Podia ser errado, ser pecado, até terrível, mas era bom, tão bom... Seus lábios eram macios, saborosos, sensíveis, na verdade, todo o contato era carinhoso, eu sentia o receio de Yasmin, o medo do que eu poderia fazer, mas o que eu fiz foi puxar mais o corpo da morena e deixar nosso beijo mais intenso.
As mãos de Yasmin vão para a minha nuca, acariciando o lugar com cuidado. Nossas respirações estavam ofegantes, assim como os corações acelerados. Pude sentir novamente a sensação de me sentir amada, o melhor de tudo, agora era real, sem ajuda de magia, sem pesadelos, era puro. O pensamento me fez ter mais coragem, então apertei a pele exposta da cintura de Yasmin, pois ela também estava só de roupas íntimas.
Tínhamos quase a mesma altura, se não fosse meus três centímetros a mais dos seus um metro e sessenta e cinco. Pele contra pele, lábios contra lábios, respirações ofegantes e uma sensação muito conhecida em meu ventre, mas ambas sabíamos que aquele era o limite.
– Não... Não podemos. _ Yasmin disse ao encostar nossas testas de novo.
– Eu sei. _ Estava tão ofegante quanto ela.
– Isso foi tão... d***a, me desculpa, eu não devia.
– Sim, você devia.
Afasto-me e encaro seus olhos negros, levo minha mão direita até seu rosto e passeio o polegar por sua bochecha em um carinho especial. A morena fecha os olhos, aproveitando do toque sensível.
– Essa foi uma das melhores sensações que eu já tive na vida, nada se compara. _ Falo e a mulher abre os olhos para me encarar, como se eu pudesse ler sua mente, tiro sua dúvida. – Eu amava Laura, esse sentimento irei carregar para sempre, principalmente pela sensação de culpa, mas eu sempre entendia que seu amor não era natural, ela achava que me amava, mas era tudo fruto do feitiço da flecha, eu a queria tanto que aceitei ser dessa forma, mas você... O que sinto agora, um amor verdadeiro, Yasmin, eu não tenho palavras, sabendo dos seus sentimentos sei que se sente feliz, mas...
– Você não precisa fazer isso. _ Yasmin abaixa a cabeça.
Eu sorrio fraco e a faço levantar sua cabeça com um toque carinhoso em seu queixo, fazendo nossos olhos se encararem.
– Deixe-me terminar de falar. _ Ela apenas concorda com um balançar de cabeça. – Você tem razão quando diz que eu vou amar Laura para sempre, eu vou, não porque não amarei outra pessoa, mas porque aprendi com ela o valor do amor. Você é especial em todos os sentidos, Yasmin, além da sua declaração, da descoberta, é uma amiga, leal e confidente, eu confio em você. O que fez por mim hoje...
– Desculpa...
– Não peça desculpa por isso, eu nunca... _ Fecho os olhos com força pensando na possiblidade de ter sido eu a fazer aquilo. – Eu nunca teria forças para fazer, obrigada.
– Ele falou comigo antes... antes de você chegar, se ele voltasse iriam torturá-lo e sabemos que temos nossas formas de obter informações negadas, principalmente de anjos, além de que ele nunca se perdoaria se fosse o causador da sua dor ou morte, ele... desculpa, ele me fez prometer que faria.
As lágrimas de Yasmin voltaram assim como as minhas, antes que deixasse que ela nos dominasse de novo eu puxei a morena pela cintura e a beijei novamente, essa que prontamente retribuiu, mas agora com mais fervor e desejo, era t***o, excitação, eu já podia sentir meu corpo quente, assim como sentia o dela, mas sabia que tinha que parar, apesar da guerreira ter um coração bom, piedoso, carinhoso, ele não era puro, somos duas pecadoras que não resistiram aos prazeres humanos, com certeza meu pecado era muito maior, mas Yasmin sofre pelo mesmo motivo, o pecado de amar, pois amor era um sentimento complexo no mundo celeste, se não for pelo Criador, qualquer ser do céu era proibido de demonstrar amor. Porém nós duas quebramos essa regra, carregando tal pecado nas costas. Escuto Yasmin soltar um leve gemido, o que me fez segurar mais firmemente sua cintura, porém ela se afasta rápido sem abrir os olhos, controlando seu desejo.
– Ok, ok. _ Digo apenas isso, pois era o máximo que eu podia fazer.
– O que vai ser agora? Digo...
– Eu não posso te oferecer nada agora, você sabe disso. _ Falo com sinceridade.
– Não se trata apenas de s**o.
– Eu sei, mas... eu estou queimando por dentro, eu poderia... _ Respiro próxima de sua boca. – Poderia sentir você agora mesmo, eu quero fazer isso. _ Mas me afasto e encaro seus olhos. – Mas eu não posso, eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a você por esse motivo. _ Yasmin segura o cabelo da minha nuca com certa força, fazendo nossos olhares ficarem mais conectados.
– Eu disse que irei onde você for.
– Eu sei que vai. Prometo o mesmo que já prometi, viver um dia de cada vez. Eu privei-me de amar por todos esses anos, não achava que era digna de sentir de novo, mas agora... _ Yasmin sorri. – Eu prometo que depois que acabar toda essa confusão e me deixar viver de novo, será você, com certeza a pessoa para estar ao meu lado, será você.
