Capítulo 3

1840 Palavras
Lucian Aguardei até à meia-noite e nada de Lyla. O telefone não parava de tocar, mas ao final só ouvia a caixa postal. Um frio na barriga começou a me inquietar, uma sensação de que algo estava errado. Fui até a porta da frente, abri-a e respirei fundo antes de sair. O céu estava limpo, mas o ar da noite trazia um cheiro de chuva iminente. Peguei o carro e dirigi em direção ao local de trabalho, determinado a descobrir onde ela estava. Siga pela rodovia principal. A essa hora, as ruas estavam desertas, as luzes dos postes iluminando apenas o asfalto. A solidão da estrada refletia a preocupação que crescia dentro de mim. Chegando lá, o porteiro me cumprimentou com um aceno de cabeça, mas seu olhar não escondia a inquietação que compartilhávamos. Ele informou que Lyla ainda não tinha saído, e minha ansiedade aumentou. Subi até o quinto andar, que era normalmente nosso refúgio, e ao entrar na sala de trabalho, vi que suas coisas ainda estavam lá — a caneca de café deixada na mesa, os cadernos abertos e o laptop com uma luz piscando, esperando por sua volta. Meu coração disparou: “onde você está, Lyla?” Procurei por ela na área onde costumávamos tomar café, mas não havia sinal dela. Esperei alguns minutos e então decidi checar o banheiro. Bati na porta, mas sem resposta. Fui para outros andares e também não a encontrei. A preocupação começou a tomar conta de mim. Abordei os seguranças e pedi para ver as gravações das câmeras de segurança. Os primeiros minutos foram de intenso trabalho, a tensão aumentava a cada segundo que passava. Finalmente, próximo ao horário em que ela deveria me encontrar, a vi na telinha, trabalhando na máquina que havíamos criado juntos. — p***a! Funcionou — p**a merda, realmente funcionou! A animação que antes me preenchia agora se transformou em desespero. Corri até a máquina para verificar algumas configurações e um desespero me invadiu. Não fizemos a volta, e agora ela dependia de mim para voltar. Se algo desse errado, eu nunca me perdoaria. Lyla Quando abri os olhos, percebi que o céu noturno estava mais escuro do que eu lembrava. Ao olhar ao redor, vi que estava cercada por um cenário que parecia saído de um livro de fantasia. O mato ao meu redor estava denso, e uma brisa suave balançava as folhas das árvores. Realmente não faço ideia da época em que estou, e isso era profundamente preocupante. Um frio na barriga começou a se formar, e, em um impulso, coloquei a mão no bolso para verificar meu celular, mesmo sabendo que era uma decisão inútil. Sem sinal. Olhando para o horizonte, avistei uma trilha à distância. Sem pensar duas vezes, comecei a segui-la em passos rápidos. Estava escuro, mas a luz da lua iluminava o caminho à frente. Uma onda de medo me envolveu, mas curiosamente, esse sentimento diminuiu à medida que me aproximava do final da trilha. Ao chegar em uma espécie de montanha, finalmente consegui ver. Um grande reino estendia-se diante de mim, suas torres se erguiam acima das árvores como sonhos concretizados. — p**a merda, estou em um tempo muito distante do meu. — pensei, a adrenalina do momento me deixou eufórica. — Não só fiz funcionar, como aparentemente vai para todas as épocas! — comemorei em voz alta, embora o eco da minha própria voz fosse a única resposta. A euforia, no entanto, não durou muito. Assim que encarei o reino novamente e então examinei minhas roupas — calça jeans, tênis e uma blusa de frio. Bati com força em minha testa, lembrando que parecia uma cidadã do século XXI em um cenário medieval. Suspirei e tirei a blusa; o calor estava começando a incomodar. Encarei o penhasco, buscando uma forma de descer. Era perigoso vagar pela floresta à noite, e um pensamento me passou pela cabeça: “Você não pode se deixar levar pelo medo.” Vi uma parte mais baixa e contornei até lá, descendo cuidadosamente. Uma vez na trilha, segui em direção ao reino. Ótimo, a adrenalina se intensificava. Porém, ao me aproximar, vi uma carroça capotada à frente, e fui tomada por um misto de medo e excitação. O que poderia ter acontecido? Será que haveria bandidos por ali? A dúvida rapidamente se transformou em alívio quando percebi uma oportunidade. Corri em direção à carroça. Estava praticamente vazia, exceto por uma bolsa velha que estava caída no chão. Com coração acelerado, a abri e fui recebida por alguns vestidos — roupas mais adequadas para a época. Peguei tudo o que pude encontrar e saí correndo de volta para a trilha. Para me proteger, fui forçada a atravessar o mato, me arrastando pela vegetação. Caminhei pela floresta, tentando evitar as folhas que entravam em meu caminho e, finalmente, cheguei a uma clareira. Cansada e exausta, decidi descansar até o amanhecer, me escondendo atrás de uma pedra que continha um arbusto. Deitei ali, em um estado de cochilo constante — meio acordada, meio dormindo — até que a luz da manhã começou a incomodar meus olhos. Levantei-me, coçando-os e tentando me espreguiçar. O sono ainda me consumia, mas ali, no meio da natureza, sabia que não teria café para me acordar. Assim, fiquei alguns minutos encarando a vista em branco e azul até que meu corpo finalmente despertasse, trazendo um frescor de determinação. Assim que me senti bem o suficiente para me mover, mexi na bolsa que havia pegado. Encontrei alguns vestidos chiques, mas optei por um