Capítulo 32 - O Abismo do Alfa

1790 Palavras
O dia havia sido um turbilhão de demandas. Reuniões intermináveis, decisões cruciais sobre a Força de Ataque do Gama Rickon Blackwolf e seus subordinados, e uma pilha de acordos comerciais exigindo a assinatura do Alfa e Rei Lycan. A noite de Lua Cheia pairava no céu como uma ameaça e uma promessa, e Bryan sentia a tensão habitual se intensificando em cada fibra do seu ser. Seu lobo interior, Bones, estava profundamente agitado, ansioso por voltar para casa, para o único refúgio que conhecia: sua Luna, Mia. Ele precisava dela como o ar que respirava, antes que a noite atingisse seu pico emocional e a loucura da Lua Cheia consumisse o que restava de sua humanidade. Quando a maior parte da alcateia finalmente se retirou, um alívio quase doloroso o invadiu. Ele estava prestes a arrumar sua pasta executiva, pensando na promessa que havia feito a Mia de chegar mais cedo, quando a porta de seu escritório foi aberta sem qualquer aviso. Era Lívia Hemlock, vestida em um terno de corte impecável que parecia mais uma armadura do que um traje profissional. Ela havia se tornado advogada na Blackwolfs Advocacia Corporation através de manobras políticas de Daemon, e, de forma irritante e persistente, fazia questão de aparecer em seu escritório para se insinuar. — Alfa Bryan — ela sibilou, aproximando-se com passos felinos. — Mais alguns papéis. Assinatura imediata, por favor. Bryan sentiu um calafrio de repulsa percorrer sua espinha. Ele não precisava de Lívia, nunca precisara. No passado, ele a usou como um escape vazio, pensando que depois que se casasse com Mia, ela se afastaria naturalmente. Mas mesmo quando ela se casou com Daemon, não parou de procurá-lo insistentemente. A verdade era que ele não queria Lívia. Ele tinha a loba mais linda, magnética e desejada do mundo lupino em sua cama. Ele não queria nenhuma outra loba. Mia era tudo para ele. Com movimentos bruscos, ele pegou os documentos e os assinou rapidamente, esperando que ela fosse embora. Mas Lívia não se moveu. Em vez disso, ela deslizou em sua direção uma taça de cristal pesada que continha um líquido vermelho escuro e suspeito. — O dia foi longo, Bryan. Uma taça de vinho para relaxar, antes que você corra para os braços da minha irmãzinha. O termo "irmãzinha", dito com um desdém calculado, fez Bryan cerrar os punhos. Cego pela irritação e pela necessidade urgente de afogar as pressões do dia, ele pegou a taça e bebeu o líquido de uma vez, sentindo um calor imediato e incomum descer por sua garganta. Em segundos, o calor se transformou em uma fornalha incontrolável. O desejo mais primitivo explodiu em suas veias. Seu lobo tornou-se repentinamente feroz e incontrolável. Bryan sentiu a visão ficar turva, as bordas do seu campo visual tingindo-se de vermelho-sangue. Ele sabia, em um cantinho remoto de sua mente, que era noite de Lua Cheia e que precisava estar em casa com sua companheira, mas aquele calor o estava incinerando por dentro. A essência pura e maligna da Flor do Uivo Carmesim forçava seus instintos a um frenesi incontrolável, distorcendo seu desejo legítimo por Mia em um impulso cego e destrutivo. O pânico químico o dominou por completo. Lívia começou a se aproximar dele, e ele sentiu sua garganta secar completamente. O calor era tanto que fazia com que fosse difícil respirar. Ele levou as mãos à gravata e começou a afrouxá-la desesperadamente, buscando algum alívio. Seu m****o pulsava dolorosamente dentro das calças, uma necessidade biológica pervertida pelo veneno. Lívia se sentou em seu colo sem permissão e então sussurrou de forma sedutora: — Deixe-me lhe ajudar com isso… — Você... O que? … – as palavras saíram cortadas, engasgadas no fogo que lhe consumia a garganta – …Oque … você … colocou … na bebida? — ele rosnou, o último vestígio de razão lutando para sobreviver. Mas a luta estava perdida. Ele não conseguiu se controlar. Sua mente estava em chamas, consumida pelo veneno. Com uma brutalidade puramente animal, ele a agarrou e a jogou em cima da mesa de mogno polido. Lívia se abriu pra ele com um sorriso vitorioso e gemeu alto, e ele rasgou suas roupas com facilidade bestial. A visão dele estava completamente inundada de vermelho. O único impulso que restava era a dominação cega. A luxúria forçada o consumiu por completo, anulando sua vontade e seu amor por Mia. O mundo de Bryan Blackwolf implodiu no exato momento em que o som do vômito e a visão de Mia atingiram seus sentidos. A mera presença de sua verdadeira companheira, sua Sigma, foi o antídoto mais potente que existia. O choque físico e a assinatura espiritual única de Mia quebraram o transe forçado do veneno em um milissegundo. O vermelho sumiu instantaneamente. O transe havia acabado. A horrível e nauseante percepção de que ele estava violentando Lívia veio acompanhada pela consciência devastadora de que o estrago já estava feito. — p***a! QUE MERDA! — Seu rugido era de puro terror existencial. Ele se afastou de Lívia bruscamente, como se ela estivesse em chamas. Ele viu o nojo puro e absoluto nos olhos de Mia, e então viu o sobretudo preto cair no chão, revelando a lingerie sedutora e transparente que ela havia colocado especialmente para ele. A ironia era uma lâmina cortante, mais dolorosa do que a própria