CAP 8 - LUCAS E IOLANDA PARTE 1

2887 Palavras
Lucas estava ensinando seus alunos a ler e escrever. Iolanda era uma n***a linda, com longos cachos, dotada de fartas curvas e uma luz no olhar de estremecer quem lhe fitava. Ela, um pouco mais velha que Lucas, tinha encontrado na igreja uma razão para viver. Era absolutamente órfã e sozinha no mundo. Ajudava Lucas em tudo e já cuidava da paróquia e de Lucas, com fervor e devoção. Via nele uma pessoa correta para seguir e adorava cuidá-lo. Quando ela chegou na cidade, há três anos atrás, estava somente com um saco de roupas, e dormira em frente a igreja, esperando se sentir segura. Ia rezar e pedir ao padre se sabia de uma casa para que ela pudesse trabalhar. Lucas na mesma hora a contratou. Precisava de ajuda. Aos poucos foram tornando-se amigos. Ele então percebeu que ela não sabia ler, nem escrever e passou a ensiná-la. Imediatamente a moça pensou em muitos da comunidade que tinham a mesma dificuldade e inspirou o padre a alfabetizar gratuitamente seu povo, em suas horas de folga. Ela fazia de tudo para ajudá-lo. Seus estudos já estavam mais adiantados e o ajudava a corrigir provas e exercícios. Fazia todas as tarefas de casa, e cuidava de Lucas com sua vida. Lucas ficava horas com ela e sua companhia o deixava menos sozinho. Desde o sacerdócio, vivia praticamente em silêncio. Conversava com sua mãe e Lúcio. Nutria por ela uma admiração que jamais sentira por outra pessoa além de seus pais e irmão mais velho Lúcio. Lucas olhava a moça discretamente. Mesmo sendo um padre, estava sentindo um forte desejo, que lhe atormentava. Tinha seguido o sacerdócio por vocação. Precisava afastar todas aquelas sensações que nunca sentira antes por mulher alguma. Ele se pegava olhando o sorriso dela ...perdido em tanta doçura. De seis meses para cá algo havia mudado no relacionamento entre eles. Tudo começou em um quase tombo da moça. Ela estava guardando os livros na estante. Era uma estante que ocupava todas as paredes da biblioteca. Precisava de uma escada. O padre lhe alcançara os livros e ela ia colocando no lugar. Até ali ele sentia ternura, carinho, afeição...mas o desejo despertou no momento que ela caiu em seus braços. Seus lábios roçaram os dele e seu corpo no dele. Naquele momento ele sentiu o perfume da moça entrar em sua pele. Nunca a tinha visto daquela forma antes. Nunca falaram sobre isso. Apenas lhe ajudou a se erguer e disfarçaram, voltando ao trabalho. Depois disso os olharem começaram a se intensificar de ambos. Os pensamentos mudaram e foram dando espaço para o desejo. Iolanda sentia-se culpada e tentava rezar. Não conseguia confessar para o padre temendo que desconfiasse. Ele tinha contado, em confissão, para o padre Emanuel que tentava ajudá-lo a superar. Ele mesmo, na juventude, havia passado por uma situação assim. Padre Emanuel sugeriu, caso a situação perdurasse, que Iolanda fosse trabalhar na casa do seu irmão Lúcio, trazendo de lá a jovem Serena, muito prendada, que por ser ainda menina, não oferecia riscos. Lucas protelava, tentava ficar perto de Iolanda.. Na verdade, não sabia se suportaria viver longe. Ela havia se tornado uma grande amiga. Iolanda nem sonhava com a ideia do padre Emanuel, que já a tratava de maneira mais ríspida. Sem entender o motivo, ela apenas continuava doce e meiga cuidando dele também. A noite cai e os dois estão jantando sozinhos. Padre Emanuel estava em seu quarto estudando. Iolando levou seu prato de sopa no quarto. Voltando, senta-se com Lucas. Os dois comem sozinhos. Já conversava menos, tentando esconder os sentimentos e emoções. Um não percebia a reciprocidade do outro. O que havia era um grande sentimento envolvido que começara com amizade desenvolvendo para o amor e desejo. Lucas havia se tornado padre por sonho de sua mãe. Ela nao impunha nada, mas ele percebia que ela gostaria de um filho voltado para o religioso. Os dois então em silêncio e Isadora aparece ao lado de Lucas dizendo: - Perdão, meu filho. Já estava conhecendo a doutrina espírita e, ainda assim, lhe impus um sonho t**o e egoísta. Você, o mais generoso de todos os seus irmãos, para me agradar, esquecera de si. Eu queria que pudesse ver o tamanho a aura de vocês quando estão