Capítulo 2

2319 Palavras
Natalya — Você está tão fofa nisso! — exclama Emilly. Dou de ombros. — Eu sei. — Giro diante do espelho, observando o minivestido verde-floresta que estou usando. Estamos em uma das butiques mais chiques de Barcelona. Emilly é uma americana com quem fiz amizade quando cheguei à Espanha há cerca de um ano. Ainda não sei falar espanhol, mas reconheço uma loja de roupas bonitinha quando vejo uma. — Não, sério mesmo. — Ela bate palmas, animada. — Eu me mataria por um corpo como o seu. Como se eu fosse me matar pra ter isso. Olho para ela através do espelho. — Emilly, suicídio é e******o. Só... patético. Pessoas fazem isso, sim, mas você não é patética, é? Ela franze a testa, o que parece deslocado em seu rosto de bebê. — Não, acho que não. — Ótimo. Agora vou experimentar outro vestido. — Fecho a cortina atrás de mim ao entrar no provador. Pilhas de roupas me encaram de volta. A loja tem uma política de apenas cinco peças por vez no provador, mas os convenci a me deixar levar mais de vinte. Uma garota precisa de opções. Não vou me limitar por causa de uma regra i****a. Tiro o vestido verde e experimento um rosa-claro em seguida. — E agora? — pergunto a Emilly ao sair. — Ah, você está fabulosa! O que acha deste aqui? — Ela gira diante de mim, usando um vestido no tom roxo. — Emilly , querida, esse tom não combina com o seu tom de pele. Tenta outro. Ela corre de volta para o provador, e eu volto minha atenção ao espelho. Fico ótima com esse vestido rosa. Ele destaca os reflexos do meu cabelo castanho e faz meus olhos azuis brilharem. Eu sei que estou linda. É um visual que venho aperfeiçoando há anos, e tenho orgulho disso. Emilly retorna com um vestido amarelo. — Sim? Não? Já balanço a cabeça antes que ela termine. — Definitivamente não. Já te disse, vista-se de acordo com o seu tom de pele. Amarelo te apaga. — Mas a única cor que você diz que combina comigo é o preto! Eu não quero usar preto o tempo todo. — Às vezes, a gente precisa sacrificar desejos pelo bem do estilo. Agora, terminei aqui. Vamos. — Pego o vestido que escolhi enquanto Emilly me segue com o único pretinho básico que lhe caiu bem. Não sou uma v***a. Só sou honesta. E vou te dizer se você estiver horrível em alguma coisa. Acredito que as pessoas devem se vestir da melhor forma possível, sempre. Por que perder tempo com algo que não te favorece? A vendedora, Isabella, está atrás do balcão, observando a montanha de roupas que deixei no chão. — Adorei sua blusa — digo a ela. Mentira. Acho horrível. Mas só minto quando quero alguma coisa — e quero que ela não me olhe torto enquanto passo o cartão. Talvez eu não seja sempre honesta, mas uma garota tem que fazer o que for preciso pra sobreviver. Isabella sorri. — Obrigada — diz ela, com um belo sotaque espanhol. — E esse também. — Aponto com a cabeça para o vestido rosa que ainda estou usando. Levanto a etiqueta, e ela o embala com o restante. Olho para Emilly , que abraça o vestido preto como se fosse um troféu. — Emilly , leva. Eu compro pra você. — Puxo meu Visa, com saldo infinito. O bom de ter um irmão rico é que o dinheiro nunca acaba. — Tem certeza? — ela pergunta, hesitante. — Emilly , claro que tenho. É pra isso que servem as amigas. Posso ser brutalmente sincera às vezes, mas nunca deixo uma amiga na mão. Se precisa de roupas, eu resolvo. Depois de pagarmos, saímos da loja direto para jantar. Barcelona parece ter sido feita pra mim: gente bonita, festas noturnas, comida boa. E agora que tenho um vestido novo, preciso exibi-lo — o que significa uma balada. Emilly apressa o passo para me acompanhar. Tenho pernas longas e gosto de andar rápido — e de exibi-las, claro. — Pra onde vamos agora? — pergunta ela, já sem fôlego. Pobre Emilly . Ela estaria perdida sem mim. Nos conhecemos quando me mudei pra cá com meu irmão. Ela estava hospedada com uma família local, fazendo faculdade, e foi a primeira americana que encontrei por aqui. Me fez sentir menos deslocada. Apesar da minha família ser russa, nasci e cresci em Nova York. Só sei inglês. Outras línguas até parecem legais, sensuais até, mas aprender dá trabalho — e trabalho consome tempo que eu poderia gastar comprando roupas. Sergei, meu irmão, voltou pra Nova York há um mês. Desde então, sou