Recebo um sorriso de Yasmin de volta e logo depois sinto seus lábios contra os meus. Era hora de me deixar viver de novo, a minha promessa será cumprida, não permitirei que aquela mulher maravilhosa fosse mais uma das minhas vítimas.
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Depois de conversamos mais um pouco, deixando algumas coisas claras, vestimos nossas roupas e voltamos para a aldeia, sendo recebida imediatamente por Raziel e alguns índios que eu tinha certeza serem anjos.
– O que você fez? O que aconteceu aqui? Porque Samandriel está morto? _ Era visível a raiva nos olhos dele, o seu ódio por mim só não era maior do que o meu por ele.
– Você não sabe de tudo? Não é a você que a “energia” recorre? Então vai se f***r.
– Sua desgraçada. Diga o que aconteceu aqui. _ Sorrio e depois cuspo em seu rosto.
– Eu juro que ainda vou te m***r, Raziel, eu vou te fazer sofrer tanto quanto já me fez. _ O homem sorri irônico ao limpar seu rosto.
– Claro que você vai me m***r. Você se acha muito, não é? Só porque tem esse mistério por trás da sua existência, nem sabe se vais morrer amanhã, não seja ingênua, Jasmim, seja o que for, quando tudo acabar, você estará morta, seja por minhas mãos ou de um demônio, mas estará morta.
– Eu posso até morrer, mas te levarei junto, você é tão inútil que está seguindo ordens de uma luz que nem sabe o que ou quem é. Patético! Eu posso fazer as minhas escolhas, mas e você? Imprestável, na verdade, você só está amedrontado, se for Ele, você está mais fodido que qualquer um de nós, se Ele voltar você está ferrado, só está vivo ainda porque eles têm medo de que o Criador volte irritado, mas se eu fosse você preferiria morrer pelas mãos dos anjos agora, porque se Ele voltar, você será o primeiro da lista. Seu maior pecado é a inveja, você me odeia porque eu sou importante, já você... Patético, definitivamente patético. _ Vejo Raziel travar o maxilar e me sinto muito feliz com o que vejo, queria provocá-lo, fazê-lo sofrer.
– Sua bastarda miserável.
– Enfim você perde sua pose de bom moço, enfim você perde a sua postura, vamos, Raziel, faça o que tanto quer. _ Mais uma vez o vejo fechar seus punhos com força.
– O que vocês fizeram? Como você pôde a deixar matá-lo? Pelo jeito nem Samandriel era importante para você, és uma bastarda mesmo, um anjo pecador, um erro do Criador, agora uma mera mortal que nem chora pela morte da única pessoa que parece ter te protegido, uma decepção.
Dessa vez não consegui me segurar, avancei contra seu corpo, o jogando ao chão, tentei acertá-lo, mas logo sou segura por índios que me impedem de chegar até Raziel novamente. O homem se levanta com um sorriso vitorioso no rosto.
– Porque você o matou, Jasmim? _ Não falo nada. – Você não vai falar? Tem certeza de que vai fazer isso? _ Acabo sorrindo das suas palavras.
– Você não vai fazer nada contra mim. _ Raziel então se aproxima e segura meu cabelo, puxando para trás, me fazendo encarar seus olhos cheios de ódio.
– Diga-me de uma vez. _ Sorrio mais e depois cuspo em seu rosto de novo.
– Vá para a p**a que pariu. _ Ele limpa e depois me olha novamente.
– Acho que você ainda não entendeu uma coisa, você está certa, eu não vou te m***r, mas você é humana. _ Raziel leva sua mão para o meu pescoço e aperta com força. – Sei como a dor física pode ser insuportável para essa raça asquerosa.
O ar já faltava em meus pulmões, sentia que em poucos instantes eu poderia desmaiar, porém volto a respirar assim que Raziel se afasta.
– Entenda, eu posso fazer o que quiser com você.
– Faça, seu desgraçado, faça, não vai tirar nenhuma informação de mim, pode fazer o que quiser comigo. _ O líder dos querubins se afasta e o vejo me encarar com mais raiva ainda, porém de repente seu olhar suaviza.
– Você tem razão, nada que eu faça com você te fará falar, mas e ela? _ Então olho para trás e escuto o grito de Yasmin pela dor de um soco dado no seu estômago, meus olhos se arregalam e se enchem de lágrimas.
– Pare, seu miserável, pare com isso.
– Não fale, não fale nada. _ A voz da morena sai muito fraca, seu corpo curvado, eu sei que aquele golpe dói, apesar de anjo, ainda era possível sentir as dores, ainda mais sendo outro anjo lhe acertando.
– Fale ou ela sofrerá. _ Olho Raziel e vejo a certeza em suas palavras, sei que ele faria isso para ter o que queria.
– Seu...
Antes que eu termine de falar, sinto uma vontade absurda de vomitar, um enjoo, o corpo frágil e a cabeça doendo, eu conhecia aquela sensação, fizeram a nossa passagem, quando abro meus olhos vejo a garagem do hotel onde deixamos o meu carro, ao lado, estava Yasmin acariciando meu rosto.
– Tudo bem? _ Encosto minhas costas no automóvel e respiro fundo.
– Sim e você?
– Estou curada. Temos que sair daqui.
– Dirija, preciso descansar e pensar.
Apenas a vejo concordar com a cabeça. Raziel viria atrás de nós, porém, ele sabia que alguém estava me protegendo e independentemente de quem seja, o anjo estava amedrontado.