CAPÍTULO DOIS

1420 Palavras
IRON O sol estava fodidamente quente e eu levava mais um dia de campo nas costas. Minha nova fachada era ser um militar do exército afastado, o velho filho dos Primes. Porque dizem que um bom filho à casa torna… A vida no campo pode ser implacável. Sob o sol escaldante, cada dia se desenrola como uma batalha de merda contra suas próprias escolhas. Os primeiros raios de luz cortam o céu, anunciando mais um dia de trabalho árduo. O sol nascente pinta o horizonte com tons de laranja e vermelho, mas sua beleza é um disfarce para a p***a toda do dia que está por vir. O exército tinha uma linha de pensamento fodidamente semelhante. Exceto pela nova calmaria, eu vivia a comparar os perigos que vivi com as novas responsabilidades que estou vivendo. A vida no campo exige disciplina e resiliência, características que se tornam aliadas na luta diária pela sobrevivência. Antes eu tinha opções e dinheiro a base de tiro, agora estou traçando metas e cuidando de riscos que podem vir a perder tudo. É f**a, mas confesso que estar de volta é gratificante. Sozinho, claro, mas eu tinha Pray. Eu tinha a Pray. Só a Pray. Às vezes eu me sentia uma marica rural, ou não. Mas por trás dessa aparente tranquilidade, há uma realidade árdua e implacável. A labuta no campo começa cedo, quando o sol ainda está tímido no horizonte. Os primeiros raios de luz dão o sinal para que a jornada comece. O ar fresco da manhã dá lugar ao calor abrasador do meio-dia, testando a resistência de quem ousa desafiar o campo. Cada tarefa exige esforço físico e mental, uma batalha constante contra a exaustão e o desânimo. E nisso me lembrava muito os testes do exército. Ou, talvez eu só estivesse comparando o tédio momentâneo com a adrenalina de antes. O trabalho no campo não conhece pausas. Enquanto o sol cruza o céu, as mãos ásperas e calejadas continuam a labuta. Meu suor escorria pelo rosto, misturando-se com a poeira que pairava no ar. Cada gota representava um esforço, um sacrifício em nome da nova colheita que se aproxima. A cada pôr do sol, o campo guarda consigo a promessa de um novo amanhecer, uma nova chance de recomeçar. E era esse c*****o que eu estava fazendo. Recomeçando. Cheio de mentalidades fofas e bonitinhas pra não parecer um cuzão no meio do mato. — Como ela está? — perguntei atravessando a porta de tela, batendo as botas no chão e atravessando o posto da cozinha. — Me parece cansado, senhor Prime. — Leslie sempre tinha uma observação óbvia do que estava vendo. Eu apenas ignorava. — Está bem. Faz poucos barulhos para uma criança de dois anos, mesmo que a Fono tenha dito que era apenas uma questão de paciência, acho que deveria procurar alguns programas infantis para incentivar a comunicação da menina. Pray estava no engradado de proteção em frente a televisão no espaço amplo da sala, sob uma cantiga infantil e um desenho na tela de plasma grande. Ela balançava alguns brinquedos observadora e andava de um lado para o outro sem muito interesse na tela e no barulho. Eu apenas me aproximei da visão, me encostei no espaldar da porta e a vi olhar para trás e sorrir ao me ver. — Viu, ela nem tenta te chamar. — Leslie se aproximou, me fez olhar para a baixinha rechonchuda e buffar impaciente. — E falando nisso, acho melhor ir tomar um banho. Em um único ano dispensou todas as babás que contratei, e dessa vez estou dizendo que se não ficar com uma, vou embora. — Ela bufou no mesmo tom que eu. — O senhor está ficando rabugento e insuportável. O que a Máfia me paga não é o suficiente para te aguentar. Cocei a nuca, enfiei aquelas reclamações no âmago da minha b***a e fui tomar banho. Subi as escadas, tomei uma ducha, me vesti e senti o cheiro do jantar, junto a algumas vozes distantes. A nova babá devia ter chegado. Eu desci as escadas, com a certeza de que eu teria de testar a mulher para mandá-la para o inferno depois. Mas, o que vi, foi algo