Os dois jantaram e o Guardião foi se deitar.
Glória fica desapontada. Esperava conhecê-lo e descobrir o que tanto queria com ela. Não sabia de muita coisa na vida, mas sentia que precisava ficar ao seu lado. Quem ele seria ou o que queria com ela...só ele poderia dizer.
Ela fica ali mais um tempo e vai dormir, depois de lavar as roupas dele e estender perto do fogão a lenha. Também limpa tudo para quando o juiz chegasse pela manhã.
O dia amanhece e Glória já estava em pé. Tinha feito bolo e café. Alencar levanta já com o rosto lavado e limpo.
Ela olha para ele dizendo: - Bom dia.
Ele a responde, sem fitar muito em seu olhar: - Bom dia.
Quando ela se vira, ele fica a olhando com desejo.
Quando ela vira-se, ele olha para seus lábios e fica prestando atenção em cada detalhe de seu corpo... de forma sutil. Glória ainda era moça e ingênua e não tinha muita malícia no amor. Não se sentia sendo admirada e também não entendia muito de desejo. Ela era muito jovem e, mentalmente, menor que sua idade. Mas já começara a perceber alguns detalhes no corpo do Guardião... seus ombros largos, por exemplo.
Ele se virando, ela o fitava em certos detalhes do corpo de forma bem singela, mas com que estava despertando em seus desejos.
Os dois sentam-se à mesa e ela novamente tenta puxar assunto: - O bolo e o café estão gostosos?
O guardião, com a boca cheia, acena sim com a cabeça.
A moça pensa: - Ótimo... nem falar mais em monossílabos ele quer falar. Sua fala reduziu-se de pouca para nenhuma... estamos evoluindo a passos largos.
O juiz entra na casa. Glória levanta-se, Júlio diz, gesticulando com a mão: - Pode sentar-se, por favor.
Glória: - Aceita um café com um bolo fresquinho?
Júlio: - Isso me cairia bem. Essa noite bebi além da conta.
Glória lhe serve.
Júlio agradece de forma terna, o que era muito difícil. Algo em Glória lhe despertava ternura. Lembrava de sua mãe em seus traços delicados, parecendo uma princesa dos romances da época.
Olhando para o Guardião, sabendo que seria uma conversa difícil, visto que o misterioso cavaleiro pouco falava, Júlio tenta puxar assunto: - Gostaria de saber ao que veio, para poder-lhes ajudá-los a conseguir e seguir viagem.
Alencar, termina seu café e calmamente, o que realmente estava irritando Júlio, um homem prático e ativo.
Alencar: - Vim a mando do pai da moça, levar-lhe para suas terras.
Júlio ergueu suas sobrancelhas. Finalmente algo interessante. Então pergunta ao cavaleiro: - E acaso o pai da moça é quem?
Alencar esquiva-se. Ele estava com receio de falar. Isso de certa forma instigava Júlio, que desconfiava ser algum nobre importante.
Júlio com voz mansa diz: - Ora, vamos lá. Não posso lhe ajudar se não souber do que a jovem corre perigo.
Alencar: - Creio que o senhor é juiz e, por certo, está a favor da lei.
Júlio fala cinicamente: - Certíssimo.
Glória também está prestando atenção. Era sobre sua vida. Finalmente saberia a verdade sobre seu pai…
Alencar: - O pai de Glória é o nobre ministro das armas do nosso país.
Júlio se afoga com o café.
Glória bate forte em suas costas.
Júlio agradece e com o braço pede para que pare com as batidas.
A moça senta-se e diz, empolgada: - Meu pai é um ministro do nosso rei?
Alencar: - Isso mesmo. Preciso levar-lhe para sua proteção. Os inimigos do rei estão lhe procurando para conseguir atingir o seu pai e, com isso, o nosso rei.