mais simples, de cor preta. O vestido tinha uma parte superior branca e uma saia embutida de cor preta, algo típico medieval. Retirei minhas roupas e as coloquei naquele saco mais parecendo uma bolsa simples, juntamente com meu celular, escondendo-o da vista. Vesti o vestido sem sequer tirar meu par de All Stars, pois ele cobriria bem o suficiente. Peguei a bolsa e segui o caminho em direção ao reino. Depois de uma boa caminhada, finalmente cheguei perto do grande portão. Eu já conseguia ver os feudos por fora das muralhas e as feiras coloridas. Os portões do reino estavam abertos, e a multidão se movia animadamente, pulsando com a energia da celebração. Andei pela cidade, tentando me misturar à multidão. Quando estava prestes a entrar, um dos guardas do portão veio em minha direção. — Olá, senhorita! Veio para a festa de São Valentim? — ele perguntou com um sorriso, me observando de cima a baixo. — Nova por aqui? Limpei a garganta antes de responder, sentindo um temor correr por minha espinha. Forçando o melhor sorriso que consegui, respondi: — Sim, para as duas perguntas. — Engoli em seco. — Sou nova aqui e vim para a festa, ouvi muito bem sobre a comemoração deste lugar. — Torci para que meu tom soasse convincente. Ele sorriu, mostrando os dentes brancos. — É solteira, senhorita? — Sim. — Um conselho, então... — Ele disse, encha a peito. — Está havendo uma comemoração no castelo muito propícia, especialmente para moças solteiras e bonitas como você. — Eu não esperava pelo elogio e apenas fingi que estava normal, mas um rubor começou a tomar conta de minhas bochechas. — Obrigada. — Digo quase engasgando, e ele sorri. — Divirta-se, bela moça. Qualquer coisa, estarei a seu dispor. — Ele se curva e beija minha mão. — Arzur, senhorita. — Lyla. — Digo meu nome, e ele acena, repetindo-o em um murmurinho baixo. Ele abriu caminho para mim, e eu adentrei os muros do reino. O que vi era lindo, absolutamente mágico. Havia uma fonte no centro da cidade, com águas cristalinas dançando em frente a casas marrons, típicas de filmes de época. Mais à frente, uma imponente igreja se erguia, enquanto o castelo, com suas torres majestosas, dominava a paisagem. As ruas estavam lotadas de gente jubilante, e a energia daquele local era contagiante. Me perdi na beleza, admirando cada detalhe, quando duas garotas se aproximaram de mim. — Você não é daqui, não é? — questionou a mais baixa, de olhos castanhos e cabelo encaracolado, uma expressão de curiosidade iluminando seu rosto. Elas logo me notaram com interesse e lançaram olhares intrigantes à minha mochila. — Não, acabei de chegar, na verdade. — Respondi, meio tensa com o constante alarme em minha mente, lembrando que não poderia interferir muito na história. — Você parece ter um bom gosto para roupas. — A mais alta me observou de cima a baixo. — E parece ser alguém legal. Já tem lugar para ficar? — Ainda não. — Respondi, tornando-me mais confiante à medida que nossa conversa avançava. — Ótimo! Minha mãe vende roupas nas feiras e precisa de ajuda lá. Você pode ficar em nossa casa em troca do trabalho. — Elas estavam tão radiantes e espontâneas que não consegui resistir. — Por mim, tudo bem. — Concordei com um sorriso. Elas me convenceram a ir para casa. Eram garotas divertidas, e suas risadas enchiam o ar de alegria. Assim que cheguei em sua casa, conheci sua mãe, que com um olhar acolhedor rapidamente me arrumou um quarto, junto com as outras meninas. Rose e Amice tinham mais três irmãs: Cateline, Aila e Hilda. Todas eram muito parecidas, com cabelos loiros e olhos castanhos, sua energia vibrante envolvia a casa como uma brisa fresca em um dia quente. O pai, Milo, era soldado, e seu irmão, Erasto, também parecia ter herdado a bravura da família. Enquanto conversávamos e eu me ajeitava, a paz durou pouco, pois logo elas começaram a me convencer a ir ao castelo para a comemoração onde se reuniriam casais. No fim, concordei. Já no castelo, fui recebida por um banquete de comidas deliciosas e casais trocando sorrisos apaixonados por toda parte. Rosa e eu ficamos em um canto, conversando, enquanto as outras irmãs já haviam sido puxadas para dançar. Tudo ia bem até que, de repente, comecei a sentir a necessidade de usar o banheiro. Rosa me indicou rapidamente onde ficava, antes de ser chamada para dançar. Após um “tchau” apressado, dei os ombros e segui o caminho que parecia correto. Enquanto caminhava pelo lindo castelo, um tanto escuro — embora iluminado por velas que ecletavam nas paredes de pedra —, fui cativada pelos vitrais que brilhavam como se fossem jóias em meio à penumbra. Um som repentino de porta se abrindo me assustou, e ao encarar o corredor à minha frente, reconheci o homem que estava diante de mim: ele era alguém que parecia saído de um livro de história, mas não conseguia me lembrar exatamente quem era. Seus olhos azuis gelados pousaram em mim com ferocidade, e eu tremi sob seu olhar penetrante. O que mais me inquietava era que, embora o ódio estivesse evidente em sua expressão, havia uma centelha de desejo ali, quase imperceptível, mas suficiente para me deixar em choque. Ele me odiou. E em um único instante, percebi que a tensão entre nós era palpável e que éramos como fogo e pólvora, prestes a explodir em uma conflagração incontrolável.
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