perto um do outro...ou apenas pensando um no outro… Isadora, ministra passes ao seu filho, que imediatamente volta-se para Iolanda, dizendo: - A sopa está uma delícia, como sempre. Iolanda: - Fiz a sua preferida, de feijão. Isadora sai. Lucas abre um sorriso. Ele docilmente pergunta: - Você nunca pensou em se casar? Iolanda fica surpresa com a pergunta e responde: - Já, quando mais jovem. Lucas: - Deixe de tolice que ainda é nova. Iolanda: - Mas qual o motivo dessa pergunta? Lucas: - Percebo que vive aqui dentro, talvez devesse sair um pouco, se divertir, buscar conhecer alguém. O coração de Iolanda enchera-se de tristeza. Queria ele livrar-se dela? Com os olhos cheios de lágrimas ela responde: - Eu sou muito feliz cuidando do senhor…- ela disfarça e diz: - E da Paróquia e do padre Emmanuel. Agora se me der licença vou arrumar tudo e ir deitar. Lucas percebe que de algum jeito a machucou. Ele se preocupa, mas percebe ser melhor assim. Se insistir talvez se desapegue dele. Era isso ... .ela lhe tinha apego por estar só no mundo. Precisava arrumar-lhe um pretendente. Confuso, repensa, mas aí o levaria embora daqui ... .melhor aceitar a sugestão e levá-la para trabalhar na casa de Lúcio, mas aí ela nunca arrumaria alguém e passaria a vida sozinha...como sempre foi... Tinham medo de ficar longe e se sentia culpado por não querer-lhe casada. Ela arruma tudo nervosa, irritada, batendo a louça. Lucas ignora, levanta-se, coloca seu prato na pia e diz: - Boa noite, Iolanda. Ela lhe responde: Boa noite padre. A noite cai e ambos não conseguem dormir. Lucas sente culpa do que falou. Iolanda... uma mistura de raiva e mágoa. Era como se ele a rejeitasse sem ter rejeitado. Lucas começa a rezar. Eu sua mente se fizesse com fervor, seria atendido. Precisava se libertar daquele desejo. Tinha escolhido o caminho de fazer da comunidade sua família. Tinha que honrar isso a qualquer custo. Lúcio já havia percebido uma mudança no jeito do irmão. Ele era muito observador. Lucas, porém, não dava a******a para conversas. Isadora mais uma vez se aproxima do filho. Tenta, ao lhe dar passes, fazê-lo enxergar como sua vida podia ser igualmente importante junto a Iolanda. Inspirar-lhe. O jovem era resistente a sugestões. Tinha uma convicção em seu propósito que por vezes o cegava para todo o resto. Mesmo assim, o doce espírito de Iolanda tentava lhe quebrar a resistência. Ela então sai após o passe. Ele adormece e se desprende do corpo. Seu espírito vai encontrar o de Iolanda. Ao vê-la, uma forte luz lilás, os envolvia e um fio dourado prendia ele e ela, um ao outro. Quanto mais o tempo passava, mais esse foi dourado ficava forte e brilhoso. Era como se a união fosse acontecer inevitavelmente. Ao entrar em seu quarto eles se entregam ao desejo e se amam. No outro dia, pela manhã, a sensação de ambos é que estavam leves e felizes. Era como se aquela discussão velada da noite passada tivesse sido apagada. Eles não lembravam de nada, mas tinham em seus corações uma sensação boa de lar. Padre Emanuel entra na cozinha e percebe os olhares entre os dois. Lucas era um protegido dele e faria de tudo para conduzi-lo ao caminho do sacerdócio. Certamente iria desviar-lhe a atenção da moça custe o que custar. Emanuel: - Irás trabalhar nas aldeias para construção de casas hoje? Lucas: - Certamente o mutirão será feito. Emanuel: - A jovem Iolanda poderia me ajudar com as atividades do convento? Lucas fica negativamente surpreso. Ela era sua companheira em tudo. Ela, da mesma forma, fica apreensiva com a ideia de não ficar ao lado do seu amor. Lucas: - Seria realmente necessário? Iolanda faz o almoço e lanche para todos. Vale lembrar que todos que trabalham lá ficam famintos e cansados. Se não fosse o alimento bendito que ela faz, não conseguiríamos aguentar um dia inteiro. Emanuel, contrariado, porém ciente do papel da moça, concorda com a situação. Ele observa cada olhar escondido, sorriso camuflado e linguagem de corpos dissimulados. Os dois não se percebiam. Estarem juntos lhes fazia sentir felicidade que transbordava. Mas os que estavam ao seu redor sentiam e pensavam. Nunca ninguém jamais comentava em voz alta, mas ficava evidente para a comunidade. Só que a virtude de