nisso tudo.
Júlio: - Cavaleiro misterioso?
Lucas: - Sim. Ele veio seguindo o padre Emanuel de várias cidades. Sabia onde a nossa estava. gostaria de saber se é dos arredores ou de outra cidade.
Júlio: - Posso perguntar aos meus conhecidos.
Lucas: - Ficaria grato, irmão.
Júlio, com ar de superioridade, diz: - Mais tarde passo na sua igreja, para lhe contar o que descobri.
Lucas fala:- Até mais ver.
Júlio: - Até mais ver.
Júlio fala sozinho: - Um cavaleiro misterioso...Isso muito me interessa…
Lucas fala sozinho na rua, a caminho de sua paróquia: - Que desagradável contato, pela manhã. Preciso orar por ele. - Fala rezando e caminhando.
Glória estava tomando café junto ao padre Emanuel e as irmãs. Lucas entra no convento, que ficava ao lado da sua igreja. Olhando para padre Emanuel, que entendera querer lhe falar. Ambos saem em direção a sala de Lucas.
A irmã da Conceição, sempre sorrindo e amável, fala para Glória: - Com um pedacinho de bolo de fubá. Você está muito magrinha e pálida. Fiz essa manhã.
Glória para não magoá-la, serve-se, mesmo estando sem fome. Ao provar, Irmã Conceição diz: - Bom, né?
Gloria responde, colocando a mão na frente da boca: - Muito bom. Lembra o que minha mãe fazia.
A irmã para de sorrir, por saber que a mãe da menina morrera.
Glória percebendo o olhar triste da amável irmã, diz: - Já faz algum tempo, irmã, não fique assim. Já me acostumei. Porém, tem momentos que lembro dela com saudade e carinho.
Irmã Conceição: - Eu também lembro da minha mãe com saudade e carinho.
Irmã Clotilde diz: - Vamos parar de sentimentos tolos. Elas estão no céu, junto a nossa Mãe Maria. Vamos cuidar dos vivos, que é nossa função.
As duas olham para a rabugenta irmã e fazem cara de quem falou demais.
As três começam a arrumar tudo.
Na sala de Lucas, ele estava comentando com Emanuel que iria saber de algo logo mais. Ambos conversavam sobre Glória.
Lucas: - O que o senhor descobriu sobre o passado da moça?
Emanuel: - Ela é filha de uma curandeira. Seu pai era desconhecido, ao menos da comunidade em que vivera. Sua mãe jamais lhe dissera que era. A mãe da moça morreu há três anos atrás. Parece que pegou uma peste e a moça não conseguiu curá-la, iniciando sua busca ao convento. Ela sentiu-se culpada. A comunidade disse que desde criança, Glória fazia milagre de cura. Tive vários relatos e informações. Sua mãe benzia e usava ervas e chás para curar, também, mas a moça impunha suas mãos e conseguia milagres. A não ser quanto a sua mãe. Ao ver que não conseguiu, saiu correndo em direção a um convento e pediu abrigo. As irmãs, que já sabiam de histórias sobre ela e que tinham presenciado a cura de um padre e duas freiras, a acolheram e ajudaram com o enterro de sua mãe. Parece que a comunidade revoltou-se com o fracasso da jovem em curar sua mãe, a acusando de mentirosa. Se não fossem as irmãs, muito provavelmente seria linchada.
Glória desde então está aos cuidados de todos. As irmãs e o padre curados, solicitaram que a igreja analisasse todo o caso. O restante o senhor já sabe. Ela possui sonhos e pesadelos constantes, seguidos de febre, ausência de fome e muitas dores em todo o corpo. A pobrezinha parece não ter um minuto de paz. Dizem ter sido uma criança alegre. Porém, após a morte de sua mãe, e acredito culpa por não tê-la curado, a moça não mais curou alguém e sofre com esses tormentos constantes.
Lucas: - Seria possível alguém ter a capacidade de curar e perder?
Emanuel: - Não há relatos em nenhum estudo que fiz. Busquei até mesmo fora de nosso país.
