Francisco era filho do meio dos irmãos. Olívia era filha do administrador das fazendas da família. Tinha crescido com Francisco e era o melhor amigo dele. Francisco enxergava Olívia assim: como um amigo. Não a enxergava como mulher, nem o quanto ela era apaixonada por ele. Olívia era uma mulher moleque. Adorava calças e não vestidos, vivia de chapéu e usava cabelos curtos, o que era difícil para as mulheres daquela época. Até seu jeito de andar e sentar mais imitava seu pai. Por ter perdido a mãe ainda muito pequena, não tinha uma referência feminina. Ainda que Isadora tentava ajudar a criá-la, mas Olívia era agitada e rebelde por natureza.
Francisco era apaixonado pela lida na fazenda. Estudava agronomia. Lúcio, reforçou isso nele, o fazendo começar faculdade nesse campo. Ele e o pai de Olívia, senhor Bento, estavam sempre juntos. Ele fazia questão do namoro entre sua filha e o rapaz, porém sabia que o jeito moleque dela, não deixava Francisco olha-lá diferente.
Era viúvo e tentava aconselhar a filha, mas ela não lhe dava ouvidos. Temperamental, ela não escutava ninguém. Adorava lidar com os animais. Olívia era vegana por natureza e odiava o jeito que Francisco não se importava muito com os animais. Ele cuidava bem, mas não ligava de abatê-los para consumo. Vivia soltando piada com relação a sensibilidade, segundo ele exagerada, que Olívia tinha referente aos animais.
Embora fizesse de tudo para repreendê-la em seus modos moleques, Francisco estava sempre atrás de Olívia e nem notava isso. Ela não mandava dizer e utilizava palavrões e frases rudes sempre que não gostava de algo que ele fazia. Ele sempre ria de seu jeito e tinha a apelidado de moleque. Todos os empregados da fazendo conheciam Olívia por moleque. Ela até gostava. Odiava isso de mulher ser tratada diferente de homem.
Francisco: - Moleque, não se apegue a esse porquinho, assim que crescer vai para a faca.
Olívia olha para ele com raiva: - Quero é ver quem vai fazer isso com ela.
Francisco exagerava nos modos, só para irritá-la: - E lá tem isso de ela ou ele? É um porco para comer.
Olívia pega uma pedra e aponta para Francisco, dizendo: - Sai daqui Chico ou não respondo por mim.
Ele saiu sorrindo, satisfeito. Adorava vê-la assim. Olívia abraça a porquinha e diz: - Ninguém vai te fazer m*l Francisca.
Francisco escuta e vira-se, voltando: Você colocou qual nome nesse porco?
Olívia: - É porca e se chama Francisca.
Francisco vai na direção dela dizendo enfaticamente: - Tira esse nome agora dela.
Olívia em pé, coloca as mãos na cintura, dizendo: - Mas eu não tiro, é nunca.
Francisco: - Não vai tirar é? - ele aproxima-se dela e começa a lhe fazer cócegas. Ela ri e se mexe tanto que derruba o chapéu da cabeça. Seus cabelos loiros e com cachos, cheirando a camomila balança, caindo. Francisco pensa que são bonitos e que ela não deveria prender, mas assim que tem esse pensamento à solta, repelindo-a de perto.
Sem entender nada, Olívia pergunta: - O que foi?
Francisco: - Nada. Só cansei da brincadeira. - diz saindo dali.
Ela volta a cuidar dos porcos.
Ele saí com o pensamento nela. Foi a primeira vez que sentiu algo diferente. Até reparou na delicadeza de sua nuca. E o perfume de cravo que ela emitia? Estranho sentir-se assim. Afinal, ele estava de namorico com a filha do farmacêutico, Márcia. Ele então pensa em Márcia e abre um sorriso malicioso. Ela sim era mulher de verdade, quadris largos, coxas grossas, cintura fina, s***s fartos, feminina por natureza, viva com vestidos cor de rosa e rendados, maquiagem delicada e sapatos bonitos. Nada de botas como Olívia.
Bento chama Francisco para ajudá-lo. Precisava apartar briga entre os empregados. A gritaria estava armada. Olívia, vem do curral, correndo. Francisco tenta apartar a briga, se enfiando no meio dos dois funcionários e acaba levando um soco, no lugar de um dos envolvidos. Nisso a confusão estava feita, pois é lógico que ele revidou. Olívia vendo Francisco na briga, monta a cavalo no que o agredia. Francisco tentando atingir o homem, acaba atingindo ela, que caí. Ele preocupado revida o homem com fora, lhe dando um soco certeiro e vai até o chão onde estava Olívia.
Francisco diz, batendo no rosto de Olivia, para acordá-la: - Moleque, está bem?