Júlio enche seus olhos de felicidade. Finalmente a grande chance da sua vida. Ele fala erguendo-se da mesa, batendo, empolgado: - Pois muito bem, eu mesmo escoltarei vocês até as terras do nobre ministro. Faço questão, como juiz, de entregar-lhe pessoalmente a senhorita Glória.
Satisfeito com a atitude, Alencar balança sua cabeça.
Eles entreolham-se sorrindo.
Júlio: - Preciso apenas que esperem alguns dias, para resolver tudo por aqui. Sei que a viagem será um pouco longa.
Alencar: - De quantos dias estamos falando, exatamente?
Júlio: - Creio que uns cinco dias. Pode ser?
Alencar faz sim com a cabeça.
Júlio fala, colocando seu chapéu: - Pois estamos acordados. Talvez leve uns dias para voltar aqui, visto que essas terras são um tanto distantes da cidade, mas assim que puder viajar, venho encontrá-los. Até mais ver.
Alencar: - Até mais ver.
Glória: - Até mais ver.
O silêncio paira no ar.
Glória não se contém: - Então, vai responder às minhas perguntas sobre meu pai, ou sendo mulher não mereço sua atenção?
Alencar: - Não seja tola.
Glória: - Qual outro motivo? Estou há horas puxando assunto e nada, o juiz veio e você já contou tudo que precisava para ele.
Alencar: - Sirvo ao seu pai e, portanto, a senhorita. Fui educado a não puxar assunto para com meus senhores. Apenas estou cumprindo meu ofício.
Glória: - Pois então precisa me obedecer, certo?
Alencar faz sim com a cabeça.
Glória: - Então... responda todas as minhas perguntas e converse comigo.
Alencar: - Tudo bem.
Glória sente-se empoderada. Ela diz, firmemente: - Pois bem, conte-me tudo sobre meu pai e sobre o que sabe a meu respeito.
Alencar: - Seu pai é um bom homem. Ele teve um caso de amor com sua mãe, fora do casamento e nasceu você. Ocorre que a esposa do seu pai não pode lhe dar filhos. Há dois anos ela faleceu e seu pai me enviou para buscá-la, sabendo que sua mãe também havia falecido.
Glória: - Meu pai amava minha mãe?
Alencar: - Isso terá que perguntar para ele. Não tenho essa i********e com ele.
Glória: - Prossiga.
Alencar: - Sei que recebi ordens de buscá-las. Quando cheguei na aldeia tive notícias do falecimento de sua mãe.
Glória: - Então faz tem que está me observando.
Alencar: - Sim. Quando descobri do falecimento da sua mãe, dei a notícia ao seu pai. Ele pediu que ficasse observando até conseguir te buscar, sem causar muito alvoroço.
Glória: - E qual o motivo de se revelar agora?
Alencar: - Somente agora consegui identificar aqueles que a estavam perseguindo. Você corria risco e fiquei perto para descobrir de quem. Agora que tenho todas as informações, quero levá-la e passar tudo ao seu pai.
Glória: - Não havia lhe notado.
Alencar: - Precisava ficar escondido, para encontrar quem lhe perseguia.
Glória parecia satisfeita.
O guardião: - Consegui sanar-lhe todas as suas dúvidas?
Glória faz sim com a cabeça e diz: - Agora coma mais um pedaço de bolo, que farei o almoço. Está muito magro. Um homem, com seu porte, precisa de mais musculatura.
Alencar sente-se despido pelos comentários. Moça mais inconveniente.
Júlio, ao sair, falara com seus homens para deixá-los à vontade. Deixou claro serem hóspedes, mas que se tentasse sair, era para mantê-los vigiados e ir correndo contar-lhe.
Seus homens passaram a vigiá-los mais de longe. Alencar percebera a mudança de comportamento e sentiu-se melhor quanto a isso.
Glória, como sempre, nem percebera o mundo à sua volta.
Enquanto a moça cozinhava, ele cuidava dos cavalos, juntava lenha, colhia frutas, leite e ovos dos animais, água do poço, entre outras coisas.
