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691 Palavras
Era engraçado como, mesmo depois de tudo, ele ainda me deixava sem chão. Na manhã seguinte, a luz entrava suave pelas cortinas do quarto do Jace. Eu estava deitada de lado, os cabelos bagunçados no travesseiro dele, observando os traços do seu rosto ainda adormecido. As pálpebras pesadas, os cílios longos, a boca levemente entreaberta. O peito subia e descia devagar, como se o mundo estivesse em paz, mesmo que só por um tempo. Ele parecia tão mais leve dormindo. Quase... inocente. Estendi a mão devagar, tocando a curva do maxilar dele com a ponta dos dedos. Ele se mexeu suavemente, e então abriu os olhos. — Tá me encarando? — ele murmurou, a voz grave e rouca, ainda carregada de sono. — Tô te analisando — sussurrei. — Tentando entender como alguém tão bonito consegue ser tão bagunçado. Ele sorriu de lado. — E qual foi a conclusão? — Que a bagunça faz parte do pacote. — Sorte sua que eu beijo bem. — Sorte minha mesmo. Rimos baixo. E pela primeira vez em dias, eu senti um tipo de paz que não vinha de promessas ou palavras — mas de presença. Ficamos ali por mais um tempo, enrolados nos lençóis, a respiração sincronizada, como se o resto do mundo tivesse sido pausado. ⸻ Mais tarde, caminhamos juntos até o campus. Ele insistiu em segurar minha mão o tempo todo, como se quisesse deixar claro que eu era dele agora. E eu... eu deixei. Pelo caminho, algumas pessoas olhavam, outras sussurravam. Eu sabia que andar ao lado de Jace Maddox não era como andar com qualquer cara. Ele carregava história. Reputação. E agora, de alguma forma, eu fazia parte dela. Quando chegamos na praça central, ele parou de repente. — Quero te mostrar uma coisa. — Agora? — Agora. Seguimos por um dos blocos menos movimentados da universidade até chegar numa porta lateral. Ele tirou uma chave do bolso e destrancou. — Como você tem a chave disso? — Digamos que eu fui estagiário do setor de manutenção por umas semanas no semestre passado. E nunca devolveram a chave. — Claro que não. Lá dentro, era uma sala pequena, com paredes de concreto, uma janela alta e uma escada de acesso ao telhado. Jace apontou. — Vem. Subimos. E quando emergimos no topo do prédio, o ar frio bateu no rosto, e a vista me tirou o fôlego. Seattle se espalhava diante de nós. O sol começava a descer no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa. As luzes da cidade se acendiam aos poucos. E o mundo parecia respirar com calma. — Esse é meu lugar — ele disse, sentando perto da borda. — Quando tudo pesa, é aqui que eu venho. Pra lembrar que tem mais do que só os meus erros. Me sentei ao lado dele. Ficamos em silêncio por alguns minutos. A brisa balançava meu cabelo, e o calor da presença dele me ancorava. — Você me assusta, às vezes — confessei. — Eu? — É. Porque você sente tudo muito fundo. E às vezes, parece que se afoga nisso. Ele encarou o horizonte. — Eu sinto tanto porque, por muito tempo, não senti nada. E quando a represa quebrei... veio tudo de uma vez. Me aproximei, encostando a cabeça no ombro dele. — Eu não posso te salvar, Jace. Mas posso ficar com você enquanto aprende a nadar. Ele virou o rosto, encostando os lábios no topo da minha cabeça. — Você já me salva só por existir. Ficamos ali até escurecer de vez. E por um tempo, foi só isso. Nós dois, o céu, e a cidade aos nossos pés. ⸻ Naquela noite, voltamos para o alojamento juntos. Eu dormi no meu quarto, ele no dele, mas antes de se despedir, me abraçou tão forte que por um momento achei que não ia soltar. — Boa noite, Ellie. — Boa noite, Jace. Já deitada, fiquei encarando o teto, ouvindo as batidas do meu próprio coração. Ele ainda era caos. Ainda era instável. Mas, de alguma forma, agora... era meu caos também. E naquele instante, isso era tudo o que eu queria.
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