ambos era tamanha, que todos confiavam que se algo acontecesse, assumiriam e o padre deixaria sua vocação. Tinham os maldosos, mas eram poucos. Emanuel: - Agradeço se a moça, amanhã, puder me ajudar. - ele tinha elaborado um plano. Iria enchê-la de muito trabalho, sobrecarregá-la e separá-la do padre. De forma que, exausta, desistisse de ficar ali e decidisse ir embora. Emanuel não era de todo m*l, mas tinha um coração duro e frio. Havia perdido um grande amor pelo sacerdócio e ostentava esse sacrifício como prova de amor por Deus. Era confuso e perdido devido a uma criação enérgica e cheia de preconceitos. Faria de tudo para separá-los. Era agora seu objetivo de vida. Viu na confissão de Lucas um pedido de socorro da vocação e de Deus. Lucas: - Creio que Iolanda adoraria ajudá-lo, padre. Os dois olham para a moça que diz: - Certamente. Conte comigo. Emanuel esboça um sorriso um tanto m*****o. Seu plano começara a acontecer. Os três tomam café reforçado e delicadamente preparado pela moça e saem. Levavam mantimentos para o preparo do almoço e lanche no fogão que improvisaram nas aldeias. Tudo muito rústico e simples. Ao chegarem na primeira aldeia, onde escolheram trabalhar aquele dia, todos os recebem alegres e gratos. Lucas havia reunido todos de pequenas aldeias locais, para que se juntassem e formassem um mutirão, erguendo a casa e melhorando as já existentes. Todos mudariam a dura realidade de um povo às margens da sociedade, excluída pelos nobres. Eram dali que Lucas tinha seus alunos. Não só crianças que não tinham como conseguir estudo, mas também adultos. Ainda não existiam escolas e o modelo estruturado por Lucas nada mais era do que as primeiras escolas do país. Lucas adorava estudar e seguir Pestalozzi e sua real vocação era a educação. Diante disso tudo, dividia suas atribuições entre: ajudar seu povo a se organizar e se unir para sobreviver à pobreza, plantando, colhendo e conseguindo auto-sustentação; e, a segunda, educar para melhorar a mente do seu povo. Ele levava isso a sério e achava que casar, ter filhos, desviaria sua atenção. Realmente sentia que somente no sacerdócio teria oportunidade de fazer mais pelo seu povo. Lucas dos seus irmãos era o com o coração mais generoso. Todos, excetuando Júlio, eram pessoas de coração nobre e bom, mas Lucas era o que mais sabia partilhar e doar-se por inteiro a uma causa. Todos passam o dia partilhando, ajudando, alimentos, conhecimentos, risadas e sonhos. Lucas e Iolanda se entreolhavam o tempo todo. Já se entendia pelo olhar. Haviam momentos em que se olhavam e sorriam um para o outro. Todos percebiam e achavam muito lindo. Na verdade, todos torciam pelos dois. Lucas era um líder nato. Não precisava de esforços para conseguir que o seguissem e escutassem. Todos se maravilhavam com seu coração raro e único. Havia amor transbordando de seu olhar e de seu sorriso. Realmente amava estar vivo e ajudar. Lucas atraía pessoas boas, como Júlio pessoas más. Lúcio ficava no meio termo. Assim eram os três. Como lados de uma balança em que Lúcio era o equilíbrio. Iolanda já era um complemento da bondade de Lucas. Ela tinha várias ideias que completavam as dele. Ele tinha tanto amor no coração que, em muitas vezes, não conseguia dividi-lo e compartilhá-lo com clareza. Buscava tantas coisas que se perdia. Iolanda já era mais concentrada e conseguia visualizar tudo calmamente, amplamente, dando um passo por vez e conseguiu, em parceria com ele, ajudá-lo a se orientar. Os dois voltam para a paróquia após um longo e exaustivo dia de trabalho. Eles sorriem um para o outro. Ao ajudar Iolanda a descer da carruagem, Lucas segura sua mão e a pega pela cintura. Ela desce e fica próxima do seu corpo. Novamente seus rostos se encostam e o nariz dele roça a face dela. Eles ficam ali olhando nos olhos. um beijo quase acontece, mas padre Emanuel, percebendo, interrompe. Os dois se afastam rapidamente. Padre Emanuel diz: - Deixe que ajudo a moça a levar os mantimentos de volta. Preciso que refaça o sermão da missa para amanhã de manhã. Lucas: - Mas o que tem de errado com aquele que fiz. Emanuel: - Absolutamente nada. Quero que mude de assunto e fale de pecado. - ele precisava dar um choque em seu pupilo. Lucas