Daniel Ortega II

1012 Palavras
─ Que legal, não é? Eles deixam os alunos pintarem os armários. - Remarco. Elisa assente. Cada um tem um desenho único e criativo. Dá para ver a personalidade de cada aluno que o decorou. Alguns são bem fofos, outros estão pintados com comics, outros tem caricaturas, adesivos, assinaturas de Graffiti, uns quantos são mais góticos, outro mais hippies. Bem interessantes. De repente, sinto um vento passando por mim de um jeito violento, me deixando com medo. Quando giro o meu pescoço, vejo um garoto andando de um jeito agressivo, com passos largos. E por tanto engraçados, na minha opinião. Ele está usando uma bermuda jeans aberta nos joelhos e um moletom grosso com capuz, de cor cinza. Tem as pernas bem peludas com fios pretos, isso me arranca um risinho. Ele é bem alto e proporcionado. Assim de costas, só consigo ver o seu boné preto girado para trás. Está escrito "Harlem" nele. Harlem... Mais um europeu que pensa que é preto? Meu sorrisinho se expande um pouco mais. Vejo como ele se ladeia ao se encontrar com um garoto ruivo tão alto como ele. Os dois ficam de perfil, e estão rindo juntos, fazendo alguma brincadeira típica de meninos. O moreno gesticula muito, se agacha, parece ser bem feliz. Este cara ruivo é lindo. Começo a ficar vermelha e a fechar o meu sorriso. O ruivo está vestido todo de preto, com roupas muito ajustadas, taxas por todos os lados, e uma jaqueta de couro. Ele é muito chamativo. Seus cabelos são longos, um pouco abaixo do ombro, repicados e tingidos com um vermelho fantasia intenso. Vejo como, de repente, ele se ladeia na minha direção e na da Elisa. Não para olhar nós duas, mas como se apenas estivesse checando o ambiente num gesto automático. Giro a cara para o armário imediatamente. ─ É esse o meu. - Digo para Elisa. ─ Olha! É o Casandro! - Ela exclama, sorrindo. ─ Casandro? - Murmuro, rígida. ─ Sim, vem. Ele é amigo do meu cunhado. Assim socializamos um pouco com alguém conhecido. - Minha amiga diz sorrindo, e me puxando. Me giro, com vergonha, e vamos caminhando até o tal do Casandro. Ele acaba de dar duas palmadas amigáveis nas costas desse cara moreno, num gesto de despedida, e ele saiu caminhando com o seu ar despreocupado outra vez, enfiando as mãos nos bolsos da bermuda. ─ Oi, cara! - Elisa exclama com um grande sorriso. Os dois se abraçam e eu me afasto. Casandro esfrega as mãos pelas costas da Eli, sorrindo. ─ Elisa... Quanto tempo... O que é que você está fazendo aqui? - Ele lhe pergunta. Nossa, o Casandro tem uma voz rasgada, um pouco sombria, rouca e grave. Uma delícia. ─ Eu me matriculei para estudar Moda. - Minha amiga responde sorrindo. ─ E você?! ─ Estou acabando o segundo ano de Música. Hmmm... Já pode me soltar. Que escroto. Elisa o solta e dá um tapa no ombro dele. ─ Ei. Seu chato da p***a. Você segue rabugento como sempre. - Ela zanga. Casandro ri fraco, se divertindo. ─ Bom, já vou nessa. Tenho muitas coisas para fazer hoje. Às sete tenho que ir trabalhar. ─ Ah, então tá. - Responde Elisa, orgulhosa. O cara diz que vai trabalhar, mas para ela f**a-se. Tudo é um ataque pessoal. Casandro me olha uns segundos e depois abre um sorriso labial ladeado. Vai deslizando as pupilas por meus olhos, por meu nariz, por minha boca. ─ Eu sou Malvina, amiga da Elisa. - Corto o incômodo silêncio e sorrio fraco, tentando ser simpática. ─ Eu te perguntei alguma coisa? - Casandro rebate, franzindo as sobrancelhas, com um tom afável. Mesmo assim fico surpreendida e desconsertada com a falta de educação. O ruivo começa a rir com malícia. Ah! É só uma brincadeira. Os Europeus são ácidos fazendo amigos. Isso me choca. ─ Tá bom, então. Vai se f***r por aí, manézão. - Rebato. Acho que exagerei. Que nada. Ele já está rindo comigo, esse escroto. Casandro pisca um olho para mim de um jeito discreto, após nossos risos falsos, e vaza. ─ Ah, não liga para ele. Ele é muito borde. - Elisa me consola. E daí se ele é desagradável? Ele é gostoso, rockeiro e sabe ler partituras. Quero conhecê-lo melhor. De forma superficial, claro. Assim não tenho que despejar meus problemas pessoais em mais uma vítima. ─ Nem foi nada, amiga. Um i****a a mais. Eu já vou para casa. ─ Mas já?! ─ Já. - Rio. - Te amo. - Beijo sua testa, e me preparo para me afastar. Mas aí a Elisa me puxa para um abraço muito apertado, me esmagando. ─ Eu também, sua bobona. Você vai ver como vamos nos divertir aqui. - Ela sussurra, como se fosse uma promessa. ─ Eu sei. - Respondo, maliciosamente. — ♥♥♥ — A briga da Eduarda e do Matias em plena madrugada parece ruído branco. Para que seu espetáculo continue, estou cuidando do meu irmão. Eu tenho um refúgio mental para momentos de emergência. Uma bolha na que eu me enfio e não escuto nem entendo nada externo. A imaginação. O meu irmão já tem um ano e já sabe descer da cama sozinho. Seus risinhos são fofos, mas seu choro é enlouquecedor. A porta se abre bruscamente. ─ Você ouviu isso, Malvina? - minha mãe grita, me repreendendo. Ela quer que eu entre na briga e me enterre na cova junto com ela. ─ O quê? - Respondo, submissa. Meu padrasto aparece por trás, só de cueca. Nojento. ─ Bobagens. - ele tira importância. ─ Ele acaba de me bater! Olha aqui! - Minha mãe me mostra um hematoma roxo enorme. Fico calada. ─ Você contou para ela o que você fez? - Ele lhe pergunta, com uma postura superior. Eduarda está nervosa, lagrimejando. ─ Você não ouviu?! - ela grita comigo, girando a cabeça. Sigo calada e encolhida. ─ Enfim. - ele suspira zombeteiro. - Vou descer para tomar uma breja. Cada vez que o Matias abre a boca eu quero vomitar.
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