só eu e Emilly por aqui. Nem tive notícias dele, mas confio. Que ele está fazendo negócios, e sei que vai voltar por mim. Fugimos de Nova York depois que o antigo chefe dele, Konstantin Smirnov, quase o matou. Achei que fosse perder meu irmão naquela noite. Quase fiz Konstantin pagar... mas perdi a coragem. A esposa dele, Faina, interveio e o convenceu a deixar Sergei viver. Poderíamos ter ido para a Rússia, onde temos parentes, mas eu recusei. Regras demais. A Espanha parecia mais... divertida. Praias, sol, drinks com guarda-chuvinhas. Sergei cedeu. Nos meses que passamos aqui, ele se recuperou. Konstantin desfigurou o rosto dele. Meu irmão, que sempre foi bonito, ficou irreconhecível. Fiquei com raiva. Sergei nunca contou tudo sobre o trabalho dele, mas eu sei o suficiente. Máfia. Felizmente, ele me manteve longe disso. Nunca me envolvi. Nossos pais morreram quando eu tinha quinze. Perguntei se eles também estavam envolvidos, mas ele garantiu que não. Disse que começou no mundo de Konstantin por necessidade. Um mês sem notícias. Tento não me preocupar. Mas sei do que Konstantin é capaz de se cuidar. Se Sergei foi atrás dele… … não sei o que isso significa. E odeio não saber. Por isso me agarro à Emilly , às compras, à moda. Roupas não machucam. Aqui estou segura. — Natalya? — a voz de Emilly me puxa de volta à realidade. — Qual balada a gente vai? — Ah, não me importo. Escolhe uma. Eu só... preciso dançar. — E dançar é o melhor jeito de afastar a preocupação. Em meia hora, Emilly e eu acabamos em uma boate chique no coração da cidade. Está lotada de gente suada pulando e cantando junto com a música. Normalmente, eu odeio gente suada — são nojentas —, mas adoro dançar e exibir minhas roupas, então aguento. Vamos direto para a pista de dança, jogando os cabelos para trás e balançando os quadris no ritmo da batida. O ambiente vibra, o chão quase pulsa sob meus saltos. Um homem magro, com longos cabelos negros e um sorriso pretensioso, me encara e começa a vir na minha direção. — Não estou interessada — digo, levantando a mão antes que ele possa sequer chegar perto. — Mas eu nem falei com você ainda — ele rebate, com um ar de ofensa. — Bem, agora falou. Tchau, tchau — faço um gesto para ele sair, como se estivesse enxotando um inseto. — Você é americana — diz ele, com um sorriso insinuante. — Obviamente. Agora suma. — Eu adoro mulheres americanas. Vocês são todas tão... ousadas. Seu olhar desliza por mim, me fazendo estremecer — mas não de um bom jeito. — Entendeu a indireta? Não estou interessada. E não danço com homens que se vestem como você. — E como eu me visto? — Como um desleixado. E com cheiro de cerveja barata. Agora, vá embora. — Ela disse pra ir embora — Emilly diz em voz baixa, tentando ser firme. O cara resmunga, mas finalmente se afasta. — Obrigada — digo a ela. Ela cora. — Fico feliz em ajudar uma amiga. Dou risada, e logo voltamos a dançar. Felizmente, nenhum outro i****a cruza meu caminho. A verdade é que não me interesso pela maioria dos homens. Sergei sempre disse que eu deveria esperar até o casamento, e por mais antiquado que isso soe, essa ideia ficou comigo. Não que eu esteja esperando por um príncipe encantado — só ainda não conheci ninguém que valha meu tempo. A maioria é entediante, superficial e só fala de si. Eu quero alguém que me faça sentir algo de verdade. O único problema é que eu já sou boa demais em iluminar minha própria vida — então é difícil qualquer homem competir. Continuo dançando, girando os quadris, sentindo os olhares me seguirem. Mesmo achando homens chatos, ainda aprecio atenção. Eu tenho um ego. E daí? É então que o vejo. Encostado no balcão, um homem me chama atenção de verdade. Cabelos loiro-escuros quase castanhos sob as luzes da boate. Tatuagens decorando os braços. Um ar perigoso. Engulo em seco. Ele é lindo. Mas beleza, sozinha, não me convence. — Você devia ir falar com ele — Emilly diz, acenando discretamente em direção ao cara. — Não. Prefiro dançar com você. — Natalya, até eu tenho namorado. Não entendo por que você não tem. Reviro os olhos. — Você não tem namorado, Emilly . Você tem um parceiro de f**a. Ela pisca, surpresa. — O quê? — Nataniel . Ele só gosta dos benefícios de namorada que você dá a ele, sem oferecer