Lucas: - E, se a moça, por culpa, estiver se causando todos esses tormentos e não se permitido curar?
Emanuel: - Se ela curou mesmo alguém, qual o motivo de não conseguir a sua mãe?
Os dois ficam pensativos.
Após o almoço, Glória vai se deitar, por estar com uma forte dor na cabeça. Então começa a ter mais um de seus pesadelos. Ela ouvia barulho de um cavalo correndo. Era o cavalo do homem misterioso com ela na garupa. Eles corriam, fugindo de algo.
A música para esses momentos é Agreement - Kitaro.
Glória parecia saber quem a perseguia e de quem fugia. Sim, aquele misterioso cavaleiro não era o mal... ele era o seu guardião. Ela a protegeria do m*l que a estava perseguindo. ela acorda encharcada de suor. Sabia o que fazer. Precisava despistar todos e ir conversar com ele. Correndo pela janela o vê na mesma posição. Ele a estava esperando. Era isso que queria, que fosse até lá.
Glória saiu sorrateiramente do Convento. Em seu coração a certeza de que deveria ir ao encontro dele. Ele era o único que poderia protegê-la. Algo estava chegando para pegá-la. Ela precisava estar perto dele. Ela sai e corre descalça pela mata. A sensação era muito parecida com a dos seus pesadelos. Os ganhos secos machucavam seus pés, mas precisava ir o mais rápido que conseguisse.
Correndo, desesperadamente, parecia nunca chegar até ele.
Irmã Conceição vai até o quarto da moça, para ver se tinha melhorado da dor e percebe que já tinha levantado. Ela procura Glória em todo o Convento e na paróquia, não a encontrando, entra na sala de Lucas, dizendo: - Ela sumiu.
Emanuel levanta-se e diz: - Ela quem?
A irmã Conceição: - Glória.
Os dois padres se entreolham e saem em busca da moça.
Glória estava em pé diante do tal cavaleiro. Ele lhe estende o braço esquerdo. Ela segura em suas mãos e ele a ergue para cima do cavalo, saindo rapidamente, mata dentro.
Os padres conseguem vê-los saírem, mas estavam muito longe.
Lucas diz: - Vou pedir a ajuda de Lúcio e Júlio.
Lucas assim o faz, só que Júlio segue seus interesses. A tarde cai e todos já estão às voltas perseguindo em direção do cavaleiro que estava bem adiantado. Haviam homens acostumados a caça e sabiam exatamente onde eles tinham passado.
Ocorre que Júlio já estava sabendo onde encontrar o cavaleiro misterioso e colocou-se em seu caminho, na floresta. Só havia uma direção para ser tomada longe do convento.
O cavalo do guardião para assustado. Era Júlio, em seu cavalo, no sentido contrário, parado no meio do caminho.
Ao avistar o tal cavaleiro, olhando Glória em sua garupa, tirar o chapéu, e com sua natural cara de cínico, diz: - Bem, misterioso cavaleiro, acho que precisamos conversar.
O cavaleiro fica quieto.
Júlio diz: - Estou apenas querendo ajudar. Tenho muitos contatos e sei que, se meu irmão Lúcio ajudar na busca atrás de vocês, certamente irá encontrá-los. Eu sou o único que pode garantir a saída de vocês sem deixar rastros. Isso, claro, se quiserem minha ajuda. - Ele para um pouco e segue friamente dizendo: - Se quiserem, venham por aqui.
O cavaleiro olha para trás. Ele decide escutar e seguir Júlio, que os leva até um chalé retirado, onde sendo terras privadas, tinham homens vigiando e protegendo. Mesmo desconfiado, o Guardião estava cansado e precisando deixar a moça descansar.
Júlio, se fazendo de amigo, diz: - Vamos, venham. Ali no chalé tem água quente, comida boa e camas limpas. Precisam descansar. Nenhum homem de Lúcio irá adentrar minhas terras, eu garanto.
O cavaleiro desce do cavalo e pega Glória em seus braços. Eles entram no chalé.
