Dário
De perto, Serena Mancini tem a constelação mais fofa de sardas espalhadas pelo topo do nariz, logo abaixo daqueles olhos verdes radiantes. Agora, no entanto, eles estão arregalados de pura fúria, enquanto seus lábios macios e rosa-escuros disparam palavrões como uma metralhadora carregada de veneno.
Agarro seu braço, obrigando-a a virar o rosto para mim.
— Tire as mãos de mim, agora mesmo — ela exige. Seus comandos, apesar da raiva, são tão encantadores quanto suas sardas.
O mesmo cavalheiro alto do vídeo viral se aproxima, aparentemente pronto para impor a vontade dela, mas eu o encaro, desafiando-o em silêncio. Ele estala os nós dos dedos e gira o pescoço de um lado para o outro, preparando-se para o que acredita ser uma briga justa.
— Não, não, não. Afaste-se, Lurch. Não vamos destruir a igreja do Padre Andrews hoje. Minha esposa e eu vamos nos sentar para discutir... civilizadamente. Padre Andrews? — chamo, olhando para o padre que treme a poucos metros.
Ele gagueja, visivelmente nervoso. — Uh, sim... senhor Castellano?
— Pode nos levar para algum lugar mais reservado? Preciso ter uma conversa com a minha esposa.
— Pare de me chamar assim! E tire essas mãos imundas de mim! — Serena sibila ao meu lado, tentando se soltar. O movimento faz seus s***s contraírem sob a blusa de seda creme, despertando pensamentos que não deveriam surgir agora.
Maldição. Este não é o momento. É pior com ela bem na minha frente. Pelo menos numa tela, posso desligar, mudar o canal. Mas aqui, com minha Serena de carne e osso... ela é um perigo andante. Uma distração que nenhuma das nossas Famílias pode se dar ao luxo de ter.
O padre Andrews assente com a cabeça e nos conduz ao seu escritório. Solto finalmente o braço dela, e Serena esfrega a pele vermelha antes de se deixar cair no sofá. Um sofá no escritório de um padre? Curioso... mas conveniente.
Don Mancini e Tommaso nos acompanham até a sala, cada um tomando seu assento. Eu permaneço de pé, recostado na mesa. Serena balança o joelho impaciente, fazendo beicinho e murmurando insultos.
— Você realmente devia vigiar sua linguagem, meu doce. Está numa igreja — aviso, com um tom cínico.
Ela rosna e me encara, antes de deslizar o dorso da mão sob o queixo em minha direção, me xingando com um gesto universal.
— Serena — suspira Don Mancini, seus olhos castanho-escuros sempre carrancudos.
— Você mentiu pra mim. A Shay sabe de tudo, e eu? Nada? Isso não faz sentido. Um de vocês vai falar agora ou eu vou embora.
Ela ameaça, mas não se move. Ainda assim, estou pronto para contê-la se tentar.
Tommaso começa: — Nossas Famílias sofreram perdas. Don Castellano está doente. E seu político de bolso está desaparecido.
— Isso não explica por que ele insiste em me chamar de esposa. Shayra mencionou uma aliança, não um casamento.
Cruzo os braços e afago a barba. Essa história de acordo não foi minha ideia. Mas minha lealdade ao meu pai exige sacrifícios. Mesmo assim, não contar a Serena foi uma estupidez.
— O casamento sela a aliança entre as Famílias — digo com firmeza. — Não temos tempo para cerimônias simbólicas. As pessoas precisam acreditar que isso é real. Precisam temer a consequência de romper conosco.
— O que aconteceu até agora? — ela pergunta, seus olhos suavizando.
Don Mancini responde: — Shay foi atacada.
— O quê? Eu estive com ela! Ela estava bem, maquiada, dizendo que estava tudo certo!
Serena está confusa. Don Mancini exibe um sorriso orgulhoso — aparentemente feliz por Shayra não demonstrar fraqueza.
— Onde ela está? — pergunto.
— Principal Gott — Serena responde, usando o apelido da prisão feminina de Staten Island. — Achei que ela ficaria com os não violentos.
— Ela ia ficar — diz Don Mancini. — Mas uma das garotas Rinaldi a abordou, enviando um recado. Era só pra intimidar. Um corte, nada profundo. Mas foi suficiente.
— Posso falar com alguns dos guardas e garantir proteção contínua — ofereço.
Ambos me encaram, surpresos. Dou de ombros.