sente suas bochechas coragem. Percebeu que o padre estava falando para ele. Emanuel o fulmina, repreendendo sobre o ocorrido. Depois olha para a moça, que finge não ter acontecido nada. Iolanda percebera que Emanuel tentava separar-lhe do seu amor. Ela suportaria tudo para continuar perto de Emanuel. Não queria tirar-lhe de sua missão, jamais competiria com Deus. Se o seu amor tivesse essa vocação, ela o apoiaria. Só precisava ficar perto. Os dias seguintes foram difíceis. Padre Emanuel mantinha Iolanda em rédea curta. Deixou a moça cheia de trabalho e ela estava visivelmente mais magra e cansada. Não se negava em fazer nada que era solicitada. Tratava o padre Emanuel com todo o carinho do mundo e procurava entender sua posição em tudo. Ela estava esgotada. Tinha ficado muito tempo longe do seu amor e isso ela não suportava. Lucas também não estava aguentando ficar longe e vê-la pagar pela sua fraqueza, lhe atormentava. Eles deixava tudo pronto ali na paróquia, para não sobrecarregá-la, mas padre Emanuel estava disposto a quebrar-lhe. Estava até mesmo sendo c***l para isso. O que deixava Lucas se questionando quanto a sentido daquilo tudo. Se não era mais pecado isso que ele estava fazendo, do que aquele amor que sentia por ela. Na sua cabeça nem sabia se ela o correspondia. Naquele dia, por uma benção divina, Emanuel teve que se ausentar. Tinha mais de um mês que não deixava a moça em paz, nem mesmo nos finais de semana. Depois de algum tempo Iolanda finalmente iria cozinhar para seu amor. Ela via que emagreceu, mas ele se desgastou fazendo o serviço dela e dele ali na paróquia para não sobrecarregá-la. Ambos estavam sendo castigados pelo padre Emanuel. Ele entra na cozinha e a vê iniciando o almoço. Ele segura sua mão, precisava senti-la perto, e diz: - não faça nada. Iolanda: - Você emagreceu, não está se alimentando direito e precisa. Tem muita coisa dependendo de você. Lucas: - Você também emagreceu e tem muita coisa dependendo de você. Eles continuam de mãos dadas. Iolanda: - Nada depende de mim. Lucas: - Eu dependo. A moça estava exausta e coloca-se a chorar. Emanuel a abraça. Ele não conseguia mais ficar longe, a saudade apertava muito. Ele simplesmente, ao vê-la chorar, não aguenta e a segura firme em seu peito. Queria acalmá-la, protegê-la de tudo e todos. Ele encosta seu rosto no dela e sente que ela deixa, fecha seus olhos. Então lhe dá um beijo, sendo correspondido. Os dois finalmente se entregam à paixão. O beijo vai ficando mais intenso e Lucas se arrepende. Ele a segura para longe dele, dizendo: - Perdão. Não sei o que me deu. Iolanda falam nervosa: - Você sabe sim o que deu.- diz tentando afagar seu rosto e se aproximar, mas ele segura seus braços, firmemente. Lucas: - Não podemos. Iolanda: - Não fale isso, se nos amamos não pode ser errado. Lucas: - Eu tenho uma vocação, Iolanda. Isso é sagrado. Ela diz: - e amor não é sagrado. Lucas: - Sim, mas não com um padre. Sou sacerdote, tenho obrigação ao celibato. Iolanda: - Você tem obrigação de ouvir seu coração. - ela se aproxima e acaricia seu rosto, dizendo: - Se você me quero, isso já diz que não pode ser sacerdote. Lucas segura os braços dela, firmemente e diz: - Nunca mais diga isso. A moça cai em prantos. Ele amolece e a abraça. Iolanda deita seu rosto no peito dele o cheirando. Lucas: - Não podemos ser. Iolanda olha nos olhos dele e diz: Só me prometa que vai me deixa cuidar de você e continuar perto. é só o que te peço. Lucas a abraça forte, dizendo: - Prometo. Não suportaria ficar longe de você. Eu não sei mais o que estou dizendo ou fazendo. Não quero vê-la presa a mim, deixando de viver sua vida...de ter uma vida feliz. Iolanda: -Só vou ter felicidade do seu lado. Seja do jeito que for. Não quero outra vida, nem outra pessoa. Lucas continua segurando-a contra seu corpo como se tivesse medo de soltá-la e perdê-la. Ela fica quieta perto dele. Finalmente sabia dos seus sentimentos, finalmente sentia paz. Não importava se tivesse que esperá-lo por toda sua vida...ela esperaria..só precisava estar perto dele. Lucas: - Preciso ter uma conversa com o padre Emanuel. Ele está sendo muito enérgico e duro com você.
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