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752 Palavras
A chuva tinha engrossado no meio do caminho.
Caminhei sem rumo por uns vinte minutos, as gotas molhando meu cabelo, minhas roupas, a alma. O som dos carros passava distante. Tudo parecia abafado, como se o mundo tivesse abaixado o volume só pra deixar espaço pro que eu estava sentindo.
Raiva. Confusão. Tristeza. E o pior de tudo: saudade. Mesmo sem ter me afastado por completo, meu corpo já sentia falta do toque dele, da forma como ele me olhava, do jeito que falava meu nome com aquela rouquidão irritantemente linda.
Mas eu precisava respirar.
Encontrei abrigo numa pequena cafeteria aberta 24h, com luzes quentes e cheiro de pão recém-assado. Pedi um chá que não pretendia beber e me sentei perto da janela, observando as gotas descerem pelo vidro como se fossem parte da minha própria confusão.
Peguei o celular. Duas mensagens de Cassie.
Cassie: Tá tudo bem? Vi a Chelsea postando uma story esquisita com uma indireta...
Cassie: Por favor me diz que você não tá com ele agora.
Eu não respondi. Não tinha palavras. Só um vazio do tamanho da bagunça que o Jace carregava — e que agora escorria pra dentro de mim.
Quando finalmente cheguei no alojamento, já eram quase quatro da manhã. Me enrolei numa toalha seca, liguei a luz baixa do abajur e me sentei na cama, olhando fixo pro nada.
Ele não mandou mensagem.
Não ligou.
Talvez esperasse que eu fosse correr.
Mas a verdade é que... eu corri a vida inteira. E agora, eu estava cansada de correr.
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No dia seguinte, arrastei meu corpo até a primeira aula, sentando no fundo da sala. Cassie veio até mim com o celular na mão e expressão preocupada.
— Ok, primeiro: você tá bem? Segundo: a tal da Chelsea postou uma selfie com a legenda "Alguns caras sempre voltam, mesmo que só em pensamento." Com localização marcada: o prédio do Jace.
— Ótimo — murmurei, colocando a cabeça entre as mãos.
— Amiga... me fala que você não tá achando que isso é verdade.
— Eu não sei o que pensar, Cassie. Eu vi o jeito como ela olhou pra ele. E o jeito como ele congelou. Ele nunca ficou assim antes. Parecia... envergonhado. Culpado.
Cassie sentou do meu lado e cruzou os braços.
— Culpado, talvez. Mas não pela Chelsea. Culpado porque ele te deixou entrar demais pra continuar mentindo. Isso assusta cara assim.
Fiquei quieta.
E então, no fim da tarde, ele apareceu.
Na porta do alojamento. Molhado. Camiseta grudada no peito. Cabelos pingando. Como se a tempestade lá fora tivesse se tornado parte dele.
— Eu preciso falar com você — disse.
Cassie olhou pra mim. Eu assenti.
Ele me seguiu até a sala comum do prédio. Estava vazia, só com uma luz acesa no canto e o cheiro de café velho no ar.
— Fala — eu disse, de pé, com os braços cruzados.
Ele respirou fundo. As mãos trêmulas.
— Eu não dormi com ela de novo. Nem falei com ela desde aquele dia. Eu te juro por tudo que eu sou.
— Então por que ela apareceu? Por que achava que ainda tinha algo?
— Porque eu nunca fui claro o suficiente. Nunca tive coragem de encerrar as coisas com um ponto final. Só deixei a vírgula e fui embora.
— Isso não é justo. Nem com ela. E principalmente, não comigo.
— Eu sei. Eu tava sendo um covarde.
— E agora?
Ele se aproximou um passo. Só um.
— Agora eu tô aqui. Dando a cara a t**a. Porque você é a única pessoa que me fez querer ser melhor do que eu fui. E se isso não vale uma segunda chance, eu não sei mais o que vale.
O silêncio ficou entre nós por um tempo.
— Você gostava dela? — perguntei.
— Achei que sim. Por um tempo. Mas nunca foi como é com você. Com ela, era zona de conforto. Com você... é queda livre.
Respirei fundo. Me aproximei devagar.
— Acontece que eu não sou ela, Jace. Eu não fico esperando a porta abrir. Eu bato, sim. Mas se ninguém atende... eu vou embora.
Ele segurou meu rosto com cuidado.
— Eu não quero que você vá embora.
— Então me prova. Para de fugir de quem você é. E de quem eu sou também.
Ele assentiu. E dessa vez, quando me beijou, foi diferente.
Não era um pedido de desculpas. Era uma promessa silenciosa.
E pela primeira vez... eu comecei a acreditar nela.
- Escritor
