Pré-visualização gratuita PRÓLOGO
Drakkar POV
300 anos atrás
Na guerra entre lobos e homens, meu pai morreu em meus braços. Seu estômago havia sido rasgado por uma lâmina de prata e o sangue encharcava a lama enquanto sua respiração se tornava superficial.
Seus olhos perderam a luz antes que eu pudesse dizer uma única palavra e, naquele momento, com minhas mãos manchadas de vermelho, jurei vingança.
Agora eu era o rei.
Naquela noite, entrei sozinho na fortaleza de contenção humana. Eles a chamavam de prisão, mas era mais do que isso. Porque as paredes pulsavam com runas antigas que queimavam contra minha pele, a prata pingava dos ganchos como água benta e cada canto amaldiçoado cheirava a carne queimada.
Uma catedral construída para destruir minha espécie.
Mesmo assim, continuei.
Eu podia ouvi-los, minha matilha e meus irmãos, gritando no escuro.
Romeo, meu Beta, entrou na minha frente, pressionando uma mão contra meu peito. "Você não vai entrar lá sozinho", disse ele, com a mandíbula cerrada. "Este lugar está cheio de armadilhas."
"Não há reforços", retruquei, afastando seu braço. "Os humanos mataram ou capturaram todo mundo, e você sabe muito bem disso."
Ele não se mexeu.
"Não me peça para ficar aqui brincando de rei enquanto o resto da nossa matilha apodrece nas mãos deles", sussurrei. "Fique aqui e proteja as mulheres e os filhotes. Isso é uma ordem."
Os lábios de Romeo se entreabriram como se ele quisesse argumentar, mas não o fez. Apenas assentiu com a cabeça, uma vez, e se afastou.
A porta de ferro gemeu quando a forcei a abrir com meu ombro, as dobradiças rangendo com a pressão. Lá dentro, a escuridão deu lugar a formas. Encontrei os primeiros algemados na ala norte: quebrados, m*l conscientes. Cinco deles, talvez seis, amontoados em cantos ou pendurados em correntes fixadas na pedra.
Dei um passo à frente, e o ruído úmido sob minhas botas me disse que o chão estava encharcado.
Um deles m*l respirava, com as costelas expostas onde a carne havia sido arrancada; outro pendia mancando do teto, com os pulsos presos por algemas de prata, os braços esticados acima da cabeça com tanta força que os ombros já haviam se deslocado há muito tempo; um terceiro não tinha perna, apenas um osso quebrado que se projetava para fora, onde havia sido arrancado.
Meu estômago se revirou, não por fraqueza... mas por raiva.
Ajoelhei-me ao lado de uma figura amassada perto da parede. Sua pele estava crua, seu corpo tremia em pequenos espasmos involuntários, seu cabelo estava coberto de sujeira e havia sangue em seus lábios.
"Arnon", eu disse, tirando a sujeira de seu rosto.
Não houve resposta.
Dei-lhe um tapa forte. Seus olhos se abriram, atordoados, demoraram a se concentrar, depois se encontraram com os meus. Por trás da névoa, vi reconhecimento e algo pior.
Vergonha.
"Príncipe Drakkar..." Sua voz ficou trêmula. "Eles não pararam. Dias... talvez semanas. Nós perdemos..."
"Não fale", eu disse, segurando seu ombro, mantendo-o firme.
"Há mais", ele sussurrou. "Mais para dentro..."
Olhei em volta novamente. Prata incrustada na pele. Ossos torcidos em ângulos não naturais. Presas arrancadas. Dedos esmagados. Levantei-me lentamente, com os punhos cerrados ao lado do corpo. "Os humanos pagarão por isso", olhei novamente para Arnon e, pela primeira vez naquela noite, não senti o peso da coroa. Senti o peso da guerra. "E pelo resto da humanidade com eles."
Abri suas gaiolas uma a uma. Alguns correram, outros caíram.
Desci até a escuridão. As câmaras inferiores pareciam um túmulo, sem luz. Nenhum som além do bater do meu coração.
Segui o cheiro de sangue até que ele se transformou em algo pior... algo doce como flores apodrecidas.
Então ouvi uma voz. "Drakkar..."
Congelei, pois a última porta no final do corredor era diferente. Não havia marcas, fechaduras, prata ou glifos de proteção. Como se quem tivesse construído esse lugar quisesse esquecer que ele existia.
"Você sente isso", murmurou a voz. "Você veio porque não conseguiu ficar longe."
Meus pés se moveram antes que eu percebesse, atraídos para a porta selada no final do corredor. O ar ficava mais denso a cada passo, como se algo vivo estivesse pressionando meu peito.
"Os humanos me trancaram porque eu era forte demais para ser controlado por eles", continuou a voz íntima. "Mas você..." Uma pausa. Um sorriso se espalhou na escuridão. "Eu podia ouvir seu coração, mesmo a quilômetros de distância."
Meus dedos pairaram sobre a maçaneta.
"Oh, príncipe da guerra", a voz ronronou. "Rei da vingança, eu estava esperando por você."
Meus dedos se enrolaram na maçaneta fria e abri a porta, mas a sala estava vazia, pelo menos foi o que pensei.
Não havia correntes.
Nenhum corpo.
Apenas uma nuvem de névoa escura pairando no centro, girando de forma não natural, pulsando como se tivesse batimento cardíaco próprio.
Dois olhos se abriram no escuro, vermelhos como se sempre soubessem que eu viria. "Eu o observei muito antes deste momento", a voz rouca. "E agora que você abriu a porta..." Um pulso de ar atingiu meu peito. "...você pertence a mim."
A névoa não apenas me tocou, ela se lançou em mim, atravessando meu peito. Eu engasguei, o ar saindo dos meus pulmões como se minha própria respiração tivesse se transformado em fumaça. Ele estava dentro de mim antes que eu pudesse lutar contra ele, deslizando pela pele e pelos ossos.
Desabei, com os joelhos batendo contra o chão de pedra molhado.
Minhas costelas se quebraram, uma após a outra, e eu podia ouvi-las se partindo, sentir as extremidades irregulares se esmagando como se meu próprio corpo estivesse sendo despedaçado de dentro para fora.
Em seguida, veio a pressão que me destruía a mente. Gritei, um som que raspou minha garganta com sangue.
Tentei arranhar minha própria pele, para arrancá-la de mim, mas meus braços não me ouviram. Eles apenas se dobraram e tiveram espasmos.
E então senti o assentamento. Algo monstruoso se enroscou no fundo de minha alma, enroscando-se em meus ossos como se eu estivesse oco o tempo todo, apenas esperando para ser preenchido.
Sorvane.