traição. — NÃO SE ATREVA! — O berro de Mia, carregado de uma dor primordial e de uma resolução de aço, ecoou pelas paredes do escritório. — Você conseguiu me enganar perfeitamente... mas foi a última vez que você fez isso! Lívia, permaneceu ali, incrivelmente confiante e se sentindo vitoriosa. Quando Mia saiu correndo, Bryan começou a caminhar na direção dela, mas Lívia tentou segurá-lo: — Deixa ir, vamos continuar — ela tentou se insinuar novamente, completamente cega para a devastação que havia causado. Bryan, furioso como nunca estivera, a segurou com força brutal pela garganta e rugiu com a voz de sua b***a: — SAI DO MEU CAMINHO SE NÃO EU TE ARRANCO O BRAÇO FORA p***a! Ela se assustou genuinamente com a fúria dele, e Bryan não perdeu um segundo sequer, correndo atrás de Mia. Ele a encontrou caída no chão frio do corredor, desmaiada e sangrando profusamente. O pânico substituiu instantaneamente a culpa. O sangue escarlate e fresco estava em suas mãos e não parava de fluir. Ele a ergueu nos braços, sentindo o peso inerte dela como a sentença final por seus crimes. — Mia? — Ele chamou, tentando acordá-la, sacudindo-a gentilmente. — Mia, por favor, acorda. — Ela não abria os olhos, seu rosto pálido como a morte. Não havia tempo para nada. Sua mente estava completamente focada em Mia, e não no que Lívia, sua cunhada e esposa de Daemon Hemlock, havia feito com ele. O resgate da sua Luna era a única prioridade, a única coisa que importava em um mundo que havia desmoronado. Ele a levou para o estacionamento, a colocou no carro com cuidado brutal e rasgou a rampa em direção ao Eclipse Hospital. Em segundos, ele irrompeu pela porta de emergência, não um Rei Lycan, mas um homem destruído, coberto do sangue de sua esposa, entregando sua Luna desfalecida à equipe médica com olhos selvagens de desespero. Dr. Nigel Nightfall assumiu o comando imediatamente, seus olhos experientes avaliando a gravidade da situação. — Alfa Bryan, você precisa esperar na recepção — disse o médico com uma voz que não admitia discussão. Bryan cambaleou até uma cadeira de plástico na recepção de mármore frio. O fantasma da última vez que Mia sangrou assim, quando ele quase a perdeu para um ataque inimigo na primeira vez que enfrentaram uma ameaça séria, o atingiu com força total. E agora, de novo, o sangue. Sua culpa, de novo. Sua falha, de novo. O tempo se arrastou por horas que pareceram uma eternidade de tortura, enquanto ele esperava na recepção silenciosa, suas mãos ainda manchadas de vermelho. Finalmente, Dr. Nigel Nightfall surgiu no corredor, seu rosto carregado de uma gravidade profunda. — Alfa Bryan — disse o médico, sua voz baixa e medida. — Ela está estável. O sangramento cessou. Bryan sentiu um alívio momentâneo, mas a expressão de Nigel o impediu de respirar completamente. — Bryan… — o médico fez uma pausa, escolhendo suas palavras com cuidado. — O sangramento massivo… foi causado por um aborto espontâneo. O choque e o trauma que ela sofreu foram severos demais… Ela estava grávida. Bryan sentiu o mundo girar. As palavras não precisavam de explicação. Elas foram direto para sua alma como uma faca. Grávida. Eles tinham um filho. Um herdeiro. Uma vida que ele nem sabia existir, e que agora estava perdida para sempre por sua culpa. O vínculo partido entre eles, que já doía como uma ferida aberta, agora se contorcia como uma corda que havia sido puxada com violência extrema. Ele sentia fisicamente a conexão arrebentada pulsando de forma agonizante dentro dele, um m****o fantasma que latejava com uma dor insuportável a cada batida de seu coração. Cada espasmo era um lembrete do que ele destruíra, da vida que extinguira, do amor que traíra. Ele m*l conseguia respirar. Um vazio mais profundo do que qualquer escuridão que já enfrentara se abriu dentro dele. Ele havia perdido tudo. Tudo. A porta da sala de espera se abriu e Ben Blackwolf, seu Beta, irmão e melhor amigo, entrou acompanhado de Chloe Blackwolf, irmã de Mia e Lambda da alcateia. O rosto de Ben estava sério e sombrio - ele havia sido alertado pelos Deltas Noah e Felipe Guerra, que estavam no QG na hora do ocorrido e testemunharam fragments da tragédia. — Bryan — disse Ben, sua voz firme mas carregada de emoção. Ele carregava uma mochila com roupas. — Trouxe roupas. Vá se trocar. Nós ficamos com ela. Bryan apenas assentiu, mecanicamente. Ele pegou a mochila e procurou por um banheiro. Ele entrou num cubículo e tomou um banho rápido, a água quente escorrendo sobre seu corpo como se pudesse lavar a sujidade, a culpa, a dor. Tudo parecia uma p***a de um maldito dejavu. Ele havia quebrado sua companheira de novo. O passado parecendo um reflexo macabro do presente, um ciclo interminável de falha e dor. Dentro dele, Bones choramingava incessantemente, inquieto e devastado pela sua companheira que estava desacordada, pela conexão que fora violentamente cortada. A fera estava de luto, uivando de dor por dentro. Quando saiu do banheiro, vestido com roupas limpas que sentiam como um disfarce vazio, ele retornou ao quarto. Ben e Chloe agora velavam Mia, um ao lado da cama. Eles não precisaram dizer nada - seus olhos falavam por si. O preço de seu vazio era tudo, e ele teria que carregar esse peso pelo resto de sua vida.
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