completamente inesperado. Desci o último degrau da escada, segurei a p***a do corrimão e travei meus olhos no corpo esguio puxando Pray, segurando ela no colo e abrindo a palma da mão para medir a mão da pequena com a sua. — Pray… — ela sussurrou, quase inaudível. Havia emoção na sua voz, emoção no seu movimento devagar e muito amor naquele toque. E eu, fodidamente achei que nunca ia ver aquela imagem. Foi com um p**a orgulho fodido e quebrado que eu desliguei aquele telefone naquela época, ouvi a voz de Dom e jurei nunca mais procurar aquela c****a, e por conta daquele juramento, de verdade, acreditei que nunca ia ver aquela cena na minha frente. Puta c****a fodida… Ver aquilo me fez ter reações. Muitas. Eu lembrei da primeira vez que a vi, naquele prédio, mirando a cabeça dela enquanto mirava aqueles olhos azuis e a boca chorosa. Daquele galpão onde a mantive sob meus olhos, dos trabalhos, de como eu ficava fodido quando ela entrava em risco. Do sexo, e de quantas vezes eu a fodi com uma p**a vontade. Me lembrei dos meus trabalhos, da máfia, do meu irmão… Eu simplesmente vi todo o meu esforço e minha vontade voltados para mudar o monstro dentro de mim pra viver como uma marica, sonhando como um filho da p**a frouxo pra estar com aquela c****a ali. Eu comprei aquela fazenda, eu fiz planos… Eu me fodi, pra viver com aquela c****a ali. E foi ali que senti raiva, e fechei os punhos no amadeirado grosso do corrimão e quebrei as lascas da madeira, roubando a atenção da Pray e fazendo a c****a virar para trás. Havia água em seus olhos, marejando as bordas das íris azuis e evermelhando seu contorno. Havia emoção, e um sorriso fraco se formando. Ela tentou sorrir, grudou seu olhar para as minhas feições secas e mordeu os lábios, um tanto nervosa. — Iron… — ela sussurrou, quase sem voz, trêmula e tentando conter a emoção. A c****a emagreceu. Estava de calça jeans, o que dava para ver que a roupa estava um pouco larga. A blusa branca marcava os peitinhos pequenos e não deixei de notar a ausência de um sutiã, Junto à uma jaqueta fina caindo pelos ombros com uma bolsinha de couro caída no chão. — Senhor Prime, Sore fez melhor do que nos arranjar uma babá. Ela enviou a mamãe da menina. — Leslie tinha um sorriso satisfatório no rosto quando adentrou a sala, mas desfez o sorriso assim que me viu. — Porque Leslie sabia até que ponto ir. Ela sabia até que ponto podia arriscar comigo, e naquele momento, eu não estava para nenhuma palavra fodida e sarcástica dela. Nenhuma. — Parece que Sore não lhe avisou também… — Leslie olhou para Érina, engoliu devagar e apontou as mãos para Pray que, silenciosa, mirou os braços para ir no colo da rechonchuda, enquanto Érina olhava para a velha e parecia relutar com o jesto. — O que está fazendo aqui? — soltei as palavras, soltei o corrimão quebrado e dei a ela um icentivo. — Solta ela e me responde. Érina soltou a criança, Leslie lhe entregou um sorriso e saiu andando com a bebê no colo, rezando para que aquilo não termine em morte. E uma vez que a c****a ouviu a porta da cozinha se fechando, ela se virou devagar, alisou as calças jeans e sorriu contida, sem graça e ainda emocionada. — Sore não avisou que tinha me liberado? — Cocei a ponta da cicatriz na beirada da minha boca e cruzei os braços. E não respondi. — Iron eu… — Ela pareceu pensar. — Eu não sabia que você tinha ligado. De verdade eu não sabia… E… — Ela estava trêmula. — Eu tentei todos os dias vir pra cá. Eu tentei fugir, eu tentei sair de lá e… A Sore estava me barrando. Olha, você não sabe o que eu passei pra conseguir vir e… — Eu não ligo. — Ela se calou, olhou pra mim, lambeu os lábios e respirou fundo pra tentar conter o choro. — Estou pouco me fodendo pra qualquer merda que tenha pra me dizer. Agora cai fora. — Ela ficou estática, engoliu em seco e pareceu pensar. — Eu disse pra cair fora.
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