Natalie
Odeio isso aqui e quero ir pra casa.
Servir bebidas e aperitivos a noite toda foi... ótimo. Estranho, mas ótimo. Me esforcei pra manter contato visual com todo mundo só pra não acabar olhando pras partes íntimas de ninguém. E, como a Sophia sugeriu, escolhi um canto agradável e tranquilo, com pouco ou nenhum movimento, pra evitar o pior.
E então Madeleine Fox, a própria artista performática, pegou minha mão e me arrastou pra frente da sala.
Eu teria protestado, mas estava confusa demais pra dizer qualquer coisa. Agora não tem escapatória. Não com cem pares de olhos diferentes me avaliando como um item de leilão. Eu sou um item de leilão. Embora Madeleine diga que o que está em jogo é o nosso tempo e nossas histórias, não confio em ninguém aqui que fique quieto demais.
Minha mente gira em espiral. Nenhuma das outras garçonetes parece particularmente preocupada, mas isso não me impede de surtar internamente. É melhor que isso não seja algum negócio assustador de tráfico s****l de culto, porque definitivamente está passando essa sensação. Olho pra saída. Será que eu conseguiria correr até lá antes que a fila do leilão me alcance? Merda. Mas ainda não recebi o pagamento.
Faço uma anotação mental pra xingar a Sophia quando eu chegar em casa.
Se eu chegar em casa.
Somos cinco na fila. Não tenho muito tempo pra escapar. Se ao menos eu encontrasse uma brecha que não exigisse passar por um bando de pintos e p****s — sem dúvidas o pensamento mais estranho que já me passou pela cabeça.
— Este é Johnny — diz Madeleine, apresentando o garçom do outro lado da fila.
— Ele é engenheiro mecânico durante o dia e garçom à noite. Tenho certeza de que tem... muitas histórias interessantes pra compartilhar. Vamos começar o lance com cinco mil.
Uma mulher particularmente empolgada lá no fundo da sala levanta a mão. Alguém oferece seis. A primeira mulher aumenta pra sete. A troca de lances continua até que a guerra termina.
— Quinze mil — anuncia Madeleine, animada.
— Você pode fazer o cheque em nome da Fundação Madeleine Fox. Muito obrigada por apoiar os esforços criativos dos jovens do centro da cidade.
O próximo garçom, um modelo com lindos cachos loiros e olhos verdes vibrantes, arrecada mais que o dobro. O outro consegue apenas oito. Me sinto estranhamente envergonhada por ele. Não é um valor baixo, mas comparado aos outros?
Ocorre-me, com crescente alarme, que minha vez está se aproximando rapidamente. Meu estômago dá voltas. Oh, Deus. E se ninguém quiser dar lance em mim? Quer dizer, eu não culparia ninguém por isso. Uma pessoa sã não gastaria milhares de dólares por uma conversa de uma hora — ainda mais comigo, que provavelmente não tenho nada interessante pra dizer.
No entanto, quanto mais penso nisso, mais humilhada me sinto. Não quero que ninguém dê lance em mim porque não sou um pedaço de carne... mas, honestamente, também ficaria mortificada se ninguém desse.
Respiro fundo, tonta e tremendo incontrolavelmente. Todo esse cenário é ridículo. Madeleine Fox é uma picareta e uma hipócrita. Ela diz que quer mostrar que somos todos humanos, mas está aqui colocando um grupo de pessoas num palco pra ser valorizado como se fosse gado. Ela não vê a ironia? Eu não dou a mínima se é em nome da arte. Nunca me senti tão desumanizada.
— E essa é... — Madeleine caminha até mim, colocando a mão no meu ombro.
Meu corpo fica rígido.
— Desculpe, querida. Qual é seu nome mesmo?
Engulo em seco, com a boca absurdamente seca.
— Sophia — minto. De jeito nenhum vou dizer meu nome verdadeiro. Além disso, esse deveria ser o show da Sophia.
— Sophia — ela repete com um aceno dramático.
— Me conta, qual é seu trabalho?
Não quero responder. Droga, eu nem queria estar aqui. Meu primeiro impulso é falar a verdade, mas aí penso que é melhor mentir. Ninguém aqui quer realmente me conhecer. E mesmo que quisessem, me recuso a fornecer informações pessoais. Decido inventar algo na hora.
— Sou modelo do OnlyFans — digo, sentindo as palavras queimarem na garganta.
Sinto vontade de ser impetuosa, grosseira. Que se danem esses esnobes da alta sociedade, suas festas peladas esquisitas e suas falsas causas nobres. Quero causar. Assustar esses babacas o suficiente pra me deixarem em paz, aí eu pego o salário da Sophia e vou embora.
— Hm... Somente OnlyFans? — Madeleine solta uma risada.
— Não sei exatamente o que você faz.
— Fotos dos pés — continuo, sem pedir desculpas. Dá pra ver que não sou do tipo “delicada” pela forma como os convidados cochicham entre si, sussurrando escandalizados.
— Vendo fotos dos pés pra desconhecidos online, pra pagar minhas contas. Às vezes, me masturbo diante das câmeras e vendo o vídeo.
— Oh, meu Deus, isso é...
— Você sabe como é. A vida é difícil às vezes, mas eu sou tenaz. Afinal, trabalho s****l ainda é trabalho.
Alguém ri no fundo da sala. Uma voz masculina, profunda, rica e alta. A sala está escura demais pra eu identificar de onde veio. Nem quero saber, pra ser honesta.
— Bem... isso é... interessante — diz Madeleine com uma risada desconfortável.
