ANNA NARRANDO
Planejar um baile como esse não é fácil, mas me sinto capaz. Durante minha antiga vida, planejei alguns e isso vai facilitar um pouco as coisas, porém, como irei envolver a família de Mattia também, tudo tem que sair perfeito. Estou ansiosa para tudo acontecer. A primeira coisa que fiz foi divulgar o evento e a data, que aconteceriam daqui um mês. É um tempo bom para um planejamento, já que prevejo cerca de mil pessoas. O orçamento inicial foi definido e certeiro: Tudo tem ocorrido conforme o planejado.
Estou na empresa, fazendo o que devo fazer, como sempre. Assinei alguns papeis, e então, vi uma movimentação do lado de fora da empresa. Era Bella, havia chegado com alegria. Ela está se aproximando cada vez mais do meu pai Harold, e isso é um perigo. Já vi essa novela uma vez.
Me levantei da minha cadeira e fui até o lado de fora. Foi aí que Bella veio até mim.
— É com você mesma que quero falar. — Ela disse e veio em direção a minha sala.
Entramos e ela fechou a porta atrás dela. Eu me sentei em minha cadeira, e ela sentou na cadeira à frente.
— Do que precisa, Bella? — Questionei. Ela suspirou de forma pesada.
— Fiquei sabendo que você vai dar um baile junto com os Moretti. Fiquei preocupada com você, Anna. Você sabe que não tem a capacidade de organizar algo desse tipo, você não viveu no nosso meio, não sabe do que as pessoas da minha classe social desejam.
— Entendo. Você veio aqui basicamente dizer que eu sou pobre e não sirvo para organizar um baile para gente rica, não é? — Eu sorri de forma irônica.
— Não, Anna, eu vim oferecer minha ajuda. Você não vai dar conta disso sozinha e sabe. Os Moretti pegarão ódio da nossa família, e eu acho que não é isso que você quer. — Eu suspirei de forma pesada.
Não quero entrar nos joguinhos psicológicos de Bella. Ela tenta fazer com que eu me sinta incapaz, mas eu não vou cair nessa.
— Não se preocupe, Bella. O efeito será oposto ao que você deseja. Seria maravilhoso pra você que eu estragasse tudo entre os Moretti e nossa família, não é? Você sempre está buscando motivos para falar m*l de mim... Mas você vai ter que engolir a família toda falando desse baile e de como isso foi positivo pra empresa. — Eu coloquei as duas mãos na mesa e me inclinei pra frente, em direção a ela. — E não, eu não quero sua ajuda. Não quero um dedo seu no meu baile.
Bella se levantou, com raiva.
— Você está cada vez mais insuportável.
— Se quiser participar de algo, compre um convite. — Pisquei um dos olhos para ela, que saiu batendo os pés, como uma criança mimada que foi contrariada.
Do lado de fora, ouvi Bella choramingando para meu pai. E então, os dois entraram no nosso escritório.
— Pai, essa maluca vai causar um desastre! Eu estou tentando ajuda-la, e ela não aceita! — Eu mantive a postura. — Esse baile vai sujar o nome da família!
— Você dará um baile para a alta sociedade? — Meu pai perguntou.
— Sim, darei. — Confirmei.
— E os Moretti serão os patrocinadores? — Eu concordei com a cabeça. — Onde foi que você se meteu?
— Olha, acho que você não está na posição de discordar de alguém como os Moretti. As empresas deles estão voando, diferente da nossa. Se eles decidiram confiar o baile a mim, quem são vocês para contrariar? A escolha foi deles, e a ideia do baile foi minha. Eu irei fazer, vocês concordando ou não. Isso impulsionará nossa empresa, não sei porque vocês estão desesperados assim.
— Devia deixar a Bella te ajudar, Anna. — Neguei com a cabeça.
— Não. Não quero a ajuda de Bella. Tenho a ajuda de quem preciso, e não preciso de mais nada.
Ouvi batidas em minha porta, e então, meu assistente surgiu.
— Bom dia, senhorita Anna. Estou atrapalhando? — Questionou.
— Não, eles já estão de saída. Em que posso ajudar?
— Senhor Mattia Moretti deseja falar com a senhora. — Eu sorri ao ouvir aquele nome.