Olívia com a mão em seu queixo diz: - Você me acertou.
Francisco: - O rapaz se mexia demais. Acabei errando. Vem. - diz tentando erguê-la, mas ainda estava tonta. Ele continua: - Você tinha que se meter na briga.
Olívia com a mão no queixo, ainda tonta diz: - Isso não parece um pedido de desculpas.
Francisco a pega no colo, levando até em casa. Olívia gosta da atitude, mesmo melhor, finge ainda estar passando m*l.
Bento consegue acalmar a briga. Ele olha os dois indo para a casa e, faz não com a cabeça, sorrindo.
Francisco, senta Olívia na poltrona, dizendo e olhando o queixo da moça: - Vou pegar gelo. Não se mexa.
Ursinha vem junto ver o rosto da moça: - Meu Deus, menina, não se meta na briga de homens.
Olívia: - Não tem isso de briga de homens. Uma mulher pode muito bem se defender.
Francisco, colocando gelo no queixo dela, diz: - Percebi isso nitidamente.
Olívia: - Talvez não contava que quem estava defendendo me daria um soco.
Francisco ri e diz: - Desculpe, vá moleque. Não fiz por m*l.
Olívia: - Tudo bem.
Francisco: - Mas o que te deu. Simplesmente foi para cima do sujeito.
Olívia: - Ele estava lhe agredindo. Precisava te ajudar. Somos amigos não?
Francisco diz com ternura no olhar: - Sim, somos. Agora fique quieta e coloque gelo nesse queixo.
Ursinha cruza os braços e ria.
Francisco, depois de passar o susto, também começa a rir.
Bento, depois de apaziguar tudo, entra na sala, para ver como estava a filha: - Filha, o que te deu na cabeça?
Olívia: - Lá vem você também, papai.
Bento olha o queijo da filha, dizendo: - Pois foi bem feito. Assim aprende a não se meter em brigas.
Francisco olha para ele, cruzando os braços e dizendo: - É r**m hein?
Os três riem e Olívia fulmina todos.
Melhor, todos vão para a lida novamente. Olívia está com o queixo inchado e todos fazem gozação com ela. Irritada, se entoca no curral com Francisca. Ela preferia animais a gente. Tudo era muito claro e simples com eles. Os seres humanos eram tolos, ridículos com suas regras e convenções. E daí se não gostasse de vestido? Odiava cor de rosa e rendas e babados. Adorava roupas confortáveis que não atrapalhavam na lida. Adorava trabalhar, colocar a mão na lida, cuidar dos animais. E daí se acabasse se sujando? Não era só lavar? E qual o problema de prender os cabelos com um chapéu? Se eles ficam no rosto, atrapalhando? E daí se uma garota corta os cabelos? Se cabelo comprido enrosca em tudo e dá muito calor? Qual o motivo de complicarem tanto com regras do que é feminino ou masculino? Sou mulher e não vou mudar isso só porque não uso cor de rosa. Olívia conversava com ela mesma, ora com a porquinha.
Tenha momentos que Francisco ouvia suas conversas e achava bonitinho essas ideias tão novas para a época, mas ele não podia alimentar isso. Esse sentimento era estranho e esquisito, afinal moleque era moleque, seu melhor amigo.
Francisco vai até o curral, sabia que para encontrar Olívia, sempre que sumida, era só procurar Francisca. Ela era louca naquela porquinha. Ele falava bobagem só de brincadeira. Adorava comer carne, mas jamais faria m*l aquela porca. Estava até pensando em dizer para que ela a levasse para sua casa. Ao chegar no curral vê Olívia chorando.
Ela, vendo que ela estava ali, disfarça e seca suas lágrimas. Por perceber que ela tinha vergonha, ele finge não tê-las visto e diz: - Leve essa porca de uma vez para sua casa.
Olívia olha para ele, surpresa.
Francisco fala rispidamente, fingindo estar sem paciência: - Falei mesmo, é um presente meu para você.
Olívia abraça Francisca e sorri: - Sério, Francisco?
Francisco: - Sério. Suma com ela, da minha frente, assim não tenho que engolir uma porca com meu nome.
Olívia espontaneamente o abraça e lhe dá um beijo no rosto.
Ele fecha seus olhos e sente novamente seu coração pulsar forte. Não estava entendendo aquilo. Aquele cheirinho de cravo vindo dela lhe deixava de um jeito…
Olívia pega Francisca no colo e diz para a porquinha:- Você vai para casa comigo. - a porquinha grita ao ser abraçada. Olívia sai para casa.
Francisco fica olhando e sorrindo. Conseguiu lhe arrancar um sorriso, finalmente.