Júlio diz: - Gostaria de conversar, mas amanhã. Hoje está ficando tarde e preciso voltar para a Cidade dos Anjos antes que todos desconfiem que os ajudei. Meus homens ficarão protegendo as redondezas. Fiquem tranquilos e descansem. Amanhã conversaremos.
Nem Glória, nem o Guardião sabiam do mau caráter de Júlio. Eles apenas queriam descansar e seguir viagem. Júlio, por sua vez, queria saber tudo sobre o tal cavaleiro, e tentar tirar proveito da situação. Se nada tivesse a oferecer, o simples fato de ficar contra seu irmão já seria uma boa recompensa.
Júlio sai, dizendo aos seus homens: - Não os deixem sair sem conversar comigo. Estarei aqui cedo. Se alguém entrar nas minhas terras, matem e depois perguntem. Estamos entendidos. São poucos os que possuem armas de fogo nos arredores.
Um de seus homens pergunta temeroso: - Mas e se for o senhor Lúcio?
Júlio fala com ódio: - Principalmente ele. Atire e mate. Eu cuidarei de tudo depois.
Ele sai com seu cavalo.
Lucas e Lúcio conversam na sua sala.
Lúcio: - Lamentamos, irmão, mas não conseguimos localizá-los. Falou com Júlio?
Lucas: - Nada dele ainda.
Lúcio: - Vamos esperá-lo para ver o que conseguiu.
Nenhum deles imaginava que Júlio se daria ao trabalho para uma vingança tola contra Lúcio. Afinal, quem era o cavaleiro? Não havia nada nisso que pudesse interessar ao irmão Umbralino.
Glória se aproxima do Guardião, que ainda estava de máscara. Ela diz, carinhosamente: - Venha sentar-se. Preparei um banho na outra peça. Por favor, pode tirar sua máscara e relaxar. Estarei aqui preparando nossa janta.
O cavaleiro não tira sua máscara perto dela. Entra na outra peça e vai banhar-se. Glória, curiosa, tenta concentrar-se no que precisava fazer.
Júlio entra na sala de Lucas e, percebendo Lúcio, o cumprimenta com frieza e altivez.
Lúcio tenta ser gentil e cordial inutilmente.
Júlio vai direto ao ponto, fingindo cara de desapontamento: - Infelizmente eu e meus homens, não conseguimos localizá-los. Mesmo assim, coloquei alguns para virar a noite em busca deles.
Lucas: - eu agradeço, meu irmão.
Sem muita conversa, Júlio despede-se e sai.
Lucas volta-se para Lúcio: - Odeio dizer isso, ainda mais sendo padre, mas ele foi tão prestativo com o ocorrido.
Lúcio diz: - Prestativo demais.
Júlio estava indo para sua casa dizendo para si, com raiva: - Bando de idiotas. Não perdem por esperar.
No chalé, Glória surpreende-se com a beleza do Guardião. Ele, aproxima-se brandamente, com roupas limpas, arrumadas pela moça, que estavam no chalé, sendo de Júlio, que tinha o mesmo porte.
Glória cuidadosamente diz: - Por favor, sente-se. Vou lhe servir a sopa.
Ele possuía uma cicatriz grande e profunda em sua face direita. Era de uma beleza angelical que destoava de seu porte de guerreiro. Ela realmente o imaginava mais velho do que era, mesmo tendo uns cinco anos a mais que ela.
Ele timidamente e em silêncio, começa a comer sua sopa.
Glória, gentilmente, diz: - Espero que esteja gostosa. Aprendi com minha mãe. Não sei fazer muita coisa, mas tinha todos os ingredientes e lembrei que ela fazia sempre. - Ele continua quieto. Ela continua tagarelando de nervosa: - Sei que deve estar cansado, então já ajeitei sua cama naquele quarto ali. - Ele olha em direção ao quarto, sem dizer nada. Ela continua: - Eu me ajeitarei no outro. Coloquei uma coberta extra, dizem que aqui, à noite, esfria. - Ele continua sem dizer nada. Ela ainda insiste: - Deve estar querendo silêncio, logo mais, se quiser conversar, gostaria de saber o que faz atrás de mim.
Eles então se calam