Os homens comiam em outro chalé, dos empregados, mais retirado. Aquele era de Júlio.
Alencar leva tudo para dentro, auxiliando Glória que lhe agradece.
A moça diz: - Agora vai banhar-se, não lhe quero suado a mesa.
Alencar assim faz.
Glória sorri satisfeita. Estava mandando a primeira vez em sua vida. Sentia-se importante e gostava da sensação. Não via a hora de conhecer seu pai. Um homem poderoso, mas mesmo que não fosse...ela o amaria. ficou emocionada por descobrir que queria livrar sua mãe também. Ao mesmo tempo sente saudade dela...Imagina se estivesse viva? sofria tanto pela ausência do seu pai. Sabia que ele era seu grande amor. Tinha pensado em quantas vezes tinha visto sua mãe chorar baixinho, para não acordá-la.
Longe dali, Padre Emanuel estudava os relatos a respeito da capacidade de Glória me curar doentes. Estava cada vez mais encantado com tudo. Sentia-se culpado por não tê-la protegido. Realmente sentia algo muito m*l vindo do guardião. Talvez por sentir que era um homem que matava se precisasse. Ainda não tinha ido tudo sobre Glória, e continuava sua pesquisa e apontamentos, escrevendo tudo em um caderno.
Glória estava cantando, empolgada com a ideia de conhecer seu pai. Não lembrava nada dele.
Alencar olhava seus quadris dançando. Estendia seus olhos por todo o corpo da jovem, com um forte desejo. Tinha tido várias mulheres, mas nunca nenhuma tão bela, com a pele tão branca, aparentemente cuidada, cheirosa e macia. E suas formas delicadas ainda não tão definidas? Crescia-lhe a vontade de cheirar-lhe o cabelo. a voz dela era suave como nunca tinha escutado outra. E o seu sorriso? Largo, doce e sincero. Nunca tinha sido tratado tão bem e com tanto respeito. Era uma mulher diferente das que conhecia, de certeza. Menina ainda, porém forte e decidida. e aqueles cabelos longos, lisos e ruivos de princesa? Em sua cabeça passava vontade de despi-la. Ao mesmo tempo sentia-se culpado por olhá-la com tanto desejo, era a filha do seu senhor. Que falta de respeito. Em outro momento sentia-se com uma ternura tão grande pelos seus lindos olhos amendoados que parecia um t**o querendo protegê-la de tudo. Certamente morreria por ela, sem nem piscar. E nisso sentia-se um t**o por estar tendo tais sentimentos descabidos. Uma mulher dessa jamais olharia para um homem com ele. E se olhasse, por respeito ao seu pai, jamais a teria em seus braços. Precisava manter-se longe de tais pensamentos antes que invadisse seu coração.
Ele passou a fitar-lhe ao longe, encostado na janela. Ora tirava-lhe o olhar, ora pegava-se novamente olhando sem controle.
Glória não percebia nada. Em sua cabeça só tinha olhos para o ensopado e seu pai. Em certos momentos, olhava para ele com o canto dos olhos. Prestava atenção em suas mãos fortes, com as veias saltadas. E as coxas grossas, não reparava nisso em outros homens, mas as dele eram perfeitas. A menina ruborizava e sentia calor. Elevando sua mãozinha pálida ao pescoço, tentava segurar o cabelo para ter um pouco menos de calor.
Cada gesto seu era olhado por Alencar. Ele já a observava tempos. Seu desejo não era de hoje, mas ela nunca tinha se interessado por ninguém. Ele a olhava de um jeito totalmente diferente, como um homem. Tudo nele era lindo, seus cabelos preso compridos, olhos verdes, pele levemente escura. Era perfeito como um príncipe. E seu corpo musculoso, perfeitamente distribuído em gordura e músculos? Quanto mais pensava, mas calor sentia.
Os dois ficavam assim, quando um olhava o outro desviava o olhar assustado.
O almoço fica pronto. Glória serve o prato de Alencar que agradece.