— Peça para ele entrar. — Falei.
— Ótimo, vamos poder falar com ele pessoalmente sobre essa loucura! — Bella disse e suspirou. Eu girei meus olhos.
— Você não supera mesmo, hein, Bella? Meu Jesus...
Mattia entrou e cumprimentou a todos. Ele parecia incomodado com a presença de meu pai e Bella, mas permaneceu ali.
— Anna, preciso falar com você sobre... — Bella interrompeu Mattia.
— O baile é um erro, Mattia, principalmente se estiver nas mãos de Anna. Ela não sabe nada sobre a alta sociedade, como vai planejar um evento assim?
Antes que eu pudesse responder, Mattia a olhou bastante sério e ergueu as sobrancelhas.
— Está questionando a decisão dos Moretti como empresários, senhorita Jones? — Foi exatamente o que eu disse, mas saindo da boca de Mattia, parecia uma adaga entrando na barriga de Bella.
— Não, eu... — Ela tentou se defender.
— Eu acho bom não estar duvidando da nossa capacidade de confiar nas pessoas também. Confio no trabalho de Anna. E quanto ao que você acha que ela é incapaz de lidar, não se preocupe, eu ensino. Todas as decisões desse baile passarão por mim, pois meus avós irão assinar os cheques e pediram que eu olhasse bem de perto tudo que a senhorita Anna irá fazer. — Mattia finalizou.
— Ah... Fico mais tranquila... — Bella disse.
— Vou permanecer em silêncio depois desse comentário, porque corro o risco de ser grosseiro. — Mattia falou, incomodado.
— Vocês dois, podem nos dar licença? Eu acho que vocês já entenderam que o baile é assunto meu e do Mattia, não entenderam?
Bella saiu contrariada e meu pai saiu com cara de quem não liga para nada disso. Ele quer dinheiro e investimentos, não importa de onde venham. Mattia foi gentilmente até a porta e assim que eles saíram, ele a fechou e trancou com a chave.
— Obrigada por me defender. — Falei. Mattia sorriu.
— Não fiz nada de mais. Precisamos trabalhar juntos.
Mattia se sentou na cadeira em frente a minha mesa, e agora nos olhávamos nos olhos, separados por ela.
— Gosto quando usa camisa branca, Mattia. Na verdade, gosto quando usa camisa sem gravata, assim. Fica rústico. Combina com seu cabelo comprido amarrado nesse coque e com essa barba enorme e bem cuidada. — Ele sorriu ao me ouvir falar. Nas laterais de seus olhos, vi pequenas marquinhas se formando.
Ele tem um sorriso especial. Nunca o elogiei, e sinceramente, me arrependo de ter feito isso. Estou aproveitando as oportunidades que tenho para fazer melhor do que da outra vez.
— Obrigado, Anna. Você está linda hoje. Vamos falar sobre o baile? Tive algumas ideias e quero te apresentar.
— Claro, por favor, me fala.
Começamos a conversar sobre o baile e ele me apresentou algumas boas ideias, e eu apresentei meu esboço para ele. Mostrei os orçamentos de fornecedores e tudo mais. Passamos a manhã toda trabalhando nisso, esquematizando, ligando para alguns fornecedores e pedindo o que precisávamos. Mattia e eu nos demos bem nesse trabalho... Foi a primeira vez que eu e Mattia realmente trabalhamos juntos. Eu quis ouví-lo, e foi muito bom. Ele é um homem muito inteligente.
Trabalhar com ele, desse jeito, me fez lembrar de um pequeno sonho de infância que eu tinha: Eu queria ter minha própria pré-escola, comumente chamada de “creche”. Queria mesmo. Sempre gostei muito de crianças, meu sonho era trabalhar com isso. Não sei por qual motivo, mas trabalhar com Mattia desse jeito me fez enxergar que, se algum dia eu quiser seguir meu sonho, posso contar com ele.
— Anna, são duas da tarde e ainda não almoçamos. Meu estômago está reclamando. — Ele disse, em um tom engraçado.
— Deus, me desculpa! Vamos descer e almoçar no restaurante aqui em frente, eles ficam abertos até as três.
Descemos para ir para o restaurante. Eu estava muito empolgada, falando sobre o baile para Mattia, andando mais rápido que ele, quando de repente...