— Hã... vamos começar o lance com mil. Alguém?
O silêncio que se segue me dá vontade de desaparecer. Mas me recuso a deixar essas pessoas me verem desmoronar. Deixei todo mundo desconfortável. Ótimo. Mesmo assim, não dá pra negar a dor de perceber que acham que eu não valho nada. Gastaram uma fortuna a noite toda, e meu tempo não vale nem uma fração do que deram às outras?
— Dez mil — a voz de um homem corta o silêncio.
Meu coração dispara. Como é?! Dez mil, mesmo depois do show que acabei de dar? Quase reviro os olhos. Esses ricos realmente não têm nada melhor pra fazer com o dinheiro?
— Onze — diz outra voz, feminina.
— Quinze — anuncia outro homem.
Ah, não. Não me diga que eles vão começar uma guerra de lances. Minha história falsa era pra afastar todo mundo, mas agora, olhando os rostos na multidão, tudo que vejo é... curiosidade. Interesse. Eu não devia ter mencionado me masturbar por dinheiro. Sinceramente, espero que eles não pensem que vão ganhar um show. Querido Deus, eu realmente não devia ter falado nada.
— Vinte!
— Quarenta!
— Cem mil — diz claramente o primeiro homem que fez o lance. Um murmúrio de excitação percorre a sala. A coisa ficou séria.
Minhas pernas viram gelatina. Meus joelhos falham. p**a merda. Eu ouvi direito?
Cem mil dólares... por uma hora do meu tempo?
— Duzentos mil — outro diz.
— Trezentos.
Sim, estou sendo vendida. Quem na Terra gastaria tanto comigo?
— Trezentos e cinquenta!
— Quinhentos.
— Um milhão.
Eu reconheço a voz. É o mesmo cara do primeiro lance.
Meu coração quer sair do peito. Um milhão de dólares. Quem é esse cara, afinal?
O silêncio que se segue é absoluto. Ninguém mais oferece nada. Também, depois de um salto desse?
Madeleine Fox bate palmas, visivelmente satisfeita. Eu também estaria feliz se conseguisse um milhão pra minha escola de artes cênicas sem dar crédito a ninguém.
— Muito obrigada a todos pelo apoio — ela diz.
— Por favor, por aqui. O restante, aproveite o resto da noite.
Sou levada pela correnteza, confusa e ainda meio atordoada por tudo o que acabou de acontecer. Me guiam até um dos muitos quartos luxuosos da cobertura. De repente, minha pele esquenta, e os dedos das mãos e dos pés ficam dormentes.
Isso tá mesmo acontecendo? Quer dizer, com certeza nada r**m vai acontecer. Tem uma porção de testemunhas do outro lado da porta. E se o meu comprador misterioso tentar alguma gracinha... bem, pelo menos eu tenho alguns anos de aulas de autodefesa na bagagem.
Fico esperando por alguns minutos. Ou talvez horas. Realmente não sei dizer, concentrada demais na ansiedade do meu coração. Por que esse cara está demorando tanto? Só quero acabar logo com essa hora. Se ele me fizer esperar mais, é bem possível que eu me jogue e vá para casa. Cubro a metade do aluguel da Sophia com o pouco que tenho na minha poupança, se for preciso. Essa coisa toda foi um erro e******o.
Andando de um lado para o outro no quarto, mexo no meu cabelo. É uma bagunça de cachos rebeldes e desalinhados.
Puxo desconfortavelmente minha lingerie quase transparente, rezando para que tudo esteja coberto. Devo sentar? Ou ficar de pé? Sobre o que esse cara quer falar? Será que tenho algo que valha a pena dizer?
A porta para a sala range abrindo. Eu me viro, respirando fundo.
Um homem entra. Meu misterioso comprador. Até então, minha mente estava a mil com especulações, tentando, sem sucesso, fabricar uma imagem de quem ele era. Meu queixo cai ao vê-lo. Minha imaginação jamais poderia ter previsto o homem lindo e absurdamente sexy que entraria.
Ele é indiscutivelmente o homem mais sexy que eu já vi em minha vida.
Ele é cerca de 45 centímetros mais alto que eu, com peito largo e ombros fortes. Há fios grisalhos em seu cabelo e barba, ambos aparados e impecavelmente aparados. Ele é musculoso, mas não volumoso como um fisiculturista nojento. Pele bronzeada esticada sobre músculos arredondados, acentuando a protuberância de seus braços, suas coxas fortes e seu abdômen definido. Como todos os outros convidados da festa, ele está completamente nu, exceto pela máscara preta que ele usa sobre os olhos. Naturalmente, meus olhos são imediatamente atraídos para seu p*u. Engulo em seco, com a respiração presa na garganta. Dizer que ele é bem-dotado seria um desserviço. Ele parece uma estátua grega, cada centímetro dele esculpido com perfeição.
Aperto os joelhos, ignorando o calor úmido que me invade entre as pernas. Meu Deus. Devo dizer alguma coisa? Ou ele fala primeiro? Seja qual for a resposta, se eu não respirar logo, posso desmaiar.
Sem dizer uma palavra, o homem senta-se no sofá disponível, casualmente passando um braço sobre o encosto enquanto cruza as pernas. Seu cabelo castanho-escuro, seus olhos analisando meu corpo. Eu juro que posso sentir o desejo dele, a vontade que ele tem de tocar em minha pele, admirando meu corpo. Ele não diz nada por um longo tempo, o que me deixa extremamente nervosa. Não sei o que fazer.
— Tudo bem? — ele diz depois um momento. A voz dele é profunda. — Tire tudo — ele ordena.