Ele prova e faz cara de quem gostou muito.
Glória fica feliz por ter-lhe agradado. Eles comem em silêncio. Ele estranha não receber nenhum comentário.
Aquele silêncio dela o incomodava. Era bom saber que lhe chamava a atenção. Glória, por sua vez, estava cansada de ter que fazer força sozinha para uma amizade. Estava vendo até onde o silêncio dele iria.
Após o almoço, Alencar se oferece para tirar a mesa e ajudar com a louça. A menina fica surpresa e encantada ao mesmo tempo. Naquela época era muito difícil um homem ajudar.
Alencar faz tudo com gosto.
Glória não se contém e decide comentar: - Achei incrível você me ajudar com a louça e a mesa.
Alencar sente-se acanhado, mas responde: - Ajudava sempre minha mãe, quando estava viva.
Glória: - Faz pouco tempo que a perdeu?
Alencar: - Cinco anos. Ela sempre dizia que era obrigação de um homem ajudar sua mãe e esposa. Tratá-las feito rainhas.
Glória: - Um pouco arrojado para nossos tempos.
Alencar: - Minha mãe nunca foi de seguir padrões. Ela era uma mulher incrível. Guerreira e forte.
Glória: - A minha também. - Ela para um pouco e diz: - Você tem irmãos?
Alencar: - Não. Minha mãe foi violentada e engravidou de mim. Mesmo assim, nunca me tratou m*l por isso.
Glória: - Que culpa você teria?
Alencar sente-se culpado, visivelmente. Ele abaixa a cabeça.
Glória: - Sua mãe lhe amava e isso que importa.
Alencar olha em seus olhos e fica grato pela gentileza de se importar com aquele homem rústico e humilde.
O silêncio toma conta um pouco do lugar. Ele então lembra-se de algo e diz: - Você também não tem irmão por parte de sua mãe, não é?
Glória: - Não. Éramos só mamãe e eu. Quando ela se foi, achei que perderia o chão. Ainda me pego perdida, mas então lembro do sorriso dela e de quanto ela era corajosa. Por ela ficarei bem, assim como ela ficou, quanto minha vó se foi.
Alencar: - Infelizmente a vida tem disso...perder quem se ama.
Glória fica um pouco calada e pergunta: - Você é casado?
Alencar sorri e diz: - Não. Nem tenho alguém em meu coração. - ele fica calado, respira e diz: - Sei que casada não é, mas possui alguém em seu coração?
Glória sorri, pela pergunta vinda de um homem tão rústico: - Não...acho que meu coração ainda não acordou para esse lado. Nunca me apaixonei. Fico imaginando como será…
Alencar: - Se for correspondida é maravilhoso.
Glória: - E se não for?
Alencar olha bem para ela e diz: - Duvido que não seja.
Glória sorri para ele e diz: - E… se não for?
Alencar: - Você é mesmo insistente, não?
Glória: - Aprendi com minha mãe.
Alencar fala, sentando-se perto da janela: - Bom, se não for... você sobrevive. Não será fácil, mas conseguirá. Todos conseguimos mesmo achando que o coração vai para no peito.
Glória: - Pelo visto você já teve os dois.
Alencar: - Sim, mas hoje estou em paz.
Glória: - Nossa...espero nunca me apaixonar.
Alencar: - Não seja tola. Quando se é correspondido...é maravilhoso e único. É como se caminhasse nas nuvens em pleno chão. Tudo fica lindo, inteiro.
Glória: - Então qual o motivo de não está com a moça?
Alencar: - Ela me correspondeu, mas depois não mais.
Glória: - Entendo…
Alencar: - Eu não…
Glória: - Você ainda parece gostar dela…
Alencar: - Não. Tenho mágoa do que me fez...mas não gosto mais.
Glória: - Eu não sei o que é amor ou paixão, mas certamente quando acontecer...será para a vida toda.
Alencar: - E espero que encontre alguém que valorize isso.