Olívia entra em casa e vai direto para seu quarto com a porquinha. ela já arruma uma cama, coloca água em uma bacia e começa a passar um pano com perfume em Francisca. Estava feliz, amava mesmo aquela porquinha. Foi até a máquina de costura de sua mãe e pegou o cesto de costuras. Lá tinha retalhos e linhas que estavam guardados faz anos. Ela então começa a tentar costurar algo. Ela tinha tido aulas junto com Isadora de bordado, costura e outras coisas, ditas na época, serem femininas. Só que não tinha o menor jeito com nada disso, nem com arrumar seus cabelos. Isadora tentou várias vezes ensinar, tinha muita paciência, mas a moça não gostava de jeito nenhum. Olívia então fura seu dedo com a agulha e grita, colocando na boca. Ela não desiste, ia deixar sua filha linda. Não se arrumava, mas queria arrumar Francisca.
Bento pergunta a Francisco: - Onde está Olivia. - ele para e diz: - Ah, deixa adivinhar, no curral?
Francisco faz cara de preocupação.
Bento diz: - Que cara é essa?
Francisco: - Promete não me bater?
Bento: - O que você aprontou?
Francisco: - Dei Francisca para ela.
Bento: - Você fez o que?
Francisco: - Ela estava chorando.... não aguentei e dei a porca para ela.
Bento:-Sabe que ela vai colocar a bichinha dentro de casa, né?
Francisco sorri: - É por uma boa causa. Ela estava chorando...
Bento amolece. Não suportava ver sua moleque chorando.
Francisco: - Pois é… o povo é muito c***l com ela, por ser diferente das outras mulheres.
Bento: - Logo quem fala?
Francisco: - Sei que também faço gozação, mas vou até um certo ponto. Já os outros ficam rindo, até ferir realmente. Se eu pego quem a fez chorar, dessa vez, eu estrangulo.
Bento: - Somos dois.
Francisco: - Sei que ela tem o jeito moleque, mas qual o problema disso se for feliz.
Bento tentando sondar o moço diz: - Quero ver quem vai querer namorar com uma mulher assim.
Francisco: Pois sempre tem uma tampa para uma panela.
Bento: - Existem as frigideiras…
Francisco: - Espero que ela encontre alguém que veja sua essência boa.
Bento: - Sabe bem como os homens são. Olham silhuetas, espartilhos, curvas, cabelos longos, modos ao sorrir, andar, jeito de vestir, sapatinhos e pés delicados… essas coisas.
Francisco: - A alma de Olívia é uma das mais belas que já vi.
Bento: - Fala quem está enroscado com a tal Márcia, modelo de beleza feminina.
Francisco: - Eu e Olívia somos melhores amigos. Se não a enxergasse assim, não teria problema em namorá-la.
Bento: - Pois espero que alguém pense como você, ou minha filha ficará para a tia.
Francisco começa a lembrar da nuca da moça e do seu cheiro de cravos. Sentia-se particularmente e******o, de uma forma que nunca tinha ficado por ela antes. Aliás, nunca tinha percebido Olívia tão graciosa. O que estava acontecendo? Precisava tirar aqueles pensamentos absurdos da cabeça. Moleque era seu melhor amigo, não podia sentir desejo por um amigo...embora seu amigo fosse mulher…
Ele precisava ir vê-la. Talvez aquela sensação saísse de sua mente e corpo. Ele vai até lá e, sem ser visto por Olívia, fica espiando escondido, pela janela.
Bianca não ia mais sair. Queria cuidar de Francisca. Tinha tomado um banho e colocado um vestido para ficar em casa. Alí estava mais confortável vestido. Tinha sentado com as pernas abertas e joelhos dobrados, e o vestido entre elas, aparecendo parte de suas coxas. O decote estava bem cavado, já que não se preocupava em ser vista, evidenciando seus s***s, que geralmente escondia. Tinha s***s fartos e vergonha deles. Fazia de tudo para escondê-los, até enfaixá-los.
Francisco estava olhando cada detalhe do seu corpo a despindo com os olhos. Tudo nela parecia perfeito e mais feminino que o de qualquer mulher que tinha visto antes. Ele vira-se de costas para a janela, se escorando na parede do lado. Estava sentindo uma sensação que o surpreendia sentir por ela.
Olívia nem imaginava que estava sendo observada. Estava concentrada no laço de Francisca e olha que estava ficando jeitoso? Media em sua porquinha, que estava deitada na cama, quietinha. Ele então voltou a olhá-la com muito carinho. Via o tanto que estava sofrendo para costurar aquele laço e o quanto era dedicada em tudo o que fazia. Mesmo sendo diferente, ninguém era mais esforçada e determinada quando queria fazer algo.