capítulo 5

984 Palavras
Capítulo 05 Elena Santoro Acordei com a cabeça latejando, como se uma nuvem pesada estivesse pairando sobre minha cabeça. Acho que chorei demais ontem à noite. Às vezes, tudo que a gente precisa é colocar a dor pra fora, mesmo que ela não vá embora por completo, mas ajuda a aliviar. Depois de tomar um banho rápido e me arrumar, peguei minha bolsa e desci as escadas já decidida a sair. — Bom dia — disse, tentando forçar um sorriso, não gosto que a Lúcia, me veja triste, ela fica triste por mim também. Lúcia, que estava na sala arrumando um jarro de flores, me respondeu: Lúcia— Bom dia, querida. Não vai tomar café? — Não dá, estou super atrasada — respondi, ajustando a alça da bolsa no ombro. — Espere só um minuto — disse ela, indo apressada em direção à cozinha. Suspirei, prestes a ir atrás dela para dizer que não precisava se preocupar, quando ela voltou correndo com uma pequena bolsinha térmica nas mãos. — O que é isso? — perguntei já imaginando oque seria — Seu café da manhã. Já te falei mil vezes que sair de estômago vazio não faz bem — disse ela, estendendo a bolsinha.— Não precisava se incomodar... — Precisava sim. Você cuida de tudo e de todos, mas quem cuida de você? — ela disse com aquele tom firme e ao mesmo tempo cheio de carinho. — Agora me diga, por que essa cara abatida? Suspirei novamente, sem forças para esconder mais nada. — A senhora sabe... Esses meninos estão acabando comigo. Eu estou exausta, Lúcia. Eles só pensam em festas, vivem fora de casa, não respeitam horário, não me dão satisfação de nada... Eu me sinto sozinha nessa casa, mesmo cheia de gente. Lúcia cruzou os braços e olhou para mim com aquela expressão que misturava julgamento e compaixão. — A culpa é toda sua. — Minha? — questionei, surpresa. — Claro. Você se preocupa demais, Elena. Fica tentando controlar tudo, querendo carregar o mundo nas costas. Eles não são mais crianças, são homens feitos. Se não querem ouvir, deixe que aprendam do jeito mais difícil. Baixei os olhos, absorvendo aquelas palavras. Talvez ela tivesse razão. Talvez eu estivesse tentando ser mãe, pai, irmã e exemplo ao mesmo tempo... E tudo isso estava me consumindo. — Eu só queria que eles tivessem juízo — Falei — Eles vão ter, na hora certa. Mas não é você quem vai fazer isso acontecer à força. Às vezes, é preciso soltar a corda um pouco, antes que você mesma se enforque com ela. Assenti em silêncio, com o coração apertado. Peguei a bolsinha com o café e a abracei de leve. — Obrigada, Lúcia. Por tudo. — Vai com calma, Elena. E se precisar chorar mais, chore. Mas depois se levante como sempre faz. Você é forte, só precisa lembrar disso. Sorri de canto, tentando acreditar nas palavras dela. E então, saí, com um passo mais leve, mas com o coração ainda pesado. Não costumo chorar com facilidade, estou assim por está de TPM, ou eu fico sensível ou fico sem paciência, com raiva do mundo. Já estava saindo da garagem quando vi o Mathias fazendo um sinal para que eu parasse, ignorei e seguir meu caminho, sei que ele vai vim com o papo de pedir desculpas, mas não estou com saco pra isso. Assim que eu entrei na minha sala, liguei para a Karla, queria saber se ela já contratou o meu novo secretário. O telefone chamou algumas vezes até que a Kelly atendeu. Ligação on — Oi, chefe. Bom dia! — disse com aquele tom sempre animado demais para o meu humor matinal. — Bom dia, Kelly. Me diz, você já contratou o meu novo secretário? — Sim! Na verdade, ele começa hoje. Deve estar chegando a qualquer momento. — ok! Suspirei, massageando as têmporas. — Espero que ele saiba lidar com pressão. Eu não tô com paciência pra gente incompetente hoje. — Pode deixar. Se ele não der conta, eu mesma mando embora antes do almoço. Sorri, mesmo sem querer. — Você é um terror, Kelly. — Eu só sigo seu exemplo — respondeu, rindo. — Ah! E antes que eu esqueça, a diretoria reagendou a reunião com o grupo Delmont para às 15h. Eles adiantaram o voo. Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia ver. — Ótimo. Eu não tive nem tempo de revisar o relatório final ainda... — Quer que eu mande agora no seu e-mail? — Sim, por favor. E Kelly... — Sim? — Manda um café também. Bem forte. — É pra já! Ligação off Desliguei e me joguei na cadeira. Olhei em volta, tentando me concentrar, mas tudo parecia um grande borrão. A dor de cabeça ainda insistia em me lembrar do turbilhão de ontem. Fechei os olhos por um instante, buscando foco. Foi então que alguém bateu à porta. — Pode entrar — falei, sem abrir os olhos. Ouvi a porta se abrir devagar, e uma voz masculina, vacilante, preencheu a sala: — Com licença, senhorita Santoro? Abri os olhos e levantei o olhar. Na minha frente, estava um homem magro, alto, de aparência simples, barba bem feita, blusa e calça social, tênis esportivo, e um olhar atento que me observava com curiosidade e respeito. — Sou Pedro Miguel, seu novo secretário. É um prazer conhecê-la. Levantei-me da cadeira e estendi a mão, notei que a mão dele estava bastante suada, e um pouco trêmula. -.Seja bem-vindo, Pedro Miguel. Espero que esteja preparado, porque aqui não temos um dia de paz. Ele sorriu, um sorriso discreto, quase irônico. Pedro Miguel— Eu estou preparando. Cruzei os braços, estudando-o por mais um segundo. — Veremos se continua dizendo isso no fim da semana. Ele apenas assentiu, sem desviar o olhar. O filho da p**a não tirava os olhos dos meus p****s, nem pra disfarçar.
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