— A irmã da minha esposa não pode ser uma distração. Serena representa os Mancini ao nosso lado. E todos que fizerem negócios conosco devem entender que trair um é trair os dois.
— Por que os Rinaldi fariam isso com a Familia? — Serena murmura, apoiando a testa nos dedos.
Tommaso responde, controlando a raiva: — Após o ataque cardíaco de Don Castellano, tentamos manter segredo. Mas a notícia vazou em horas. Eles viram fraqueza. Acham que podem tomar tudo.
Ainda não sei o quanto disso é verdade. Confio em Tommaso até certo ponto, mas ele manipula informações. Sempre em nome da Família. Ainda assim, com meu pai no hospital, a estrutura da Castellano está trincada.
— Preciso falar com Serena a sós — anuncio. — Padre Andrews, prepare-se para continuar em breve.
Eles saem. Serena continua com raiva. Arrasto uma cadeira para perto dela, olho em seus olhos.
— Você está pensando em fugir. Eu sei. Mas tem que ir em frente com isso.
— Não preciso fazer nada. Casar com você está longe de ser um plano meu. Não acredito que a Shay me colocou nessa armadilha.
Dou uma risada. — Você teria vindo se soubesse?
— Salvatore faz tudo o que meu pai manda, mas eu teria dado um jeito de escapar.
— Por que ainda está em Nova York?
Ela pisca, surpresa.
— Porque estou cansada de ser tratada como uma boneca de porcelana. Principalmente quando isso vai arruinar minha vida.
— Ser minha esposa não vai arruinar nada. Mas você precisa se comportar. Isso é pela minha família. Pela sua.
— Sinto muito pelo seu pai, Dário.
Ah, a maneira como ela pronuncia meu nome... inferno. Não posso me deixar levar. Ela é linda, feroz, e minha maldita ruína.
— Obrigado. E então? Vai se casar comigo?
— Por que não podemosn dizer apenas que estamos casados?
— Porque se descobrirem que é mentira, perdemos tudo. Precisamos que acreditem. Que pensem que foi paixão à primeira vista. Que nos casamos no impulso. Eu protegerei você. Sua irmã. Sua família.
— Como sabe de tudo isso?
— Meu pai está doente, mas não está morto. E eu tenho aliados onde os Mancinis jamais chegaram. Comporte-se, Serena, e todos estarão seguros.
— E se eu não me comportar?
— Então você assina a sentença da sua própria Família. Sem proteção. Sem piedade. Os Rinaldi vão acabar com vocês. Isso não é um acordo. É uma aquisição hostil.
— Melhor eu do que Don Rinaldi — concluo.
— Não tem nada de doce nisso. E pare de me chamar assim — sibila.
Me levanto e ofereço a mão. Ela a aceita, rígida como uma tábua.
Ao sairmos, Tommaso sorri, Don Mancini faz um leve aceno, e o padre Andrews parece prestes a vomitar. Dante está com Salvatore, o maldito capacho que não ajuda em nada.
Serena está tensa a poucos metros do altar. O padre fala sobre votos e matrimônio. Não consigo evitar: percorro sua silhueta com os olhos. Seu perfume doce e floral me distrai. O arco da coluna, o contorno do quadril. Perdição.
Ela é um perigo. E perigoso é tudo o que não podemos permitir agora.
— Dário Castellano, aceita Serena Mancini como sua legítima esposa, para amá-la, honrá-la...
Olho para o padre. Ele está suando. Se eu não disser "sim", alguém talvez precise silenciá-lo à força. Mas sou um soldado. Faço o que é preciso.
— Sim — digo, para alívio geral. — E agora posso beijar a noiva?
Serena revira os olhos, mas eu a envolvo pela cintura.
— Vamos, meu amor. Temos que vender bem a mentira.
Mesmo com a expressão gélida, ela se inclina. Eu a beijo. Reclamo o que agora é meu.
Ela solta um som fraco, e eu me afasto. Já estou indo longe demais.
— Agora — digo, olhando para Salvatore —, garantirei que nenhum rato se aproxime de mim. Salvatore está fora.
— Nem pensar! — ela protesta.
— Vai aprender a me respeitar em público, Serena... ou vai me temer em particular. Ele está fora.
Meu tom encerra qualquer argumento. Todos obedecem. Todos, menos ela. A boca fechada, mas os olhos em brasa.
Tudo bem. Prefiro que ela fique calada. Ao menos até eu ter algo mais útil para enfiar nela.