nada em troca. — Mas... a gente faz sexo... — Exatamente o meu ponto. E ele nunca te chamou de namorada. Se ele realmente fosse seu namorado, estaria aqui dançando com você em vez de mim. Emilly franze a testa, visivelmente abalada. — Eu... não sei o que pensar. Acaricio seu braço com delicadeza. — Confie em mim, Emilly . Eu sei do que estou falando. Ela hesita. — Mas, Natalya, você ainda é... uma virgem — sussurra, como se fosse um segredo sujo. Dou um leve bufo. — Não tenho vergonha nenhuma de respeitar meu corpo. Agora, ou você aceita o Nataniel como ele é, ou segue em frente. Mas não finja que ele é algo mais. Ela assente, sem falar mais nada. — Podemos parar de falar sobre isso e dançar? — Claro. Mas pense no que eu disse. Giro sobre meus pés e paro abruptamente. Meu coração dá um salto. Por um segundo, vejo alguém tão parecido com Sergei que sinto um soco no peito. Não é ele, mas a lembrança me atinge com força. — Emilly , vou sair um minuto, ok? Ela acena distraidamente enquanto continua dançando. Eu caminho para a saída dos fundos, sentindo a brisa quente da noite acariciar minha pele. Meus dedos tremem quando pego o celular e ligo para Sergei. — Por favor, atende. Por favor... O telefone toca. E toca. E toca. Sergei nunca me ignora. Nunca. Um nó se forma na minha garganta. Algo está errado. Eu sinto. — Precisa de ajuda? — pergunta uma voz masculina e profunda atrás de mim. Dou um grito e me viro. Lá está ele. O cara do balcão. Ainda mais bonito de perto. Guardo o celular rapidamente na bolsa. — O que você está fazendo aqui? Só então percebo que estamos sozinhos no beco lateral da boate. Onde estavam meus instintos? Por que diabos saí pelos fundos? — Só precisava de um cigarro — responde ele, acendendo um com calma. Torço o nariz. — Que hábito nojento. Ele dá uma risadinha rouca. — Você não é uma coisinha crítica? — Só estou dizendo. Fumar é nojento. Te mata mais rápido e te deixa com cheiro de cinzeiro. Ele solta uma baforada de fumaça, e, ok — admito, ele fica estonteante fazendo isso. Ainda assim, continua sendo nojento. — Eu não me importo com o que você pensa, princesa. — Eu não sou uma princesa. Seus olhos percorrem meu corpo, e diferente de todos os homens, seu olhar me faz estremecer de um jeito... bom. — Você age como uma, princesa mimada. — O que você quer dizer com isso? Começo a caminhar de volta para a porta. — Não vou ficar aqui ouvindo você me insultar. — Mas também é graciosa. Há uma elegância em você. Lanço-lhe um olhar afiado. — Você realmente acha que essa cantada funciona? Ele esmaga o cigarro com o pé. — Não sei. Está funcionando? Faço um som entre um riso e um bufo. — Nem um pouco. Agora, vou voltar para dentro. — Eu teria cuidado se fosse você. A pele da minha nuca arrepia. — Por que diz isso? — Nunca se sabe quem vai encontrar por aqui. É um mundo perigoso. Olho para ele por cima do ombro. — Você é perigoso? Seu sorriso é sombrio, enigmático... e absurdamente atraente. — Siga-me e descubra. — Ah, isso é um não categórico. Você é um estranho. Eu não sigo estranhos. Ele estende a mão. — Sou o Andrey. Um nome russo. Que coincidência. Nunca conheci outro russo aqui. Ele também é americano — percebo isso agora pelo sotaque. Mas algo nele me incomoda. Um alerta silencioso. E, ainda assim... sinto algo. Algo lá embaixo. Algo que nunca senti com nenhum outro homem. Por que esse estranho faz isso comigo? Ele é personificação de beleza sombria e perigosa. Sua pele morena contrastava com os olhos escuros como a noite, intensos e penetrantes, capazes de desnudar segredos com um único olhar. O cabelo preto, espesso e levemente ondulado, caía com elegância controlada sobre a testa, dando-lhe um ar selvagem e ao mesmo tempo refinado. Cada traço de seu rosto era esculpido com precisão — mandíbula forte, nariz reto, lábios firmes que raramente sorriam, mas quando o faziam, carregavam ameaça e fascínio em igual medida. Era o tipo de beleza que despertava desejo e medo, impossível de ignorar. Não pego sua mão. — Eu vou voltar para dentro. Abro a porta com pressa e entro correndo, engolida pela segurança da multidão. Mesmo assim, posso sentir o olhar dele queimando nas minhas costas, mesmo através da porta.
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