Fui atravessar a rua sem olhar para os lados, de tão distraída e empolgada que estava. Mattia agarrou meu punho e me puxou com tudo em direção a ele, o que me fez virar para frente dele, e nossos corpos colidiram. Meus olhos encontraram com os dele, e ele segurou minha cintura. O carro passou quase que imediatamente a minha colisão de corpo com Mattia.
Fiquei paralisada. Minha respiração ficou ofegante, eu estava assustada.
— Que tal não morrer antes do baile, Anna? — Ele disse, sorrindo. Deus, que sorriso.
— Me parece uma excelente ideia. — Respondi.
Ele soltou meu punho. Juro que fiquei com vontade de beijá-lo, mas estávamos no meio da rua, achei melhor não fazer isso. Quando nos afastamos, eu senti falta do corpo dele próximo ao meu.
Atravessamos a rua tranquilamente depois daquilo, e dessa vez, eu olhei para os dois lados.
Depois do susto, fiquei um pouco apreensiva e meu nível de empolgação abaixou um pouco. Eu não tive chance de fazer nem um décimo das coisas que eu queria fazer. E se eu tivesse morrido? E se Mattia não tivesse me segurado? É melhor eu não pensar nisso.
Senti a mão de Mattia em cima da minha, por cima da mesa. Isso me fez acordar do transe em que eu estava.
— Ei, fala comigo. — Ele disse e eu o olhei nos olhos. — Está assim por causa do incidente de agora pouco?
— Sim. Foi assustador. Eu tenho tanta coisa pra fazer, e... Eu gosto de como minha vida é agora. Não quero morrer. — Falei, convicta. Ele sorriu, parecendo orgulhoso.
— Isso é bom.
— É, é bom. — Respondi.
— Sabe, eu acho que já que aconteceu isso... Você devia me levar até a mansão onde o baile vai acontecer, assim, você se distrai ao mesmo tempo que trabalha. Continuamos as negociações com os fornecedores amanhã, Anna. — Eu concordei com a cabeça.
— Acho uma excelente ideia. — Sorri ao falar.
Fui pagar a conta, mas Mattia insistiu em pagar. Ele sempre foi um cavalheiro. Liguei para a locatária da mansão, e ela disse que eu poderia ir, que o caseiro estava realizando a limpeza, então, fomos para lá no carro de Mattia. Quando chegamos, ele se surpreendeu com minha escolha. Ela não foi aleatória, aliás. Na minha outra vida, a empresa dos Moretti fez um baile aqui e foi muito bem sucedido.
— Gostou, Mattia? — Perguntei.
— É linda. — Ele disse, enquanto caminhávamos pelo jardim. — Vamos ver como é o salão.
Entramos no salão de festas, enorme e muito sofisticado. O lustre central é o charme maior, e o estilo vitoriano é encantador.
— Esse salão é um dos mais bonitos que já vi. Ah, vamos montar a pista de dança exatamente aqui, embaixo desse lindo lustre. — Mostrei para ele.
— Só tem um jeito de saber se uma pista de dança é boa. — Ele comentou, e esticou a mão. — Vem, dança comigo. — Pediu.
Eu queria recusar. Sou péssima em dança, mas me lembrei do meu corpo encostado no dele mais cedo. Isso me fez querer dançar, apenas para tê-lo perto de mim.
— Eu não sei dançar. Você me ensina? — Ele concordou com a cabeça.
— É claro. — Confirmou.
Estiquei minha mão até a dele, que a pegou. Mattia passou um dos braços ao redor da minha cintura e me puxou para perto, o que fez meu coração acelerar.
— Viu? Sou péssima nisso. — Falei.
Meus olhos estavam firmes nos dele, e eu seguia os movimentos dele, tentando não errar. Dois passos para lá, e um para cá. Minha mão estava apoiada em seu ombro, e a outra, segurava sua outra mão.
— Pois eu acho você uma excelente aluna. Já está melhor que eu. — Mattia respondeu e eu ri.
— Só você, Mattia...
Eu vi os olhos de Mattia desviarem dos meus e observarem minha boca. Se ele soubesse o quanto eu quero isso, já teria me beijado há tempos. Será que ele está sentindo o mesmo que eu?