Natalya
— Eu não estava tentando te assustar.
— Bem, foi exatamente o que conseguiu. Agora, se puder sair da frente... — eu o encaro, fria.
Ele ri baixinho, com aquele sorriso presunçoso. — Tudo bem, princesa. Divirta-se com suas comprinhas.
Respiro fundo e me viro de volta para ele. — Você está me seguindo?
Andrey me lança um olhar inocente enquanto acende um cigarro bem diante de mim, sem qualquer vergonha.
Nojento. Minhas roupas novas vão ficar com cheiro de nicotina velha. Odeio isso.
— O que te faz pensar isso? — ele pergunta, soltando a fumaça lentamente.
— Eu vi você hoje cedo, do lado de fora do café. Agora, aqui, na frente da loja onde eu estava. Isso não parece coincidência.
Ele traga o cigarro mais uma vez. — Não tenho uma boa resposta pra te dar.
— Que p***a isso quer dizer?
Ele apenas dá de ombros, como se não devesse satisfações. O olhar dele continua preso a mim, me estudando com aquela intensidade desconcertante.
— Tanto faz. — reviro os olhos, saco o celular e começo a rolar a tela como se ele já não existisse. — Não tenho tempo pra esse joguinho.
— Ah, claro. Grande dia de compras pela frente? — ele debocha, como se fosse a coisa mais trivial do mundo.
— Exatamente isso. E se você puder tirar esse cigarro asqueroso da minha frente, eu adoraria seguir com meu dia.
Ele abre os braços num gesto teatral. — A calçada é pública. Fique à vontade.
Limpo a garganta e levanto o queixo. — Ótimo. — Tento manter minha dignidade intacta ao me afastar dele, mas a irritação ainda pulsa sob minha pele.
Andrey mexe comigo de um jeito que não gosto. Me desconcerta, me tira do eixo — e o pior é que ele sabe disso.
O resto do dia se passa entre vitrines, provadores e sacolas... até que chega o desastre. Minha última parada antes do jantar, numa boutique charmosa, termina com a atendente me encarando com impaciência.
— O cartão foi recusado — ela diz, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— O quê? — franzo a testa. — Deve haver algum engano.
Ela repete o processo com um suspiro. Mesma resposta. Recusado.
— Isso não faz sentido... — murmuro, mais para mim do que para ela. Pego outro cartão da carteira. Mesmo resultado.
Meus pulmões parecem apertar. Sergei ainda não me retornou. E agora isso? O que diabos está acontecendo?
Tento manter a compostura, mas o pânico começa a se instalar. — Volto amanhã para resolver isso. Guarde essas peças, por favor.
— Claro — ela diz, num tom educado demais para ser sincero.
Saio da loja com o coração pesado, me sentindo ridícula. É como se o mundo tivesse desabado de repente. Meus pais morreram. Meu irmão sumiu. Agora meu dinheiro desapareceu? Eu não tenho ninguém.
Claro, tenho a Emilly , mas ela é só uma universitária que divide apartamento comigo e come macarrão instantâneo. E eu? Eu nunca trabalhei. Mulheres como eu não trabalham. A gente sobrevive com herança, charme e um bom par de pernas. Pelo menos era assim... até hoje.
Meus pensamentos são interrompidos quando vejo, parado na frente do meu prédio, como se estivesse me esperando, Andrey. De novo.
Idiota. Lindo. Aterrorizante.
Ele ainda não me viu. Poderia dar meia-volta. Mas ele está exatamente na frente da entrada. Não tenho escolha.
— O que você está fazendo aqui? — disparo, assim que me aproximo.
Ele se vira calmamente, como se já soubesse que eu estava ali. — Você deixou isso cair. — Ele estende uma sacola pequena.
Pego a bolsa, confusa. Dentro, um porta-joias. E dentro dele... um colar de diamantes simplesmente deslumbrante.
— Isso não é meu.
— Eu comprei pra você — ele diz, casual, como se fosse normal.
Fico em silêncio por um momento, observando o brilho frio do diamante. Andrey está com jeans escuros e uma camiseta justa que revela seus braços tatuados. Tem algo de perigoso nele. Algo... atraente.
— Você não precisava comprar isso pra mim — murmuro, tentando soar firme.
— Mas eu quis.
Seus olhos me prendem com uma intensidade que me deixa desconfortável... e estranhamente excitada. Isso nunca acontece. A maioria dos homens me enoja. Mas ele não.
— Bem... obrigada. Mas eu vou entrar agora.
— Não vai me convidar pra subir?
Dou uma risada curta. — Claro que não. O que te faz pensar isso?
— Talvez eu tenha me enganado — ele dá de ombros, mas o olhar que lança em seguida percorre meu corpo, como se quisesse me despir com os olhos.
Deus. Que diabos está acontecendo comigo? Por que estou reagindo assim a um perseguidor?
— Boa noite — ele diz com um sorrisinho torto. — Até logo.
Isso foi uma promessa... ou uma ameaça?
— Uhum — murmuro, entrando no prédio às pressas. Subo correndo as escadas até meu apartamento, fecho a porta e, sem pensar duas vezes, enfio uma cadeira embaixo da maçaneta.
Sim, estou sendo paranoica. Mas Andrey tem me seguido. Tenho certeza.
Tento seguir com a noite. Assisto a um filme sem graça, olho o celular. Mando mensagem pra Emilly . Ela responde: “ Estou com o Nataniel . Falo depois." Claro. Sexo. Ótimo.
Suspiro e me afundo no sofá. Minha vida está desmoronando e eu nem sei por onde começar a reconstruí-la.
Tomo um banho rápido, visto um pijama confortável e tento dormir. Preciso descansar. Amanhã dou um jeito.
Mas no meio da noite, acordo com um som estranho. Meus olhos se abrem e tudo o que vejo é a parede do quarto. Algo está errado.
Tem alguém aqui. No meu quarto.
Meu coração dispara. Estou paralisada pelo medo. O ar parece preso na minha garganta. Preciso olhar. Preciso saber. Mas meu corpo não coopera.
Um passo. Alguém está aqui.
Com esforço quase sobre-humano, forço o braço a se mover até o criado-mudo. Pego o spray de pimenta. Viro de costas, num impulso desesperado...
E borrifo no escuro.
O som de passos correndo. E então alguém aperta a minha boca e arranca o spray de pimenta da minha mão. Tento gritar, mas minha voz está abafada demais.
— Fique quieta — , diz uma voz familiar. — Tudo isso teria sido mais fácil se você me convidasse para entrar antes, mas provou ser difícil.
Meus olhos finalmente focam no rosto acima de mim. Andrey.
Meu coração bate mais rápido até que acho que vai sair do meu peito.
— Agora, vou tirar minha mão e você não vai gritar
porque as coisas não vão correr bem para você se fizer isso. Entendeu? — Eu aceno.
— Boa menina.— Ele tira a mão. E eu grito.
— p**a merda.— Ele me pressiona com força contra o colchão e cobre minha
boca novamente. — O que foi que eu acabei de dizer? — Eu choramingo.
— Você provavelmente está se perguntando o que estou fazendo aqui. Estou aqui para fazer você ser minha.
Eu viro a cabeça, e ele abaixa a mão. — O quê? Não! Meu irmão não vai tolerar isso, sabe? Ele vai chegar em casa a qualquer momento.— Tomara que isso assuste Andrey o suficiente para ele ir embora.
Mas o que ele diz em seguida me dói profundamente.
— Seu irmão não vai voltar nunca mais. Eu sei com certeza que ele está morto.